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Sexualidade dos/as idosos/as: uma questão da educação para a saúde e de direitos

Capitulo I – Problematização da sexualidade e saúde sexual da pessoa idosa

6. Sexualidade dos/as idosos/as: uma questão da educação para a saúde e de direitos

O género, que compõe a sexualidade, resulta de um processo dinâmico em que a cultura define o ser homem e mulher, ao longo da história, e com os quais os indivíduos compreendem, implicam e comportam-se nos relacionamentos do dia-a-dia, colocando em movimento os conceitos de género, a história individual e comunitária também têm influência, bem como a etnia, classe social, orientação sexual e idade que em conjunto definem o lugar do individuo na sociedade dos dias de hoje (Ribeiro, 2012).

O reconhecimento da influência da idade na construção do género, tanto para a mulher como para o homem, permite que a investigação à luz do pensamento feminista auxilie numa conceptualização positiva do envelhecimento que englobe a diversidade de formas de vida e contributos da pessoa idosa, para que consequentemente seja possível aumentar a liberdade do/a idoso/a em escolher as formas e estilos de vida de ser idoso/a que mais se adaptam a si (Calasanti, Slevin & King, 2006).

Neste processo, as feministas realçam nas relações de género, para Dias e Rodrigues (2012), que os estereótipos descriminam a pessoa idosa, condicionam-na, porque esta os interioriza, bem como, citando Reinharz (2002), a desvalorizam e retiram-lhe poder. Para os mesmos autores, o não reconhecimento da heterogeneidade do/a idoso/a contradiz o que definem como resposta ao envelhecimento demográfico, isto é o envelhecimento em atividade, que solicita uma nova visão sobre as pessoas sociais, enquanto dinâmicas sociais, em que é há uma vivência gradual e individual do envelhecer que se relaciona com o contexto social, que pode ser

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concordante com os comportamentos identificados para o/a idoso/a ou que pode desviar-se dos mesmos exigindo uma nova resposta.

Esta visão de variabilidade assenta nas políticas de empoderamento em que não só é aceite que um corpo envelhecido diverge na forma, funcionalidade e experimentação do corpo jovem, mas também é admitida a diversidade de corpos envelhecidos, que engloba em simultâneo a opção pelo sedentarismo e pela atividade, tal como o continuo interesse sexual e o desinteresse sexual (Sandberg, 2013a).

Na linha do empoderamento está a política do envelhecimento ativo, que preconiza que sejam disponibilizados programas e dinamizadas ações de educação para a saúde ao longo do ciclo de vida, para que à medida que envelhecem os indivíduos sejam educados e capacitados para cuidar de si e dos outros, bem como para usufruir dos serviços comunitários e de saúde (WHO, 2002).

O direito “à educação sexual”12 surge como um direito sexual, assim como o direito “a

procurar, receber e transmitir informações relacionadas com a sexualidade”13 (WHO, 2006,

p. 5) estes em conjunto com os restantes direitos estão na base da promoção da saúde sexual, que por seu lado Huber (2013) coloca como uma resposta aos propósitos do envelhecimento ativo.

Sem uma definição exclusiva de educação sexual, encontrada na literatura, iremos tomar como base os conceitos de educação para a saúde, cujas ações orientamos para as especificidades da sexualidade.

A educação para a saúde, define-se pela WHO (2015), enquanto uma combinação de experiências de aprendizagem, com vista a aumentar o conhecimento e a exercer influência sob as atitudes, para assim ajudar os indivíduos e as comunidades a melhorarem a sua saúde. Esta ação, segundo a WHO (1998), deverá ter em conta as condições económicas, ambientais e sociais com impacto na saúde, bem como os fatores de risco e comportamentos de risco individuais e o uso do sistema de cuidados de saúde.

Como nos diz Campos (2007), a atividade sexual, não é meramente traduzida pela biologia, tem também como agentes de ação os contextos sociais, que colocam a sexualidade como epicentro das relações interpessoais, e em simultâneo é conhecida e desperta dúvidas, sobre as quais as pessoas procuram respostas. Recorrendo de novo ao modelo biopsicossocial, temos que a

12 Traduzido do original “sexuality education”

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vivência da sexualidade varia de acordo com a fatores biológicos, psicológicos e sociais (DeLamater & Still, 2015).

Assim, para o desenho de uma ação de educação sexual devem ser conhecidos os fatores económicos, ambientais e sociais que influenciam a saúde sexual, os comportamentos de risco associados e o recurso aos cuidados de saúde por motivos inerentes à saúde sexual, tendo por base que a vivência da sexualidade varia de acordo com uma perspetiva biopsicossocial. De volta a Huber (2013), em relação ao programa “Strategy and action plan for healthy ageing

in Europe” (WHO, 2012), uma área estratégica que este autor destaca é o “reforço das bases de dados e da investigação” (p. 13), pois o mesmo considera necessário o aumento da

investigação, no que respeita às tendências da saúde sexual para o/a idoso/a e às políticas aplicadas, para que assim seja possível dar uma resposta mais adequada às necessidades de saúde sexual que acometem a pessoa idosa.

É necessária investigação sobre o significado, a diversidade e a expressão da sexualidade para o/a idoso/a, as atitudes por profissionais de saúde acerca da mesma, nomeadamente acerca da relutância em iniciar a discussão sobre a sexualidade e a determinação de abordagens eficazes de formação de profissionais (Mcauliffe, Bauer & Nay, 2007).

Apela-se ainda à importância da investigação que coloca a mulher idosa e o homem idoso em comparação, por orientar no sentido do distanciamento da homogeneização do/a idoso/a e no reconhecimento da variabilidade, com o posterior, estudo da relação que o género tem com outras variáveis. A visão das políticas à luz do gender mainstreaming, adotado pela comissão europeia nos anos 90, que combina a justiça horizontal, com respostas igualitárias a necessidades similares, com a justiça vertical, com respostas específicas para necessidades distintas de homens e mulheres, permite uma visão sobre a pessoa idosa, de acordo com o género, que em conjunto com os contextos e as relações, condiciona decisões e consequentemente o trajeto pessoal (Ribeiro, 2012).

Logo o conhecimento de como a mulher idosa e o homem idoso vivem a sua sexualidade, os respetivos determinantes, bem como o uso que fazem dos cuidados para abordar questões relativas à saúde sexual e perspetiva que têm da ação dos profissionais de saúde nesse âmbito, em conjunção com o mapeamento do conhecimento que tem sido produzido na sociologia, saúde e educação sobre esta temática, poderia contribuir para a motivação e construção de ações de educação sexual para esta faixa etária.

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