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Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes

CAPÍTULO IV O CASO PORTUGUÊS

2. Portugal e o Mecanismo de Recolocação de Emergência na União Europeia

3.2. Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes

A Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios482, criada em novembro de 2013, pelo ex-Presidente da República portuguesa,

Jorge Sampaio, em parceria com o Conselho da Europa, Liga Árabe, Organização Internacional para as Migrações, Instituto de Educação Internacional (IIE) e União para o Mediterrâneo, recebeu prontamente várias candidaturas483. A sua missão principal é

proporcionar o acesso ao ensino superior, em países de refúgio seguro, de todo o mundo, a estudantes sírios afetados pela guerra, mediante um pacote completo e integrado de serviços de ensino superior. Esta Plataforma consiste num esforço internacional para fornecer bolsas de emergência a estudantes sírios, permitindo-lhes adquirir qualificações profissionais. Além disso, também visa moldar a vontade política coletiva e mobilizar ações concertadas destinadas a promover o ensino superior em situações de emergência, em geral, e colocá-lo no topo da agenda internacional484.

A Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios junta-se, assim, a outros esforços em curso para criar oportunidades de educação superior para os sírios afetados pela guerra, evitando a perda de uma geração de graduados universitários485. Baseia-se em experiências bem-sucedidas, desenvolvidas por outras

organizações, como a Iniciativa Académica Alemã Albert Einstein para Refugiados (DAFI)486, implementada pelo ACNUR, e nos programas que ajudam estudantes

ameaçados em todo o mundo, estabelecidos pelo Instituto de Educação Internacional, líder mundial no intercâmbio internacional de pessoas e ideias.

482 Informação obtida na página oficial da Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios, http://www.globalplatformforsyrianstudents.org [13.05.2017].

483 Informação obtida na página oficial do Conselho Português para os Refugiados, http://refugiados.net [13.05.2017].

484 Informação obtida na página oficial da Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios, op. cit. [13.05.2017].

485 Na Síria, a escalada dos conflitos sectários e o rápido avanço do Daesh, levaram os sírios que anteriormente frequentavam ou ensinavam nas universidades a procurar abrigo em campos de refugiados, ou onde pudessem escapar da violência. De acordo com Allan E. Goodman (Presidente do Instituto de Educação Internacional) e Jorge Sampaio, existe um sério risco de se criar uma geração perdida, com tantos jovens excluídos dos seus estudos e da promessa de um futuro. Assim, consideram que os estudantes e professores da Síria são a melhor oportunidade do país para reconstruir a sua sociedade quando o conflito atual desaparecer. As universidades, os governos e a comunidade de doadores em todo o mundo deverão, portanto, agir para ajudá-los imediatamente, mesmo quando os líderes mundiais lutam para encontrar a abordagem correta da política externa, v. http://www.huffingtonpost.com.

A visão desta plataforma assenta na convicção de que todas as pessoas têm direito à educação, e as pessoas afetadas por emergências, seja por conflitos causados pelo homem ou por catástrofes naturais, não são uma exceção487. Para além desta abordagem

baseada nos direitos, existe uma crescente evidência sobre o papel de salvar, e salvar a vida da educação em particular, contribuindo para a autoconfiança dos jovens e das comunidades. A sua atuação em tempo real, desde o início da crise migratória, determinou a sua distinção com o prémio dos direitos humanos 2015, atribuído pela Assembleia da República portuguesa488.

Como o conflito na Síria desencadeou a maior crise humanitária do mundo, desde a II Guerra Mundial, esta Plataforma Global surge para dar resposta a esta catástrofe que afeta todos os países vizinhos, concentrando-se nas necessidades de Educação Superior, uma área muito negligenciada de intervenção humanitária, da comunidade internacional. É uma iniciativa ímpar, na medida em que reúne os esforços e as contribuições das várias partes interessadas, que desejam auxiliar um mecanismo de emergência para apoiar os estudantes sírios: governos, organizações internacionais e regionais, agências doadoras, universidades, fundações, ONGs de diferentes origens culturais e organizações religiosas, setor privado e indivíduos. Percebemos então que, através de uma Rede de Parceiros, um Consórcio Académico e um Fundo Especial de Emergência, a Plataforma trabalha de forma colaborativa.

