• Nenhum resultado encontrado

2. HISTÓRIA DO SURGIMENTO E PRÁXIS DA ORDEM

3.3 A Pedagogia Social

A Pedagogia Social faz parte da Ciência da Educação, pois surge a partir das questões e contradições sociais do mundo contemporâneo. Ela aparece como uma disciplina nova, se comparada a outras, apesar de sua concepção haver surgido em tempos remotos. O surgimento de problemas sociais por consequência da industrialização, da guerra, do capitalismo, da exploração da força de trabalho, da imigração, das aglomerações urbanas, da drogadicção, de adolescentes desviantes [...] ? vão resultar na necessidade de uma pedagogia que, sem a pretensão de resolver esses problemas, ajude as pessoas a se fortalecerem, busquem alternativas comunitárias de sobrevivência e assim encontrem seu lugar no mundo como cidadão, corresponsável pelos rumos da sociedade e que dela possam participar de forma ativa e comprometida.

Apesar de Platão e Aristóteles não terem estabelecido uma diferença fundamental entre sociedade e Estado e, consequentemente, entre pedagogia social e política, ambos são apontados como os precursores da ideia de uma pedagogia social nos inícios da era clássica, antes mesmo de aparecerem os problemas sociais que conhecemos atualmente (Cf. SERRANO, 2010).

Abaixo, pode-se observar resumidamente o contexto, situações, tendência e pessoas que, segundo Serrano (2010), deram origem à Pedagogia Social.

Quadro nº 1. ORIGEM DA PEDAGOGIA SOCIAL

Fatores: Mentalidade aberta, sensibilidade social e desenvolvimento social (moradia, trabalho...).

Problemas: Carências, conflito social, urbanização, guerras, marginalização e desamparo.

Tendências: Tradição Kantiana. Pedagogia como saber prático. Tradição historicista e hermenêutica.

Representantes da Pedagogia Social:

Pedagogia Social Clássica: Platão e Aristóteles. Precursores: Comenius: Educação para todos. Pestalozzi: Educador do povo. Kolping: Mundo operário.

Kerchensteiner: Educação/trabalho.

Fonte: Gloria Pérez Serrano, Pedagogía Social y Educación Social. 2010, p. 24.

(Tradução nossa).

Mas, ao se reportar a um período anterior na história da Europa, pode-se citar a Ordem do Espírito Santo (1160), fundada por Guy, conde de Montpellier, “[...] a favor, entre outros, das crianças abandonadas, esta ordem inscreve-se na orientação de uma certa pedagogia monástica que reabilita a criança, como foi o caso de São Bento” (CAPUL; LEMAY, 2003, p. 22). Um pouco depois, encontra-se Francisco (1182-1226), italiano natural de Assis que deixou todo o conforto da casa paterna e, junto com outros companheiros, viveu da mendicância, ajudando os pobres e leprosos da época. Com Francisco de Assis surgem as ordens mendicantes, que buscavam sobreviver apenas com as esmolas que recebiam, além de as repartirem também com os pobres, revelando uma preocupação social.

Passando pela Idade Média e Renascimento, na Idade Moderna vários personagens vão surgir dedicados a educar e amparar crianças abandonadas, com deficiência, entre outras. Pode-se mencionar Jean-Louis Vivès (1492-1540) como o primeiro a colocar de forma explícita a educação de crianças pobres, preocupando-se com a educação de todas, inclusive das deficientes visuais.

Não permitiremos nem mesmo aos cegos que sejam ou se tornem desocupados; há muitas coisas nas quais podem exercitar: uns tem vocação para as letras, desde que alguém leia para eles [...]. Outros que são mais aptos para a música [...]. Agora nosso objetivo coloca-nos perante aqueles que estão privados do uso da razão. Como não há no mundo nada mais excelente do que o Homem, nem no Homem coisa mais nobre que o entendimento, é preciso trabalhar principalmente para a educação deste; é preciso considerar como o melhor dos benefícios tornar saudáveis os entendimentos dos outros [...]. (CAPUL; LEMAY, 2003, p. 22-23).

Jean Paul Bonet (1579-1633) publica em 1620 “o primeiro” tratado da arte de ensinar a falar aos mudos. Essa mesma preocupação com a educação de surdos-mudos será observada no abade de Épée (1712-1789), que estende o ensino coletivo a eles. São Vicente de Paulo (1581-1660), natural de Pouy, sul da França, após se tornar sacerdote e passar por vários percalços em sua vida, vai se dedicar a paróquias rurais, onde percebe o abandono espiritual do povo que vivia no campo, fundando a Congregação da Misericórdia (1625) para cuidar da evangelização dos camponeses e a Confraria da Caridade (1617), para dar assistência espiritual e material aos pobres. Em 1633, com Luiza de Marilac, funda a Congregação Filhas da Caridade e, mais tarde, as Damas da Caridade. Uma das mais importantes ações de São Vicente foi acolher o grande número de recém-nascidos abandonados nas ruas e portas de Igrejas. Estas crianças eram recolhidas em um abrigo onde recebiam assistência material e formação religiosa até que tivessem idade suficiente para poder cuidar de sua vida.

