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Capitulo II Percurso metodológico

5. Questões éticas nos estudos sobre sexualidade e a pessoa idosa

5.2. Vividas durante e após o contato com a pessoa idosa

Na explanação do exercício da reflexividade, vamos iniciar pela variação de idades entre mim e os/as entrevistados/as, sem que lhe seja atribuído o lugar de primeira a afigurar-se, até porque é difícil perceber qual surge em primeiro, eu distava dos/as entrevistados/as entre 37 a 56 anos de diferença de idade, facto que alguns sublinhavam ao tratarem-me por “menina” ou ao diretamente fazerem referencia a uma alegada inexperiência que eu possuía por ser jovem. Admito que isto me fez sentir reduzida pela minha idade, destaco dois momentos:

(…) a menina é muito jovem muita coisa que aprendeu, mas não tem experiência (…). (M5, 77 anos)

Porque, um dia vai ver que sem ninguém lhe dizer nada a menina consegue ver o que é que está do outro lado e ninguém lhe disse nada, mas vê a experiência de vida vai ensinando e vai saber que realmente que a pessoa que está do outro lado lhe está a dizer uma coisa, mas

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não é bem verdade o que lhe está a dizer no fundo o que ela lhe quer transmitir é outra mas que não o consegue transmitir. (M3, 65 anos)

Estes momentos contribuíram para me confrontar com alguns conceitos idadistas enraizados em mim: como poderiam as pessoas idosas saber mais quando muitas vezes o meu nível de educação era maior e provavelmente teria acesso a informação que eles não tinham? Encarar com a possibilidade da pessoa idosa “saber mais” do que eu, talvez tenha ajudado a equilibrar uma balança de poder, que os meus próprios conceitos idadistas desequilibravam, em que eu à partida, para mim, estaria em vantagem pelo maior nível de educação.

A M3 e a M5 chamam-me à atenção para um saber oculto ao qual eu não acedi por ainda ser muito “nova”, atribuem à idade o conceito de sabedoria e a M5 exemplifica quando me retira certas capacidades comunicacionais, nomeadamente na descodificação de sinais de comunicação transmitidos por outros, tornando-me mais incapaz de reconhecer a mentira, e com menores aptidões relacionais.

Provavelmente, ao dotar a pessoa idosa de menor saber estou a expressar a menor competência que entre 2008 a 2009, no questionário European Social Survey, os portugueses associavam aos/as idosos/as, que apesar de tudo eram também vistos como simpáticos, como se resultasse numa benesse sobre o incómodo, talvez até mais para os outros, da sua incapacidade, porém, estes resultados podem ser limitados pelo autocontrolo do preconceito, em que os discursos em torno do idadismo são construídos de acordo com o que é socialmente mais correto: “[m]uitas

vezes as pessoas não respondem aquilo que pensam de forma genuína, mas são pressionados por apresentarem as respostas que são socialmente mais aceites” (Lima, Marques & Batista,

2011, p. 122-123).

Este exercício reflexivo traduz-me enquanto ser social, onde apesar de um conhecimento inicial do conceito de idadismo e de exemplos do mesmo, não me desassocio do contexto onde me contrui e construo, Portugal, e de expressar preconceitos que dele apreendi e que têm reflexo na condução do estudo, o que talvez reforce a importância de num estudo em que os/as idosos/as são participantes, repensar nos preconceitos relativos à pessoa idosa que temos apreendidos, que apesar de socialmente sermos incentivados a autocontrolar, influenciam as nossas práticas. No enxerto da M3, esta confronta-nos com a falsidade do preconceito de que os/as idosos/as são menos competentes, ao definir a relação entre entrevistado/a e entrevistador/a inerente ao método entrevista e à epistemologia compreensiva, enquanto professora, ela a M3 que me irá ensinar a mim que além de entrevistadora sou a aluna; embora, M3 não tivesse conhecimento, inicial de estar a ser entrevistada por uma colega de profissão. Ainda, para Hoffmann (2007) esta relação professor-estudante facilita o diálogo com o entrevistado/a: “[o] papel de

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“estudante” permite ao entrevistador perguntar informações sobre o informador e estabelecer

uma relação na qual o informador irá “ensinar” o entrevistador”18 (p. 323).

