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PAISAGEM CULTURAL: Utilizações de um conceito

CAPÍTULO 1 DEFININDO UMA CATEGORIA

1.2. PAISAGEM CULTURAL: Utilizações de um conceito

Falar em paisagem cultural pode ser algo redundante, já que ela é, em qualquer perspectiva adotada, o reflexo de uma ou várias culturas sobre um território ao longo da história. Porém, quando a UNESCO adjetivou a paisagem com o vocábulo “cultural”, buscou expressar as interações humanas com o meio ambiente e a presença dos valores culturais tangíveis e intangíveis, merecedores de proteção específica (UNESCO, 2009).

Somente em 1992 a concepção de paisagem cultural é inserida oficialmente no âmbito do patrimônio, contudo, o conceito acadêmico é debatido desde o final do século XVII e se mostra como um dos mais complexos de ser definido, tanto no âmbito científico quanto no senso comum11.

No âmbito científico coube a geografia se ocupar com profundidade sobre o conceito de paisagem. Considerada um dos temas chaves na ciência geográfica, várias contribuições em busca de um método e de sua delimitação foram feitas por geógrafos de escolas diversas.

A geografia proposta por Vidal de La Blache, considerado por muitos o fundador da escola francesa, teve uma grande influência no desenvolvimento do conceito de paisagem. Estabelecida a partir de um cruzamento de influências filosóficas, os estudos geográficos vidalianos eram compostos por quatro idéias principais: organismo, meio, ação humana e gênero de vida (GOMES, 1996).

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O próprio termo parece não apresentar um consenso, sendo utilizado de diversas formas e com traduções variadas. Gomes (1996, p.237), citando Hartshorne, considera que a noção de landscape, como utilizada por alguns geógrafos, é “[...] carregada de ambigüidades e de imprecisões [...]” e que ela colocava “[...] mais problemas para a geografia do que lhe oferecia soluções”.

La Blache adota uma postura objetiva da paisagem, ao considerar que ela seria a expressão da fisionomia terrestre, “um signo, ou um conjunto de signos, que se trata então de apreender a decifrar, a decriptar, num esforço de interpretação que é um esforço de conhecimento, e que vai, portanto, além da fruição e da emoção” (BESSE, 2006, p.64).

Com esta compreensão, a paisagem não é vista como uma mera representação do olhar humano, mas uma construção material com uma base fundada em um sítio. Contudo, esta postura objetiva não nega que haja importantes aspectos subjetivos estabelecidos pelo contexto cultural de cada indivíduo, afinal a paisagem é um reflexo da produção cultural humana, sendo por isto impregnada de valores e crenças.

Segundo Gomes (1996, p. 211), os geógrafos seguidores do pensamento vidaliano valorizavam o contato direto com as regiões estudadas e “[...] produziam interpretações a partir deste contato com seu objeto. A antiga tradição hermenêutica não está muito longe do comportamento destes geógrafos, “leitores” eruditos das paisagens e das regiões”.

Desta forma, cada construção seria feita com base no interesse da pesquisa, o que possibilitaria leituras variadas de um mesmo fenômeno. Cada investigador iria destacar a principal característica de uma região ou paisagem com base em verdadeiras leituras “flexíveis”, realizadas para estabelecer como se deram as relações entre os elementos. Assim, “para cada região, existe um movimento particular resultante das combinações múltiplas entre os elementos que a compõem” (GOMES, 1996, p. 210).

Apenas um olhar preparado seria capaz de apreender as relações presentes na paisagem. Os aspectos visíveis seriam observados por todos, mas apenas um olhar técnico iria compreender como ocorrem as relações entre os elementos, compondo assim a paisagem de aspectos subjetivos. Não se tratava de negar o visível, mas de considerar que através da leitura dele era possível compreender as formas de organização do espaço, estruturas, formas, fluxos, tensões, centralidades e periferias. Como aponta Besse (2006, p.64), os geógrafos tradicionais tinham necessidade de exercer uma interpretação das formas presentes, para encontrar as forças subjetivas que davam vida aquela paisagem. A grande questão estabelecida por eles é “que há de se ler a paisagem”.