Os personagens históricos citados acima, que viveram no fim da Idade Média e início da Idade Moderna, interferiram em três coisas:

1. Conceber o pobre como pessoa humana, portanto, como sujeito.

2. Reconhecer que os pobres são filhos de Deus, portanto, têm uma dignidade humana.

3. Através de suas práxis, interferiram na convivência.

Esses três elementos oferecem uma base para pensar a forma de conviver, o que requer uma nova perspectiva pedagógica.

Quase no mesmo período, o educador checo, Jan Amos Komenský, Comenius (1592 – 1670), formula pela primeira vez uma concepção pedagógico-social. Ele propõe que o ensino deve ser dirigido a todos, independentemente de sexo, condição social e intelectual. Para ele, todos devem ser incluídos.

A visão da didática de Comenius é que o conhecimento deve estar acessível a todos: aos homens, às mulheres, às crianças, aos pobres, aos ricos, aos inteligentes e aos dementes débeis. [...] inclusive a capacidade da mulher para o conhecimento é bastante valorizada por ele: ‘Não pode aduzir-se nem sequer um motivo válido, pelo qual o sexo fraco (...) deva ser excluído dos estudos (...). As mulheres são igualmente (...) dotadas de uma mente ágil e capaz de aprender a sabedoria (muitas vezes até mais que o nosso sexo)’. (COMENIUS, 1966, p. 141).

Olhando para a história de São Francisco de Assis, São Vicente e Marilac, entre outros, e a narrativa de Comenius, pode-se perceber neste movimento, os princípios da educação social ou da pedagogia social como uma disciplina prática que ajuda na reflexão voltada para uma nova forma de agir no sentido de incluir aqueles que estão fora do sistema ou do processo civilizatório. Comenius traz para o debate a questão da mulher, assim como Marilac, São Francisco e São Vicente trazem a questão do pobre. De Comenius, Serrano ressalta,

Sua expressão mais representativa pode-se reduzir nestas palavras: ‘Nós pretendemos a educação geral de todos os que nasceram homens, para tudo o que é humano’. Proclama, assim, o princípio da Educação Social para todos os seres humanos”. (SERRANO, 2010, p. 26).

Paralelamente a Comenius, em Bordeaux, na França, Santa Joana de Lestonnac (1557-1640), sobrinha de Michel de Montaigne, em 1607, preocupada com o descaso pela educação feminina, inicia um projeto de escolas totalmente voltadas para a mulher. Segundo Lestonnac, a educação seria “Para o bem do povo ou bem público [...]; que a mulher devia salvar a mulher; [...] Através de nossas alunas, educaremos famílias inteiras” (H.O., 1964). Destaca-se, aqui, a importância da articulação do sujeito oprimido para desencadear o seu próprio processo de libertação.

Nesse momento, na França, a Reforma Protestante avança e, como é sabido, os calvinistas usam como uma de suas estratégias de evangelização a educação. As mestras calvinistas se propõem a educar as mulheres, ao contrário do que faz a Igreja católica, que privilegia a educação masculina. Faz-se então necessário que surjam no catolicismo mulheres que tenham competência para se impor às mestras protestantes. Diante desse panorama, entre 1592 e 1611, no reino da França e províncias limítrofes, surgem pessoas de ampla visão, sensíveis à realidade, que propõem iniciativas apostólicas direcionadas à educação da mulher.

1– 1592-1595 As Ursulinas de Provence no Comtat Venaissin que então faz parte dos Estados Pontifícios.

2 – 1597 A Congregação de Notre Dame, no ducado de Lorraine, dominado pelo Império Germânico.

3 – 1600 As devotas ‘Filles de Saint Agnés’ nos Países Baixos, meridionais, dependentes da Espanha.

4- 1605-1606 A ‘Compagnie de Marie de Notre Dame’ em Bordeaux, no reino da França. 5 – 1606 As Ursulinas de Anne de Xainctonge, no Franco Condado, província

espanhola.

6 – 1610 A Visitação de Sainte-Marie, na cidade de Annecy, possessão do Império Germânico.