De novo na calha da idade, num outro momento, uma das entrevistadas, reduz-me enquanto profissional, sou uma “enfermeirinha” que pela minha juventude sou incapaz de abordar questões sobre sexualidade, com a pessoa idosa.

(…) eu uma pessoa com a idade que tenho vem, vem uma enfermeirinha como a menina perguntar e eu digo assim “mas a menina tem alguma coisa com isso” (…). (M5, 77 anos)

Contudo, a M5 foi de entre os/as entrevistados/as a que mais prontamente iniciou relato da sua própria vivência e gestão da sexualidade ao longo da vida imediatamente após a apresentação dos objetivos da entrevista, isto é, sem esperar que lhe colocasse nenhuma questão nesse âmbito.

Talvez, limitada rede social da M5, que esta transparece ao longo da entrevista, tenha-a tornado mais disponível para falar sobre a sua sexualidade com uma “enfermeirinha”: o isolamento social é apontado por Gledhill, Abbey e Schweitzer (2008) como um fator que pode impulsionar o envolvimento do/a idoso/a no estudo, o que poderia pôr em causa o teor voluntário da participação, contudo é difícil senão impossível saber até que ponto a limitada rede social da entrevistada orientou a sua participação.

Apesar da M5, ao longo da entrevista, aparentemente, não contornar ou devolver nenhuma questão, demonstrou sempre preferência por explorar as suas vivências passadas, que começou a descrever logo no inicio da entrevista como se já o tivesse planeado fazer. Esta “fuga”, das vivências presentes para as passadas, para Sandberg (2011), poderá ilustrar as assimetrias de poder entre entrevistador/a e entrevistado/a, em que o primeiro é mais novo do que o segundo, e que resultam na interiorização pelo/a entrevistado/a da visão social negativa do envelhecimento, que entram em ação quando, ao questioná-lo sobre o presente, o/a entrevistador/a, com o seu corpo jovem, confronta o entrevistado/a sobre o seu corpo envelhecido.

Não serão estas táticas da pessoa idosa, de se associar à experiência, e ao valor que nela reconhece, reflexo dos próprios preconceitos que têm, imbuídos pelo contexto social, sobre si? Não serão formas de contornar as imagens de incapacidades que reconhecem como suas?

18Traduzido do original “The role of “student” allows the interviewer to ask for the informant’s information and establishes a relationship in which the informant will “teach” the interviewer.”

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Provavelmente, fruto da defesa e até da partilha de estereótipos que caracterizam o/a idoso/a como menos competente, como vimos, algumas das idosas entrevistadas referem sentir-se “jovens”, e considerarem como necessário esse mesmo sentimento para se envelhecer bem,

(…) eu sinto-me exatamente igual como aqui à meia dúzia de anos ou vinte anos (…) simplesmente (…) a pessoa sente-se mais cansada (…) se não fosse o coração aí eu estava bem. (H1, 80 anos)

Num país como Portugal em que o idadismo em torno do/a idoso/a parece destacar-se, a necessidade da pessoa idosa em defender-se, de discursos discriminatórios sobre a idade, torna- se igualmente maior, para Sandberg (2011), numa entrevista em que o envelhecimento é assunto, é mais difícil para o/a idoso/a gerir o confronto com o corpo jovem do/a entrevistador/a.

Talvez este confronto tenha reforçado o efeito, na M5, da recordação, durante a entrevista, do que tinham sido as suas experiências passadas de sexualidade e a gestão e vivências atuais, que num dado momento chora, enquanto reforça as alterações que o envelhecimento imprimiu no seu corpo e como por estas a sua autoimagem atual lhe causa insatisfação e desconforto. Ao longo da entrevista o/a participante experiência emoções, podendo algumas, como aconteceu com a M5, serem vividas mais intensamente, segundo Hoffmann (2007), tal ocorre porque na entrevista semiestruturada o/a entrevistado/a tem espaço para tomar as rédeas do controlo, acrescenta Kvale (2007), que a entrevista não é uma interação social frequente e adicionalmente não é comum alguém demonstrar interesse em explorar temas de cariz sensitivo, como tal a experiência de emoções, variáveis entre satisfatórias e negativas, é intensificada e pode orientar a ativação de mecanismos de defesa, tanto no/a entrevistado/a como no/a entrevistador/a, pelo que o/a investigador/a deverá estar atento/a e gerir as dinâmicas interpessoais, com o cuidado de, face a temas sensíveis, não estimular um diálogo que assuma contornos terapêuticos sob pena de não ser capaz de gerir a situação.

