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PLANEJAR A LEITURA MEDIADA DE LIVROS LITERÁRIOS

No documento Alfabetização e Letramento: volume II (páginas 165-167)

Primeiramente, é necessário ressaltar a importância de o professor reconhecer o texto literário em meio a tantos outros que circulam numa sociedade grafocêntrica. Os livros informativos são também importantes para o letramento7, uma vez que despertam a curio-

sidade e ampliam o conhecimento enciclopédico e vocabular das crianças. Ajudam, inclusive, a refletir sobre a realidade circundante ao tratar de temas da atualidade, como ecologia, diversidade cultural, cuidados com o corpo, curiosidades matemáticas e científicas, trân- sito, ética e tantos outros.

Entretanto, os livros literários – sejam narrativas, textos dramá- ticos ou poemas –, além de despertar para o conhecimento do outro e do mundo, possibilitam a compreensão do mundo interior, pois permitem uma conexão maior com as emoções e os afetos. Além disso, promove o acesso à diversidade estética pelo contato com as diferentes formas, tanto de ilustrações quanto de recursos linguís- ticos utilizados. No artigo “Alfabetização e literatura”, Magda Soares salienta que

A literatura infantil insere-se em duas áreas: na área da arte, porque desenvolve na criança o gosto pela leitura literária que é diversão, emoção, prazer; na área da pedagogia, porque é meio de formação do leitor, parti- cularmente do leitor literário (SOARES, 2010, p. 20).

Dessa forma, o professor precisa estar atento ao selecionar o livro literário com qual desenvolverá atividades de leitura. Previamente, é necessário conhecer os alunos: o contexto de vida, o nível vocabular, o tipo de contato que eles têm com livros literários, as preferências, a capacidade de concentração, entre outros, para que o livro lido em classe seja ao mesmo tempo acessível e desafiante – acessível, por

7 Conforme Kleiman (2010),

pode-se definir “o letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, como sistema simbólico e como tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos.

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166 apresentar extensão, tema e linguagem compatíveis com o grupo

e desafiante, por propor novas possibilidades de imaginação, de sensações e de reflexão.

Depois, é relevante ater-se aos seguintes critérios: os livros devem tratar de temas humanos, evitando compactuar com estereótipos e imposições moralistas. O tratamento dado ao tema deve promover no aluno alguma reflexão, problematização, sensibilização, ou seja, é relevante que o texto literário atue não apenas no âmbito da cognição mas também no afetivo, despertando algum tipo de encan- tamento, de dúvida ou até de estranhamento. Atenção especial, na literatura infantil, deve ser dispensada ao projeto gráfico do livro. As ilustrações precisam ser atraentes e instigantes, para despertar nas crianças o desejo de articular o texto verbal ao não verbal, levan- do-as a perceber a criatividade, a beleza e a qualidade das imagens impressas, à proporção que são apresentadas a diferentes livros com projetos gráficos diversos.

Em síntese, a escolha de um bom livro literário favorece o trabalho do professor, já que a probabilidade de a maior parte dos alunos do grupo envolver-se com a atividade de leitura aumenta quando a obra é interessante. Logicamente, as chances de interação tanto com o professor no momento da leitura quanto com seus pares na pós-leitura também são ampliadas diante de um livro que possibilite a fruição estética.

Após a seleção de uma obra de literatura infantil, cabe ao professor preparar atividades orais e escritas abordando as estratégias de pré-leitura, leitura e pós-leitura do livro. Por tratar-se de turma de ciclo básico de alfabetização, essas estratégias serão trabalhadas pelo professor valorizando as variadas formas de interação: orali- dade, registros escritos (geralmente tendo o professor como escriba do que é falado pelos alunos), imagens e elementos paralinguísticos (como o sorriso, o olhar, sinais com as mãos) e os suprassegmentais (como as pausas e mudanças no tom de voz).

A interação entre professor e alunos nas aulas de leitura compar- tilhada é assimétrica e institucionalizada. Logo, há uma hierarquia e um caráter diretivo inerente a essa interação, pois o professor é aquele que dispõe de maior conhecimento do assunto, pois é leitor proficiente. Além disso, o profissional dispõe de mais recursos linguísticos e, consequentemente, usa-os para guiar a interação a objetivos pré-determinados.

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167 Intimamente, ligado à interação entre professor e alunos, está o

processo de scaffolding (andaimagem). Conforme Bortoni-Ricardo, Machado e Castanheira (2012), o conceito de andaimagem “[...] está baseado na tradição de estudos do discurso de sala de aula e se deriva da teoria sociocultural de língua e aprendizagem avan- çada pelo psicólogo russo Lev. S. Vygotsky (BORTONI-RICARDO; MACHADO; CASTANHAIERA, 2012, p. 26). Os "andaimes" referem-se, então, a um tipo de apoio dado por um parceiro mais competente na execução de uma tarefa que o aluno ainda não está apto a executar com autonomia.

Conforme Montenegro (2012), as funções tutorias da andaimagem podem ser assim sintetizadas: recrutamento (recursos utilizados pelo professor para obter atenção daqueles que estão dispersos); redução em graus de liberdade (possibilidade de simplificar uma tarefa, segmentando-a para reduzir sua complexidade e também as probabilidades de equívocos do aprendiz e/ou sua desistência); manutenção da direção (incentivos para o aluno perseverar na execução da tarefa); ênfase em características críticas (destaque dado pelo professor a itens importantes da tarefa, redirecionando a atenção dos alunos para pontos que favoreçam a sua melhor execução); controle da frustração (frases pontuais que restauram a confiança dos alunos, propiciando a redução da tensão durante a execução da tarefa) e demonstração (também denominada mode- lagem, recurso em que o professor apresenta a solução parcial ou completa da tarefa para que os alunos possam tentar imitá-lo adequadamente em atividades similares no futuro).

A seguir, há a proposta de uma sequência didática para leitura compartilhada em classe do livro “Os invisíveis”, de Tino Freitas, tendo o professor como principal mediador das estratégias de leitura.

LEITURA MEDIADA PELO PROFESSOR DA OBRA “OS

No documento Alfabetização e Letramento: volume II (páginas 165-167)