7 – 1611 As jesuitinas de Mary Ward, nas províncias do Norte, dependentes da Espanha e refúgio de católicos ingleses.

Fonte: Sourry-Lavergne. Un camino de educación, 1984, p. 113. (Tradução nossa)

O pedagogo suíço Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), por causa de sua incidência na Pedagogia Social, é “considerado como o verdadeiro fundador da Pedagogia Social Autônoma. [...] pode ser considerado como o primeiro antecessor ou representante da Educação Social, tal e qual como ultimamente a entendemos”. (SERRANO, 2010, p. 26). Pestalozzi buscava as melhores estratégias para um melhor desenvolvimento harmonioso do aluno. Ensinar a ler e escrever não eram as coisas mais importantes para ele. Preocupava-se com a formação integral do aluno e a formação de seu caráter. Para ele, o amor era a força motriz para a educação.

Os princípios educativos de Pestalozzi podem ser assim sintetizados:

 A Educação Social deve fundamentar-se em uma boa educação da personalidade.

 A questão social é de ordem moral; pois se resolve formando a consciência e o amor ao próximo. Pode, portanto, ser realizada através da educação.

 Há que começar a arrancar o homem de sua miséria para leva-lo à cultura do bem.

 O educador do povo deve ser movido por um amor desinteressado ao mesmo.

 Cultivando os valores da pessoa, constrói-se uma sociedade justa e feliz. (SERRANO, 2010 p. 27).

O padre alemão Adolf Kolping (1813-1865) foi artesão sapateiro e, por uma inquietação quanto à realidade social, decidiu tornar-se sacerdote. Como vigário em sua primeira paróquia, deparou-se com a situação de miséria em que se encontravam os jovens artesãos. Decide então trabalhar com eles; mais tarde funda uma associação de artífices, entendendo que essa poderia ser uma forma de resolver os problemas sociais.

 Formação ético-social do jovem trabalhador.

 Configuração da vida comunitária de base profissional como prevenção e proteção diante do risco, isolamento e desarraigamento.

 Ampla formação geral de base religiosa e formação continuada e profissional nos ramos específicos do trabalho manual.

O êxito da ideia de Kolping consistiu em desenhar um projeto educativo que foi capaz de harmonizar a vinculação à Igreja com a formação profissional e a solidariedade familiar. (SERRANO, 2010, p. 28).

Serrano (2010) conclui que as ações pedagógicas citadas acima estão entre os marcos pedagógicos sociais do século XIX, constando também entre eles, o Movimento Feminista, na França e Inglaterra, 1842: Lei de proteção aos pobres da Prússia; Fundação da Associação São Vicente de Paulo para salvar as crianças abandonadas; 1848/49: Manifesto Comunista de Marx e Engels, entre outros.

Podem-se citar ainda outros personagens que a partir de sua prática social e educativa ajudaram na construção da Educação Social, como Valentin Haüy (1745-1822), que cria uma instituição para jovens cegos; Jean-Marc Gaspard Itard (1774-1838), considerado um dos principais fundadores da educação especial; Edouard Séguin (1812- 1880), que vai trabalhar na educação de jovens com transtornos psiquiátricos; Désiré- Maglorie Bourneville (1840-1909), também dedicada à educação de crianças com transtornos psiquiátricos e Mari Montessori (1870-1952), primeira médica da Itália que se dedica a crianças socialmente desfavorecidas.

Isso leva à constatação de que não se trata de uma pedagogia direcionada a uma educação escolar, mas que pode ser utilizada nesse contexto. O fato de se desenvolver em uma diversidade de espaços torna-a próxima da realidade e dos problemas das pessoas. Dessa maneira, não está direcionada apenas para pessoas que estão em situação de vulnerabilidade, pois no seu bojo está a preocupação com o indivíduo, no sentido de que visa levar a pessoa a encontrar-se; trata-se de uma forma de educar na vida e para a vida. Parte da perspectiva de que o indivíduo, a partir de sua prática, pode ajudar na transformação da sociedade.

É importante enfatizar que as mudanças sociais, sobretudo as econômica, política e cultural, impactam nos procedimentos educacionais e pedagógicos, mas desde o início as características de uma educação e uma pedagogia social estão presentes em toda educação.

A pedagogia social só ganha força à medida que a revolução industrial avança, os grupos e as comunidades populares se organizam e surgem a constituição da política de direitos humanos e a prática da democracia.

