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3. Processos de edição do PB em Portugal

3.2. Desenvolvimentos do PB em Portugal na década 2000-2010: atores e

3.2.1. Primeira fase – processos para a edição do PB

A primeira fase do PB em Portugal foi caracterizada por: a) debate nacional centrado no significado, objetivos e linhas de ação da Declaração de Bolonha e nas suas implicações para o ensino superior português; b) organização e tomadas de posição dos diferentes atores das políticas do ensino superior. Assim, observa-se a criação de redes de discussão temáticas, quer por parte da tutela quer por parte de outros atores, a apresentação de propostas e orientações por parte da tutela, e, ainda, a elaboração de pareceres, recomendações e tomadas de posição, além da publicação de textos de opinião por parte de atores individuais. Particularmente ativas estiveram estruturas coletivas como o CNAVES, o CNE, o CCISP e o CRUP, sendo ainda de assinalar alguma atividade desenvolvida pelo associativismo académico. As ações, bem como as publicações deste período e que fazem parte do corpus documental da tese, estão condensadas na Tabela 4, da página seguinte.

A primeira iniciativa pública ocorrida em Portugal consistiu na organização dum seminário internacional, incluído no programa de trabalho do BFUG para o período entre as Conferências de Bolonha e Praga, e foi subordinado ao tema “Credit Accumulation and Transfer Systems”. Foi organizado pelo Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria) em conjunto com a DGES, o GAERI e o Grupo de Trabalho para a Presidência da UE (detida por Portugal na altura) e teve lugar no IPLeiria, em 24-25 novembro de 2000.

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O processo de referenciação do QQES-Portugal ao QQ-EEES (Quadro de Qualificações do Espaço Europeu do Ensino Superior) só viria a terminar em 2011, com a colaboração de um painel de peritos internacionais Simultaneamente, nesse mesmo mês de junho, tomou posse o XIX Governo Constitucional que extinguiu o MCTES, fundindo-o novamente com o Ministério da Educação.

115 Ao nível nacional, o primeiro documento foi divulgado e posto à discussão pelo ainda Ministério da Educação em outubro de 2001. Emanado da Secretaria de Estado do Ensino Superior, motivou Pareceres do CNE, do CRUP e do CCISP e elegeu como essenciais as seguintes questões que colocou à discussão relativas à implementação do PB em Portugal: supressão de um dos graus existentes (bacharelato ou licenciatura), adoção do ECTS, criação de formações pós-secundárias de cariz profissional, definição de perfis de formação orientados para o desenvolvimento de competências alinhados com as formações de instituições congéneres europeias. Estas questões foram colocadas na perspetiva da mobilidade e da atratividade do sistema português no seio da Europa.

Tabela 4: Cronologia do PB em Portugal (1999-2005)

Estado/Governo Órgãos consultivos e de representação Grupos/iniciativa s adhoc Textos de opinião/ Publicações 1999

Assinatura da Declaração de Bolonha, Ministro Marçal Grilo

2000 Presidência da UE

AR: Ratifica Convenção de Lx Seminário “Sistemas de Acumulação e Transf Créditos”

P. Lourtie. The issue of credit

accumulation and transfer systems and the Bologna Declaration

2001 ME/ SEES: “A Declaração de Bolonha e

o sistema de graus do ensino superior - Bases para uma discussão”

Constituição do FAIRE CRUP: Posição sobre a Declaração de Bolonha CNE: Parecer 3/2001 CCISP: Parecer sobre Memorando ALV, CCE

P. Lourtie. Furthering the

Bologna Process: Report to the Ministers of Education of the signatory countries,

Prague, May 01 2002

Dec-Lei 205/2002 (Criação do MCES) CNAVES: Pareceres 1/2002; 9/2002; 11/2002 CCISP: Parecer sobre o documento da SEES CCISP: “Validação e cred de formação e experiência no ES: doc de princípios” CCISP: Parecer sobre unidades crédito no ES CNE: Parecer 2/2002 CNE: Parecer 4/2002