Assim, quando percebi a alteração emocional na M5, optei por interromper a gravação e a própria entrevista e procurei orienta-la para outras dimensões. Naquele ponto continuar a entrevista poderia implicar a intensificação do sofrimento da entrevistada, adicionalmente porque a entrevista poderia assumir um contorno terapêutico com o qual eu não saberia lidar. Apesar de a atenção à saúde do/a idoso/a ser sido antevista nas questões éticas, em particular as alterações emocionais não foram contempladas. Assim, como nos diz, Hoffmann (2007) o/a investigador/a, enquanto responsável pela gestão das emoções do entrevistado/a, deve conduzir a entrevista com precaução, com equilíbrio entre o bem-estar do/a participante e a ânsia do/a entrevistador/a em obter material. Talvez o/a investigador/a deva em primeiro ver-se enquanto

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responsável pelo bem-estar global do/a participante e em segundo plano como coletor de informação sobre o/a entrevistado/a, em particular se pretender focar-se na sexualidade e em demais questões suscetíveis de despertar emoções, deverá antever as questões éticas intrínsecas, antes da condução das entrevistas.

Agora, no que respeita à interação de género ao longo da condução do estudo, esta não foi uma preocupação inicial, aliás nem foi considerada na antevisão das questões éticas, mesmo após construir uma problemática em torno da sexualidade da pessoa idosa, tomar consciência das diferentes formas como esta a gere e vive, da variabilidade que as construções de género podem assumir, e até formular um objetivo onde previa, entre outros aspetos, conhecer se o futuro grupo de idosos/as entrevistados/as sentia que o género do/as profissionais tinha influência na abordagem da sua saúde sexual, “deixei” refletir-se na antevisão das questões éticas, nas minhas ações de investigação, uma das crenças sociais, que já tinha identificado, de que os/as idosos/as são um grupo homogéneo desprovido de sexualidade, parte também do meu habitus.

Contudo, este não reconhecimento da sexualidade da pessoa idosa, e por consequência do género, não impediu que percebesse a reflexão da interação entre construções de géneros, na primeira entrevista com um dos homens idosos, o H1, tendo-me identificado num dos discursos do mesmo.

(…) se vir uma mulher bonita uma mulher jeitosa e eu se seguir se for para o meu lado, se for muito tempo trás dela, eu excito-me (…) (H1, 80 anos)

Não denotei nenhum sinal por parte do H1 de que se referia a mim, nem neste enxerto, nem ao longo da entrevista, mas talvez por eu própria me identificar com o género descrito, não pude deixar de me identificar também com este discurso, que me incomodou ao ponto de o vestuário ter sido uma preocupação minha nas restantes entrevistas com idosos, não voltei a usar vestido em mais nenhuma.

Revejo-me no discurso de Sandberg (2011), que descreve as suas preocupações, durante as entrevistas, tais como a sexualização potencializada pelo vestuário que usa e as questões relativas à masturbação ou ao desejo sexual dos entrevistados por mulheres jovens sobre o receio de estes discursos a envolverem, são aspetos que para a autora a tornam vulnerável e sobre os quais procurou desenvolver estratégias para se proteger, ou seja, que a tornavam menos sexual: “[m]ais ou menos consciente atuei de forma a reduzir a minha vulnerabilidade nas

entrevistas e a minimizar a sexualização”19 (p. 99)

19 Traduzido do original “I more or less consciously acted in ways that would reduce my vulnerability in the

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Contudo, não senti que tenha explorado mais as questões sobre sexualidade com os homens ou com as mulheres, apesar de perceber alguma afinidade, com as mulheres, pela identificação entre géneros já enunciada por Bourdieu (2001), penso que a distância etária que me separava dos/as entrevistados/as terá sido mais preponderante para o desenrolar dos conteúdos da entrevista, do que as diferenças de género, talvez pela minha ingenuidade na crença de que ser idoso ou ser idosa é indiferente quando se fala sobre sexualidade.

