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Capitulo III Lugares da sexualidade na produção de conhecimentos sobre o envelhecimento:

2. Produção de conhecimentos no ensino superior, em Portugal

Para dar um contributo no esclarecimento da questão: será que a investigação em Portugal sobre sexualidade é igualmente insuficiente como o é a uma escala internacional? E, assim, perceber a pertinência que esta investigação poderá ter para o conhecimento sobre a sexualidade da pessoa idosa, procuramos perceber a dimensão do lugar que a sexualidade ocupa na investigação académica, portuguesa, conduzida no âmbito do envelhecimento e idosos/as. Assim, propomo-nos a dar resposta ao objetivo anteriormente formulado: mapear

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a produção de conhecimento sobre a sexualidade da pessoa idosa, nomeadamente na sociologia, saúde e educação; apresentando para tal e de seguida, os resultados da análise dos títulos das teses/dissertações, produzidas em Portugal, sobre o envelhecimento e a pessoa idosa e o espaço que de entre as mesmas é ocupado pela sexualidade.

60 Ano (nº teses/ dissertações) Descritivo 1996 (1) 1997 (1) 1998 (1) 1999 (4) 2000 (2) 2001 (2) 2002 (9) 2003 (6) 2004 (12) 2005 (8) 2006 (8) 2007 (15) 2008 (46) 2009 (71) 2010 (101) 2011 (150) 2012 (170) 2013 (197) 2014 (215) 2015 (85) Total (1104)

1 Adaptação do espaço físico e

ambiente 1 4 2 1 4 5 3 9 2 31

2 Experiência de sintomatologia

e/ou doença 1 1 1 3 5 10 18 25 29 27 24 10 154

3 Impacto das universidades sénior 1 3 1 2 5 4 4 1 21 4 Adoção de estilos de vida 1 1 1 2 2 1 8 5 Relações familiares 1 1 1 1 1 2 3 7 4 1 3 3 28 6

Formulação e excussão de políticas do/a idoso/a e

envelhecimento ativo

1 1 4 3 7 13 18 10 9 66

7 Vivência da sexualidade e

influências 1 3 4 4 2 3 3 5 1 26

8 Avaliação e influências no estado

de saúde 1 1 1 1 4 7 12 15 14 14 20 4 94

9 Vivência no contexto rural e

urbano 1 1 1 1 1 2 1 2 8 3 1 22

10 Perceção da satisfação, qualidade de vida e bem-estar 1 1 2 1 1 1 10 14 21 23 27 43 27 17 189 11 Opção e vivências nas

instituições 1 1 2 1 1 8 12 18 24 26 41 35 16 186

12 Estado e alterações dos processos

psicológicos 1 1 1 1 2 1 5 2 10 18 19 31 26 28 14 160

13 Vivências durante a

hospitalização 1 1 1 1 1 2 1 4 3 7 1 3 2 28

14 Necessidades e práticas de

cuidados de saúde e terapêuticas 1 2 1 3 3 7 6 19 35 26 22 38 4 167

15 Respostas de apoio social e

avaliação 1 3 1 4 14 16 8 15 6 3 71

16 Alterações fisiológicas

decorrentes do envelhecimento 2 1 3 1 7 8 7 6 35

17 Riscos e ocorrências de episódios de quedas 1 1 5 11 11 9 3 41 18 Práticas, motivações e efeitos da atividade física 2 1 5 4 4 2 3 1 4 14 22 19 23 26 15 145 19 Construção, validação e uso de instrumentos de avaliação 1 5 3 3 7 9 11 4 5 48 20 Estados de (in)capacidades e

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21 Avaliações e perceções do estado nutricional e suas influências 1 1 1 3 3 3 4 5 9 2 32

22 Usos e influências das TIC 1 1 1 5 5 8 5 3 29 23 Vivencias laborais e da reforma 1 3 1 2 5 6 3 21 24 Sentimentos e vivencias face a

situações de morte 2 1 2 1 5 5 4 2 1 23

25 Experiências de relações

intergeracionais 1 2 2 2 2 4 13

26 Envolvimento no contexto social 1 5 2 4 11 12 17 15 6 73 27 Influência do género e/ou sexo 1 1 1 4 1 8 1 6 8 8 5 8 2 54 28 Práticas e contributos da educação e informação 1 2 4 2 8 4 7 7 1 36 29 Composição e autoimagem do corpo 3 2 1 2 2 2 6 5 23 30 Narração de experiências de envelhecimento e respetivas influências 1 1 2 3 5 5 6 9 13 14 4 63

