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2. OS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA CONDICIONADA DE

2.1.3. Público-alvo e benefícios

No que se refere ao público-alvo do PBF, constitui-se em famílias30 classificadas como pobres, detentoras de renda mensal31 per capita entre R$154,00 e R$77,01, e que possuam crianças de até 15 anos, gestantes ou nutrizes, ou, ainda, adolescentes de 16 ou 17 anos; e famílias classificadas como extremamente pobres, que possuam renda per capita de

30 A Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004, que cria o PBF, considera família, para efeitos de elegibilidade ao

programa, como “a unidade nuclear, eventualmente ampliada por outros indivíduos que com ela possuam laços de parentesco ou de afinidade, que forme um grupo doméstico, vivendo sob o mesmo teto e que se mantém pela contribuição de seus membros” (BRASIL, 2004, Art. 2º, § 1º, inciso I). Este conceito de família aplicava- se também aos programas remanescentes que foram unificados ao PBF.

31 O inciso III, do § 1º do Art. 2º da Lei 10.836/2004, define renda mensal familiar como “a soma dos

rendimentos brutos auferidos mensalmente pela totalidade dos membros da família, excluindo-se os rendimentos concedidos por programas oficiais de transferência de renda” (BRASIL, 2004).

até R$77,00, independentemente da composição familiar. Estes valores passaram a vigorar a partir de abril de 201432 (BRASIL, 2014).

Para participar do PBF, além do critério de renda, é preciso que todos os membros das famílias a serem assistidas possuam registro no Cadastro Único (CadÚnico). O Cadastro Único é um banco de dados de âmbito federal, coordenado pelo MDS, que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda, isto é, aquelas que detenham renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa ou renda mensal total de até três salários mínimos. Constitui-se obrigatoriamente no instrumento empregado para a seleção de beneficiários das ações de política social federais, como o PBF (MDS, 2014c). A partir do perfil da família registrado no CadÚnico é que se embasa a concessão dos benefícios, pois consideram-se as informações sobre renda mensal per capita e composição familiar, constantes no referido perfil. Cumpre frisar, no entanto, que apesar da obrigatoriedade de toda família beneficiária do Bolsa Família, assim como cada um de seus membros, estar registrada no Cadastro Único, nem toda família constante neste Cadastro é beneficiária do PBF, pois o CadÚnico é um sistema abrangente, no qual há outros programas e ações sociais que o utilizam como instrumento para seleção de seus beneficiários. A seleção dos beneficiários do Bolsa Família é feita pelo MDS de maneira automática através de um software especialmente desenvolvido para esta finalidade, respeitando-se o critério da renda per capita, a partir das informações constantes no CadÚnico e que são inseridas, pela CEF, através dos setores responsáveis pelo programa nos municípios.

Os benefícios do PBF são de diversos tipos e valores distintos. Sua concessão vincula-se aos critérios de renda familiar per capita e de composição das famílias. De maneira que a soma dos diferentes benefícios concedidos, em função da renda e composição familiar, constitui a prestação mensal outorgada às famílias assistidas. Por este motivo, as famílias beneficiárias do PBF não recebem prestações monetárias idênticas, pois estas variam em função das características de cada família.

Às famílias extremamente pobres destinam-se dois tipos de benefícios exclusivos a elas, ou seja, que não são outorgados às famílias classificadas como pobres. Estes são o

32 Os valores apresentados, para os benefícios e faixas de renda, passaram a viger em função da Lei nº 8.232,

Benefício Básico e o Benefício para Superação da Extrema Pobreza (BSP). Ambos os benefícios independem da composição familiar, isto é, são transferidos ainda que a família não possua crianças, jovens, nutrizes ou gestantes. O Benefício Básico é de R$77,00, limitando-se a um benefício por família. Tal valor equivale a 10,6% do valor do salário mínimo brasileiro, que corresponde a R$724,00, para o ano de 2014. Já o BSP é concedido quando, mesmo após receber todos os outros benefícios pertinentes à sua situação, a família continua abaixo da linha de extrema pobreza. No caso deste benefício, seu valor varia em conformidade com a condição familiar, pois seu cálculo compreende o montante necessário para que a família em questão ultrapasse a linha monetária definidora de extrema pobreza. Logo, o BSP trata-se de um mecanismo para extinguir a extrema pobreza no país, pelo menos no que concerne ao critério de renda considerado no PBF.