Ao longo da condução das entrevistas o meu maior receio passou a ser a adequabilidade das minhas questões: será que o/a idoso/a iria achar pertinente as minhas questões sobre como ele/ela geria e vivia a sua sexualidade? Questiona-los sobre um assunto tão intimo não iria ser demasiado invasivo naquilo que são os seus próprios limites de privacidade? Achariam eles que as minhas questões eram pertinentes?

Se por um lado, sentia-me dominada por um certo idadismo, como se tivesse enraizada em mim a crença de que os idosos/as eram assexuados, mesmo já tendo construído toda uma problemática que a refutava, por outro carecia da sua aprovação não só para sentir a pertinência do meu projeto de investigação, mas em simultâneo para perceber até onde tinha permissão para aceder às camadas da sua intimidade, apesar de nunca nenhum/nenhuma entrevistado/a se ter recusado a responder a alguma questão.

Neste jogo de “intimidades”, o poder contrabalançava entre mim e os/as entrevistados/as, em que eu sabia o que lhes queria questionar, tinha um guião comigo, que eles não tinham, poderia exercer uma influência capaz de despoletar “violência simbólica” (Bourdieu, 2001, p. 694), sobre os/as participantes. Contudo, não percebi ao longo das entrevistas que só eu tenha tido poder, este era partilhado com os/as idosos/as, também eles/as despertavam emoções em mim, já que eu não deixava de corar, por vezes até mais do que os entrevistados/as, receava ser vista como um ser sexual e vivia em cada entrevista as dúvidas já expressas de questioná-los sobre sexualidade, a entrevista também desencadeava emoções em mim.

Como Hoffmann (2007), ressalva, apesar de eu ser a mulher jovem que lhes falava sobre sexualidade numa sociedade, a atual portuguesa, que sobrevaloriza a juventude e à mesma atribui os melhores anos sexuais, e de tal acrescer o meu poder sobre os/as entrevistados/as, estes últimos também têm o poder de, durante a entrevista, explorar a resposta a umas perguntas em detrimento de outras, erguer novos tópicos não antecipados pelo/a entrevistador/a, recusar explorar alguma questão e determinar a forma como partilham o conhecimento de que possui, podendo igualmente os/as entrevistados/as desencadear experiências emocionais no/a entrevistado, em mim.

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Neste sentido, pelas trocas de poder e impressão de emoções entre entrevistados/as e entrevistador, o mesmo autor acrescenta que o/a investigador/a deverá ser sensível às mesmas, para obtenção de maior informação sobre o/a entrevistado/a e influências das emoções no material empírico, contribuindo para uma melhor interpretação do material empírico.

Ao primeiro vislumbre poderá parecer que fui limitada pelas minhas próprias dúvidas ou que me assumo aqui como demasiado frágil ou em parte incapaz de abordar com os/as idosos/as questões sobre sexualidade, contudo acho que esta minha prudência e constante “encarar de frente” com incapacidades que os/as idosos/as me faziam sentir permitiu que o diálogo entre mim e entrevistados/as decorresse num maior equilíbrio.

Uma outra questão, não contemplada que surgiu, já no decorrer das entrevistas, à M1 e M2, que quando questionados se conheciam alguém do mesmo grupo etário que poderia também ser entrevistado, apenas referiram pares do seu género para uma possível entrevista, nunca tendo colocado a hipótese do parceiro ser entrevistado, que associamos a um possível receio, sentido pelas entrevistadas, da comparação entre a informação que forneceram nas entrevistas com as que o seu par poderia disponibilizar quando fosse entrevistado, o que nos suscitou dúvidas sobre os contornos éticos de uma entrevista individual a ambos os membros do casal, e orientou para a consideração do critério de exclusão: não ser parceiro/a de um/a participante desta investigação.