Com esta abordagem da escola francesa, iniciada por La Blache, podemos considerar que a paisagem é objetiva: por possuir elementos concretos, ao mesmo tempo em que é subjetiva: composta de múltiplos significados e processos, interpretados em função da leitura realizada.

Apesar de o pensamento vidaliano ter uma grande influência na utilização da paisagem pela UNESCO (RIBEIRO, 2010), outra corrente geográfica também exerceu um importante papel no desenvolvimento do conceito e estabelecimento de um método de leitura.

Geógrafos alemães tradicionais instituíram o termo paisagem cultural (Kulturlandschaft) e paisagem natural (Naturlandschaft) para diferenciar os locais transformados pelo homem dos que não sofreram mudanças culturais12. Estes geógrafos tradicionais exerceram grande influência nos estudos da paisagem e foram tomados como base por Carl Sauer em meados do século XX, quando ele estabelece o método morfológico de análise. Para Sauer “a cultura é o agente, a área natural é o meio, a paisagem cultural o resultado” (SAUER, 1998, p. 59). Apesar de fundamental para a criação da Geografia Cultural, esta abordagem sofreu variadas críticas por desconsiderar os aspectos subjetivos nas análises e adotar de um conceito de cultura considerado superorgânico13

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Além de estas críticas resultarem em um desenvolvimento do conceito de paisagem, não faz mais sentido pensarmos o tema de uma forma tão dicotômica, quanto o proposto pelos geógrafos alemães clássicos e pela geografia cultural tradicional (RIBEIRO, 2011). Neste sentido, o presente trabalho adota as concepções teórico-metodológicas do movimento de renovação da geografia cultural, ou Nova Geografia Cultural, que teve início em 1980.

Com a aproximação às ciências humanísticas, novos métodos de interpretação da paisagem, objetivos, objetos e fontes foram adicionados a prática geográfica, em busca de superar justamente o que o método morfológico havia deixado de lado: o caráter simbólico. Métodos voltados para interpretação, descrição e introspecção assumem

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Para uma melhor compreensão do tratamento dado pelos geógrafos alemães à paisagem no final do século XIX e início do século XX, consultar o trabalho de Gomes (2007).

13 Para uma melhor compreensão das críticas estabelecidas ao conceito de cultura utilizado pelos seguidores

importância, surgindo assim novas fontes de pesquisa como os discursos, as tradições literárias, filosóficas, religiosas ou as artes plásticas (BESSE, 2006, p. 78).

Os adeptos a esta nova corrente consideram que para uma leitura da paisagem é necessário interpretar os significados que ela apresenta para os diferentes grupos culturais, visando compreender como as paisagens foram e são produzidas. Esta abordagem faz com que eles não refutem totalmente as teorias elaboradas por Sauer, mas busquem uma atualização de seus métodos, em oposição à analise espacial quantitativa, estabelecido no âmbito da ciência geográfica entre as décadas de 1950 e 1970 (MELO, 2001).

Outra importante proposta levantada por esse grupo refere-se ao conceito de cultura adotado. Enquanto para os seguidores de Sauer, a cultura era vista mais como uma totalidade, os novos geógrafos culturais compreendem que a cultura é reproduzida por meio de práticas sociais constituídas em uma variedade de escalas espaciais. Assim, os significados e as práticas culturais tornam-se particulares a determinados grupos da sociedade, ao mesmo tempo em que são passíveis de alterações e contestações (MCDOWELL, 1996, p. 164).

O conceito de cultura proposto por Clifford Geertz teve grande influência no movimento de renovação da geografia cultural. Geertz (2008) adota um conceito semiótico da cultura, ao acreditar que o homem é um animal amarrado a várias teias de significados tecidos por ele mesmo em um contexto específico. Na análise etnográfica proposta pelo autor não caberia o estudo da cidade, da vila ou do homem, sem a interpretação dessas variadas teias de significados, produzidas pelo homem em interação com estes espaços.

