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CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DAS COLEÇÕES “PARA VIVER JUNTOS” E

3.2 Análise da coleção “Para viver juntos”

3.2.1 Os gêneros textuais explorados nas atividades da coleção voltadas para a análise

3.2.2.1 Propostas de atividades de análise linguística com o gênero “conto”:

Como observamos, o conto é o gênero com frequência mais significativa de atividades envolvendo a exploração de dimensões dos gêneros, com 101 atividades, distribuídas da seguinte forma: 6º ano (18); 7º ano (13); 8º (23) e 9º ano (47). Essas atividades concentraram- se nas seções da leitura e produção, verificando-se apenas 3 ocorrências nas seções de análise linguística.

Essa pequena amostra permite-nos afirmar, conforme já mencionado, que o trabalho com as características dos gêneros acontecia, de fato, de maneira mais sistematizada nas seções de leitura, no qual eram apresentadas e discutidas as dimensões do gênero, e, posteriormente, na de produção, quando o aluno deveria, na escrita do texto, observar o uso e a articulação de tais características.

Em relação às dimensões trabalhadas nessas atividades, percebemos uma predominância da estrutura textual: 51 atividades. Tal fato poderia sugerir que a observação dessa dimensão é considerada de suma importância para a apropriação do gênero em questão. O conteúdo, com 22 atividades, apresenta-se como a segunda dimensão mais explorada no gênero conto. Sendo assim, esse também se configura como um aspecto abordado efetivamente na caracterização desse gênero.

Somando 21 atividades, os aspectos linguísticos representaram a terceira dimensão mais explorada no conto. Por fim, os aspectos sociodiscursivos apresentaram um quantitativo muito pequeno de oportunidades para conhecimento dessa dimensão: apenas 7 atividades. Nesse caso, a coleção parece não ter considerado os aspectos discursivos como fator marcante para o estudo do conto.

De forma geral, chamamos atenção para a necessidade de um maior equilíbrio entre as dimensões contempladas nas atividades, uma vez que acreditamos que não apenas a estrutura textual seja fator suficiente para a aprendizagem dos gêneros. Nesse sentido, acreditamos que conhecer e refletir sobre os conteúdos, os aspectos linguísticos e sociodiscursivos são fatores que poderiam contribuir significativamente para a apropriação desse gênero, uma vez que estes também estão intrínsecos no todo textual.

Na sequência, apresentaremos e discutiremos atividades que abordam cada uma dessas dimensões.

Figura 14: Conto - Produção (Col. Para viver juntos)

Inicialmente, lembramos que os elementos que, geralmente, compõem uma narrativa (espaço, tempo, personagens, etc.) foram apresentados na coleção como aspectos que devem ser observados na composição de um conto.

Esse exemplo apresenta uma proposta de avaliação para a escrita de um conto popular. Após as atividades de leitura, que trabalharam um exemplar de um conto, e as orientações para a produção de um texto desse gênero, o aluno é solicitado a observar se o texto produzido por outro colega apresenta aspectos relativos à estrutura básica de uma narrativa (tempo e espaço) e à estrutura do conto (conflito – solução).

Ao propor a identificação desses elementos, a preocupação da atividade volta-se para a compreensão de que o gênero trabalhado apresenta uma estrutura básica, que pode ser reconhecida em outros exemplares, devendo, desse modo, ser observada pelo aluno no momento da produção.

A esse respeito, lembramos Bakthin (1997) quando este autor refere-se ao conceito de gênero como tipos de enunciados mais ou menos estáveis, em relação aos conteúdos que podem ser ditos, à estrutura e ao estilo. Nesse sentido, acreditamos que a elevada frequência de atividades enfatizando a estrutura do conto deve-se ao fato de a mesma apresentar certa estabilidade, o que poderia facilitar a apropriação desse gênero. Vejamos mais exemplos:

Figura 15: Conto - Leitura (Col. Para viver juntos).

(7º Ano, p. 29).

Figura 16: Conto - Produção (Col. Para viver juntos).

(8º Ano. Produção, p. 53).

Os exemplos apontados constituem propostas de atividades inseridas nas seções de leitura e produção, nos quais os traços que compõem a estrutura do conto são explorados tendo em vista a assimilação de que tal gênero tem uma estrutura básica que pode ser reconhecida em outros textos do mesmo gênero. No primeiro exemplo, o enunciado da

questão apresenta uma definição de conto, enfocando seus elementos estruturais para que o aluno possa observá-los e identificá-los no texto de leitura. No segundo exemplo, observamos a preocupação em mostrar a estrutura de uma narrativa, para que o aluno possa planejar e escrever o texto em adequação ao gênero proposto.

Na seção de produção, já exemplificada, vemos uma articulação entre tais atividades e as desenvolvidas nas seções de leitura, uma vez que o que é problematizado neste é retomado na produção, por meio de atividades de avaliação que visam à verificação da presença dos elementos estudados no texto produzido ou por meio de orientações para a escrita.

