• Nenhum resultado encontrado

Quadro 5.1 Descrição – ANEIB

Grupo de estrangeiros que moram no Brasil. Este grupo recebe e envia informações sobre atividades diversas dos estrangeiros no Brasil e sobre a ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE ESTRANGEIROS E IMIGRANTES NO BRASIL (ANEIB), instituição reconhecida oficialmente pelo Governo Brasileiro através da Portaria nº 2.721 do Ministério da Justiça, de 29 de setembro de 2004. PORTARIA Nº 2.721, DE 29 DE SETEMBRO DE 2004. O MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA, no uso da competência que lhe foi atribuída pela Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980 - Estatuto do Estrangeiro, e tendo em vista o disposto no inciso XVIII do art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988, e o que consta do processo MJ/GM 08001.001799/2004-95, resolve:

Art. 1º. Dispensar a necessidade de autorização para funcionamento da ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE ESTRANGEIROS E IMIGRANTES NO BRASIL - ANEIB, associação civil sem fins lucrativos, apartidária e apolítica, composta, na sua maioria, por estrangeiros, com sede em São Paulo/SP e destinada a representar os interesses dos estrangeiros no Brasil, promovendo diversas ações de assistência jurídica, social e médico-odontológica, entre outras, por ter ela sido constituída no Brasil de acordo com as leis nacionais e tendo sua sede localizada em território nacional, possuindo, assim, nacionalidade brasileira.

Art. 2º. Esta Portaria entra em vigor na data da sua publicação. MÁRCIO THOMAZ BASTOS.

Ministro da Justiça

Publicado no Diário Oficial da União - Seção 1. Quinta-feira, 30 de setembro de 2004. CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) nº 07.356.087/0001-83

A Associação tem 476 associados e o que se pode observar é que os(as) estrangeiros(as) associados(as) à página possuem experiências semelhantes apesar de serem de países diferentes; são experiências que estabelecem um vínculo entre eles. O perfil dos estrangeiros(as) vinculados(as) à associação é diverso, mesmo assim, alguns aspectos destacam-se: vários associados são de origem hispânica, fazem parte de outras associações (Associação Peruana, Associação Chilena, representantes de outros grupos culturais latinos). É possível notar que há várias trocas em espanhol sobre eventos culturais ou gastronômicos, eleições no Chile ou no Peru, compensação de refugiados políticos chilenos, outros assuntos. Porém, há estrangeiros(as) também de outros lugares: Canadá, Estados Unidos, Grécia, países da ex-União Soviética e outros países, que participam do grupo. O que se observa é que a Associação é composta de imigrantes mais antigos(as), aqueles que estão no Brasil há mais de vinte anos, bem como de imigrantes mais recentes. Desse modo, as informações e as interações baseiam-se em questões diversas: encontros de associações, ofertas de emprego e, de forma especial, a publicação de notícias que afetam os(as) imigrantes (por exemplo, o novo projeto de lei do estrangeiro) e ainda, pedidos de ajuda ou orientação sobre questões imigratórias e respostas a esses pedidos. A dificuldade de lidar com questões jurídicas é o que une os (as) imigrantes; é um espaço em que eles(elas) se sentem à vontade para tirar as suas dúvidas, oferecer as suas opiniões, desabafar. Deve-se apontar que os(as) associados(as) não têm perfil de estrangeiros(as) de baixa escolaridade ou de trabalhadores(as) não- documentados(as) como, por exemplo, os costureiros bolivianos em São Paulo. Esses imigrantes são ‘ausentes’ da página; não participam, embora a página tenha publicado informações sobre o acordo Brasil-Bolívia na tentativa ‘fracassada’ de conceder uma anistia aos bolivianos. Será que eles têm medo de participar? Será que eles não têm muito acesso à Internet? O espaço desses imigrantes, como se verá mais adiante, é a oficina de costura ou a Praça de Kantuta.

