• Nenhum resultado encontrado

Reaproximação da pesquisadora e o encontro com Isaura no Sítio da Esperança

4 CONFIGURAÇÕES DAS HERANÇAS EDUCATIVAS DE MÃE PARA FILHA

5.2 Reaproximação da pesquisadora e o encontro com Isaura no Sítio da Esperança

Liguei para Isaura para convidá-la a participar do segundo movimento da pesquisa. Ela lembrou de mim, como pesquisadora e professora do Curso Mulheres Mil. E demonstrou interesse em conceder a entrevista naquela semana. Passou o “endereço” e disse que me esperaria no portão. Na manhã agendada, saí a caminho, conforme sua orientação: “passa o mercado P., cruza o moinho, e segue em direção ao bairro C., tem uma placa, é ali”. Havia perguntado: o que está escrito na placa? Ela respondeu: “Sítio da Esperança.” Fiquei um pouco perdida, no início, porque ela descreveu o trajeto tendo como ponto de partida a sua antiga residência, e eu me deslocaria do sentido contrário, mas enfim, parei no supermercado em questão e me localizei.

Faz dois anos que ela reside com o companheiro, dono do sítio. Se encontraram nos “bailões”, ele separado e ela viúva. Também, está construindo uma casa, pelo Programa Minha Casa Minha Vida57 no bairro onde residia até então, segundo ela uma “big de uma casa”. Divide seu tempo entre as atividades ao redor da casa, no sítio, e o acompanhamento da construção. Feliz pelo reencontro com a terra, pois como ela havia narrado, sentiu a falta desse contato quando veio morar na cidade. Enfim, ao despedir-me de Isaura, após entrevista, ganhei uns dois quilos de mandioca. E fiz uma compra de um pano de prato (R$25,00) que havia pintado num curso realizado na escola do seu bairro. O crochê foi confeccionado por uma das filhas. Também vende panos de prato que a filha costureira confecciona, por R$20,00. Me

57 O Programa Minha Casa Minha Vida foi lançado em 2009 e marcou a retomada de investimentos em infraestrutura urbana nas cidades brasileiras desde a década de 1980. De 2009 a 2014 foram gastos 172 bilhões de reais entre recursos do FGTS e do Fundo de Arrecadação Residencial, recursos oriundos do Orçamento Geral da União, para aproximadamente 3,5 milhões de unidades habitacionais contratadas no âmbito do programa (MARICATO; ROYER, 2017).

parece que estas atividades artesanais, que eram centrais, agora são secundárias, pois tirou os panos de prato de uma caixa, que ainda continha as fitas adesivas, lembrando embalagem de mudança, feita há uns dois anos. Referiu-se às atividades no passado, “vendia produtos da revista X, pintava panos de prato”.

Identifiquei a dúvida sobre a escolarização dos netos, disse que em outro momento poderia dar-me informações mais exatas pois iria ligar para as filhas. Também não houve exatidão quanto às idades das filhas, mas a certeza da diferença de um ano e meio entre elas. Uma exceção relatada quanto a esta diferença de idade foi em uma das gestações em que uma nova concepção ocorreu quando seu bebê estava com um mês e meio. Relata que não tinha conhecimento de como evitar gestações, foram 8 no total, das quais 5 foram do sexo feminino. Tal fato a diferencia de suas filhas, que puderam escolher ter no máximo três filhos, pois elas puderam tomar “pastilha”, referindo-se à pílula anticoncepcional.

Isaura quer continuar o vínculo comigo, vendeu um pano de prato para pagar outro dia. Assim, também, o chimarrão ficou para o nosso próximo encontro, convergindo ao que Bosi (2003) chamou de entrevista ideal: aquela que permite a formação e laços de amizade pois a relação não deveria ser efêmera, envolve responsabilidade pelo outro e deve durar quanto dura uma amizade.