S. M. Santos. As

consequências profundas da Declaração Bolonha: o caso Português

S. F. Azevedo. Notas para

Reflexão sobre Bolonha

J. F. Gomes. O PB e a Reforma do ES em P. Lourtie. A Declaração de Bolonha 2003 Lei nº 1/2003 (Desenvolvimento e

Qualidade do ES (revoga a Lei 26/2000)

MCES. Documento de orientação: “Um Ensino Superior de Qualidade. Avaliação, Revisão e Consolidação da Legislação do ES”

Lei nº 37/ 2003 (Bases do financiamento do ES) DGES. “National report on the implementation of the Bologna Process”

CRUP: Parecer “Avaliação, Revisão e Consolidação da Legislação do ES” CCISP: Parecer “Um ES de qualidade”

CCISP: Parecer. In “Avaliação, Revisão e Consolidação Leg do ES”

CNE: Colóquio “Formas de Governo no ES”

CNE: Parecer 5/2003 CNE: Parecer 7/2003 CNE: Debate Nacional Educação UP+MCES+IP, “Reflectir Bolonha: Reformar o ES”, 29/4-12/6 UA “Jornadas de Bolonha”, 18/2, 2003-24/3, 2004

Simão et al. ES: visão para a

próxima década

Amaral, A. (ed.). Aval, revisão

e consolidação da legislação ES: Pareceres de F.Gomes,

L.Soares, F.Azevedo A. Amaral. Managerialismo e Governação das IES em Portugal

F.Gomes. Impacto da construção do EEES em Portugal

A.Moreira. A gestão por

116 CNE: Parecer 9/2003 M.Gago. O futuro do ES em

Portugal

M.Santos. Respostas ES aos

obj intermédios do Comun de Berlim

P.Lourtie. Processo de

Definição do QQE

2004 F. Azevedo nomeado Represent

português no BFUG

Nomeação dos Coordenadores para a implementação do PB

MCES: Plano de Ação do PB MCIES: Orient Harmonização das Estratégias de Formação CNE: Parecer 2/2004 CNE: Parecer 6/2004 (Implementação do PB) CNAVES: Parecer 5/2004 CRUP:O PB e a Natur e Estrutura de Formação” Perfis formação: Pareceres dos Coord para a implem do PB; Pareceres dos GT do CCISP

Júlio Pedrosa. UA “Jornadas de Bolonha”

F.Azevedo. Os novos paradig

formação no ES e as actividades prof

P. Fontes. Participação

Estudantil no PB

Fontes: EHEA official website, http://www.ehea.info/; Portal do Governo, www.portugal.gov.pt/; Portal do CNE, www.cnedu.pt/; Portal da DGES, www.dges.mctes.pt/; CRUP; CCISP; FAIRE

No plano legislativo, há a assinalar a publicação da Lei nº 1/2003, de 6 de janeiro (Regime Jurídico do Desenvolvimento e da Qualidade do Ensino Superior). Esta Lei suscitou um grande debate antes da sua publicação, com a emissão de pareceres do CNE, do CCISP e do CRUP. Entretanto, o Ministro Pedro Lynce solicitou ao CIPES que desencadeasse um debate nacional sobre o ensino superior, incidindo em áreas como: “Autonomia, Financiamento, Bases do Sistema Educativo” (Lynce, 2003: ix). Em resposta, o CIPES elaborou um inquérito que esteve na base da formulação de vários Pareceres de atores coletivos e individuais (Amaral, 2003), que estão incluídos no corpus documental.

Por parte das IES, além dos debates internos ocorridos durante este período, há a assinalar um conjunto de iniciativas públicas, algumas delas com a participação do MCES. Um debate importante foi promovido pela Universidade de Aveiro, com base numa série de seminários que decorreram entre 18 de fevereiro de 2003 e 24 de março de 2004, com o tema genérico Jornadas de Bolonha. O primeiro seminário teve como tema “A Declaração de Bolonha e o Sistema de Ensino Superior Português” e teve, entre outros, Mariano Gago, futuro Ministro do MCTES, como orador. Os estudantes estiveram representados por Paulo Fontes, membro da FAIRE. Júlio Pedrosa fez uma síntese das intervenções da primeira sessão, tendo realçado o que considerava serem os problemas centrais do ensino superior português: “a dualidade universitário - politécnico, a oferta de ensino profissional de curta duração, o lugar da investigação e

117 a formação de mestres e doutores no contexto de um Espaço Europeu de Ensino Superior” (Pedrosa, 2004: 8).