Em seu trabalho ele vai contra o conceito “superorgânico” de cultura ao considerar um erro pensar no termo como algo simplesmente objetivo ou subjetivo. Para o autor, a cultura deve ser compreendida como as interpretações contextualizadas que fazemos de signos específicos:

“Como um sistema entrelaçado de signos interpretáveis [...], a cultural não é um poder, algo ao qual podem ser atribuídos casualmente os acontecimentos sociais, os comportamentos, as instituições ou os processos; ela é um contexto, algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligível – isto é, descritos com densidade” (GEERTZ, op. cit., p.10).

Esta compreensão de cultura é uma das bases do trabalho etnográfico proposto, onde o homem não é considerado um só, pois ele sofre várias influências do meio onde se

encontra, em constante transformação. Ao contrário do pensamento antropológico tradicional, o autor procura substituir a visão estratigrafada das relações humanas, por uma ciência sintética, onde os diversos fatores que compõem o ser humano são tratados como variáveis dentro de um sistema de análise.

É a partir das influências desta concepção interpretativa da cultura, que uma abordagem mais subjetiva alcança o âmbito da paisagem. Ela passa a ser concebida não apenas por suas características materiais, mas também a partir das diversas interpretações dos seus significados, pois “todas as paisagens possuem significados simbólicos porque são o produto da apropriação e transformação do meio ambiente pelo homem” (COSGROVE, 1998, p. 108). A paisagem nesta abordagem “[...] não seria apenas o resultado material das interações entre ambiente e sociedade, mas também a consequência de uma maneira específica de olhar” (MCDOWELL, 1996, p. 176).

Denis Cosgrove e James Duncan estão entre os principais autores dessa nova corrente geográfica. O primeiro autor se baseia em uma aproximação entre a teoria materialista dialética e as interpretações da paisagem. Para Cosgrove (2003) tanto as ideias marxistas quanto a geografia cultural moderna têm início em um mesmo momento conceitual, ambas levantam a bandeira contra qualquer determinismo ou explicação linear causal, insistindo em caracterizar a relação entre seres humanos e natureza como um fato histórico.

Cosgrove propõe unir a Geografia Cultural Humanista a Geografia Social Marxista para em conjunto, explorarem o mundo dos homens e as geografias da mente (MELO, 2001). A paisagem geográfica seria uma expressão humana intencional, composta de muitas camadas de significados e que poderia ser classificada em paisagens da cultura dominante e paisagens alternativas. A primeira procura imprimir sua marca, ser vista e reconhecida pelo mundo enquanto que a segunda é produzida por grupos menores que não tem domínio do território e, logo, suas marcas e significados não são considerados no momento da leitura (COSGROVE, 1998).

James Duncan (1990) parte da clássica concepção da leitura de paisagem para dar um passo adiante na analise da relação entre paisagem e a manutenção do poder, produzindo uma maneira especifica de interpretação a partir dos discursos produzidos.

Claramente influenciado pelos trabalhos de Clifford Geertz, ele aborda que a paisagem deve ser lida como um texto considerando-a uma produção cultural, diretamente ligada com a reprodução do poder político. O Autor propõe que para se interpretar a paisagem como um texto deve-se, inicialmente, compreender o vínculo das pessoas com o local e como suas leituras contribuem para a política de interpretação; em seguida é necessário apreender quais os significados que a paisagem tem para os atores externos e internos através do discurso realizado por eles; e por fim, considerar um sistema de significação implícito à paisagem, onde o papel do investigador enquanto interprete externo tem grande importância (MELO, 2003).

A partir de uma abordagem antropológica, Duncan (1990, p.17) desenvolve uma interpretação dos textos produzidos por diversos setores de uma sociedade, em uma época e local específico, onde, para ele:

“[...] paisagens, são um dos elementos centrais em um sistema cultural, pois, como um conjunto ordenado de objetos, um texto, age como um sistema significante através do qual um sistema social é comunicado, reproduzido, experimentado e explorado”

Já que a paisagem tem este caráter central em um sistema cultural, sua compreensão depende da interpretação que se faz das partes do sistema. Assim, “[...] para entendermos a natureza relacional do mundo, precisamos “preencher” muito do que é invisível; ler os subtextos que estão para além do texto visível” (op. cit., p. 14).

