• Nenhum resultado encontrado

EM NOME DO PAI, DO FILHO E DO ESPÍRITO SANTO: do pecado ao inferno

1.14 Os prêmios: indulgências

Mas isso não impede que a Igreja mantenha, além dele, possibilidades de ganho para o fiel arrependido. É o caso das chamadas indulgências. Representam para o cristão temente a Deus e cioso de seu dever na terra uma espécie de desconto no possível sofrimento que sua alma passará na vida pós-morte, quando for o caso de ter ainda que purgar erros praticados na vida terrena.

A doutrina a respeito das indulgências pressupõe a existência de três destinos para a alma na vida após a morte na terra – além, é claro, da existência da própria vida eterna: o céu, ou paraíso, o purgatório e o inferno.

Para o céu vão os espíritos cobertos pela graça, cujo corpo tenha morrido sem pecado e cumprido uma jornada terrestre virtuosa; o purgatório é o lugar onde as almas sem tanta virtude, mas ainda merecedoras de salvação, vão expiar o que restou de suas faltas de alguma forma não alcançadas pelo perdão do sacramento da penitência; de lá, após purgarem suas infrações, serão encaminhadas ao paraíso; por fim, para o inferno estão destinados os espíritos de má índole, irrecuperáveis, que primaram pela prática do mal e que viveram em pecado, sem arrependimento.

Sendo o pecado a violação de uma ordem universal, uma quebra da harmonia do cosmos, é preciso que muitos espíritos – praticamente a maioria deles – purguem o resto de suas faltas na vida pós-morte terrena. Essa espécie de pena, que não é definitiva, porque anterior ao juízo final, pode ser abreviada, ou remida, diante da prática de algo, em geral uma obra voltada para os altos interesses da fé. Eis a indulgência. O termo indulgência,

equivalente ao latino indulgentia, provém de indulgere, que significa perdoar, remir. Daí advém igualmente o vocábulo indulto, que significa perdão da pena.

Historicamente a Igreja reconheceu o cabimento das indulgências no caso de cristãos pioneiros, perseguidos ou martirizados por professarem sua fé, no dos que peregrinaram a lugares sagrados, ou para finalidades sacras, como os cruzados, e até no dos que ofertavam valores em prol das cruzadas. Admitiam-se indulgências quer em favor dos vivos, quer dos falecidos.

A compra de indulgências foi, aliás, um dos argumentos com que Lutero e seus seguidores se posicionaram contra a orientação da Igreja católica, o que culminou com o grande trauma, no curso do qual foram sendo tratados como protestantes, e finalmente com a cisão que redundou no surgimento das igrejas assim também adjetivadas. O Concílio de Trento sistematizou e organizou a conquista e a distribuição das indulgências.

Lembrando que elas se referem à pena, vale consignar que as indulgências não perdoam os pecados, mas a sanção a eles correspondente, reduzindo-a. Nisso se assemelham ao instituto da remição da pena, presente no ordenamento penal brasileiro, através do qual o sentenciado redime parte do seu castigo através do trabalho.

Segundo o estatuto católico em vigor, constituem, dentre outras, obras justificadoras de indulgências: a adoração ao Santíssimo67 durante no mínimo meia hora; por igual período a leitura da Sagrada Escritura; a assistência à adoração da cruz, na sexta-feira santa, durante a celebração do rito solene, na cerimônia que acontece às 15 horas; a reza habitual de determinadas orações; a visita a um cemitério, em determinados dias, orando pelos mortos; a prática, por pelo menos três dias, de um retiro espiritual; a visita às catacumbas, bem como a outros lugares sagrados, no chamado Ano Santo; o ensino ou o aprendizado da doutrina cristã; a participação em novenas de Natal etc.