Este programa entrou na sua fase operacional em março de 2014, com apoio do Governo Português, e permitiu que 45 estudantes sírios selecionados, de 1.700 candidatos, retomassem os seus estudos universitários através de um programa de bolsas de emergência. E apesar de se revelar um modelo muito eficaz e de baixo custo, a falta de financiamento deixou mais de 700 estudantes sírios sem bolsas de estudo, da qual necessitam para prosseguirem a sua formação – a sua admissão na Universidade, com

487 Informação obtida na página oficial da Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios, op. cit. [13.05.2017].

488 Informação obtida na página oficial da Assembleia da República, https://www.parlamento.pt [13.05.2017]; Segundo a Plataforma, o ano de 2015 marca o seu progresso no cenário internacional, aumentando a conscientização sobre o papel único que o ensino superior desempenha em situações de conflito e da necessidade da comunidade internacional oferecer mais oportunidades de educação superior para refugiados, pessoas deslocadas, e jovens que enfrentam situações de crise. Na sequência de uma primeira convocatória para uma reunião em Bruxelas, em dezembro de 2014, em 2015, a Plataforma participou em uma série de reuniões internacionais sobre o tema do ensino superior em situações de emergência; desenvolveu também contactos a vários níveis, para promover essa causa, principalmente a nível político, através da liderança do Presidente Jorge Sampaio, e lançou um conjunto de estudos que reuniram informações e dados sobre o ensino superior em situações de emergência, v. http://globalplatformforsyrianstudents.org.

isenção de taxa de matrícula foi garantida. Uns 50 estudantes sírios adicionais juntaram- se a este programa para o Ano Académico 2014-2015 e foram previstos 40 estudantes sírios, para começarem o ano Académico de 2015 a 2016 em Portugal489. Relativamente

a 2017-2018, as candidaturas às bolsas de estudo encerraram a 28 de julho de 2017 e os estudantes selecionados receberão um feed-back pessoal a 4 de setembro. Foram recebidas mais de 2.000 candidaturas, conforme nos mostra o sítio desta Plataforma490.

A 26 de julho de 2017, o Presidente da Plataforma Global para Estudantes Sírios e o Alto Comissário Português para os Migrantes, assinaram um Acordo de Cooperação que cria doze novas bolsas disponíveis para os refugiados em Portugal. Durante a cerimónia, Ryam, Zabya, Mohammad e Mustafa, estudantes sírios em Portugal, compartilharam com o público alguns pensamentos sobre a sua experiência e fizeram um forte apelo para mais oportunidades para os estudantes sírios completarem a sua formação491.

A submissão de candidaturas a estas bolsas ocorreu entre 1 e 10 de agosto de 2017 e as entrevistas aos estudantes pré-selecionados aconteceram a 17 e 18 de agosto, mediante um aviso prévio e individual. As bolsas destinam-se a apoiar jovens detentores do estatuto de refugiado, que gozem do direito de proteção internacional, ou que tenham sido acolhidos em Portugal, ao abrigo de programas de recolocação, reinstalação ou por razões humanitárias, e que pretendem prosseguir os seus estudos superiores, ou que pretendam a obtenção do grau académico de Doutor. Para tal, é exigido que reúnam as condições habilitacionais necessárias ao ingresso no ciclo de estudos a que se candidatem492.

489 Informação obtida na página oficial da Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios, http://www.globalplatformforsyrianstudents.org [12.05.2017].