Outro debate, com características um pouco diferentes já que assentou em grupos de trabalho que emitiram conclusões e não em intervenções individuais, foi o ciclo de seminários “Reflectir Bolonha: Reformar o Ensino Superior” realizado na Universidade do Porto (UP), entre abril e junho de 2003, organizado por aquela universidade, em conjunto com o MCES e com a colaboração do Instituto Politécnico do Porto. Sendo um dos objetivos juntar universidades e politécnicos numa discussão de interesse comum (Gomes, 2003: 38), reuniu cerca de 350 participantes oriundos das universidades e politécnicos de todo o país, tendo também marcado presença o então Ministro Pedro Lynce. O objetivo dos seminários, tal como expresso pelo então reitor da UP, José Novais Barbosa, no encerramento dos trabalhos, era discutir o significado da Declaração de Bolonha e o potencial de mudança para a realidade portuguesa que a mesma comportava:

O desejo manifestado na abertura do seminário, que permanece, é o de que ele tenha contribuído para que os universitários e, por difusão e extensão, a população em geral aprofundem a percepção, felizmente cada vez mais generalizada, de que os princípios da Declaração de Bolonha podem proporcionar uma verdadeira reforma das estruturas de graus e modos de encarar o ensino e a aprendizagem no domínio da educação superior, inicial e ao longo da vida (Barbosa, 2003: 4).

Um outro debate nacional importante e mais alargado teve lugar a partir do grupo de “Coordenadores de implementação do Processo de Bolonha a nível nacional por áreas de conhecimento”. Estes Coordenadores, nomeados pelo MCES em maio de 2004, tinham como missão, nas áreas respetivas, dar parecer relativamente “às estruturas de formação… a nível de primeiro e segundo ciclos, e quanto ao interesse de criação de cursos de especialização complementares desses dois ciclos de formação” (MCIES, 2004b: 2). Os coordenadores nomeados pela Ministra Maria da Graça Carvalho eram maioritariamente do ensino universitário, embora o CRUP não tenha sido consultado, sendo que as áreas científicas correspondiam quase exclusivamente a áreas dos cursos deste subsistema de ensino. Esta situação levou a que o CCISP tivesse ele próprio criado os seus grupos de trabalho por área de conhecimento com docentes deste subsistema, ainda assim solicitando a consultoria dos professores universitários Jorge

118 Pedreira e Pedro Lourtie, considerados peritos na matéria. Em ambos os casos, os grupos integravam exclusivamente docentes, embora tivessem como orientação do MCIES e do CCISP a consulta a outros atores sociais, o que em muitos casos não se verificou. Os estudantes estiveram igualmente arredados destas estruturas formais.

No decorrer da discussão dos perfis de formação, o MCIES divulgou o documento “Reforma do Sistema do Ensino Superior: Orientação para a Harmonização de Estratégias de Formação” (MCIES, 2004a). De acordo com o “Plano de Ação do PB”, que tinha sido previamente divulgado pelo MCES (MCES, 2004), decorreria até dezembro de 2004 o prazo para a apresentação das propostas do grupo de Coordenadores mencionados, que seriam posteriormente postas a discussão pública. O início da implementação da nova estrutura de ciclos estava prevista para 2005- 2006.

Nesse mesmo ano, no scorecard do PB, Portugal estava no nível amarelo (a meio da escala de cinco níveis – vermelho, laranja, amarelo, verde-claro, verde escuro), com 30/44 países já no verde claro (20) ou verde escuro (10). Entretanto, em resultado das eleições legislativas, é constituído um governo do PS e Mariano Gago é nomeado Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, em março de 2005, quando apenas o primeiro diploma legal relativo ao PB tinha sido publicado, o Decreto-Lei nº 42/2005, de 22 de fevereiro. É com este diploma e a alteração à Lei de Bases, finalmente aprovada pela nova maioria parlamentar e publicada a 30 de agosto, que se inicia a segunda fase da implementação do PB em Portugal, caracterizada pela aceleração da definição do novo quadro legal do ensino superior.