O terceiro tipo de benefício do Bolsa Família é o Benefício Variável que, como seu nome sugere, varia em função da composição familiar. Este benefício é concedido tanto às famílias classificadas como extremamente pobres quanto às famílias pobres. Ele se divide em quatro tipos, de acordo com o membro familiar ao qual esteja vinculado. Assim, o Benefício Variável vincula-se: i) à criança de 0 a 15 anos; ii) à gestante; iii) à nutriz e iv) ao adolescente de 16 ou 17 anos. Aos três primeiros corresponde o valor de R$35,00 por benefício, que equivale a 4,8% do valor salário mínimo, restringindo-se a cinco benefícios no total por família. Já o benefício vinculado ao adolescente, denominado Benefício Variável Jovem (BVJ), consiste em R$42,00, equivalente a 5,8% do salário mínimo, atendo-se ao máximo de dois benefícios deste tipo por família. O quadro 4 sintetiza o tipo e a quantidade de benefícios atribuíveis às famílias, conforme a composição familiar e sua situação quanto à renda per capita.

Como é possível apreender do quadro 4, as famílias em condição de pobreza podem receber transferências que variam de um mínimo de R$35,00 (se tiverem uma criança, ou uma gestante, ou uma nutriz) até o máximo de RS259,00 (se tiverem pelo menos cinco membros entre crianças, gestantes e nutrizes, mais dois adolescentes de 16 ou 17 anos). Logo, para as famílias classificadas como pobres, o benefício total concedido pelo PBF não ultrapassa 36% do valor do salário mínimo brasileiro. Para as famílias extremamente pobres, porém, as transferências do PBF oscilam entre o mínimo de R$77,00 (Benefício Básico) e o máximo de R$336,00 (Benefício Básico somado ao valor máximo atribuível à composição familiar), correspondente a 46,4% do valor do salário mínimo, desde que tais famílias

superem a linha da extrema pobreza a partir destas transferências. Do contrário, cada família, em função de sua necessidade, recebe um acréscimo de renda (correspondente ao BSP) para ultrapassar tal linha.

Quadro 4

Valores dos benefícios do Programa Bolsa Família

Tipo de benefício Valor por benefício (R$)

Regra para concessão

Benefício básico 77,00

Máximo por família: 1 Apenas famílias extremamente pobres, independentemente da

composição familiar Benefício para superação da extrema pobreza Caso a caso

Benefício variável vinculado

À criança de 0 a 15 anos

35,00 Máximo por família: 5

Famílias extremamente pobres e famílias pobres À gestante

À nutriz

Ao adolescente de 16 ou 17 anos 42,00 Máximo por família: 2

Fonte: MDS, 2014d. Elaboração própria.

O tempo de concessão dos benefícios monetários outorgados às famílias assistidas pelo PBF é de, no mínimo, dois anos. No entanto, a continuidade do vínculo da família beneficiária ao programa e o acesso às prestações monetárias condicionam-se a uma avaliação, realizada a cada dois anos, da condição socioeconômica da família. De maneira

que o vínculo ao programa e a concessão33 dos benefícios são garantidos enquanto a condição da família assistida for compatível com os requisitos, de composição familiar e renda, exigidos pelo PBF. Este sistema de avaliação bienal permite que as famílias mantenham-se ligadas ao PBF, pelo menos, durante o período mínimo estabelecido, sem prejuízo de seu vínculo ao programa em função da volatilidade monetária característica de famílias sob pobreza (SOARES, 2010, p.185). Considerando-se este aspecto, pode-se argumentar que o PBF também atende a famílias não se encontram todo o tempo abaixo da linha de pobreza, mas que gravitam ao seu redor.