Os(as) associados(as) são estrangeiros (as) que vieram a trabalho, a estudos, por motivo de casamento ou por outros motivos. De qualquer forma, o que se percebe é que vários compartilham experiências e dificuldades semelhantes. Como se perceberá nos exemplos apresentados a seguir, eles(elas) se sentem à vontade para se expor. A página constitui um espaço em que os(as) estrangeiros(as) podem expressar-se e ser ouvidos(as), não necessariamente pelo Estado, mas por eles(elas) mesmos(as). É uma forma de estabelecer a agência, de dar-se uma voz em um sistema em que é difícil ser ouvido(a). Seguem alguns exemplos de publicações e/ou de trocas de experiências entre os(as) associados(as). Esses exemplos têm como intuito focalizar o

discurso dos(as) imigrantes, distinto dos discursos estudados nos capítulos anteriores. No geral o discurso se constrói em pedidos de ajuda para resolver processos burocráticos; relatos de dificuldades; conselhos. Essas trocas são marcadas pela interdiscursividade e pela intertextualidade, pois a forma do texto é o e-mail (a carta), porém segue o estilo de relatos e até desabafos de experiências como estrangeiros(as), em que há uma mescla de idiomas, por exemplo português e espanhol109. Estabelece-se nessas ‘cartas-relatos’, um grau de intimidade ou

proximidade entre os(as) estrangeiros(as) embora não se conheçam pessoalmente110.

São correspondências caracterizadas por uma linguagem mais íntima ou afetiva, processos que marcam relatos e/ou expressões de solidariedade e/ou frustrações, qualificadores positivos do país apesar das dificuldades com os processos burocráticos, metáforas que trazem um discurso religioso de solidariedade e que marcam ao mesmo tempo um grande pressuposto: o(a) imigrante aceita como natural o seu ‘sofrimento’ com trâmites burocráticos na terra do outro; parece que assimila a sua categorização como ‘cidadão de segunda classe’; aprende a conviver com as dificuldades, talvez seja por isso que a Associação sirva para superar essas dificuldades. Por fim, o Estado para o(a) imigrante é a burocracia – os trâmites legais ou a Polícia Federal; ele ou ela não luta contra o Estado, apenas tentar cumprir as suas exigências: o poder torna-se assimétrico111.

O exemplo 5a destaca alguns aspectos de uma reportagem publicada por um jornal on-line do Interior de São Paulo em que se podem observar as reclamações de estrangeiros na Polícia Federal de São Paulo e a falta de recursos humanos da própria polícia. Constata-se também o medo dos estrangeiros de se identificarem: ‘que preferiu não se identificar’, ‘também não quis dar o nome’. As experiências conduzem à idéia do(a) estrangeiro(a) como pessoa criminosa. Os processos e as nominalizações denotam a força do poder disciplinar: ‘persona non-grata’: ‘humilhação’, ‘foram ameaçadas de prisão’, ‘são autoridades e que mandam’, ‘meu crime é ser estrangeiro’. Além disso, os processos atribuem um valor negativo ao(à) estrangeiro(a) sem possibilidade de agência, enquanto os policiais detêm a agência: são eles que ameaçam, são eles que ‘mandam’ pois são autoridades. Os processos são taxativos. É

109 É possível notar que alguns fazem esforço para escrever em português, uma indicação da tentativa de integrar-se à sociedade anfitriã.

110 A escrita pode mudar a forma das relações sociais, particularmente quando incentiva a intimidade. Uma maneira de realizar isso é usar a escrita para abrir caminho para a conversa íntima.... Escrever também evoca intimidade no âmbito do texto (Camitta: 1993: 240-241). 111 Há que lembrar que meu foco não é os grandes investidores, com altos valores para oferecer ao Estado, falo aqui dos(as) estrangeiros(as) comuns que tentam levar a sua vida adiante da melhor maneira possível.

interessante ressaltar aqui que os policiais não respondem aos comentários dos estrangeiros sobre as ameaças ou a humilhação, apenas desviam o argumento pelo fluxo grande de estrangeiros(as) e a falta de recursos humanos e qualificam as reclamações como ‘exageradas’.