2. Fundamentação Teórica
2.1. Planejamento Estratégico
2.1.2. Planejamento Estratégico de Tecnologia de Informação (PETI)
Na década dos anos 70, o foco principal da área de sistemas de informação3 era a atividade de
processamento eletrônico de dados. A visão era orientada para o armazenamento de dados e não para
a disponibilização e uso da informação de forma corporativa. Nas décadas seguintes, algumas
metodologias de planejamento estratégico de tecnologia de informação começaram a emergir e o
alto-gerenciamento das organizações começa a ser envolvido nesta prática. Recentemente, com a evolução
de novas tecnologias como a Internet, comércio eletrônico, EDI, SII, o PETI tem sido
consistentemente identificado pelos executivos de tecnologia de informação (CIO), como uma atividade
essencial para o bom gerenciamento dos recursos de TI. Diversos autores têm apresentado estudos
sobre gerenciamento estratégico de TI (Davis, 1974; Alter, 1992; Laudon e Laudon, 1991; Cassidy,
1998) e sobre planejamento estratégico da TI (Earl, 1993; Galliers, 1994; Boar, 1994; Torres, 1994),
Analogamente ao escopo de planejamento da área de negócios, estes estudos focam a TI
como uma das estratégias básicas a serem definidas no plano de negócio, principalmente quando elas
forem habilitadoras para desenvolver, produzir, vender e distribuir novos produtos ou serviços
baseados em informação ou quando forem promotoras de mudanças drásticas para a organização
(Ward e Griffiths, 1996). Por exemplo, a criação de caixas eletrônicos proporcionou um novo padrão
de negócio entre bancos e usuários, alterando hábitos e reduzindo custos da operação. Por outro lado,
a implementação de um SII para suportar estas transações do negócio e prover os usuários com
informações imediatas, promoveu mudanças na gestão estratégica destas corporações.
Um enfoque similar foi considerado por Venkatraman (1997) evidenciando a TI como
promotora de mudanças estratégicas nas organizações através de três tipos de usos da TI, que ele
classificou como sendo “revolucionários”, ou seja: o redesenho do processo do negócio, onde a TI é
usada para realinhar as atividades e relacionamentos do negócio na busca de maior performance; o
redesenho dos relacionamentos do negócio, onde a TI é usada para agregar valor ao negócio em toda
a sua cadeia de valor; e a redefinição do escopo do negócio, onde a TI é parte de uma extensão dos
produtos e mercados, alterando alguns dos papéis das organizações.
O PETI pode ser definido como sendo o processo de identificação de infra-estrutura
(hardware, software básico e comunicação) e aplicações (bancos de dados, sistemas e automação de
escritórios) para suportar o negócio das organizações, através do atendimento dos objetivos
organizacionais (Lederer e Sethi, 1996, Torres, 1994). Atualmente, o PETI tem se tornado uma
atividade crítica para muitas organizações. Alguns aspectos relacionados ao aumento das pressões dos
negócios, dos riscos, das competências e da relação preço/performance, tem servido para mudar os
papéis e funções da TI, incluindo o seu uso para obtenção de vantagens competitivas e como
transformadora dos processos, estrutura e relacionamentos do negócio. Com isto, está se tornando
difícil separar os aspectos de planejamento de TI dos de negócio. É importante usar as ferramentas e
técnicas de análise e planejamento estratégico do negócio para assegurar que o enfoque do
planejamento estratégico de TI esteja interrelacionado com os padrões do gerenciamento estratégico
do negócio.
3
O modelo de PETI apresentado por King (1978) é um clássico, servindo de base aos modelos
atuais. O modelo apresenta três etapas para o processo de planejamento: de diagnóstico (análise da
situação atual), de planejamento (definições das entradas e saídas informacionais, recursos e outros
itens) e de execução (implantação das definições e controle do atingimento das metas através de
medidas de performance). Em estudos complementares, Prenkumar e King (1991) consideraram o
planejamento estratégico como um processo, identificando como um fator importante para o seu
sucesso, a existência de planos compostos pelos seguintes componentes:
• Missão, significando o papel que a informação e a tecnologia de informação apresenta no contexto organizacional.