A forma de leitura destes textos e seus subtextos propostas por Duncan não pode ser realizada da maneira tradicional proposta pela geografia, onde a observação objetiva era valorizada. Ele compartilha as ideias de Michel Foucault (2002, p.43) onde uma observação inocente não é capaz de traduzir os textos visíveis ou de que “O mundo é coberto de signos que é preciso decifrar [...]. Conhecer será, pois, interpretar: ir da marca visível ao que se diz através dela”.

Para realizar esta interpretação o autor focou na significação e na retórica da paisagem. A significação da paisagem diz respeito ao que determinado local representa para grupos específicos: habitantes locais; habitantes não locais (estrangeiros); e o próprio pesquisador. Interessado nos significados que os textos poderiam exprimir, foram realizados questionamentos perante os documentos escritos pelo alto poder religioso e político do reino de Sri-Lanka, no final do século XIX (DUNCAN, 1990).

Para a interpretação dos discursos coletados foi utilizado o método hermenêutico. Este método procura transformar um elemento distante em próximo através de um discurso racional, orientado pelo diálogo entre o pesquisador e o objeto de estudo, para que ele “nos fale” em uma língua compreensível. Com a reflexão posta a partir de uma atitude hermenêutica, o estudo de um objeto desconhecido transforma-se na interpretação de um objeto próximo e familiar (SANTOS, 1989).

A hermenêutica possibilita a interpretação de textos através de metáforas que transformam a ciência em algo palpável para o senso comum e vice e versa. Ou, para retomar novamente Foucault (op. cit, p. 39): “Chamemos hermenêutica o conjunto de conhecimentos e de técnicas que permitem falar os signos e descobrir seu sentido [...]”

Já a retórica da paisagem seriam os mecanismos pelos quais as significações da paisagem tomam lugar no território. A partir da retórica, podem-se compreender os processos pelos quais a paisagem pode ser lida como um texto e, assim, funcionar como um instrumento comunicativo que reproduz a ordem social (DUNCAN, 1990, p.19-22).

A concepção de paisagem adotada pela nova geografia cultural tem grande influência na utilização do conceito pela UNESCO, assim como a própria ideia de paisagem enquanto fisionomia terrestre, proposta pela geografia tradicional. Como mostra Ribeiro (2007), com o estabelecimento de três subcategorias da paisagem houve uma tentativa de englobar diferentes correntes de pensamento na categoria. Enquanto uma apresenta uma forte influência geográfica tradicional através da compreensão evolutiva historicista, a paisagem associativa utiliza-se da compreensão dos significados que uma área tem para a população, apresentada pela Nova Geografia Cultural. Além destas, as paisagens claramente definidas parecem estar muito mais ligadas a uma vertente paisagística, ligada aos arquitetos da paisagem.

Tanto o conceito de paisagem proposto pela geografia, quanto a categoria instituída pela UNESCO apresentam a abordagem integrada das relações estabelecidas entre os aspectos culturais, naturais e subjetivos como algo primordial. No caso da abordagem patrimonial, esta compreensão representa um grande salto ao tratar de forma integrada bens culturais, naturais e imateriais. Porém, esta não é a única organização que utiliza o

conceito como um instrumento patrimonial. Dentre algumas outras14, uma das mais significativas é proposta pela Convenção Europeia da Paisagem.

Com parâmetros mais abrangentes das instituídas pela UNESCO, a Convenção tem o objetivo principal de introduzir regras para proteção, gerenciamento e planejamento das paisagens europeias, constituindo um elemento fundamental para a gestão territorial.

Para a Convenção, a paisagem “[...] significa uma área, como percebida pelas pessoas, cujo caráter é o resultado da ação e interação de fatores naturais e / ou humanos” (COUNCIL OF EUROPE, 2000). Diferente da UNESCO cujas paisagens a serem protegidas têm que apresentar um valor patrimonial universal de excepcionalidade, nenhuma distinção é feita entre paisagem natural e cultural, tão pouco entre paisagens excepcionais e cotidianas, rurais ou urbanas.

Esta perspectiva de abordagem se alinha com as concepções geográficas. Primeiro, a paisagem é uma área que contém características físicas, que expressam a ação humana, logo, pode ser gerenciada. A paisagem existe também a partir de como é percebida pelas pessoas, e por isto suas características simbólicas devem ser consideradas em sua gestão. Terceiro, a paisagem une a contínua interação entre a ação humana com os fatores naturais existentes em determinado território (ANTROP, 2006b).

