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1.3.3 – Receptores de TVi: os set-top boxes.

Set-top Boxes (STB) são dispositivos que interconectam os aparelhos televisores a uma das plataformas da TV Digital. Em outras palavras, os STBs são computadores dedicados a executar uma série de tarefas que permitem a um usuário receber os sinais da TV Digital e, no caso da TVi, utilizar os serviços interativos que ela disponibiliza. Zuffo (2001a: 75) afirma que “o conceito de STB Digital nasceu como uma plataforma para aplicações multimídia

para redes de serviços digitais bidirecionais”. Ele informa que os primeiros protótipos nasceram de PCs conectados a redes com programas que executavam as tarefas de compressão e descompressão de vídeo. Mais tarde foram utilizadas placas que realizavam tais tarefas em circuitaria e depois foram introduzidos os modems. Estes modelos serviram para pesquisas mas os STBs reais precisam custar bem menos que um PC. Gawlinski (2003: 62) escreve: “STBs são computadores. Eles usam a mesma eletrônica e a mesma arquitetura

básica. No entanto, o hardware dos STBs é geralmente menos poderoso que os PCs de última geração porque os fabricantes usualmente precisam manter o preço baixo”. Isso, explica Gawlinski, em função da grande competição entre plataformas rivais. No caso do Brasil este fator é ainda mais relevante porque significa que o usuário deverá dispor de um valor para aquisição do STB que pode equivaler ou ultrapassar o valor do televisor que atualmente ele possui, já que grande parte dos aparelhos de TVs no Brasil é de 14 polegadas.

Anteriormente, na explicação sobre redes digitais, foi mostrado que cada computador deve ter algum tipo de conexão com a rede na qual está operando, e que cada computador “lê” os endereços dos pacotes que transitam pela rede e “recolhe” aqueles que lhe são endereçados. Os STBs são computadores dedicados que se conectam a uma rede especial, a rede de TV digital. O tipo de conexão que o STB deve ter com essa rede depende da plataforma de operação da rede de TV. Assim sendo, como os STBs “reconhecem” e como eles “recolhem” os pacotes que lhes são endereçados?

A maioria dos STBs trabalha ou com sinais analógicos ou com sinais digitais, não com ambos; eles usualmente trabalham somente em uma plataforma de distribuição – cabo, terrestre, satélite ou DSL. Isso porque cada plataforma usa uma faixa diferente [do espectro] de freqüência para transmitir seu sinal de TV e usam técnicas de modulação diferentes para adicionar canais ou interatividade dentro de um pedaço desta faixa de freqüência (Gawlinski 2003: 61).

Gawlinski se refere a STBs que trabalham com sinais analógicos. Isto se deve ao fato de que os receptores de TV analógica por cabo também são chamados set-top boxes, mas na

presente pesquisa só os STBs digitais serão considerados. Gawlinski afirma ainda que STBs de uma plataforma não funcionam em outras. Dentre outros motivos, isso acontece porque a modulação do sinal digital geralmente é diferente de uma plataforma para outra, e também porque as faixas de freqüência do espectro usadas nas plataformas, usualmente são diferentes.

Resta ainda esclarecer um aspecto fundamental que difere as redes de TV digital das redes de computadores. A rede de TV digital funciona empurrando pacotes de dados num fluxo contínuo chamado “transport stream” ou “correnteza de transporte”, como já foi dito. Os pacotes de dados de uma determinada correnteza de transporte devem ser “recebidos” por todos os STBs da plataforma “sintonizados” na freqüência daquela correnteza. Ou seja, os pacotes de dados de uma dada “correnteza de transporte” na rede de TV digital são enviados para todos os STBs daquela plataforma simultaneamente, diferente das redes de computadores nas quais um nó específico envia pacotes de dados para outro nó distinto na rede. Assim, pode-se dizer que os STBs têm uma “porta de entrada” principal, que recebe a correnteza de transporte. Nas plataformas por satélites e terrestres, essa “porta de entrada” do STB é um circuito eletrônico que sintoniza e demodula ondas eletromagnéticas de rádio e as converte em um fluxo de 1s e 0s. Nas plataformas por cabo e DSL, essa “porta de entrada” do STB é um circuito eletrônico que sintoniza e demodula sinais elétricos presentes no cabo (ou par de fios) convertendo tais sinais também em num fluxo de 1s e 0s. Portanto, os STBs são conectados às plataformas da rede de TVi (à camada física) captando e convertendo ondas eletromagnéticas (nas plataformas terrestre e satélite) ou demodulando sinais elétricos dos cabos a que estão fisicamente ligados. Pode ainda haver casos de conexão por cabo de fibra ótica cujo sinal tem outra natureza, são sinais de luz; ou ainda outras formas de conexão, mas as mais comuns são as citadas anteriormente.