67 Ritual diante do Santíssimo Sacramento, a Eucaristia, em que o fiel, individualmente ou em comunidade, medita e reza.

102 1.15 Delitos eclesiásticos

O ordenamento católico transita pelo sistema penal aplicável ao sujeito pecador, pelo sistema de premiação e ainda pelo das penalidades específicas da Igreja. No primeiro há, como já se viu, previsão de sanções de cunho espiritual, que alcançam o estado de graça, que é o estado ideal para qualquer indivíduo; objetiva educar o homem para não pecar. O segundo, também preocupado com a educação do sujeito para o estado de graça, estabelece prêmios para os atos opostos ao pecado e, de certa maneira, capazes de afugentar o pecado. O terceiro é constituído por normas postas pela Igreja tendo como destinatário o fiel diretamente envolvido com as atividades próprias da difusão da fé e das normas religiosas. Com muita freqüência esse fiel é o sacerdote ou sãoseus auxiliares próximos.

É, assim, possível que tais pessoas cometam delitos ou pecados, já se vendo que há uma distinção entre essas categorias. Delito é considerado como a infração representada por um ato externo do sujeito. Todo delito é pecado, mas por pecado também se entendem certos atos meramente internos, como o pensar, desejar.

De tal sorte, conseqüentemente nem todo pecado configura um delito. Considera-se delito eclesiástico aquele que viola unicamente a lei eclesiástica, ou da Igreja; civil o que atenta contra a ordem civil, assim entendida a ordem social positivada; delito misto é o que simultaneamente ofende a ordem eclesiástica e a civil.

A lei eclesiástica pune apenas os delitos considerados graves; os leves são impuníveis e os pecados, representados por atos internos, são deixados para a jurisdição da divindade. Finalidades da sanção eclesiástica são declaradamente a reparação da ordem violada e a correção do delinqüente.

A Igreja se arvora a legítima aplicadora da sanção eclesiástica, apoiada na herança que para si reivindica do ensinamento e do poder de Jesus Cristo. Busca na Sagrada Escritura, especificamente no Evangelho de Mateus, 18, 17-18, o fundamento histórico dessa herança. Esse direito, considerado inato, é proclamado no cânon n. 1311 do Código de Direito Canônico nos seguintes termos: A Igreja tem o direito nativo e próprio de punir com sanções penais os fiéis delinqüentes.

Esse direito nativo deve ser exercido com parcimônia, segundo recomendação do Concílio de Trento, que lembra aos seus titulares que são pastores e não carrascos e que

devem amar os delinqüentes como seus irmãos, antes se empenhando em exortá-los a não delinqüir e procurar afastá-los do mal, numa ação de natureza primeiramente preventiva.

Titulares desse jus puniendi da Igreja são, de conformidade com a teologia moral, os mesmos que têm poder para impor preceitos ou fazer as leis, ou, mais precisamente: o papa, para toda a Igreja, os bispos, para sua diocese e os superiores religiosos em relação aos seus subalternos. De conformidade com o disposto nos cânones n. 134 a 142, pode o papa delegar tal função a leigos, mas somente do sexo masculino.

Por fiel delinqüente, passível de pena, se entenda aquele indivíduo maior de dezesseis anos de idade, capaz do uso habitual da razão, como flui do disposto nos cânones n. 1323 e 1323 do Código de Direito Canônico. Cuida-se do início da maioridade penal para delitos eclesiásticos. É um marco objetivo que se funda num critério biológico. Assim como se dá no âmbito do ordenamento estatal, o desenvolvimento mental do indivíduo é supostamente alcançado em determinada idade cronológica; é um desenvolvimento mental naturalmente afinado com a prática das condutas delineadas no respectivo ordenamento.

A capacidade do uso habitual da razão remete à idéia de higidez mental em estado permanente, decorrendo que não basta ser maior de dezesseis anos: é também preciso que o sujeito seja capaz de entender o sentido de sua conduta.

O contrário disso leva à categoria da inimputabilidade, que significa a impossibilidade de censurar o autor de uma infração por conta de uma condição pessoal sua, relacionada com a aptidão para compreender as características do ato ou da omissão praticados. Essa categoria se repete no ordenamento estatal, de modo mais específico: inimputáveis são os que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, são inteiramente incapazes de entender a natureza ilícita do fato, ou de se determinar conforme esse entendimento.

