• Nenhum resultado encontrado

2. OS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA CONDICIONADA DE

2.2. Asignación Universal: Familiar e para Protección Social – Argentina

2.2.3. Subsistema não contributivo

O subsistema não contributivo foi concebido como uma extensão do direito de recebimento das asignaciones, até então concedido apenas às famílias dos trabalhadores formais. Segundo a ANSES (2013, p.3), esta “política social reconhece a seus titulares como sujeitos portadores de certos direitos humanos básicos e ao Estado como responsável de torná-los efetivos”44. Buscou-se com a criação deste subsistema universalizar a cobertura da proteção social às crianças e adolescentes, tornando-a consonante à Lei 26.061/2005, que estabelece a proteção integral dos direitos da infância e adolescência no país. Contudo, apesar de sua concepção perfazer um direito, este subsistema impõe condicionalidades (para o recebimento integral da transferência monetária) e limite de beneficiários, diferentemente do subsistema contributivo. Deste modo, uma distinção fundamental entre os benefícios concedidos por ambos os subsistemas é o caráter condicionado assumido pelo subsistema não contributivo.

Este subsistema compõe-se de dois tipos de políticas: a Asignación Universal por Hijo para Protección Social (AUH) e a Asignación por Embarazo para Protección Social (AEPS). A AUH foi criada em 2009, através do Decreto 1.602 do PEN, e está em vigência na Argentina desde novembro do referido ano, quando foi incorporado ao Regime Universal de Asignaciones. A AEPS, por sua vez, foi implementada pelo Decreto 446/2011, passando a vigorar a partir de maio daquele ano.

Ambas as políticas não contributivas são financiadas pela ANSES, através das mesmas fontes de recursos do subsistema contributivo, com o acréscimo dos rendimentos anuais do Fondo de Garantía de Sustentabilidad (FGS).

Inicialmente, o subsistema não contributivo compunha-se apenas pela AUH, sobre o fundamento da efetivação da proteção integral à infância e à adolescência. Posteriormente, a AEPS foi incluída a esse subsistema, tendo por alicerce diversas considerações expostas

no preâmbulo do Decreto que lhe deu origem. Estas considerações reconhecem, entre outros apontamentos:

Que é obrigação do Estado Nacional adotar políticas públicas que permitam melhorar a situação dos grupos familiares em situação de vulnerabilidade social. (...) Que no marco da política social que o governo está levando a cabo e considerando os resultados positivos que gerou a incorporação da citada Asignación Universal por Hijo para Protección Social no que concerne à redução da pobreza, resulta conveniente continuar ampliando a cobertura das asignaciones familiares, otimizando progressivamente os benefícios que oferece o Sistema de Seguridade Social. (...) Que a mortalidade materna é um indicador da injustiça social, da iniquidade de gênero e da pobreza, já que o problema se vincula estreitamente às dificuldades de acesso à educação e aos serviços de atenção médica especializados.45 (ARGENTINA, 2011, Preâmbulo).

Deste modo, a AEPS surge como uma política específica de combate à pobreza, diferentemente da AUH cujo fundamento primário é a extensão do direito às asignaciones a todas as crianças e adolescentes do país, antes não cobertos pelo subsistema contributivo, visando à integralidade de sua proteção.

B) Público-alvo e benefícios

 Asignación Universal por Hijo – AUH

A AUH tem por público-alvo crianças e adolescentes menores de 18 anos ou incapacitados, sem restrição de idade, dependentes de pais ou outros responsáveis legais que sejam trabalhadores informais, do serviço doméstico ou que estejam desempregados. Para fazer jus ao benefício, os trabalhadores desempregados não podem estar recebendo o seguro desemprego e os demais não podem perceber um rendimento superior a um salário mínimo, que na Argentina chama-se Salario Mínimo Vital y Móvil (SMVM) e equivale a $3.600,00, em 2014 (MECON, 2013). Tanto os dependentes quanto seus responsáveis devem ser

45 Tradução nossa. “Que es obligación del Estado Nacional adoptar políticas públicas que permitan mejorar la

situación de los grupos familiares en situación de vulnerabilidad social. (...) Que en el marco de la política social que está llevando a cabo el gobierno y considerando los resultados positivos que ha generado la incorporación de la citada Asignación Universal por Hijo para Protección Social en lo concerniente a la reducción de la pobreza, resulta conveniente continuar ampliando la cobertura de las asignaciones familiares, optimizando progresivamente los beneficios que brinda el Sistema de Seguridad Social. (...) Que la mortalidad materna es un indicador de la injusticia social, la inequidad de género y la pobreza, ya que el problema se vincula estrechamente con las dificultades de acceso a la educación y a los servicios de atención médica especializados”.

residentes na Argentina, ser natos ou naturalizados ou possuir residência legal no país não inferior a 3 anos.