31 Papeis de cuidador/a e recetor de

cuidados 1 1 1 3 4 1 3 5 3 22

32 Impacto de atividades de lazer e

ocupacionais 3 1 5 3 5 2 19

33 Estados e impactos da

religiosidade e espiritualidade 1 5 1 2 3 1 1 14

34 Direitos legais 2 2

35 Condições económicas e/ou

sociais e o seu impacto 3 6 1 2 4 2 18

36 Incidências e conceções de

violência 1 3 1 2 1 2 6 3 19

37 Planeamento e execução de

ações de animação socio cultural 2 5 2 3 2 4 18

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As teses/dissertações foram agrupadas por descrito e por ano, sendo que a cada tese pode corresponder mais do que um descritivo, é possível saber quais os descritivos mais frequentes no total e em cada ano; entre parênteses, por baixo do ano, é ainda apresentado o número total de teses/dissertações correspondentes a esse mesmo ano (Tabela 4 - Frequência dos descritivos nas teses/dissertações por ano).

Desde a data da primeira publicação em 1996 que a frequência de teses/dissertações produzidas em Portugal tem aumentado, talvez refletindo as preocupações com o envelhecimento demográfico da população; à exceção de 2015 em que o número de publicações é menor a 2014, não podemos assumir um desinteresse académico pelo envelhecimento e idosos/as, até porque é provável que as teses/dissertações a altura da pesquisa ainda não tivessem sido inseridas nos repositórios.

O primeiro aumento, aparentemente significativo, do número de teses/dissertações, produzidas por ano, surge de 2001, em que temos associadas 2 teses/dissertações, para 2002, onde foram produzidas 9 teses/dissertações (Tabela 4 - Frequência dos descritivos nas teses/dissertações por ano), o que poderá ser fruto da publicação da WHO: “Active ageing:

A policy framework (2002), onde surge pela primeira vez o conceito de envelhecimento

ativo, apesar de, aparentemente, de acordo com os descritivos que lhes correspondem pelo titulo, as teses/dissertações contempladas não versarem sobre o envelhecimento ativo. Também neste ano, em Portugal, tem lugar a criação da Lei de Bases da Segurança Social (2002), que traduz a política de terceira idade, assumida pelo estado, no artigo 67º da Constituição Portuguesa, e a qual compreende a prestação de serviços (limitados) de resposta a necessidades, que incluem centro de dia, lares e apoio domiciliário (Martin & Brandão, 2012).

Refletindo a publicação desta lei de bases e as preocupações da academia em torno da qualidade de vida, a institucionalização e as incapacidades e capacidades é que o descritivo 20 (estados de (in)capacidades e ação de fatores), somou 234 teses\dissertações, enquanto o descritivo 10 (perceção da satisfação, qualidade de vida e bem-estar), tem associado um total de 189 teses\dissertações e o descritivo 11 (opção e vivências nas instituições) tem 186 teses\dissertações, perfazendo estes três descritivos os que têm alocados a si o maior número de publicações (Tabela 4 - Frequência dos descritivos nas teses/dissertações por ano). Associado, agora às políticas europeias, surge o descritivo 6 (formulação e execução de políticas do/a idoso/a e envelhecimento ativo), o qual tem maior expressão entre 2012 e 2013 (Tabela 4 - Frequência dos descritivos nas teses/dissertações por ano), talvez pela decisão n.º 940/2011/EU, do Parlamento Europeu e do Conselho da União Europeia, de que 2012

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seria o “[a]no europeu do envelhecimento ativo e da solidariedade entre as gerações”, cujo objetivo geral era a promoção do envelhecimento ativo, bem como tornar esta inclusiva de qualquer idade. Como objetivo específico foi traçado a fomentação da discussão com a troca de conhecimentos entre Estados Membros e interessados para assim: “promover as políticas

de envelhecimento ativo, de identificar e divulgar as boas práticas e de incentivar a cooperação e as sinergias” (União Europeia, 2011, p. 8).

Porém, o nosso principal foco, é o lugar da sexualidade na produção do conhecimento, traduzido pelo descritivo 7 (vivência da sexualidade e influências), pelo que, para refinarmos a análise, da evolução do mesmo em comparação com a dos restantes descritivos, construímos um gráfico, em que por cada ano, está associada uma barra, onde o traçado colorido, correspondentes a um descritivo, varia em espessura conforme a frequência de teses/dissertações que está associada ao descritivo (Gráfico 1 - Nº de teses/dissertações de cada descritivo por ano), ao longo dos anos, percebemos que o descritivo 7 (vivência da sexualidade e influências) é o que apresenta um traçado menos expressivo, ou seja, é o que tem uma menor frequências de teses/dissertações associadas.