Isaura se casou aos 16 anos, e residiu no meio rural dos municípios vizinhos de Coronel Bicaco e de Redentora. Viuvou aos 32 anos, passando a chefiar a família com cinco filhas e dois filhos.58 Mudou-se para a localidade de Esquina Úmbu em Nova Ramada, e trabalhava de merendeira na escola, onde três de suas cinco filhas cursaram até a quarta série do Ensino Fundamental, bem como um de seus dois filhos (já falecido) e o neto mais velho, que tem 30 anos. Ela justifica:

Lá na esquina Umbú só tinha até a quarta série. Daí eu não tinha condições de mandar a Santo Augusto, não tinha condições de mandar prá lado nenhum, o professor só dava até a quarta série. Não tinha condições e não tinha ônibus que pegasse também. E depois, não tinha condições, como? De onde? Aí ficaram até a quarta série (Isaura, 66 anos).

58 No primeiro movimento da entrevista Isaura se refere a três filhos, incluindo o adotivo. Nesse segundo movimento em que construí o genograma não faz menção a ele, por isso ficou fora do genograma. Ao concluir a entrevista, perguntei sobre ele, só respondeu “ele trabalha viajando lá prá cima”, se referindo às regiões norte e nordeste. Não tenho nenhum dado sobre como e em que momento foi a adoção e sobre o possível corte do vínculo mãe e filho, para não o incluir em sua narrativa atual.

Figura 6 – Genograma Isaura59

Fonte: Entrevista narrativa e sistematização no Genopro (2016).

59 Os nomes das filhas seguem a lógica do nome das pesquisadas, são fictícios para preservar a identidade, foram retirados da música Cunhãs de Karine Kunha, e receberam destaque na folha de rosto dessa seção e na contracapa desta tese. Na cor laranja Isaura e as filhas e na cor bordô Dalva e suas filhas. As netas e netos foram assim nomeados pela relação de parentesco com as pesquisadas, seguidas da respectiva letra inicial do nome das mães.

Isaura aparenta tranquilidade ao afirmar: “Mas, estudaram até a quarta série, deu prá quebrar o galho”. Pelo fato de ser analfabeta, e não ter frequentado a escola na infância, acredita que as quatro séries cursadas pelas filhas e filho lhes conferiram as habilidades mínimas para ler e escrever. Um dos filhos cursou a quinta série, nessa época, no município de Condor,60 “ia e vinha a pé e de bicicleta”. Ela também trabalhou de empregada no meio rural.

Tirava leite de nove vacas, das sete até as dez horas. Tudo a muque (mostra o braço). Daí dizia um dia Deus vai me ajudar, e consegui, com o suor que derramei lá, comprei uma casinha, aqui em Santo Augusto, aí disse agora vou embora, agora sim, tenho a minha casa na cidade (Isaura, 66 anos).

Morando na cidade, as duas filhas mais novas, Berenice (45 anos) e Vânia (38 anos) cursaram até a quinta série. Segundo Isaura, elas poderiam ter estudado mais, porém desistiram pelos motivos de trabalho e casamento. Essas tiveram a possibilidade de continuar os estudos, mas ao casarem foram embora.

Analisando a história de cada filha em particular, identifiquei que a filha mais velha, Cleo (50 anos), casou-se com um agricultor e continuou residindo na mesma localidade de Esquina Umbú em Nova Ramada. Tem um filho de 30 anos, o neto C, que também estudou até a quarta série e atualmente trabalha numa fazenda, cuidando de cavalos. Conforme Isaura, a Cleo “tem um pedacinho de terra, trabalha na casa dela e cuida das plantinhas. Ela tem só um guri”.

Isaura (66 anos) não vê muita diferença entre ela e a filha Cleo:

Ela se criou trabalhando, desde que se conheceu por gente, sabia que tinha que fazer o serviço, sempre trabalhando. Ela puxou mais assim por mim, porque ela tem um gênio esperto, é trabalhadeira, caprichosa, não é de ficar assim vadiando, tem o trabalho dela.

Zago (2013) analisa a pobreza no campo e os processos de exclusão e me ajuda a pensar essa tendência da mobilidade geográfica forçada (as migrações de Isaura até se estabelecer na cidade) e a interrupção escolar precoce de três gerações (Isaura, filha Cleo e neto C) não como resultado da ausência de valorização familiar dos estudos, mas como condição da reduzida oferta escolar no meio rural do Brasil, da ausência de transporte escolar público e da falta de condições financeiras da família em investir na escolarização dos filhos para além daquela oferecida na localidade rural.

