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6 SITUAÇÃO DA RELAÇÃO DE EMPREGO NA CONTEMPORANEIDADE

6.5 O PROBLEMA DO DESEMPREGO

31 ROMITA, Arion Sayão. Op. cit., p. 243.

32 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Constitucional do Trabalho. 3. ed. amp. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 146.

O desemprego e a miséria são elementos indispensáveis à manutenção do sistema capitalista neoliberal. O medo de perder o emprego e a certeza de que existe alguém sempre esperando para trabalhar em condições inferiores, fulmina qualquer possibilidade de mobilização por melhores condições de trabalho pela via do medo. Assim o trabalho precário se espraia em todos os ramos, em todas as carreiras e profissões, desvalorizando o trabalhador nas relações de emprego, desprotegendo cada vez mais estas relações, fulminando com isso a dignidade da pessoa humana. Sobre este quadro desolador, cabe transcrever a lição de Ricardo Antunes:

O que dizer de uma forma de sociabilidade que, segundo dados recentes da Organização Internacional do Trabalho (OIT), desemprega ou precariza cerca de 1 bilhão e 200 milhões de pessoas, algo em torno de um terço da força humana mundial que trabalha? Como uma seringa depois de usada, são todos descartáveis. Assim é, dizem, a lógica “inexorável” da modernidade.33

No plano nacional, ainda é extremamente preocupante as estatísticas do desemprego. Dados de abril de 2011 provenientes de pesquisas realizadas sobre a responsabilidade da Fundação Seade e pelo Dieese, mostram uma taxa de desemprego de 11,2%, com um contingente estimado de 1.197 mil pessoas.34

O emprego parece ser encarado como um favor que os empregadores estão fazendo aos trabalhadores. Porém, não se pode esquecer que a Lei Maior, em seu art. 170, caput, alberga a valorização do trabalho humano como fundamento da ordem econômica.

A responsabilidade social das empresas deve começar valorizando sua força de trabalho, promovendo programas constantes de treinamento, criando ambientes saudáveis de trabalho, enfim, fazendo o trabalhador sentir-se digno. Infelizmente, este tipo de atitude é vista muito raramente nos diversos setores de atividade.

Diante do exposto, o cenário atual da relação de emprego parece sombrio, cabe a classe trabalhadora e a sociedade em geral, manterem uma permanente vigilância visando à preservação dos direitos conquistados até hoje, pois as elites empresariais e os políticos retrógrados tentarão construir mecanismos de desmanche do patrimônio jurídico lentamente

33 ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? Ensaio Sobre as Metamorfoses e a Centralidade do Mundo do

Trabalho. 10a ed. Campinas: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 2005, p. 177. 34 Disponível em: http://dieese.org.br/ped/sp/pedrmsp0411.pdf. Acesso em: 11 de julho de 2011.

conseguido nos últimos dois séculos. Lamentavelmente, as palavras de Magda Barros Biavaschi encerram o assunto quando nos ensina que:

Em um quadro de redobradas inseguranças, boa parte dos postos de trabalho gerados são precários e mal remunerados, sendo ainda, notória a rotatividade da mão-de-obra, aprofundada diante da inexistência de mecanismos que criem dificuldade ao exercício do “direito de despedir”.35

No Brasil, não existe outra forma de sobreviver com o mínimo de dignidade sem uma ocupação remunerada, diferentemente de outros países, caso das nações escandinavas, onde o indivíduo que por qualquer motivo se encontra fora do mercado de trabalho, encontra amparo do Estado, este sim, exercendo o verdadeiro papel de Estado Democrático de Direito.

