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está ligado, desde a sua origem, ao problema da sobrevivência Trata-se pois de uma relação dialética entre o ser vivo e o seu contorno, visando à sobrevivência daquele Como essa relação é

dialética, existe uma ação do contorno para o ser vivo e outra ação deste para aquele. É natural

concluir portanto: o conhecimento está ligado à vida. Mais ainda: é através dele que o ser vivo

sobrevive, isto é, ‘dialoga’ com o seu contorno. Por conseguinte: o conhecimento é vida e é

poder; este, para transformar o mundo e, nessa transformação, transformar a vida com a

aquisição, pela consciência, de novos estados de percebimento. Ora, sendo a matemática uma

parte do conhecimento, ela é vida e é poder, no sentido acima indicado (Borges, 1984).

É nesse contexto de abordagem do conhecimento que concebemos a matemática. A partir daí, a nossa atenção se volta para o emergente metadiscurso da matemática e com alcance muito além do mero ensino − a educação matemática − em que aspectos filosóficos e históricos da matemática e do seu ensino, articulados com outras áreas do conhecimento, assumem importância capital. E é imbuídos desse espírito que nos atemos agora a algumas realizações intelectuais consumadas em torno do referido metadiscurso.

Das várias tendências em educação matemática cultivadas no país, buscamos refletir acerca da educação matemática que se faz na Unesp-Rio Claro-SP, no tocante às relações entre filosofia da matemática e educação matemática. Em um livro recentemente organizado por Bicudo (1999), intitulado Pesquisas em educação

matemática: concepções e perspectivas, buscamos entender o pensamento dos autores dos ensaios agrupados sob o

título “Filosofia e Epistemologia na Educação Matemática”. Sobre três ensaios publicados, tentamos fazer um breve comentário analisando-os com o objetivo de encontrar convergências no sentido de uma nítida tendência em educação matemática. Porém, o livro/antologia é plural, e a nossa análise se restringiu apenas a esses três ensaios publicados na Parte I, a saber: Silva (1999), Bicudo (1999) e Garnica (1999).

O artigo de Silva (1999), que esperaríamos fosse uma reflexão relacionando filosofia da matemática e filosofia da educação matemática, é, de fato, uma sucinta, coerente e didática retrospectiva acerca do desenvolvimento da filosofia da matemática e das relações desta com a matemática e a filosofia. E por ser uma retrospectiva, tem um tom histórico perceptível. Na verdade, o autor agrega em seu texto considerações de caráter histórico, filosófico e pedagógico em torno da matemática. Apesar de apenas um oitavo do artigo se dedicar à educação matemática, a reflexão desse autor é de fato muito interessante para um educador matemático que esteja se adentrando nos caminhos da filosofia da matemática. A impressão que temos é que o autor dirige esse texto principalmente àqueles que estão a iniciar-se em educação matemática, mas consideramos de imprescindível importância para aqueles que são iniciados à matemática com alguma inclinação para a dimensão filosófica dessa ciência.

Silva afirma a imprescindibilidade da filosofia da matemática nas práticas ou teorias pedagógicas referentes à matemática, isto é, na educação matemática. Para nós, é muito agradável ouvir isso de autores maduros, uma vez que essa declaração vem ao encontro do que fora uma das nossas primeiras crenças na nossa iniciação em matemática.

Algumas considerações do autor são destacadas aqui porque suscitam-nos alguns senões com relação a considerações de Ernest sobre as correntes tradicionais da filosofia da matemática. Ernest fala do que ele chama de absolutismo como se fosse algo ainda hoje muito forte e estático em matemática. Já Silva fala das correntes tradicionais do pensamento matemático como de aspectos situados já num passado histórico da matemática; próximo, mas passado.

Silva considera que a crise dos fundamentos gerou, além de um notável progresso na própria matemática, toda uma tradição de reflexão filosófica que só nos dias atuais tem sofrido alguma concorrência (Silva, in: Bicudo,1999: 48). No entanto, aduz que novas perspectivas filosóficas, entretanto, só poderiam emergir quando a

filosofia [da matemática] deixasse de se preocupar em colocar a matemática sobre fundamentos seguros para observá-la de fora, deixando para os matemáticos a tarefa de fazer a matemática (p.49).

Há uma consideração impressionante do autor ao afirmar que na tarefa de reconstrução e reinterpretação da matemática (em função da crise dos fundamentos), as filosofias tradicionais da matemática se constituíram mais

como ideologias de justificação para os esforços de fundamentação a que estavam acopladas do que como produtos de uma reflexão serena sobre a natureza da matemática, como ela historicamente se apresenta a nós (p.50). Esta

citação está no mesmo espírito de uma reflexão de Ernest em (SCPM, p.31), quando este afirma acerca do absolutismo: I consider this to be a powerful and persistent doctrine, one which has remained alive for many years.

Elsewhere I have speculated that this is due to its ideological rather than purely philosophical significance.

A mudança de foco das questões de base na filosofia da matemática é também objeto da crítica de Silva que dá conta do papel da história, agora nessa nova perspectiva filosófica da matemática. Ainda ele acrescenta uma plausível interpretação como que num tom de indulgente compreensão para com a não preocupação do logicismo, do formalismo e do intuicionismo com a história da matemática: não tinham porque estar interessados na história da

matemática, pois esta não lhes poderia ensinar nada. Na melhor das hipóteses, poderia apenas exibir dolorosamente os males desta ciência, males que lhe cabiam curar (p.51).

Quando Wittgenstein vê na prática dos matemáticos o foco da filosofia da matemática, obviamente, concluímos que essa prática se dá ao longo da história da matemática. Silva, nesse aspecto, converge tanto com Wittgenstein como também com Lakatos e com Ernest, quando afirma que:

Os filósofos da matemática não podem mais hoje ignorar a história da matemática, pois a

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