Este benefício é pago mensalmente a um dos responsáveis (de preferência, a mãe) pela criança, adolescente ou incapacitado assistido, até o limite de cinco dependentes por família. O valor46 do benefício é de $644,00 por cada filho menor de 18 anos e $2.100,00 por filho com incapacidade. Em termos de SMVM, estes valores correspondem a 17,9%, no caso do benefício de dependente menor de idade, e a 58,3%, no caso do benefício direcionado aos dependentes incapacitados. Dessa maneira, uma família beneficiária pode receber desde o mínimo de $644,00 (se tiver um dependente menor de idade), até o máximo de $3.220,00 (se tiver até cinco dependentes menores), valor que corresponde a 89,4% do SMVM. Caso haja algum dependente incapacitado, esse valor será maior, respeitando-se o limite de cinco dependentes (entre menores e incapacitados) por grupo familiar beneficiário.

A prestação é dividida em duas partes: 80% do valor do benefício mensal são pagos diretamente ao responsável e os 20% restantes são mantidos em uma conta bancária, podendo ser retirados somente uma vez ao ano, sob o critério de cumprimento de algumas condicionalidades exigidas nas áreas de educação e saúde. Os pagamentos mensais, referentes aos 80% do valor da prestação, são de atribuição da própria ANSES, realizados através do SUAF. Já os pagamentos dos outros 20%, acumulados ao longo do ano, estão sob incumbência do Banco de la Nación Argentina (BNA).

 Asignación por Embarazo – AEPS

A AEPS foca-se no atendimento a gestantes em situação de vulnerabilidade social. Para pleitear o benefício, a gestante deve ser residente no território argentino, ser nascida ou naturalizada no país, ou, ainda, caso estrangeira, possuir residência legal no país de, no mínimo, três anos.

O pagamento deste benefício é mensal, no montante47 de $644,00, sendo realizado durante o período que compreende da décima segunda semana de gestação até o nascimento ou a interrupção da gravidez, o que compreende, em geral, um período de seis meses ou, ainda, seis parcelas a serem pagas. A gestante recebe o valor referente a apenas um benefício, ainda que esteja grávida de mais de um filho. Por outro lado, a beneficiada pode acumular dois benefícios referentes à AEPS, caso ela esteja vinculada a duas atividades distintas de trabalho. A AEPS é compatível com o recebimento da AUH, o que significa que a gestante beneficiária pode receber as prestações referentes a ambas as políticas. Isto posto, tem-se que uma gestante beneficiada pelo AEPS e simultaneamente pela AUH, em razão de seus dependentes, pode receber desde um mínimo de $1.288,00 (01 benefício da AUH para dependente menor, mais 01 benefício da AEPS), que corresponde a 35,8% do SMVM, até um máximo de $4.508,00 (05 benefícios da AUH para dependente menor, mais 02 benefícios da AEPS), valor superior ao SMVM em 25,2%. Obviamente, havendo dependentes incapacitados os valores concedidos serão maiores.

Similarmente às prestações da AUH, o pagamento das prestações da AEPS também é dividido em duas partes. São pagos mensalmente 80% do valor do benefício, da décima segunda à última semana de gestação, isto é, durante seis meses. Os 20% restantes são acumulados e pagos, em única parcela, apenas ao término da gravidez, quando do parto ou por interrupção. Contudo, o recebimento do montante acumulado, a partir dos 20% do valor da prestação mensal, condiciona-se ao cumprimento de condicionalidades na área de saúde, que exigem o seguimento dos controles médicos preconizados pelo Programa SUMAR (antigo Plan Nacer), do Ministerio de Salud (MSAL).