• Objetivos de SI, como sendo as medidas de performance do uso dos recursos das informações e da tecnologia de informações.
• Políticas de SI, como sendo as “regras gerais” que deverão ser usadas para guiar o desenvolvimento dos SI.
• Estratégias de SI, como sendo as prescrições da “direção geral” para o desenvolvimento dos sistemas e para a composição da infra-estrutura de suporte tecnológico.
• Programas de Desenvolvimento, como sendo as atividades e regras específicas que servem de guia para a implementação dos SI e da tecnologia disponibilizada.
De forma similar aos estudos de Boar (1993) na área de negócios, Cassidy (1998) conceitua
PETI como sendo o movimento de uma posição atual tecnológica da organização para uma posição
futura, observando as tendências de mercado. Este movimento deve ser feito observando as seguintes
etapas: a análise da situação, contendo a descrição da posição atual do negócio e da TI; a formulação
de estratégias, contendo a descrição da posição futura do negócio e da TI; e a implementação das
estratégias, contendo o plano de desenvolvimento para chegar na posição futura descrita.
O modelo de PETI elaborado por Torres (1994), apresenta a preocupação com uma
identificação clara da filosofia e capacitação da empresa, destacando três elementos chaves:
comprometimento, posicionamento estratégico do negócio e uso da TI. O comprometimento dos
integrantes do plano deve ser obtido através de participação (trabalho em grupo) e capacitação
(aprendizado e experiência) dos mesmos com a TI. O posicionamento estratégico da empresa, ou seja,
reflete na TI a ser adotada, influenciando no formato de gestão da informação e na estrutura
organizacional. A estrutura de PETI delineada pelo autor encontra-se representada na Figura 2.
Programas de Treinamento Normas para
Desenvolvi-mento e Documentação Alternativas para Aquisição
de Hardware e Software Seleção de Linguagens e
Software Operacional e de
Apoio
Plano de Capacitação em TI Filosofia da Empresa quanto
ao Uso de TI
Projeto do Portfólio de Aplicações/Necessidades de
SI e AE
Projeto Básico de Hardware
Projeto Básico Geral para SI e Estrutura de Dados (BD) Projeto de Segurança e Auditoria Análise Econômico-Financeira Programação de Ação e Responsabilidades (Cronograma) Horizonte de Planejamento (1 ... n)
Figura 2: Estrutura de um Plano Estratégico de Tecnologia de Informações Fonte: Torres, 1994
O uso da TI pela empresa e avaliação de seu impacto sobre a estrutura corporativa
(atendimento externo e interno) deve ser focado nos resultados esperados em relação às estratégias
definidas no plano de negócio (competitividade, sobrevivência, integração corporativa, eficiência e
eficácia). A importância do PETI encontra-se justamente no alcance dos objetivos fixados para o
futuro (movimento e direção futura), na alocação e sincronização dos recursos (desempenho) e na
obtenção de vantagens competitivas (Earl, 1993; King, 1994; Gallier, 1994). As grandes contribuições
do PETI devem ser:
• melhoria da performance da área de TI, seja pela alocação mais eficiente de recursos, como pelo aumento de produtividade dos analistas e programadores;
• alinhamento das estratégias de TI com as estratégias do negócio, possibilitando vantagens competitivas;
• comprometimento da alta administração através da alocação dos recursos e resultados intermediários e incrementais;
• antecipação de tendências futuras (inovação tecnológica contínua, evitando rupturas drásticas e altos investimentos);
• aumento do nível de satisfação dos usuários ofertando tecnologia compatível e com facilidade de manuseio.
De forma similar ao PEN, a importância dos conceitos de PETI para esta pesquisa,
encontra-se no elenco de componentes que formam a estrutura de um plano de TI e as etapas para a realização
do processo. Além disto, é importante considerar a finalidade da TI e do planejamento de seus
recursos para suporte do negócio como um todo, principalmente no que tange a performance,
agregação de valor e vantagens competitivas (Porter e Millar, 1985; Mintzberg, 1990; Venkatraman,
1989). Vale destacar a importância dada ao PETI e as ferramentas de TI como viabilizadoras de
mudanças e redirecionamento do negócio (Chan et al., 1997; Ward e Griffiths, 1996).