Numa reflexão que Taylor e De Vocht (2011) fazem sobre a entrevista individual ou conjunta do casal, em dois estudos sobre sexualidade, estes constataram que nas entrevistas individuais, a cada um dos membros do casal, o/a entrevistado/a demonstrava maior à-vontade para discutir questões sobre vivências da sexualidade, mas mantinha-se ansioso/a, provavelmente, pelo receio de uma possível partilha de informação entre entrevistador/a e parceiro/a, desconhecida deste último/a e da transmissão, pelo/a parceiro/a ao entrevistador/a de uma imagem insatisfatória de si; citando Morris (2001), os autores alertam, que na condução de entrevistas aos dois membros do casal está presente o risco dos/as entrevistados/as solicitarem informações sobre o/a parceiro/a, o que não só entra em conflito com o direito à confidencialidade dos/as entrevistados, como poderá também imprimir sofrimento no/a entrevistado/a que se questiona dos motivos para não obter a informação pedida ao/à investigador/a sobre o/a parceiro/a Por fim, não podemos contornar os dilemas éticos entre omitir ou dar a conhecer a sexualidade dos/as idosos/as, apesar da pertinência do estudo já ter sido validada pela problemática, a mesma também traz a discussão o limite que crenças sobre a sexualidade dos/as idosos/as, em Portugal e não só, impõe à abordagem sobre a mesma pelos profissionais de saúde e possivelmente também justifica a carência de produção de conhecimento.

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De acordo com Riggs (2004), citado por Lowe (2014), os discursos elaborados em torno da educação de profissionais de saúde atribuem uma posição privilegiada ao homem branco, de classe média, não portador de deficiência, em que tudo o que não for reconhecido como compreendido nestas categorias globais, é uma exceção que carece de explicação, o que tende homogeneizar as populações, e a comprometer a formação dos profissionais, pois como acrescenta Lowe (2014) os discursos em torno da complexidade das interações de género, etnia, idade, deficiência, classe e determinantes socioeconómicos na saúde são necessários na educação dos/as profissionais de saúde, para que estes desenvolvam práticas socialmente responsáveis, e reconheçam as iniquidades em saúde que os discursos privilegiados fazem perpetuar.

As orientações da publicação “Sexual and reproductive health - Core competencies in primary

health care” da WHO (2011) alertam para a relevância dos discursos de diversidade na

educação dos/as profissionais de saúde, ao sublinharem que é a capacidade destes adaptarem as políticas nacionais de SSR à variabilidade dos contextos das comunidades e dos serviços de saúde, que as tornam eficientes, sendo que para este processo de adaptação, os/as profissionais têm de tomar conhecimento das necessidades, o que implica ouvir homens e mulheres, jovens e idosos/as. Como acrescentam Gubrium e Holstein (2003) dar a voz a cada habitante permite- nos saber como é o mundo social e o método da entrevista pode ser uma opção, na medida em que dá acesso às subjetividades individuais, as quais compõem o mundo social a que estes/as pertencem.

Porém, para Irvine (2014), a produção de conhecimentos sobre sexualidade, no ocidente, é limitada pelos discursos estereotipados que moldam as praticas de atores institucionais (comités de promoção, mentores e colegas), que ao catalogar as investigações sobre sexualidade como desadequadas, imprimem desigualdades na contratação, promoção e alocação de recursos e assim delimitam a ação dos/as investigadores/as, e por consequência “naturalizam a

desigualdade do trabalho sujo [investigação em sexualidade]” 20 (p. 653)

Os achados da problemática, indicam-nos que numa sociedade contemporânea, em que os/as idosos/as são reconhecidos como assexuais, a investigação em torno da sua sexualidade é reduzida, veremos mais à frente no capitulo III, que em Portugal esta realidade parece ser transversal, pelo menos no que concerne às produções académicas como teses e dissertações. Após examinar como educadores para a saúde orientam as práticas em torno de campanhas que atuam sobre as condicionantes, que põe em causa a equidade em saúde, Freudenberg, Franzosa,

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Chisholm e Libman (2015) perceberam que os/as educadores/as têm a possibilidade de intervir sobre as condicionantes que contribuem para as desigualdades em saúde, como a riqueza e a pobreza, e por consequência promover a equidade em saúde e assim melhorar os resultados das suas ações de educação. Tal é possível através da criação de pontes entre campanhas para a melhoria das condições de vida e de saúde pública, respetivamente, da documentação do decurso e do impacto dessas mesmas campanhas e da produção de conhecimento cientifico e alianças capazes de dotar de maior robustez a adequabilidade das respostas para a melhoria das condições de vida, promoção da saúde e equidade em saúde.

A presente investigação, no âmbito da educação para a saúde não só poderá permitir tomar conhecimento das necessidades sentidas pela pessoa idosa na gestão e vivência da sua