490 Informação obtida na página oficial da Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios, http://www.globalplatformforsyrianstudents.org [12.05.2017]. Os requisitos para a candidatura são: cidadania, residência nacional ou permanente, qualificada, para possuir um passaporte válido emitido pelo Estado da Síria. Ter estatuto de refugiado ou residir atualmente no Líbano, Jordânia, Egito, Turquia, Iraque ou Síria. Ter pelo menos 18 anos de idade no momento em que o programa começar. Ter um certificado de conclusão do ensino secundário; ter completado, no mínimo um ano académico, com notas excelentes e estar inscrito no segundo ano, ou ter já terminado a licenciatura; ter um excelente desempenho académico; carecer de financiamento para continuar o seu percurso académico; ter um forte interesse numa qualificação profissional; ter uma forte motivação para contribuir com a sua comunidade, v. http://www.globalplatformforsyrianstudents.org.

491 Informação obtida na página oficial da Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios, http://www.globalplatformforsyrianstudents.org [12.05.2017].

492 Informação obtida na página oficial da Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios, http://www.globalplatformforsyrianstudents.org [12.05.2017].

Com este novo passo, Portugal toma a dianteira na implementação do compromisso assumido na Cimeira das Nações Unidas sobre refugiados e migrantes, realizada a 19 de setembro de 2016493. Este compromisso encontra-se declarado no parágrafo 82 da

Declaração de Nova Iorque, que visa instigar oportunidades de ensino superior para os refugiados e migrantes forçados. Segundo o aludido paragrafo: “estamos determinados a fornecer ensino primário e secundário de qualidade, em ambientes seguros de aprendizagem para todos os menores refugiados, dentro de alguns meses após o deslocamento inicial”, “comprometemo-nos a fornecer aos países anfitriões apoio nesse sentido. O acesso a uma educação de qualidade, inclusive para comunidades de acolhimento, oferece uma proteção fundamental para crianças e jovens, em contextos de deslocamento, particularmente em situações de conflito e crise”494.

No que concerne à reinstalação de estudantes, sejam eles refugiados registados ou não, a Plataforma exige contactos estreitos com os países de acolhimento, a fim de garantir que lhes seja concedida uma proteção total, e têm direito a cuidados de saúde, acesso legal e estadia. Em relação aos estudantes sírios reinstalados em Portugal, a Plataforma, em estreita cooperação com as autoridades portuguesas competentes, lida com todas estas questões, oferecendo assistência permanente para evitar que se percam em burocracias e obstáculos administrativos495.

De acordo com a Plataforma Global, a integração dos estudantes deverá fornecer um suporte de proximidade e orientação. Na medida em que não são estudantes provenientes de uma situação regular. Carecendo de apoio e atenção extra. Por essa razão, os esforços de orientação académica, feitos pelas universidades de acolhimento, tal como os esforços direcionados para facilitar o bem-estar psicológico dos alunos e a sua integração na vida local comum, são imprescindíveis para garantir o pleno sucesso do programa. E as questões de diversidade cultural também devem ser tidas em consideração.

O principal risco deste Programa está relacionado com o impacto nos estudantes sírios, em virtude da conjuntura de conflito armado nesse país, e com o facto de deixarem

493 Informação obtida na página oficial do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, http://www.unhcr.org [20.02.2017].

494Informação obtida na página oficial do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, http://www.un.org [20.02.2017]. 495 Informação obtida na página oficial da Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios, http://globalplatformforsyrianstudents.org [12.05.2017].

as suas famílias para trás. A Plataforma relata que, de vez em quando, os estudantes sentem-se culpados e a ansiedade emerge. Outro risco importante relaciona-se com os esforços necessários para estes estudantes se adaptarem a um novo país, nova sociedade, nova cultura e novo estilo de vida, incluindo a gastronomia. Um terceiro risco levantado é o problema da linguagem, embora, segundo a Plataforma, tenham sido encontradas soluções práticas para todos de forma muito satisfatória496.