Nota-se da redação do Código de Direito Canônico que a imputabilidade requer capacidade habitual para o uso da razão, conclusão que encontra correspondência na redação do cânon n. 1322 do Código, no seguinte teor: Os que não têm habitualmente uso da razão, mesmo que tenham violado a lei ou o preceito quando pareciam sadios, consideram-se incapazes de delito.

Disso forçosamente também flui que aquele apenas ocasionalmente capaz não há de ser considerado imputável, decerto sendo aí remetido a uma categoria intermediária para a

104 qual é prevista, como se verá adiante, a mitigação da pena. Acrescente-se que, além de ser maior de dezesseis anos e capaz do uso habitual da razão, o sujeito da possível sanção penal eclesiástica deve ser indivíduo batizado e vivente.

São, de outro lado, isentos de pena os que, sem culpa, ignoravam estar violando a lei canônica, num claro paralelo com o chamado erro de tipo, ou o antigo erro de direito, do ordenamento penal estatal; igualmente não é atribuível pena aos que tenham agido sob coação, moral ou física, ou agiram movidos por caso fortuito, em legítima defesa ou por necessidade, assim também aos que, sem culpa, imaginaram as citadas situações de coação, legítima defesa ou necessidade. Facilmente se nota a semelhança com categorias do direito penal estatal, algumas excludentes de ilicitude, outras de culpabilidade.

Há previsão de causas de mitigação, ou substituição, da pena. Assim poderá ocorrer se o delinqüente possuir apenas a parcial capacidade de uso da razão, por embriaguez, perturbação mental ou outra circunstância, inclusive a paixão; do mesmo modo na hipótese de excesso na legítima defesa e também na de ter o delinqüente agido contra quem o provocou grave e injustamente.

Igualmente são previstas circunstâncias capazes de aumentar a pena. Dentre outras se encontram o caso do delinqüente já condenado que persiste na prática da infração e o de quem abusa da autoridade ou do ofício para cometer o delito.

A tentativa é punível com penalidades menores, como penitências ou remédios penais, e somente se houver escândalo se recomenda a aplicação de uma justa pena, de qualquer forma mais branda que a prevista para o delito consumado (cân. n. 1328, §§ 1º e 2º do CDC). Ainda no caso da tentativa, a desistência espontânea isenta de pena, salvo a hipótese de ter decorrido escândalo dos atos executórios. De seu turno, aquele que concorre para o delito sujeita-se, em princípio, às mesmas penas previstas para o seu executor.

As penalidades eclesiásticas são de três espécies: medicinais, vindicativas e remédios penais e penitenciais.

Medicinais, chamadas também de censuras, são as que têm por principal objetivo a correção do delinqüente; apresentam pontos em comum com as medidas de segurança do ordenamento estatal, na medida em que o sujeito somente será perdoado se, curado, deixar de praticar infrações semelhantes. São também chamadas de censuras. A exigência da

abstenção do delinqüente em repetir a infração traz implícito o caráter habitual desse tipo de falta.

Vindicativas são as penas que em primeiro lugar buscam a reparação da ordem violada, a punição do delinqüente e a advertência para os demais. Reúnem, como visto, as principais finalidades da pena estatal: retribuição e prevenção.

Por fim, os remédios penais e penitenciais, de caráter mais suave que as anteriores, conjugam os objetivos curativos das censuras com os retributivos e preventivos das penas vindicativas.

A etimologia do termo vindicativas denuncia a natureza desse tipo de sanção. Do verbo latino vindicare, origem do vocábulo em português, surgem vários sentidos, com pontos em comum. Libertar, punir, livrar, castigar68. Vem daí vindicta, palavra identificada com reconquista, resgate, livramento. Derivam da mesma origem os vocábulos vindicação e reivindicação. Equivalente a elas é o termo vindícia, significando reclamação. Vindicação, reivindicação e vindícia são considerados sinônimos e, de conformidade com o Código Civil brasileiro de 1916 e o Código de Processo Civil, representam o ato de propor ação judicial para reaver propriedade que está injustamente na posse de outrem69.