Todos os avanços anteriores produziram um acervo teórico, metodológico e prático que estabeleceu as condições, no século XIX e início do XX, para a criação da Pedagogia Social, que tem como objeto de estudo a Educação Social. A novidade de agora é que a população marginalizada, espoliada e excluída, é concebida na nova ordem social como sujeito e como pessoa que tem direito. O educador social aparece com a função de provocar encontros, compartilhamento de fazer descobrir, de ajudar o educando a encontrar o caminho e de aprender a interpretar sua biografia e a situação em que vive.

3.3.1 Educação social na Europa

Na Europa, a partir de todas as questões sociais advindas do pós-guerra, um problema que se tornou grave foi o grande contingente de órfãos. A França e a Alemanha, preocupadas em como educar as crianças e os jovens oriundos da situação caótica desse período, realizaram um encontro internacional, sobre “os problemas da instrução de crianças e adolescentes inadaptados”, organizado pela Sessão Cultural do alto Comissariado da República Francesa na Alemanha. Houve outros dois encontros posteriores, e os alemães, motivados pelos mesmos, decidiram formar a Associação Internacional de Educadores de Jovens Inadaptados, similar à que já existia na França (AIEJI - Association Internationale des Éducateurs de Jeunes Inadaptés) e que hoje leva o nome de Associação Internacional de Educadores Sociais, com sede no Uruguai. A grande preocupação da Europa, e até mesmo da América Latina, é descobrir como ajudar as crianças e os adolescentes inadaptados à convivência humana.

Na Alemanha, há a principal referência do surgimento da Pedagogia Social: “A Alemanha é considerada o berço da Educação Social e da Pedagogia Social, tanto no sentido de elaboração das terminologias e sua fundamentação, como também na organização e reconhecimento social” (RIBAS MACHADO, 2010, p. 73).

Para Ribas Machado (2014), o pedagogo Herman Nohl (1879-1960) pode ser considerado o pai da Pedagogia Social, pois fundou a Universidade Popular em Jena e, em uma época conturbada do pós-guerra, acabou fazendo com que o mundo se colocasse em contato com vários problemas sociais oriundos desse período, levando-o a defrontar- se com os verdadeiros temas da Pedagogia Social. A partir de um seminário proferido por

ele, no qual se discutiu as problemáticas de jovens, orientou um trabalho interdisciplinar que se constituiu como a estruturação inicial da Pedagogia Social. Do ponto de vista teórico, pode-se denominar a Alemanha como a mãe, mas do ponto de vista prático e da atuação, pode-se indicar outras pessoas e povos que influenciaram na Educação Social, desde os já citados São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, Santa Joana de Lestonnac, Comenius e Bartolomeu de las Casas até Zumbi de Palmares, Canga Zumba, Dom Bosco, entre outros.

Em diversos países da Europa – como Espanha, Luxemburgo, Finlândia, Portugal, Noruega, Rússia, Ucrânia e Suíça – a Pedagogia Social se desenvolveu, respeitando a especificidade e problemática social de cada contexto, de cada país.

Na América Latina, o país de maior referência da Pedagogia Social é o Uruguai, onde hoje se encontra a sede da Associação Internacional de Educadores Sociais (AIEJI), mas cabe aqui de novo lembrar que, do ponto de vista prático e até mesmo teórico, as experiências do México, das CEBs, dos movimentos sociais e da Teologia da Libertação são a base para a Pedagogia Social em toda a América Latina. Talvez, o primeiro educador social no Brasil tenha sido o padre Ibiapina (1806-1883).

Para se pensar em uma Pedagogia Social latino-americana, Ribas Machado ressalta a necessidade de se refletir sobre três eixos que primeiramente permitem observar se na realidade trata-se de uma pedagogia, uma educação própria na América Latina, e posteriormente avaliar a sua existência. Nesse sentido, o autor realiza essa discussão a partir de três eixos: as culturas pré-colombianas que tinham um elevado nível científico e apresentavam uma arquitetura comparável à das construções das cidades europeias. O segundo eixo, que trata da luta pela educação de pensadores latino-americanos...

[...] originários de determinados países, influenciaram a educação em toda a América Latina, principalmente a Educação que não está propriamente estabelecida nas leis e políticas, mas sim, as relações educativas que enaltecem princípios culturais e filosóficos de cada povo, expressando suas tradições e que deram origem ao que se conhece por Educação Popular e que por isso devem compor fundamentos latino-americanos para uma outra Pedagogia Social. (RIBAS MACHADO, 2014, p. 68).