O documento tem como objetivo promover a proteção, gestão e planejamento das paisagens Europeias, gerindo as mudanças ocasionadas por problemas como o aumento dos espaços urbanos em detrimento dos rurais, impactos ambientais gerados pelos avanços da agricultura, perda de identidade cultural frente à globalização, dentre outros.

Nos documentos europeus a paisagem é vista como algo dinâmico, merecedora de atenção especial quanto a sua gestão e permanência visando às gerações futuras. Além disto, nestes documentos não há uma valorização apenas das paisagens com bases agrícolas em detrimento das características de ambientes urbanos. A convenção busca pela sustentabilidade dos elementos e significados que torna o local importante para uma população, considerando assim o tema como algo mutável ao longo do tempo.

14 Como a preservação da paisagem cultural está relacionada a proteção do patrimônio cultural e natural,

diversas organizações estão envolvidas na operacionalização da categoria: The World Conservation Union (IUCN), The International Council of Monuments and Sites (ICOMOS), The International Association of Landscape Ecology (IALE), The International Federation of Landscape Architects (IFLA), entre outras (ANTROP, 2006a).

No Brasil, apesar de ser institucionalizada em 2009, com a publicação da portaria Nº 127 de 30 de Abril que estabelece a Chancela da Paisagem Cultural Brasileira, a paisagem já era reconhecida pelo IPHAN15, sendo vista como uma moldura ao redor do monumento e não como o bem em si. Com a criação da Chancela, o IPHAN reconhece que:

“os fenômenos contemporâneos de expansão urbana, globalização e massificação das paisagens urbanas e rurais colocam em risco contextos de vida e tradições locais em todo o planeta” e que os “instrumentos legais vigentes que tratam do patrimônio cultural e natural, tomados individualmente, não contemplam integralmente o conjunto de fatores implícitos nas paisagens culturais”16.

A preservação dos bens ocorreria através de um pacto público entre a sociedade civil, o poder público e os diversos níveis da iniciativa privada, que se tornariam responsáveis pela identificação, monitoramento e proteção da área chancelada.

Diferente do tombamento, a Chancela da Paisagem Cultural Brasileira reconhece o caráter dinâmico da cultura imbuída na ação humana, como fundamental para a preservação do bem, sendo um reflexo de como a compreensão patrimonial atual está voltada para a manutenção das mudanças de forma orientada, e não para a cristalização do bem.

O documento brasileiro adota uma compreensão ampla da paisagem, indo além dos instrumentos tradicionais ao não necessitar de uma definição de polígonos, bastante utilizados na proteção dos centros históricos. Tomando como base o conceito geográfico da paisagem, esta não poderia se limitar a uma área restrita, indo além de limites políticos administrativos. A preocupação é na preservação dos aspectos que tornam determinado local significativo para uma população, a partir de um eixo de leitura especifico.

Um exemplo destas posturas pode ser visto no primeiro bem chancelado com base na paisagem cultural brasileira. Em 2011, quando o conselho consultivo do IPHAN chancelou os bens relacionados à imigração Europeia em Santa Catarina deu um importante passo para as políticas públicas de patrimônio cultural. A proteção engloba diversos tipos de bens patrimoniais em várias localidades diferentes do Estado e estimula a criação de um

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Ribeiro (2007) dá vários exemplos da utilização da paisagem pelo IPHAN desde a criação do instituto até os dias atuais.

16 Portaria 127 de 30 de Abril de 2009 - Chancela da Paisagem Cultural Brasileira. Disponível em:

roteiro turístico nacional baseado na imigração, como forma de garantir a geração de renda e manutenção dos elementos importantes à área17.

Apesar de representar um grande avanço, a Chancela é apenas mais um instrumento, que deve ser pensando de forma integrada às práticas de tombamento e registro cultural. Além disto, a portaria necessita de um aparato legal que a torne realmente efetiva para a política de patrimônio, ausente ainda hoje na legislação brasileira.