As penas medicinais, ou censuras, são as mais graves do ordenamento penal eclesiástico. Privam o delinqüente de certos bens espirituais. São de três tipos: excomunhão, interdito e suspensão. A primeira priva totalmente o condenado desses bens; os dois últimos operam uma privação parcial deles. A suspensão é aplicável aos clérigos; a excomunhão e o interdito, a todos.

Tais penas pressupõem a prática de delito grave, consumado e um agente contumaz. Podem ser latae sententia ou ferendae sententiae. As primeiras são cabíveis às infrações mais graves, não sendo necessariamente precedidas de uma advertência anterior e independem de uma sentença: o simples cometimento do delito as torna automaticamente impostas; para as segundas é obrigatório que tenha o delinqüente demonstrado persistência na infração mesmo depois de ter sido advertido e apenas podem ser determinadas por intermédio de uma sentença.

68 Cf. Dicionário escolar latino-português, p. 1066.

106 Mais severa de todas é sem dúvida a excomunhão, dada a privação dos bens que provoca. Vê-se das prescrições do Código de Direito Canônico, conforme o cânon n. 1331, que o excomungado não pode atuar como ministro na celebração da eucaristia ou quaisquer outras cerimônias do culto, proibição que atinge os sacerdotes; não pode ainda exercer quaisquer ofícios ou cargos eclesiásticos nem praticar atos de administração da Igreja; por fim, está igualmente impedido de celebrar, se for sacerdote, ou de receber os sacramentos, se for sacerdote ou leigo.

Há uma variação do grau de severidade com que essa pena é imposta, podendo, nos casos mais graves, decorrer também para o excomungado que sua companhia deva ser evitada pelos demais fiéis; trata-se do chamado excomungado vitando, importando notar que esse gravame somente pode ser imposto pela Santa Sé e deve ser proclamado publicamente, além de conter expressamente a advertência de que o condenado deve ser evitado; para os casos menos severos de excomunhão, que não contenham a proibição de comunicação com o apenado, se diz que o excomungado é tolerado.

Tanto é a excomunhão a mais severa das penas eclesiásticas que para as infrações mais graves existe previsão expressa de sua aplicação. Vejam-se, por exemplo, os cânones n. 1364 a 1398 do Código de Direito Canônico, que definem delitos e cominam penas, dos quais se extrai que o aborto, a prática de violência contra o papa, a profanação do material consagrado, a heresia e outras infrações igualmente graves são punidos com essa penalidade.

Relativamente ao interdito, ocorre circunstância interessante: ele pode ser aplicado ao que a linguagem do direito canônico chama de pessoas morais, que podem ser constituídas de uma determinada comunidade religiosa. Inevitável a comparação com as penas cabíveis, na forma do ordenamento penal estatal, às pessoas jurídicas; cuida-se, lá como aqui, de responsabilidade penal sem dolo ou culpa, ou seja, sem intenção nem desatenção, forma de responsabilidade objetiva. Obviamente são cabíveis a essas prescrições do direito canônico as mesmas objeções doutrinárias comumente feitas às normas estatais que possibilitam a responsabilização penal das pessoas jurídicas. Uma delas é que pessoas naturais, concretas, acabarão sendo punidas por infrações para cuja ocorrência não concorreram e de cuja existência bem podiam nem saber.

Existe a possibilidade até mesmo de que as penas sejam indeterminadas, querendo significar que, sem serem previamente estabelecidas, podem ser fixadas segundo o arbítrio do julgador.

Podem ser impostas por delitos passados e presentes, assim compreendidos os que o delinqüente continua a praticar; e ainda é possível sua imposição para prevenir delitos futuros. Aí está uma expressão sem dúvida extremada da finalidade preventiva da pena, que chega a prescindir do fato concretamente praticado e, antecipando-se à sua hipotética ocorrência, adianta-se e antecipadamente se reconhece aplicável.

Existe aqui um paralelo com o ordenamento estatal, que, ao definir tipos dos chamados crimes de perigo, já torna ilícita a conduta geradora de uma situação de risco, ainda que este jamais se concretize num resultado modificador da realidade fática. Mas é um paralelo apenas em parte, pois o direito penal laico não autoriza a aplicação de pena antes da ocorrência de algo definido como infração; a sanção criminal não tem um caráter preventivo tão largo como se vê no direito eclesiástico.