60 Município limítrofe a Nova Ramada.

Mari (48 anos) foi a filha mais companheira de Isaura, inclusive foram colegas de curso de qualificação profissional do Programa Mulheres Mil no IFFAR – Campus Santo Augusto no ano de 2013. Sobre isso, afirma:

As outras filhas casaram e a Mari era solteira, continuou do meu lado, me obedecendo, e até hoje me obedece. Ficou comigo, ficou comigo, ficou comigo, depois teve a menina, a Neta M, aconteceu. Agora, está vivendo na Esquina Umbú com o pai dela, só que não casou (Isaura, 66 anos).

A filha Mari, e a neta M, saíram de casa e Isaura ficou morando sozinha. Mari reconciliou-se com o pai da neta M e foi morar no interior de Nova Ramada, lugar onde Isaura morou com as filhas e filhos pequenos. A neta M “casou, se juntou”, e foi morar em Carlos Barbosa. Mari continua sendo o seu socorro na relação com a escrita. Isaura relatou que não coloca nenhum papel fora, e quando a sacola está cheia, liga para Mari “fazer a faxina na papelada. Ela sabe o que pode colocar fora, eu não coloco nada fora.” Percebi que não pode contar com o atual companheiro nesse aspecto, pois tem dificuldade visual para letras em tamanho pequeno.

A neta M está com vinte anos e “se juntou com um cara, parou os estudos, simplesmente. Eu sempre digo, eu tinha tanta vontade, a gente não tinha oportunidade, nunca tive oportunidade que hoje essas meninas têm” (Isaura, 66 anos).

Questionei o que é oportunidade e ela responde:

Calçadinho de marca, roupinha toda de marca, e o ônibus pega na porta da casa, não pode ter um barrinho ainda, o motorista tem que encostar na porta de casa. É o que eu digo, não sei se estou certa, e assim que me refiro têm oportunidade (Isaura, 66 anos).

A neta M interrompeu os estudos no segundo ano do Ensino Médio por motivo de casamento, e por ter ido embora para Carlos Barbosa, o que causa uma certa indignação em Isaura, pois os pais oportunizaram estudar e ela não aproveitou. Por outro lado, quando lamento a interrupção, ela argumenta: “mas ela estudou um pouco, dá prá se defender”.

Assim como as filhas terem estudado até a quarta série do Ensino Fundamental “quebra o galho”, ter estudado uns dois anos no Ensino Médio, já dá “prá se defender”, na hora de arrumar um emprego, ou mesmo voltar a estudar e concluí-lo ou ainda seguir adiante no Ensino

Superior. A neta M está mais próxima de uma escolarização plena61 em relação às filhas e a ela mesma.

Zago (2011) afirma que os pais, em geral, esperam ver em seus descendentes a superação de sua condição social, e a desescolarização precoce representa a frustração desse desejo. De um lado, a moral doméstica – sobretudo nos conselhos das mães, e de outro, o comportamento de resistência à escolarização, revelam que a transmissão de valores e condutas familiares em relação aos estudos não é necessariamente apreendida pelos filhos com igual significado. E a mobilização familiar, em proporcionar as condições ideais (caracterizada como oportunidade por Isaura) também não foram suficientes para garantir a conclusão dos estudos.

Nas escolhas feitas por Mari, na concepção de Isaura, há pouca ou nenhuma diferença em relação a si mesma: “ela faz as coisas conforme a gente ensinou, cuida da casa, não tem diferença, pode mudar alguma coisinha, mas muito pouco”. E complementa se referindo a todas as filhas:

Fazem o que elas aprenderam, fazem o que eu fazia, então eu acho elas parecidas comigo porque elas estão fazendo o que eu ensinei, o que eu fiz. Eu ensinei o bem prá elas, elas estão fazendo o bem. Não façam errado que vão ser castigada, elas fazem tudo certinho, porque ninguém é perfeito. O erro existe, né, mas pensa prá fazer (Isaura, 66 anos).