Como vemos, o objetivo da coleção parece voltar-se para a percepção de que os gêneros têm uma estrutura mais ou menos fixa que pode ser reconhecida e reproduzida em outros textos do mesmo gênero. Isso poderia explicar a recorrência dessas atividades nos volumes (anos) que compõem a coleção. Entretanto, como também podemos notar, não parece haver progressão no nível de complexidade das atividades relativas à estrutura ao longo dos anos. Nesse sentido, embora a coleção ofereça diversas atividades para que o aluno possa observar e refletir sobre a estrutura do conto, as atividades, para essa dimensão, não parecem prever objetivos cada vez mais complexos, conforme propõem Schneuwly, Noverraz, Dolz (2004) ao tratar sobre a progressão do ensino organizada em gêneros.

Vejamos alguns exemplos pertinentes ao conteúdo:

Figura 17: Conto - AL (Col. Para viver juntos).

Figura 18: Conto - Leitura (Col. Para viver juntos).

(9º Ano, p. 65).

O primeiro exemplo pode, a princípio, dar margem às escolhas linguísticas mobilizadas para a construção do conto de enigma. Entretanto, acreditamos que, ao se referir ao “universo do conto de enigma”, a atividade esteja remetendo ao tipo de conteúdo que é comum nesse gênero: história que envolve a investigação de um crime, suspeitos, vítima, etc. Tomando a resposta a essa pergunta, temos os termos: “pessoas que têm sido interrogadas; depoimento; polícia; depõe; morta; cadáveres”, que, de fato, parecem apontar para o conteúdo tratado nas narrativas policiais ou de enigma.

Já o segundo exemplo explora o conteúdo do conto social e do conto de amor, uma vez que solicita a reflexão sobre que aspectos, nos dois textos dos gêneros mencionados, poderiam ser destacados para que o conto de amor se transformasse em conto social e vice- versa. Nesse sentido, acreditamos que o fator que pode transformar um gênero em outro seria a adaptação/aproximação de elementos do conteúdo próprio desse gênero: no conto de amor, como o nome indica, destacam-se assuntos amorosos; no conto social, a denúncia. A resposta dessas questões remete, justamente, a essa adaptação: no conto social estudado, a coleção orienta o destaque para o sentimento que unia as personagens como aspecto que poderia transformar tal texto em conto de amor; no conto de amor, a coleção destaca o preconceito do pai em relação à posição social do genro como um aspecto que poderia gerar uma denúncia, conteúdo típico do conto social.

Como podemos observar, os exemplos elencados ilustram, de uma forma geral, que o conteúdo foi, também, abordado como uma propriedade que pode contribuir para a apropriação dos gêneros textuais.

Na sequência, apresentaremos exemplos de atividades que destacam os aspectos linguísticos e sociodiscursivos do conto.

Figura 19: Conto - Leitura (Col. Para viver juntos).

(9º Ano, p. 53).

Figura 20: Conto e notícia - Leitura (Col. Para viver juntos).

(6º Ano, p. 297).

O primeiro exemplo expõe no enunciado a estrutura do conto, explorando aspectos linguísticos pertinentes ao gênero, que contribuem para a construção da narrativa. A coleção apresenta a escolha do tempo verbal como um componente muito importante da narrativa, mostrando que a apresentação da situação inicial, o conflito e o desfecho do conto solicitam, geralmente, tempos verbais distintos. Nesse caso, as escolhas linguísticas estariam contribuindo para que o aluno se apropriasse tanto dos recursos linguísticos comuns nesse gênero como também da sua estrutura.

Após essa atividade, a coleção apresentou um quadro explicativo do uso dos tempos verbais nas narrativas: pretérito imperfeito do indicativo, geralmente, para a apresentação da situação inicial; pretérito perfeito do indicativo nas ações que compõem o conflito e o desfecho.

O segundo exemplo solicita a comparação de dois textos de gêneros distintos, semelhantes no assunto discutido. Para isso, o aluno deveria identificar aspectos relativos a cada um desses gêneros: espaço de circulação, público-leitor e o gênero. Tal atividade, como se vê, leva em consideração os aspectos discursivos que envolvem os gêneros, a partir dos

quais o aluno poderia entender que, mesmo tratando de um assunto semelhante, a função de cada gênero, a esfera de circulação e o público ao qual o texto se destina determinam diferenças marcantes entre os gêneros.

Entretanto, chamamos atenção para a escassez de atividades desse tipo envolvendo o conto, uma vez que acreditamos que refletir sobre tais aspectos poderia contribuir significativamente para a apropriação desse gênero.

3.2.2.2 Propostas de atividades de análise linguística com o gênero “artigo de divulgação