A censura tem todas as características de pena, mas o direito canônico admite, em alguns casos, que dos seus efeitos fique isento o condenado. Por essa razão é que se a observância da censura puder causar grave infâmia para o próprio condenado ou escândalo por parte dos fiéis, estará aquele dispensado de cumpri-la se presentes tais condições.

O medo grave é outra causa que pode isentá-lo da observância da penalidade. A ignorância de certo tipo de censura, que vem acompanhada de cláusula que evidencia conhecimento e deliberação do condenado ao descumpri-la igualmente isenta este de segui- la. Essa liberação tem apoio no disposto no cânon n. 1324, § 9º, do Código de Direito Canônico.

Censura, como visto, é pena, mas pode ser revogada, situação para que se dá o nome de absolvição da censura. São competentes para esse ato as autoridades eclesiásticas com jurisdição sobre o penitente, assim como todos quantos, segundo o ordenamento religioso podem dispensar o fiel da observância de uma norma. De acordo com o caput do cânon n. 1357, é ainda possível ao confessor absolver a censura, ou, em termos mais técnicos, remitir a penalidade, quando se tratar de censura latae sententiae e for duro para o penitente permanecer em estado de pecado grave pelo tempo necessário para que o Superior competente tome providências. Essa remissão entretanto deve vir acompanhada da

108 obrigação de o penitente recorrer, no prazo de um mês, ao superior ou à autoridade competente para conhecer do caso; da mesma forma deve ser imposta, nesse ínterim, uma penitência ao condenado e, se for adequada, também a reparação do dano. Cuida-se, como se vê, de uma suspensão condicional da execução da penalidade eclesial, que está subordinada a um comportamento ulterior do penitente e que pode ser concedida em circunstâncias específicas.

Conquanto defina infrações e comine penalidades, o direito repressivo canônico não parece acolher o princípio da obrigatoriedade ou da irrevogabilidade da pena; ao contrário, procura trazer o delinqüente de volta para a comunhão da Igreja e para longe do delito. O ordenamento prevê expressamente que se recorra a uma tentativa de correção fraterna do fiel antes de passar para o extremo da punição. O cânon n. 1341 do Código de Direito Canônico é taxativo nesse sentido, com ele combinando o cânon n. 1347, que, por sua vez, prescreve que condição de validade para uma censura é que haja uma prévia advertência ao delinqüente seguida de um tempo razoável para que ele possa demonstrar o seu arrependimento.

A teologia destaca muito enfaticamente o caráter correcional da pena assim como o trabalho que deve ser feito com o infrator no sentido de obter dele o arrependimento e a regeneração. Por isso muitas são as possibilidades de que o delinqüente condenado veja abrandada a execução do seu castigo e às vezes o seu adiamento.

As circunstâncias pessoais do fiel devem ser criteriosamente consideradas e até mesmo os efeitos da pena são avaliados, para que não causem no condenado resultados insuportáveis. Igual raciocínio se dá no tocante a um eventual acúmulo de penas: se ficarem pesadas demais, a autoridade eclesial pode reduzir a sua intensidade e determinar que o cumprimento espere uma época mais oportuna. Outra causa de possível mitigação da penalidade é o fato de o delinqüente ser por ela também passível de punição segundo a ordem estatal.

Vê-se com facilidade que os dogmas penais eclesiásticos são entremeados pelo princípio da oportunidade, que é posto em prática por uma autoridade dotada de certa discricionariedade, que exerce na medida de sua avaliação quanto às circunstâncias pessoais do delinqüente. Este figura no centro do direito penal eclesiástico, cuja preocupação parece ser, permanentemente, mantê-lo agregado ao corpo de fiéis. Tanto é

assim que o arrependimento do condenado é fator de diminuição da pena, assim também considerada a hipótese de ter ele reparado o mal, ou o escândalo. Disso será lícito concluir que a Igreja pretende, de todo modo, conservar junto de si o fiel que se desviou da ordem estabelecida.

A pena, que na ordem laica é afirmação da autoridade do Estado, chega mesmo a