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Sobre a questão-problema

No documento Relatório final (páginas 142-144)

I- ENQUADRAMENTO TEÓRICO A Matemática no panorama educativo português:

6.2 Sobre a questão-problema

A escolha de opções metodológicas é um dos elementos que integra a prática de um professor. Qualquer que seja o tipo de tarefa, investigações, projetos, jogos, problemas ou exercícios, é necessário que estes ajudem a cumprir uma multiplicidade de objetivos de aprendizagem como a construção de conceitos e compreensão de procedimentos matemáticos, o domínio da linguagem matemática e o estabelecimento de conexões dentro da Matemática (Furtado, 2015).

Pode o jogo de xadrez constituir-se um instrumento pedagógico-didático na área curricular da Matemática?

Sim, pode. No rescaldo da experiência, considera-se possível a utilização do jogo de xadrez no processo ensino/aprendizagem da Matemática. A sua existência, durante as aulas, atribuiu a este processo um caráter motivador, contribuiu para estimular o gosto pela Matemática e permitiu a realização de atividades pela descoberta e compreensão de conceitos. Criou, ainda, um ambiente de aprendizagem descontraído e diversificado, condições para que os alunos aprendessem de modo significativo e ativo, respeitando o seu ritmo de aprendizagem. Porém, a experiência vivida indica que, nem sempre o jogo de xadrez, em situação de jogo, se adequa às necessidades encontradas, do ponto de vista do ensino e aprendizagem dos conteúdos curriculares. Por diversas vezes, no ensino de alguns conteúdos de Matemática, revelou-se mais adequado utilizar os elementos do jogo de xadrez, em vez da exploração do jogo como um todo, nomeadamente a exploração do tabuleiro e dos movimentos e posições das peças. O estudo do tabuleiro revelou-se particularmente um excelente recurso impulsionador de conteúdos (Almeida, 2010). Houve, ainda, necessidade de complementar a utilização do jogo de xadrez com outros recursos, como a calculadora, a utilização da quadrados móveis em cartolina e a utilização do computador. Neste sentido, as formas de utilização do jogo de xadrez no contexto educativo devem adequar-se à finalidade do seu uso.

Nesta perspetiva, procurando cumprir as Metas Curriculares de Matemática, utilizando o jogo de xadrez como um todo ou utilizando apenas os seus elementos, tentou promover-se a exploração de conteúdos como os ângulos, potências de expoente natural, áreas e perímetros, números racionais e recolha de dados e construção de gráficos. Nas aulas,

 

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privilegiaram-se situações de análise e reflexão, estimulando os alunos a realizar a ressignificação de conceitos matemáticos que constam do currículo da Matemática, tanto em conjunto como individualmente.

A experiência de utilização do jogo de xadrez, como recurso didático-pedagógico nas aulas de Matemática, revelou-se uma tarefa extremamente difícil e exigente em como adequar o jogo às exigências dos descritores de desempenho que constituem as Metas Curriculares. Neste sentido, conclui-se que a sua utilização, como recurso pedagógico-didático, bem orientada e conduzida, exige um trabalho perspetivado com bastante antecedência.

Por conseguinte, ao longo da Prática de Ensino Supervisionada, acreditou-se que todos os alunos deviam aprender e podiam aprender melhor, recorrendo ao jogo de xadrez e que, através dele, se podia aproximar os alunos da disciplina e reduzir o preconceito de que a Matemática é difícil, aumentando as expectativas de sucesso. Ao longo das atividades, incentivaram-se atividades de apoio ao seu estudo e, nesta medida, verificou-se que as intervenções realizadas possibilitaram aos alunos a aprendizagem de algumas estratégias de monitorização do seu estudo e de organização pessoal, conforme descrito na Intervenção.

O desenvolvimento de atividades significativas e contextualizadas no jogo do xadrez agradaram os alunos, na medida em que possibilitaram o envolvimento físico e o envolvimento com as ideias, o pensamento e o conheimento. O jogo de xadrez provocou a motivação quase espontânea dos alunos, facilitando a sua introdução em contexto de sala de aula para reforço dos conteúdos curriculares e, desta forma, pode constituir-se um “precisoso coadjuvante escolar” (Piassi, 2005). Igualmente verificou-se que o que os alunos mais gostaram foi de jogar xadrez, enquanto jogo, e, por isso, não se pode cair no risco de o desvirtuar com a excessiva utilização na aula da Matemática.

No Segundo Ciclo, talvez devido à duração maior do estágio, tornou-se muito evidente que o jogo de xadrez mudou tudo: mudou a abordagem das aulas de Matemática, mudou os alunos, que passaram a ser mais assíduos, mais motivados e mais bem comportados, mudou a conotação negativa da disciplina de Matemática, mudou os professores que aceitaram o pedido de alunos de outras turmas para aprender a jogar xadrez (figura 43), contagiou as assistentes operacionais que pediram se podiam assistir às aulas para aprender

 

a jogar, e ainda estimulou a curiosidade dos elementos da direção, envolvidos no Desporto Escolar, em constatar como o jogo de xadrez se transformou num recurso nas aulas de Matemática.

Figura 43: Outras turmas a jogar xadrez: aprendizagem das regras e realização de partidas de xadrez

Em síntese, na Prática de Ensino Supervisionada, constatou-se que na utilização do jogo de xadrez, tanto como jogo em si mesmo ou como recurso pedagógico-didático, desenvolvem-se conceitos, procedimentos e atitudes. Por isso, deve optar-se por aquilo que mais benefícios traz ao aluno e que melhor satisfaça os objetivos pedagógicos que se pretendem alcançar, tendo em atenção as condições de realização – condições do grupo- turma, condições físicas das escolas, limitações temporais e conteúdos que se pretendem explorar (Almeida, 2010; Angélico & Porfírio, 2010; Silva, 2008).

No documento Relatório final (páginas 142-144)