A filha Elis tem 46 anos, estudou até a quarta série, mora em Carlos Barbosa e é costureira. Motivo de orgulho para Isaura, pois cursou corte e costura, com o incentivo da mãe desde a infância.

É costureira, ela tem uma profissão. Trabalhou em granja como cozinheira, e pensou [...] porque desde pequena já dava agulha e faziam roupinha de boneca, mandava elas fazerem vestidinhos, quando elas tinham tempo, quando tinham seus minutos. Eu cortava, explicava e elas faziam. E a Elis, se interessou em costurar. Ela é costureira profissional, ela é concursada, é o ramo dela, costurar (Isaura, 66 anos).

Elis tem uma filha, a neta E, “tem uns 24 anos”, está solteira e trabalha numa padaria. Isaura acredita que ela tenha estudado até a sexta série, ou mais, mas não tem certeza. Quando pergunto se cursou faculdade aí ela tem certeza que não.

61 Escolarização plena refere-se à Educação Superior, com base no art. 21 da Lei n. 9394/96: “A educação escolar compõe-se de: I – educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II – educação superior”.

Sobre as semelhanças e diferenças entre ela e a filha Elis, afirma, lembrando das demais quanto ao número de filhos: “não puxaram pela mãe” (risos). Observei que tem uma diferença, em meio a tantas semelhanças, e perguntei por que ela acha que elas tiveram menos filhos.

Por causa que a dificuldade pegou. É mais difícil, criei os meus assim sofrendo, o problema é que a gente não sabia se defender. Hoje tem pastilhas que tomam, eu nunca tomei essas coisas. Elas têm como se defender, evitar. Porque hoje um filho dá muito trabalho. Dá muita despesa, nós crescemos, de pé no chão, hoje, vai criar uma criança desse jeito, tem que ter tudo o conforto. Evitando, é melhor do que ter prá sofrer (Isaura, 66 anos).

A diferença entre Isaura e as filhas é que elas puderam escolher quantos filhos ter pela possibilidade de tomar pílula anticoncepcional. O número de filhos foi uma opção e não vontade divina ou fruto do acaso. Ela também menciona que na atualidade há mais exigências para educar os filhos, se comparado à antigamente. Porém, as filhas de Isaura pertencem a outra geração de mulheres, que reduziram significativamente o número de filhos em relação à geração de suas mães e avós.

A outra filha é Berenice (45 anos), casada, mora em Carlos Barbosa, também. Estudou até a quinta série, pois ao se mudaram para a cidade tinham possibilidade de estudar, mas de certa forma, essa possibilidade era ilusória, pois tinha também a necessidade de trabalhar:

“A Berenice estudou, acho que fez até a quinta série, porque daí nos mudamos. Consegui colocar ela na escola, mais um pouco, ela estudou até a quinta série” (Isaura, 66 anos). Indaguei o porquê da interrupção: “Porque começou a trabalhar e casou. Casou, dançou” (Isaura, 66 anos) (risos). Ela teve três filhos, o primeiro faleceu. Tem a neta B (18 anos), que trabalha numa relojoaria e continua estudando, mas Isaura não sabe que série. E o neto B tem 12 anos, estudante também.

Isaura refere-se ao tempo em as mulheres casavam e passavam a se dedicar exclusivamente à família e à casa: “É depois de casada não existia, a gente, sei lá, poderia ter continuado, mas já o marido não quer, dão contra, sabe como é”. Toca numa questão crucial das relações de gênero que é a demarcação das posições de sujeitos no casamento, a esfera privada pertencia às mulheres e a esfera pública aos homens. Romper com isso foi doloroso para mulheres que precisaram enfrentar preconceitos, de modo particular na escola, como um universo das crianças e ainda que “lugar de mulher era em casa”.

