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O PCB e o campo Intelectual comunista da América Latina

No documento História e Historiografia (páginas 181-185)

(1945-1952)

Adriano Soares Sampaio1

Ana Amélia de Moura Cavalcante de Melo2

Introdução

A partir dos anos 80, abre-se espaço de produção de conhecimentos voltado para a ação dos comunistas e do PCB nas mais variadas faces da vida política nacional, como o papel dos intelectuais, da imprensa, das artes, da cultura e dos movimentos populares. Publicações estas que iam para além da própria produção oficial partidária e das produções memorialistas de autores que outrora foram membros da organização, como as memórias de Leôncio Basbaum, Octávio Brandão e Gregório Bezerra, publicadas respectivamente em 1976, 1978 e 1979.

A presente pesquisa é fruto da experiência ao longo da Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC), nosso objeto de pesquisa nesse artigo é sobre a atividade dos comunistas no jornal Tribuna Popular3 (1945 -

47), que circulou no Rio de Janeiro durante os anos de 1945 a 1947.

1 Graduando em História pela Universidade Federal do Ceará e Bolsista PIBIC-UFC 2020-21 no Projeto “América Latina no Jornal Tribuna Popular”. http://lattes.cnpq.br/2516266905657446, E-mail: soaresadriano321@gmail.com.

2 Professora do Departamento de História e do Programa de Pós-graduação em História Social na UFC. http://lattes.cnpq.br/5261516296514748, E-mail: anameliademelo@gmail.com. 3 Todas as edições do jornal Tribuna Popular estão disponíveis na hemeroteca digital da Biblio-

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Procuramos aqui analisar e identificar os debates sobre a Amé- rica Latina, no contexto interno marcado pela anistia aos presos políticos do Estado Novo, pelo início da atuação legal do PCB e de forte redemocratização do continente.

No desenvolvimento da pesquisa, houve duas mudanças nos seus rumos, a primeira é do recorte de 1945-52, na qual foi submetido o trabalho, foi alterada para o recorte de 1945 a 47, sendo nesse arti- go abordado especificamente o ano de 1945. A outra mudança foi que a partir da análise das publicações do periódico, o jornal não trouxe muitas publicações sobre a intelectualidade latino-america- na, portanto a premissa do trabalho de estudar o campo intelectual não se concretizou, pois o jornal era mais voltado para a política, o movimento operário, movimento estudantil e as lutas populares. Dessa forma, no presente artigo está incorporado os novos rumos da pesquisa, que busca problematizar sobre as ideias e os projetos de América Latina que ganham corpo nas páginas do jornal, o que está sendo pensado, debatido, vinculado e estabelecido sobre os países latino-americanos por um jornal dirigido pelos comunistas.

O jornal

Os militantes que até então organizavam as gráficas e a imprensa comunista nas entocas e na clandestinidade, agora encontravam-se instalados na avenida Aparício Borges, 207. A publicação diária4 Tri-

buna Popular, vinculada ao Partido Comunista Brasileiro5 no Rio

de Janeiro, assume proposta política de tornar-se a mais destacada publicação dos comunistas no Rio, aglutinando em torno de si uma rede de colaboradores, simpatizantes, divulgadores, pequenos co- 4 Tribuna Popular não era publicado na segunda feira.

5 Adoto nesta pesquisa para me referir ao PCB a designação Partido Comunista Brasileiro, ape- sar de sua nomenclatura de 1922 até o V Congresso do PCB em 1960, ser “Partido Comunista do Brasil”, quando foi alterada.