C) Condicionalidades

 Asignación Universal por Hijo – AUH

No caso da AUH, para que o titular do benefício resgate o montante dos 20% de cada prestação mensal retido e acumulado durante o ano é preciso que ele e sua família executem as contrapartidas impostas pelo programa. São exigidas condicionalidades nas

áreas de saúde e educação, que correspondem: i) ao cumprimento dos controles sanitários e de vacinação, para os dependentes de até quatro anos de idade, e ii) à comprovação de frequência em estabelecimentos públicos de ensino, para os dependentes de cinco a dezoito anos de idade.

 Asignación por Embarazo – AEPS

A AEPS impõe condicionalidades na área de saúde para o recebimento integral do benefício. Contudo, a primeira condicionalidade diz respeito à própria inclusão na AEPS, pois para ser incluída é preciso que a grávida esteja previamente inscrita no Programa SUMAR, um programa federal de atenção à saúde voltado, principalmente, para gestantes, parturientes e crianças. Em agosto de 2012, o Programa SUMAR surgiu como expansão do Plan Nacer, ao qual as beneficiárias da AEPS estavam previamente vinculadas. Através do Programa SUMAR, e somente por ele, a gestante recebe o atestado médico48 que comprova e situa temporalmente sua gestação, para que ela seja, então, incluída na AEPS.

A gestante assistida pela AEPS deverá cumprir o rol de controles médicos estabelecidos pelo Programa SUMAR, para fazer jus ao recebimento integral do benefício concedido pela AEPS. Tais controles incluem consultas regulares de pré-natal, participação em seções de orientação de saúde sexual e de cuidados com sua saúde e a do recém-nascido e, também, exames diversos e um roteiro de vacinação, para si e para seu filho.

O quadro 6 sintetiza o conjunto de informações referentes aos valores, público-alvo e condicionalidades exigidas tanto pela AUH quanto pela AEPS.

Para além dos subsistemas contributivo e não contributivo, há um mecanismo indireto de assistência (que não integra o sistema de Seguridad Social), em vigor desde março de 2013, concedido aos responsáveis por menores de 18 anos. Este “benefício” é direcionado a favorecer os dependentes legais dos contribuintes do imposto de renda, cujos rendimentos anuais superem o valor mínimo não tributável (CURCIO & BECCARIA, 2013, p.10). Concede-se uma dedução no imposto de renda no valor de $8.640,00 anuais por

48 Este atestado (chamado “alta”) é, unicamente, concedido pelos médicos vinculados ao Programa SUMAR

dependente menor, isto é, $720,00 mensais. Neste caso, a gestão do benefíco não pertence à ANSES, mas está sob encargo da Administración Federal de Ingresos Públicos (AFIP).

Quadro 6

Valores, público-alvo e condicionalidades da AUH e da AEPS

AUH

Público-alvo

Crianças e/ou adolescentes menores de 18 anos ou incapacitados (sem restrição de idade), dependentes de pais ou outros responsáveis legais que sejam trabalhadores informais, do serviço doméstico (cujos rendimentos não sejam superiores a 01 SMVM) ou que estejam desempregados (e sem receber seguro-desemprego)

Valores

Dependente menor $644,00 Máximo de 05 dependentes

por família Dependente com incapacidade $2.100,00

Condicionalidades

Educação: Comprovação de frequência em estabelecimentos públicos de ensino, para os dependentes de 05 a 18 anos de idade

Saúde: Cumprimento dos controles sanitários e de vacinação, para os dependentes de até 04 anos de idade

AEPS

Público-alvo

Gestantes em situação de vulnerabilidade social, vinculadas a alguma atividade de trabalho, previamente inscritas no Programa SUMAR (antigo Plan Nacer) do Ministerio de Salud

Valores Gestante, por vínculo de trabalho: $644

Condicionalidades

Saúde: Estabelecidas pelo Programa SUMAR:

 Inscrever o récem-nascido no Programa SUMAR e também todos os menores de 06 anos

 Receber todos os controles e cuidados de saúde durante a gravidez (inclusive, consultas regulares de pré-natal)

 Acompanhar e manter em dia o esquema vacinal para todos os menores de 18 anos

 Acompanhar os controles de saúde de crianças e adolescentes

Fonte: ANSES, 2013; ANSES, 2014; ANSES, 2014c; MSAL, 2013. Elaboração própria.