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6 O PROCESSO ADMINISTRATIVO SANCIONADOR NAS AGÊNCIAS

6.4 PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE

É regra clássica do Direito Administrativo, como se sabe, o inescusável dever, advindo da lei, segundo o qual cabe à Administração Pública, independentemente de qualquer iniciativa ou provocação de particular, a tarefa de regularmente promover a satisfação do interesse público255, entendido este, claro, em sua concepção tradicional. É cediço, também, que, uma vez deflagrado qualquer processo administrativo, há sempre o interesse público em vê-lo chegar a uma decisão, seja qual for o conteúdo desta256. Do somatório dessas duas

254 GRINOVER, Ada Pellegrini. Novas tendências do direito processual. São Paulo: Forense Universitária,

1990, p. 4-6.

255 Cf. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 1999, p. 488. 256 Cf. FERRAZ, Sérgio e DALLARI, Adilson Abreu. Processo Administrativo. 2ª ed. São Paulo: Malheiros,

assertivas, portanto, é que se tem a formação do teor do princípio da oficialidade, outro importante componente do rol concretizador do devido processo legal.

Também denominado de impulso oficial, expressa a idéia central do princípio, basicamente, que será da Administração Pública, nos casos que demandem a deflagração de marcha processual, a responsabilidade pela condução adequada e coerente desta, o que inevitavelmente transfere àquela legítima competência para a adoção de medidas que venham a assegurar, até a prolação de decisão final, a tramitação contínua do feito. É claro que, conforme adverte Medauar, não se trata de elidir, com tal afirmação, a participação merecida dos sujeitos interessados, pois é indiscutível que continuam intactas, como bem lembra a autora, as prerrogativas daqueles inerentes à iniciativa do processo, à produção de provas e à juntada de documentos257. Afinal, é cediço que caberá também às partes, sempre que chamadas para tanto ou toda vez que entendam necessária ou pertinente sua participação – neste último caso desde que se afigure ela possível -, promover, da mesma forma, a natural movimentação dos autos, de forma que possam dar a estes, assim, o passo de que precisam para continuar seguindo rumo à decisão final.

Desta forma, imperioso se faz compreender que, na verdade, o que determina o princípio em tela, em essência, é tão somente que não será permitido à Administração Pública, em hipótese alguma, eximir-se da obrigação legal que tem de incessantemente conferir, até o seu encerramento, o regular e devido andamento ao processo, não importando, para o atendimento a esse dever, que se constate eventual desinteresse das partes em seu progresso. Afinal, não se deve olvidar que é questão de interesse público, como já se ressaltou, que de fato atinja o feito o desfecho que dele se reclama, o que irá significar, para a Administração, a inexistência de qualquer margem de escolha para optar por caminho diverso. A intenção aqui,

257 MEDAUAR, Odete. A processualidade no Direito Administrativo. 2ª Ed. São Paulo: Revista dos

salta à evidência, não é outra senão a vedação a possíveis retardamentos e desinteresses nos julgamentos ou definições de causas que demandem uma tomada de posição.

Competindo à Administração Pública, portanto, promover a impulsão de ofício dos processos que conduz, é natural que se exija dela ainda que, frente aos mesmos, atue da forma mais abrangente possível, de modo a ser sempre buscada, por sua própria iniciativa, a coleta de todos os elementos que entenda indispensáveis à elucidação dos fatos, haja vista não soar adequado, por razões de interesse público, que se resuma sua análise a tão somente aquilo que aos autos foi trazido ou suscitado pelas partes. Resta evidente, então, com isso, a ampla liberdade que detém a Administração para determinar, desde que entenda pertinente ou necessária, a produção de provas não relacionadas e a complementação de informações não totalmente esclarecidas, além, ainda, se for o caso, da realização de diligências, tudo devidamente amparado pela responsabilidade a si atribuída pelo preceito ora em referência.

Importa assinalar, também, que tamanha se mostra a importância que é reconhecida ao princípio, que a Lei Federal nº 9.784/1999, regedora do processo administrativo na esfera federal, chega expressamente a fazer alusão, em três momentos distintos de seu texto258, acerca da impulsão de ofício que deve obrigatoriamente ser conferida a todos aqueles feitos.

Inclusive, além dessa preocupação demonstrada pela legislação, é de se ressaltar, da mesma forma, a amplitude que adquire o princípio sobretudo quando se trata de processos administrativos sancionadores. Afinal, vale a regra do impulso oficial para embasar a obrigatoriedade até mesmo da instauração, de ofício 259, dos processos desta espécie260, o que

258 Vide art. 2º, parágrafo único, XII, art. 29, caput, e art. 51, §2º, da Lei Federal nº 9.784/1999. Este último,

inclusive, prevê a continuidade do processo até mesmo nas hipóteses de desistência ou renúncia do interessado, no caso de ser necessária à satisfação do interesse público.

259 Vladimir da Rocha França vislumbra uma relação direta do mandamento que impõe essa obrigatoriedade

tanto com o princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado quanto com o princípio da finalidade (FRANÇA, Vladimir da Rocha. Processo administrativo sancionador na Lei nº 9.784/1999. In:

não acontece, claro, no campo da atividade jurisdicional e nem com muitos outros casos sujeitos à tramitação de processo administrativo de finalidade diversa, onde somente prevalecerá o preceito após o regular estabelecimento de relação processual, para o que se exige, como se sabe, a provocação dos legitimados para tanto. Ademais, é de se lembrar que impera, nos processos sancionadores, a presunção de inocência do acusado, que se constitui em mais um motivo para que a autoridade administrativa realize, de ofício, todos os atos indispensáveis à obtenção da verdade.