O PCB e o campo Intelectual comunista da América Latina (1945-1952) merciantes e financiadores do jornal, tornando-se um veículo fun- damental para a divulgação das ideias e práticas políticas dos cama- radas instalados na capital carioca. A Tribuna Popular fazia parte de um projeto político-cultural organizado pelo PCB em nível nacio- nal, cuja proposta era a difusão das ideias comunistas em torno da sociedade, a partir da produção de jornais, revistas teóricas, livros marxistas, campanhas artísticas e culturais. Apesar da vinculação do periódico à linha partidária, possuía certa autonomia em relação ao PCB. Teve a sua primeira edição lançada ao público em 22 de maio de 1945, no contexto da redemocratização no Brasil, das conquistas de liberdades democráticas, das mobilizações pela convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte e de uma notável ascensão política do PCB, tendo como principal figura pública o anistiado lí- der político Luiz Carlos Prestes, que esteve preso pelo governo Var- gas desde o ano de 1936. O funcionamento da Tribuna Popular vai até o ano de 1947, ano em que o registro do Partido Comunista é cassado, em um contexto de repressão aos movimentos sindicais e regressão das liberdades democráticas, de forma que

Em primeiro momento, a perseguição se apresentou de forma mais clara a partir da cassação do registro do PCB. Depois, as instituições ligadas aos pecebistas sofreram intervenção do governo. Em seguida, cassaram o direito de voz do senador e deputados federais comunistas. Em outra etapa, fecharam os jornais ligados ao PCB (LIMA NETO, 2006, p. 247).

A partir dessa encruzilhada anticomunista, em vista de todas essas dificuldades impostas pelo regime, não tendo mais condições de manter sua circulação nas ruas, fecha as portas em dezembro de 1947. Um mês depois, em janeiro de 1948, houve a suspensão dos mandatos dos parlamentares comunistas e novamente é imposta a situação de clandestinidade e ilegalidade ao PCB.

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A configuração visual do jornal contava na primeira página em destaque superior ao título “Tribuna Popular” no centro superior, em realce uma frase atribuída a Luiz Carlos Prestes “O povo terá enfim o seu jornal, a Tribuna Popular que reclamava e de onde po- deria expor suas reivindicações e debater os grandes problemas na- cionais que só ele pode de fato resolver”, ainda ao lado do título a palavra de ordem “Unidade”, “Democracia” e “Progresso”, termos que transmitiam a posição de União Nacional defendida pelo PCB. Embaixo continha a data e os membros do conselho editorial. Fre- quentemente o jornal contava com 4 folhas e 8 páginas, em alguns poucos momentos era publicado com 6 folhas e 12 páginas, quando contava com reportagens extraordinárias sobre algum tema, perso- nalidade, artista ou anúncios que ocupavam essas páginas extras. Na indicação do conselho editorial constavam os nomes: Pedro Mota Lima, Aydano do Couto Ferraz, Álvaro Moreyra, Dalcídio Jurandir e Carlos Drummond de Andrade.

A divisão do jornal contava com diversas colunas destinadas à cul- tura, aos esportes, ao cinema, a música, às artes, apresentando ilustra- ções, charges, espaços para convocações e reportagens sobre comícios políticos, colunas assinadas, reportagens de lideranças operárias e con- tava também com uma coluna diária intitulada “Através das Améri- cas”, onde se vinculavam as principais notícias sobre América Latina, que passa a existir a partir da décima segunda edição e, até o momento analisado no jornal (edição 146), continua existindo, demonstrando uma certa atenção e interesse do jornal com os rumos da política lati- no-americana. No conselho editorial, constavam nomes de relevância e destaque no cenário intelectual, por conta disso, a Tribuna Popular circulava com destaque “pela quantidade e pela qualidade devido ao prestígio de seus colaboradores, entre os quais estavam muitos artistas e escritores reconhecidos” (DUPRAT, 2017, p. 43), “e que chegou a ti- ragem de 50 mil exemplares” (OLIVEIRA, 2011, p. 14)

O PCB e o campo Intelectual comunista da América Latina (1945-1952) Dessa forma, procuro analisar a imprensa comunista não como uma simples abstração, mas a partir de um questionamento de quem está escrevendo e como esse processo era feito, quais as preocupa- ções sociais dos escritores, como se davam os embates existentes na política latino-americana e as redes de solidariedades pelas leituras entre os camaradas de toda a américa.

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