Para Irvine (2014), os/as investigadores/as parecem ter dificuldade em dotar de legitimidade académica os estudos sobre sexualidade, pela continuidade do estigma em torno da mesma nas áreas das ciências naturais, medicina e ciências sociais, ainda afetas pela estigmatização em torno da sexualidade as universidades tendem a ter menor preferência por esta área o que enviesa e torna desigual a decisão de suportar investigações em torno da sexualidade, falta de apoio institucional, em conjunto com a ausência de suporte financeiro, desmotiva os/as investigadores/as a se debruçarem sobre questões de sexualidade e limita a produção de conhecimento sobre a sexualidade. A dificuldade de investigar sobre a sexualidade, será mais agravada quando estudada em torno da pessoa idosa e do envelhecimento, já que, na sociedade contemporânea, ainda reside a cresça de que a pessoa idosa é desprovida de sexualidade.

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Gráfico 1 - Nº de teses/dissertações de cada descritivo por ano

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Nº de teses/dissertações de cada discritivo por ano

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37

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Além da comparação com cada descritivo, a comparação do descritivo 7 (vivência da sexualidade e influências) com a frequência do total de teses/dissertações produzidas por ano, sublinha que este não segue o mesmo ritmo de crescimento, o que reforça a ideia de menor investimento, por parte da academia, no conhecimento da sexualidade no envelhecimento (Gráfico 2 - Nº de teses/dissertações do descritivo 7 e total por ano).

Na sua evolução temporal, percebemos ainda que o descritivo 7 (vivência da sexualidade e influências), surge perla primeira vez em 2006, com a publicação de 1 tese/dissertação e volta a ter expressão e até mais acentuada em 2008 com 3 teses/dissertações (Gráfico 2 - Nº de teses/dissertações do descritivo 7 e total por ano; Tabela 4 - Frequência dos descritivos nas teses/dissertações por ano), talvez a publicação da WHO “Demystifying the myths of ageing” (2008), que aborda mitos sobre o envelhecimento, entre os quais: “[a]s mudanças na atividade

sexual são mais influenciadas pela ausência de um parceiro adequado e pelo papel imposto

pela família e sociedade à pessoa idosa do que por opção”21 (p. 20), tenha contribuído para a

conceção social da possibilidade da pessoa idosa ser sexualmente ativa, e por isso uma maior sensibilidade para o conhecimento cientifico da sua sexualidade.

Gráfico 2 - Nº de teses/dissertações do descritivo 7 e total por ano

Uma outra publicação da WHO, coincidente com um aumento de teses/dissertações sobre sexualidade no envelhecimento, é o número da revista EntreNous, intitulado de Ageing and

21 Traduzido do original “Changes in sexual activity are affected more by the lack of a suitable partner and the

role forced on older people by family and society than by choice.”

0 50 100 150 200 250 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Nº de teses/dissertações do descritivo 7 e total por ano

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sexual Health, (2013), que aborda a sexualidade, ao longo do envelhecimento, à luz da

perspetiva do ciclo vital, com influência de determinantes, cuja publicação em 2013, coincide com o aumento do número de teses/dissertações associadas ao descritivo 7 (vivência da sexualidade e influências), onde o número de teses/dissertações de 3, em 2013, passa para 5, em 2014.

Apesar de análise se focar nos títulos das teses/dissertações o lugar que as questões relativas à sexualidade no envelhecimento e na pessoa idosa têm ocupado na produção de conhecimento pela academia, em Portugal, parece-nos residual e não acompanhar a crescente produção de teses/dissertações versadas sobre o envelhecimento e a pessoa idosa.

A análise aqui presente permite-nos concluir um vazio de estudos e justifica a necessidade de investigar mais sobre as tendências da sexualidade da pessoa idosa, por forma a dar respostas às necessidades de uma população cada vez mais numerosa e ao que tudo aponta com mais oportunidades para gerir e expressar a sexualidade, mas ao mesmo tempo, também, sensibilizar a comunidade cientifica para o estudo da sexualidade dos/a idosos/as.

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Capitulo IV - Sexualidade e saúde sexual na voz da pessoa idosa