Se o trabalho precário é um fator que desgasta a dignidade do trabalhador, o desemprego extermina completamente o princípio da dignidade da pessoa humana, pois: “Toda perda de trabalho provoca uma ferida profunda na identidade de diferentes pessoas, concorrendo para a desagregação de suas personalidades”.36 O desemprego é uma das formas mais dramáticas de degradação humana e social. Nesse sentido Osmar de Almeida Santos afirma:

A Revolução Tecnológica está causando temporariamente um grande desemprego nos países desenvolvidos. As soluções a curto prazo para o desemprego não estão funcionando. O desemprego está causando um grande mal-estar social, a criminalidade aumentando e, junto com ela, o fanatismo religioso, o racismo, o nacionalismo e o neofacismo. Os governos estão ficando pobres e fracos e os desempregados estão tendo que encontrar os seus próprios caminhos. Todo mundo está descontente. O que fazer?37

Nem todas as pessoas têm o perfil do empreendedorismo. A ausência deste perfil empreendedor não possui qualquer relação com a capacidade profissional do trabalhador, qualquer que seja ela. Outras vezes, o trabalhador até desejaria enveredar pela via do

35 BIAVASCHI, Magda Barros. Fundamentos do Direito do Trabalho. In: KREIN, José Dari et al (Coord.). As Transformações no Mundo do Trabalho e os Direitos dos Trabalhadores. São Paulo: LTr, 2006, p. 50. 36 ENRIQUEZ, Eugene. Perda do Trabalho, Perda da Identidade. In: NABUCCO, Maria Regina; CARVALHO NETO, Antônio (orgs.). Relações de Trabalho Contemporâneas. Belo Horizonte: PUC- Minas/Instituto de Relações do Trabalho, 1999, p. 72. apud MORATO, João Marcos Castilho. Globalização e

Flexibilização Trabalhista. Belo Horizonte: Inédita, 2003, p. 172

37 SANTOS, Osmar de Almeida. O Futuro do Trabalho na Era da Tecnologia: Em Busca do Emprego

empreendedorismo, mas algumas profissões precisam de elevados investimentos para que um negócio próprio possa ser planejado e executado. Por vezes ainda, o trabalhador possui os recursos, mas lhe falta coragem de encarar um desafio, uma loteria que pode culminar na ruína completa daquele que já está utilizando o mínimo em face do desemprego.

Resta, portanto, ao trabalhador, continuar a buscar a sobrevivência diária através da venda de sua força de trabalho. Para isto, é necessário não apenas medidas estatais que garantam o direito fundamental ao trabalho, mas que tal direito venha a ser desfrutado numa dimensão de dignidade e decência compatíveis com os demais direitos fundamentais, que gravitam em torno do princípio maior e de notável nobreza, a dignidade da pessoa humana.

Cumpre ressaltar que também é dever do Estado, manter programas de inclusão dos desempregados no mercado de trabalho, bem como garantir que essa massa de trabalhadores possa ser assistida, no sentido de preservar padrões mínimos de dignidade, evitando com isto a marginalidade e a violência.

É preciso que se entenda de maneira definitiva, que a plena aplicação dos direitos sociais, incluindo, in casu, o direito fundamental ao trabalho, é uma arma muito mais eficaz no combate a violência do que as famigeradas e inflacionadas leis que albergam novos tipos de crimes e aumentam as penas daqueles delitos já tipificados. A lamentável incursão do trabalhador na marginalidade e pior, dentro da esfera do direito penal é, por vezes, a ausência de concretização efetiva dos direitos sociais garantidos constitucionalmente a todos.

A terceirização nos moldes atualmente praticados, cuja característica principal é a precarização das diversas atividades laborais, não é o meio mais adequado para enfrentar o problema do desemprego. Para que o trabalho terceirizado adéqüe-se aos pressupostos do trabalho decente conforme determinado pela OIT, no sentido ser “um trabalho adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, eqüidade e segurança, capaz de garantir uma vida digna",38 torna-se necessário um ajuste na legislação vigente.

Por fim, é dever estatal normatizar e fiscalizar as condições laborais, evitando com isto que o direito fundamental ao trabalho seja exercido em condições que fulminem a dignidade do trabalhador, afastando-se dos preceitos internacionalmente consagrados no que tange a concretização do trabalho decente.

38 Organização Internacional do Trabalho. Agenda Nacional de Trabalho Decente. Brasília, 2006, p. 5. Disponível em: < http://www.oitbrasil.org.br/info/downloadfile.php?fileId=237>. Acesso em: 04 de agosto de 2010.