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Uma análise dos topônimos centrais na cidade de Tianguá-CE (1970-2000)

No documento História e Historiografia (páginas 81-84)

Luiz Eduardo Ferreira Santana1

Telma Bessa Sales2

Introdução

As barrocas continuaram ferindo o seu coração: Suas ruas sua alma, clamavam por solução,

Porém, não encontravam eco em suas justas pretensões: Quando o decreto 33 de 31 de Julho de 1890

Rompe o grito da garganta, clamando aos quatro ventos, E, ainda sem calçamento, a Vila de Barrocão,

Ganha a sua independência. [...]

E a Vila Chapadinha, já agora Barrocão, Em Clima de emancipação no norte do Ceará, A pedido de seu líder Manoel Francisco de Aguiar, Alegrando sua gente,

Passa a chamar-se cidade de Tianguá,

Honra e glória para todos do lugar (ABREU, 2009, p. 47).

A produção do escritor tianguaense Valdecy Santos rememora em seus versos, de forma saudosa os primeiros passos de sua terra. O re- corte do Poema “Tianguá e seus Cognomes”, que compõe uma série 1 Graduando do curso de Licenciatura em História/UVA e Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET/História UVA. E-mail: eduardo_fsantana@hotmail.com. http://lattes.cnpq. br/9661961059664842.

2 Prof.ª adjunta do Curso de Licenciatura em História na Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. E-mail: telmabessa@hotmail.com. http://lattes.cnpq.br/0922058102364578.

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de cânticos do poeta, traz um olhar progressista do autor em torno da cidade, que expressa pela variação de seus nomes, uma cidade as- solada pela pobreza e o descaso administrativo. Nesta perspectiva, as barrocas que elucidam uma representação desmotivante em um es- paço que iniciava um contexto de intensas transformações, ao passo de uma emancipação política, trabalha-se essa mudança do nome da cidade como uma forma de construir uma identidade desligada desta esfera de atraso social. O autor acompanha no corpo geral de sua obra o crescimento da cidade, dedicando-se a ilustrar etapas e valores que em sua perspectiva foram importantes para pensar a história do muni- cípio, assim como sua experiência de cidadão e agente transformador de sua realidade. Esse aspecto da produção local é um recorte centrado na vivência do autor, assim, como esse afago de um passado glorioso e um futuro promissor que se constrói na sua escrita tem um peso nas suas relações sociais. Compreender as dinâmicas estabelecidas entre o imaginário social e a influência presente a partir da nomenclatura proposta em determinados contextos, a espaços públicos ou privados, são prerrogativas que abrem brechas para refletir aspectos da memória e os discursos que estão presentes nesta sociedade.

Pensando nisso, atentamos aos elementos que se estruturam jun- to às relações de poder e pertencimento dentro de uma comunidade, seguindo os questionamentos de um estudo sobre a toponímia3 local,

compondo nossa perspectiva a partir do que idealizamos como uma espécie de “sistema nervoso” que constitui a cidade, as ruas. Como descreve João do Rio (2008) em suas crônicas, as ruas são muito mais do que alinhados de fachadas onde a população se locomove, ela é ca- paz de pensar, possuem sentimentos e até religiões, “A rua nasce, como o homem, do soluço e do espasmo. Há suor humano na argamassa do seu calçamento” (DO RIO, 2008, p. 26). Modulam-se ao passo dos indivíduos, reagindo junto em cada aspecto urbano sujeito a trans- 3 Toponímia é a área das Ciências Humanas que tem como objeto de estudo essa categoria de

nomes. Ela compõe junto com a Antroponímia (estudo dos nomes de pessoas) a Onomástica – ciência que estuda os ‘nomes próprios, nomes próprios de lugares, da sua origem e evolução. ZAMARIANO, Márcia. Reflexões sobre a questão do nome próprio na toponímia. Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: América Central e Caribe: múltiplos olhares n 351 o 45, p. 351-372.

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formações, expondo as bonanças, misérias, feitos e fatos que regem a sociedade, são elementos presentes e atuantes como marcos históricos e culturais. Como traz o Cronista, “é a mais igualitária das obras hu- manas” (DO RIO, 2008, p. 26), pois sente os seus impasses sociais e os articula, e por ela, jamais passariam despercebidos, é como uma enti- dade que gerencia o ambiente urbano, é dela que se formam e se legam os diversos arautos e sujeitos que a sociedade convive.

Por conseguinte, seguiremos esta proposta para se pensar a topo- nímia como um campo autônomo, ao passo que se constitui como uma extensão da história e de outras ciências, onde atrelamos este contexto de renovação do fazer histórico, as propriedades resultantes dos estudos toponímicos. Deste modo, visamos a formação do léxico como um processo que acompanha toda uma dinâmica que compõe a cultura de um povo, em instância individual ou comunitária, este elemento torna-se fundamental na troca de valores e o desenvolvi- mento dos indivíduos. Para Dick (1990), a Toponímia vai consistir em um grande complexo linguístico e cultural, onde uma gama de conhecimentos de várias ciências se cruza necessariamente e não ex- clusivamente, assim, acaba apresentando um caráter pluridisciplinar. Desta forma, permite-se pensar os topônimos como uma “vitrine” para a história, no sentido de possibilitar uma aproximação do modo de viver das comunidades através das apropriações linguísticas que são expressas nas nomeações dos espaços, referenciando uma esco- lha, um recorte temporal, toda uma subjetividade das relações.

Segundo Isquerdo (1996, p. 81-82), estes indicadores “[...] são verdadeiros fósseis linguísticos, embora o signo toponímico esteja inserido no sistema linguístico, a sua função não é de significar, mas de identificar os lugares. Serve deste modo de referencializador a rea- lidade espacial do homem”. Metodologicamente se apresenta como ferramenta ao historiador neste contexto em que a prática de nomear um lugar, a necessidade de referenciar o espaço, encontra-se de certo modo ligada a experiência de uma dada realidade. Este aspecto inter-

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disciplinar permite que a história faça uso da Linguística para com- preender as motivações presentes em um contexto histórico-cultural em que os topônimos estão inseridos, uma vez que a análise isolada do léxico não estaria direcionada a memória cultural da sociedade, onde estabelecer esta relação entre o nome e seu referente é interes- sante para aprofundar esta leitura.

No documento História e Historiografia (páginas 81-84)