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7. PERCURSO INVESTIGATIVO

7.1 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE

Como já aludimos anteriormente, sobre o LD podem incidir diversos olhares. E a depender da ótica sobre o qual este é compreendido, incidirá, também, escolhas, opções teórico-metodológicas a serem realizadas quando este for tomado como objeto de análise. Neste sentido, fomos à busca de um aporte teórico-metodológico que nos auxiliasse e pelo qual pudéssemos encontrar respostas para as nossas indagações. Sendo assim, nos valemos tanto das abordagens de natureza qualitativa quanto quantitativa, por entendermos que entre uma abordagem quantitativa e qualitativa “há oposição complementar que, quando trabalhada teórica e praticamente, produz riqueza de informações, aprofundamento e mais fidedignidade interpretativa (MINAYO, 2009, p.22)”.

Essa ideia da complementariedade, conforme Santos Filho (2002, p.46), já é aceita por muitos pesquisadores educacionais, posto que estes “acreditam que as várias tradições de pesquisa são igualmente legítimas e não estão em conflito necessário”. Considerando esse viés, Denzin e Lincoln (2006, p.20) entendem que “a pesquisa qualitativa, como um conjunto de atividades interpretativas, não privilegia nenhuma única prática metodológica em relação à outra (...) nem possui um conjunto distinto de métodos ou práticas que seja inteiramente seu”. É nesta perspectiva que os referidos autores destacam que a pesquisa qualitativa oportuniza aos pesquisadores “uma ampla variedade de práticas interpretativas interligadas, na esperança de sempre conseguirem compreender melhor o assunto que está ao seu alcance (DENZIN; LINCOLN, 2006, p.17)”.

Em face de essas considerações, quando nos reportamos para a análise do LDP, fizemos um levantamento dos textos e das esferas de circulação/produção69 dos textos presentes nesses livros, e também das atividades referentes à leitura/compreensão textual. Esse levantamento tinha como objetivo colher informações, que pudessem ser agregadas aos indícios (GINZBURG, 1979)70 deixados pelos autores e também pelos agentes responsáveis pela produção didática em análise (CHARTIER, 2001a), quando procedêssemos com as

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Aqui assumiremos a mesma perspectiva adotada por Rojo (2010) quanto à distribuição/classificação dos textos em conformidade com suas as esferas de circulação/produção. A autora em questão toma como base os estudos de Bakhtin (2003), para quem “as esferas podem estar mais ligadas à infraestrutura social, à ideologia do cotidiano, como as esferas cotidianas íntima, familiar, do trabalho – neste caso, povoadas sobretudo de gêneros primários –, ou à superestrutura social e às ideologias oficiais ou cristalizadas – caso em que farão circular textos em gêneros secundários –, como as esfera jornalística escolar ,científica, artística, literária, publicitária, dentre outras (ROJO, 2010, p.442)”. Nesta perspectiva, então, Rojo nomeia três âmbitos de letramento: o das artes, os da divulgação científica, e da cidadania.

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Estamos tomando o termo indício no sentido de irmos à busca de mais elementos que pudessem contribuir para o fenômeno investigado, tomando como ponto de partida os dados já levantados, que nos apontavam para a necessidade um olhar mais atento, mais minucioso sobre o que eles já nos revelavam.

análises qualitativas e a interpretação dos resultados. Acreditávamos que esses indícios podiam, consequentemente, evidenciar que certos modos de ler foram privilegiados e não outros. E por que não dizer que podiam também evidenciar as identidades que os agentes envolvidos na produção didática (autor/editor) supõem ser possuidores os sujeitos leitores de EJA? E/ou, ainda, para a construção de quais identidades de sujeitos leitores eles podiam contribuir, ou não, já que as identidades não são construídas biologicamente, mas construídas e reconstruídas constantemente no interior das trocas sociais (CUCHE, 2002)?

Realizarmos entrevistas71 com os sujeitos leitores de EJA e os autores do LDP a eles destinados foi também um dos procedimentos por nós adotados. No que diz respeito aos sujeitos/alunos de EJA, tínhamos como objetivo identificá-los, saber quem eram, de que identidades são eles constituídos, e o que revelam enquanto leitores e leitores dos livros didáticos a eles destinados.

E no que se refere aos autores da coleção em análise, tínhamos como objetivos compreender o processo que envolve a construção de uma coleção didática escrita em parceria, saber quais eram os limites impostos para esta produção, fossem eles de ordem editorial e/ou pessoal. Conhecer quais os elementos e/ou fatores que interferiram em sua configuração, para que pudéssemos identificar, para além do que foi possível apreender, mediante a análise da coleção, quais eram as identidades dos sujeitos leitores de EJA pensadas ou que se quer que sejam construídas pelos autores/editores, tendo em vista as escolhas dos textos/gêneros e as atividades de leitura/compreensão do texto por eles propostas.

Acreditamos que adotarmos a entrevista como procedimento metodológico permite que tenhamos como matéria prima a fala de seus interlocutores (MINAYO, 2009) e desse modo, “permite a captação imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos. (...) permite correções, esclarecimentos e adaptações que a tornam sobremaneira eficaz na obtenção das informações desejada (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p.34)”. Assim sendo, realizamos entrevistas semiestruturadas, já que estas nos oferecem “a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender a indagação formulada (MINAYO, 2009, p.64)”. Esse procedimento e mostrou-se pertinente, tendo em vista que os dados, que daí resultaram, se somaram aos dados esboçados no tocante à analise efetuada da coleção e nos permitiram fazer uma reflexão sobre o processo de produção do livro didático.

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As perguntas que nortearam as entrevistas dos professores encontram-se no Apêndice A e as que se referem aos alunos no Apêndice B.