O terceiro eixo, segundo o mesmo autor, que por sua vez se baseia em outros autores, consiste na complexidade em estudar a América Latina, devido à sua abrangência geográfica e diversidade histórica e cultural, apontando três tarefas e desafios:

[...] ‘debruçar-se sobre esta realidade complexa e multifacetada e escutá-la’; a segunda tarefa ‘consiste em tomar plena consciência do tipo de inserção que coube à América Latina, em grande parte através da Educação, no processo de ocidentalização e modernização’; e a terceira é o ‘desenvolvimento de uma pedagogia da práxis, entendida esta como a ação transformadora das condições que se colocam como obstáculo para o desenvolvimento do ser mais (Paulo Freire) de todas as pessoas e de cada uma’ [...]. (RIBAS MACHADO, 2014, p. 69).

E o autor completa:

Compreender a Pedagogia Social como teoria Geral da Educação Social, permite entendê-la como leitura teórica científica de processos educativos derivados das relações culturais de diferentes povos. No contexto latino-americano, existem as práticas de Educação Popular que expressam essas relações culturais e educativas, e por isso alguns pesquisadores vêm destacando a relação possível entre as três perspectivas. (Idem, p. 69).

O quadro comparativo a seguir, elaborado por Rosa-Maria Torres, expressa de maneira clara a relação existente entre as áreas:

COMPARAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO SOCIAL E EDUCAÇÃO POPULAR EDUCAÇÃO SOCIAL (Europa/Dinamarca) EDUCAÇÃO POPULAR (América Latina) CONTEXTO HISTÓRICO

1940 – Após II Guerra Mundial. Associação Internacional de Educadores Sociais – AIEJI. (Nome original: Association Internacionale des Éducateurs des Jeunes Inadaptés), criada em 1951.

1960-1970 – após ditaduras e governos militares da América Latina.

Brasil – trabalhos e ideias de Paulo Freire.

Libertação, emancipação Humana. Igrejas e grupos religiosos envolvidos.

PÚBLICO- ALVO: ORIGENS

Crianças de rua e órfãos após a II Guerra Mundial.

Adultos analfabetos (em 1950, metade da população local era analfabeta). PÚBLICO- ALVO: ATUALMENTE (PRESPSCTIVA HISTÓRICA) Crianças Adolescentes Jovens Adultos (incapacitados) Terceira idade Adultos Jovens Adolescentes Crianças Famílias Comunidades Movimentos Sociais CARACTERÍ- STICAS DO PÚBLICO- ALVO Desajustado – pobreza Perturbado Incapacitado Morador de rua Marginalizado Excluído Em risco Pobreza Marginalizado Analfabeto Semianalfabeto Baixa escolaridade

Com necessidades especiais CARACTERÍSTI -CAS DOS EDUCADORES - Ênfase na profissionalização e na formação continuada

- Defesa da profissão e das condições de trabalho

- Pequena atenção para a profissionalização ou para desenvolvimento de carreira

- Diversas ofertas de oportunidades de formação de maneira rápida - Algumas Universidades e ONGs oferecem cursos universitários - Vários trabalhos desenvolvidos em regime de voluntariado ORGANIZA- ÇÃO DOS EDUCADORES - Organização de Associações profissionais - Organizações nacionais europeias e internacionais

- Não existem organizações profissionais, às vezes são organizadas associações locais - Existem algumas organizações locais, nacionais ou internacionais (ex: CEAAL – Consejo de Educación de Adultos de América Latina, ONG network).

- Movimentos sociais possuem seus próprios programas de Educação Popular OCUPAÇÕES SIMILARES IDENTIFICA- DAS Trabalhadores Sociais, Professores, Enfermeiros, Psicólogos, Terapeutas

Professores, Trabalhadores Sociais, Trabalhadores de Extensão, Agentes comunitários, Líderes Comunitários, Animadores Culturais

AMBIENTES DE TRABALHO

Principalmente educação não-formal e ambientes não-escolares

ÁREAS DE

TRABALHO

Educação Especial / Mediação de Conflito Animação Sociocultural Educação Escolar / de Adultos Ambiental / Educação e Lazer

Todas as áreas em potencial

FINALIDADES Adaptação Participação Cidadania Mudança Social Justiça Social Conscientização Participação Organização Empoderamento

Mudança Social / Política Justiça Social

Cultura dos Direitos PRINCÍPIOS Diálogo

Respeito Participação

Vozes dos educandos

Diálogo Respeito Participação

Vozes dos educandos DIMENSÕES

DO TRABALHO

Pedagógico, social, político e ético

Fonte: Elaborado por Rosa-Maria Torres.32

Observando esse quadro, percebe-se que os elementos históricos, organizativos e concepções da Educação Social estão próximos aos da Educação Popular e vice-versa. O pano de fundo que diferencia uma da outra é que a Educação Social aparece quando se tem um Estado mais democrático, que consegue garantir uma política de direitos