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RESULTADOS E DISCUSSÃO

No documento Alfabetização e Letramento: volume II (páginas 86-93)

Partindo-se da leitura em voz alta, no ritmo normal das diversas palavras de variadas extensões, confirmamos as duas primeiras hipóteses preliminares, de que, na segunda aplicação, as mulheres acertariam mais as palavras polissílabas, no que se refere às palavras sem correlação temática, e os adultos, em específico, acertariam mais as palavras trissílabas e polissílabas correlacionadas ao mundo do trabalho. Essa estratégia de leitura teve o intuito de gerar, nos processos mentais, a formação metalinguística das metáforas dos vocábulos que regem o princípio da consciência fonológica. Focalizamos nossa atenção nos processos mentais das palavras de maior dificuldade – as polissílabas, por um lado, e as pseudopalavras, por outro – e das palavras temáticas sobre o mundo do trabalho.

Um resultado inesperado ocorreu já na primeira aplicação das palavras referentes ao mundo do trabalho: há uma equivalência de acerto em relação à segunda aplicação, o que pode sugerir que são palavras mais internalizadas nesses sujeitos. Alves (2013) discorre sobre a importância do conhecimento prévio do aluno de EJA na

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87 articulação entre o passado e o presente que gera uma possibilidade

de diálogo a partir da valorização das narrativas de vida dos alunos, de seus saberes práticos em relação às contribuições linguísticas e/ ou culturais. Confirmamos a terceira hipótese sobre a possibilidade de este trabalho auxiliar os professores, juntamente com os testes pedagógicos tradicionais, num diagnóstico preliminar sobre os níveis de alfabetismo dos alunos pesquisados. Podemos, portanto, fazer o seguinte resumo:

Gráfico 1 – 1º DIA DE APLICAÇÃO/1ª ATIVIDADE.

Fonte: Autoria própria.

O Gráfico 1 mostra que as mulheres acertaram mais do que os homens (7,6/7,0), desde o primeiro dia de aplicação.

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Gráfico 2 – 1º dia de aplicação/2ª atividade.

Fonte: Autoria própria.

O Gráfico 2 revela que os adultos acertaram mais. A média foi de 8,8 acertos por adulto, contra 6,6 acertos por jovens. A diferença já se mostra grande.

Gráfico 3 – 2º dia de aplicação/1ª atividade.

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89 No segundo dia de aplicação em relação à primeira atividade do

dia anterior, já havia, conforme previsto, um incremento de acertos em ambos os sexos. Porém, entre as mulheres, a média de acertos foi de 9,2, enquanto a dos homens foi de 7,8, bem abaixo da média das mulheres, demonstrando que não houve considerável melhora entre os membros do sexo masculino.

Gráfico 4 – 2º dia de aplicação/2ª atividade.

Fonte: Autoria própria.

No segundo dia de aplicação da segunda atividade, verificou-se que os jovens têm uma média de 8,0 acertos e os adultos, 9,2. Os jovens aumentaram seus números absolutos, porém os adultos mantiveram alto índice de acerto desde o primeiro dia de aplicação, demonstrando que palavras sobre o mundo do trabalho podem estar mais internalizadas em sua memória.

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Gráfico 5 – Evolução da média de acertos de atividades por dia de aplicação.

Fonte: Autoria própria.

O Gráfico 5 atesta que a evolução de acertos das mulheres, consi- derando a primeira atividade por dia de aplicação, é superior a dos homens. Também se verifica que não houve grande aumento da média de acertos dos adultos ao longo dos dias de aplicação, mantendo-se um nível alto de acerto desde o primeiro dia. Isso nos permite concluir que, para os adultos, as palavras relacionadas ao mundo do trabalho são mais familiares e significativas, além de mais bem consolidadas, no que diz respeito à consciência fonológica internalizada. Destaque-se, ainda, que os informantes S5 e S6 (jovens e homens) apresentaram maiores índices de erro de correspondência grafo-fonêmica, apontando indícios de uma alfabetização precária. Outros testes semelhantes devem ser feitos e aplicados em pesquisa longitudinal de maior alcance, para a confirmação das hipóteses com maior grau de certeza.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Reiteramos a possibilidade de o professor de língua portuguesa se utilizar das estratégias de memória e de análise-síntese auditivas, como forma coadjuvante aos testes pedagógicos tradicionais para

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91 o diagnóstico do nível de alfabetismo de seus alunos nos anos finais

do Ensino Fundamental, na modalidade da Educação de Jovens e Adultos, planejando, assim, intervenções. Dessa maneira, os sujeitos da EJA, com desenvolvimento imaturo em sua alfabetização, poderão ser contemplados com projetos e com programas que os tornem menos “invisíveis” nessa sociedade tão excludente. Assim, os professores colaborarão para enfatizar a responsabilidade que o Estado moderno tem de garantir o direito básico de um efetivo letramento para o cidadão da EJA, tradicionalmente marginalizado e sempre atrelado ao discurso educacional da “exclusão” social e do “fracasso escolar”.

REFERÊNCIAS

ALVES, E. M. S. O conhecimento prévio do aluno da EJA em questão. In: BORTONI-RICARDO, S. M.; MACHADO, V. R. (Org.). Os doze trabalhos de Hércules: do oral para o escrito. São Paulo: Parábola, 2013. p.

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República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 6 ago. 2013.

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SOUZA NETO, J. C de (Org.). Estudos e Práticas de Alfabetização e Letramento. São Paulo. Expressão E Arte, 2012. p.

RIBEIRO, V. et al. Indicador de Alfabetismo Funcional INAF Brasil 2011 Principais Resultados. Disponível em: <http://www.ipm.org.br/download/inf_resultados_inaf2011_ ver_final_diagramado_2.pdf>. Acesso em: 5 jul. 2017.

SCLIAR-CABRAL, L. Consciência fonológica e os princípios do sistema alfabético do português do Brasil. São Paulo: Contexto, 2003.

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No documento Alfabetização e Letramento: volume II (páginas 86-93)