Além da “porta de entrada” da correnteza de transporte, os STBs com canal de retorno para a emissora devem possuir uma outra “porta” bidirecional que serve para conexão com o provedor de serviços interativos. Esta conexão geralmente é feita usando modem e par de fios da rede telefônica, via Internet; e essa porta bidirecional no STB serve tanto para retorno de informações das interatividades do usuário quanto para download de conteúdo exclusivo para este usuário. Geralmente esta “porta” (canal de retorno) é uma via pela qual trafega bem menos informação do que a porta que recebe a correnteza de transporte.

Como foi dito, é possível obter o canal de retorno através de outras tecnologias que não a da rede de cabos telefônicos e modems, por exemplo, através de ondas de rádio; contudo tais tecnologias não serão abordadas na presente pesquisa. Mais informação sobre hardware e software dos STBs, ver Gawlinski (2003: 61-74) e Schwalb (2004: 117-158).

1.3.3.1 – Middleware

Como um STB é um computador dedicado, ele tem um Sistema Operacional, tem memória RAM, alguns STBs possuem inclusive disco rígido, o que aumenta sua capacidade de armazenamento e proporciona funcionalidades adicionais. O sistema operacional dos STBs é mínimo, de forma que ele cuida apenas de deixar o STB operante. Usando o conceito de “camadas”, implantou-se na TV Digital uma camada de software que desvincula as funções básicas do sistema operacional das outras funções dos aplicativos interativos. Esta camada de software é o middleware.

Em outras palavras, middleware é uma camada de software que “conversa” com o sistema operacional do STB de forma controlada, garantindo com isso que nenhum aplicativo interativo acesse diretamente comandos que possam provocar danos ao STB, por exemplo. Além disso, o middleware proporciona um conjunto de comandos de programação para desenvolvedores, ou seja, nenhum programador tem que saber comandos específicos do sistema operacional de um determinado STB. Em virtude deste benefício, o middleware garante que aplicativos feitos para determinado middleware serão executados por todos os STBs que dão suporte àquele middleware, independente da marca do STB e do sistema operacional que ele utiliza (Gawlinski 2003: 68-70).

Alguns produtores de middleware constroem módulos de software que agregam certas funcionalidades aos STBs. Esses módulos são chamados de “virtual maquines” (VM) ou “engines” e alguns exemplos são: “Java Virtual Machine”, engines HTML, Javascript ou MHEG-5, entre outras. Os engines e as VMs têm um interesse especial na presente pesquisa porque através delas muitas das propostas dos capítulos seguintes poderão ser implantadas na TVi. VMs ou engines criadas por produtores de middleware diferentes funcionarão exatamente da mesma forma, porque são projetadas para funcionar com o mesmo padrão de programação. Em razão de uma VM (ou engine) estar instalada nos STBs, os produtores de conteúdo podem escolher entre trabalhar usando os recursos que elas oferecem ou criar aplicativos usando apenas os recursos do middleware.

Acima da camada do middleware, aliás, rodando sobre ele, vamos encontrar a camada dos “aplicativos”, ou seja, os programas que o STB executa. Esta é a parte interativa da TVi, propriamente dita. Os aplicativos consistem de interfaces com as quais o usuário interage, e aqui surge outro aspecto que interessa para a presente investigação, que é a questão da interface e da interação com o usuário. A interação entre usuário e aplicativo acontece através de um controle remoto que possui quatro botões coloridos: um vermelho, um azul, um verde e um amarelo; além dos botões numéricos e setas de direção, encontradas nos controles remotos

das TVs padrão. Assim é a forma de interação padrão na TVi. Alguns usuários podem optar por comprar um teclado para facilitar digitação. Isto porque “digitar texto é tedioso através do

controle remoto” Gawlinski (2003: 211). Esse aspecto é importante para o restante da presente pesquisa, afinal, procura-se aqui descobrir novas formas de conteúdo interativo para a TVi, em especial dentro de dramas interativos, ou de novos tipos de jogos. Assim, surgem as seguintes questões: como manter um diálogo razoável com a emissora se ao usuário é permitido apenas acionar alguns botões? Talvez melhor fosse reformular esta pergunta: que tipo de diálogo poderá haver entre usuário e emissora se o que é permitido ao usuário é acionar alguns botões ou, com muita paciência, digitar mensagens curtas? Não seria mais adequado chamar a TV digital interativa de TV digital responsiva? Afinal, o papel do usuário na maioria das vezes será apenas de responder a um texto, a um discurso que vem pronto numa interface que a emissora produz.

Resumindo sobre os STBs, eles são computadores dedicados que possuem uma porta principal de entrada de dados que recebe uma correnteza de pacotes de dados advinda da operadora da plataforma. Esta porta recebe os pacotes na forma de ondas eletromagnéticas, sinais elétricos, luz ou outros, dependendo da plataforma de operação (o meio físico) da TVi. Essa correnteza de transporte é composta de correntezas elementares, que por sua vez são constituídas por informações de vídeo, áudio, controle e aplicativos interativos. Os aplicativos interativos são executados no middleware do STB, que é uma camada de software que roda sobre o sistema operacional do STB. Ao executar tais aplicativos o middleware cria interfaces na tela da TV, com as quais o usuário interage através dos botões do controle remoto.