Por outro lado, romper com esse sistema foi difícil para os homens pois concordar que a mulher trabalhasse fora de casa atestava seu fracasso de provedor da família. Então, para muitas famílias, a opção foi não romper com a tradição. As filhas de Isaura escolheram atividades produtivas vinculadas, tradicionalmente, ao mundo feminino: cuidar da casa, da horta, produzir pães e massas para venda, corte e costura. Romperam, parcialmente, a tradição pois trabalham para “ajudar o marido”, conforme Isaura.

A filha mais nova, Vânia (38 anos), casada com um capataz de granja, mora em Poças (Goiás). É dona de casa e produz pães, bolos, cucas e bolachas para vender. Tem um casal de filhos, são estudantes. Também cursou até a quinta série, interrompendo para casar e ir embora para Goiás. Conta, orgulhosa:

Ela tem a máquina, aí ela vende pão, vende bolacha, alguma coisa ela faz também, tem que se defender. Não esperar que marido traga, a mulher pode ajudar o marido, ajuda, onde os dois trabalham unido, alguma coisa tem (Isaura, 66 anos).

Localizei um paradoxo, na herança educativa das filhas de Isaura, as mais velhas estudaram até a quarta série por motivo de morarem no meio rural e não ter possibilidade de ir à cidade prosseguir os estudos. As mais novas, mesmo morando na cidade, e tendo “um pouquinho mais de oportunidade do que as outras”, conseguiram avançar uma série em relação às irmãs mais velhas, pois precisaram trabalhar. Conjecturo: não encontrando emprego ao chegar em Santo Augusto, o casamento teria sido uma solução?

Cheguei e pensei assim, ali no salão do Nito, tinha uma fábrica de sapatos, agora vou arrumar serviço para as minhas meninas, vão trabalhar em alguma coisa. Cheguei ali, tinham fechado a fábrica, o que fazer? Com todas as crianças em casa, continuei trabalhando na renovadora de pneu, e as gurias casaram (Isaura, 66 anos).

Isaura, no primeiro movimento da pesquisa, levantou questionamentos que remetem às diferenças de gênero da escolarização:

Deus o livre, menina não estuda, não estuda! Só os guris, menina não podia nem falar em estudar. Por que será que era assim? Por que será que o tempo antigo era assim? (Isaura, 66 anos).

O que vemos na inscrição de suas heranças é que os filhos homens foram os que mais avançaram na escolarização. O filho mais velho, que também havia cursado até a quarta série na infância, retomou os estudos na juventude, por correspondência, foi instrutor de autoescola,

artesão e faleceu aos 35 anos na Califórnia (EUA), vítima de doença cardíaca , assim como o esposo de Isaura.

E o filho M (47 anos), imbuído de uma certa liberdade masculina concedida desde a infância, mesmo morando no interior, conseguiu continuar os estudos indo a pé e às vezes de bicicleta a Condor, município vizinho de Nova Ramada, e na vida adulta fez mais cursos, chegou a ser gerente de uma empresa de cosméticos. Atualmente possui um caminhão baú e faz viagens. Teve um filho com a primeira esposa, o neto M (20 anos). Esse neto iniciou o curso de Direito, porém desistiu pois percebeu que não gostaria da profissão, está para iniciar outro curso universitário. Com a segunda esposa tem uma filha de 5 anos.

O neto M (filho do filho M) até esse momento foi o único familiar de Isaura que teve acesso ao Ensino Superior. Esse genograma revela que quanto mais estudo tem a mãe (ou pai, nesse caso), maior a possibilidade das filhas e filhos se escolarizarem.

Para Lahire (2008), o sucesso escolar nos meios populares é relativo e não depende da escolarização das mães e pais, porém o que sugere o genograma de Isaura é que quanto maior a escolarização das mães e pais, maior é o tempo em que as filhas e filhos permanecerão na escola. Zago (2011) ajuda a compreender essas variações dos percursos escolares e das práticas adotadas no interior de uma mesma família, elencando uma configuração de fatores que podem interferir nessa situação: a mobilização familiar voltada para as atividades escolares dos filhos, as práticas de socialização e transmissão de valores, o apoio sistemático de um professor, a demanda escolar relacionada à atividade profissional, o tipo de trajetória social e escolar, entre outras situações.