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CAPÍTULO III – NOTICIABILIDADE DA VIOLÊNCIA ESCOLAR

1. Os que reclamam o regresso (mais ou menos velado) ao exercício da “violência institucional” com exigências ao nível das condutas e das aprendizagens; o aumento

5.1. Relação entre fontes de informação e jornalistas

5.1. Relação entre fontes de informação e jornalistas

Dos eventos com expressividade no espaço público, os media convocam, com alguma regularidade, testemunhos de especialistas, personalidades políticas ou públicas e outras fontes de informação, como vítimas de violência, professores, alunos, encarregados de educação, população em geral, que ajudem a construir a noticiabilidade dos fenómenos em agenda. Entre os fazedores de opinião, encontram-se alguns opinion makers, como politólogos, para a análise e comentário de temas em destaque. Confere-se, assim, importância às questões tratadas, por via da conjugação de diferentes vozes, como se pode depreender do seguinte comentário de Patrick Charaudeau (1997), sobre a actualidade francesa com foco na violência escolar:

«É assim, actualmente, com «a violência na escola»: não contentes de reportar os factos de violência que se produzem aqui e ali em certas escolas em França, os media, para evitarem a acusação da subida em flecha (o simples facto de falar do assunto nos diferentes media produz um efeito aumentativo) o que se produz apenas em 2% daquelas, organizam diferentes confrontações e suscitam testemunhos» (Charaudeau, 1997: 197).

Na rotina jornalística, a produção de um texto resulta de um processo colectivo que passa pela recolha de informação que chega às redacções e aos seus profissionais por várias

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vias, nem sempre bem identificadas. Impõe-se necessariamente a selecção dos materiais junto das fontes de informação inquiridas, exteriores ao jornal, ou em agências para posterior edição e transformação até se tornar no produto final de conhecimento público (Bell, 1991; Silverstone, 1985; Tuchman, 1978; van Dijk, 1988a). Os eventos do quotidiano e as trocas comunicativas dos sujeitos, que despertam a atenção dos media, são incluídos nas peças jornalísticas mediante reformulações intencionais e reproduções com tonalidades e polifonias diversas a partir do mesmo evento (van Leeuwen, 1993) por dependerem das escolhas, valores e prioridades dos media em que ocorrem (Fairclough, 1995:41).

Assim, um texto jornalístico, que tem uma voz que lhe é própria, pode (re)produzir discursos das fontes jornalísticas no seu interior, quer directa, quer indirectamente. Roger Fowler (1991:229) reconhece o quanto os media dependem de outros textos que são produzidos externamente, a partir dos discursos e debates do Parlamento, enquanto fontes a que têm acesso a imprensa e os outros media. Dá como exemplo os relatórios governamentais ou de índole privado, artigos oficiais de peritos, propaganda de grupos políticos e declarações ou comentários de “porta-vozes” oficiais ou privilegiados, ou ainda peças/textos de edições anteriores do mesmo órgão de informação.

Desta forma, as sucessivas configurações reproduzidas nos media dependem do ponto de vista das fontes de informação, da sua versão dos factos, das suas práticas linguísticas individuais e das suas experiências no mundo real e subjectivo. É por isso um erro, observam Molotch e Lester (Schudson, 1991:271), comparar os acontecimentos e notícias à “realidade”, isto porque os jornais não reflectem o mundo “lá fora” mas «as práticas daqueles que têm poder para determinar as experiências dos outros», não esquecendo também o testemunho das fontes de informação a que se reportam os jornalistas para conceder credibilidade às notícias.

Murdock e Golding (1977:37) assinalam do seguinte modo as escolhas dos media, no que respeita à inclusão e exclusão de vozes, segundo a perspectiva de economia política:

«Trabalham consistentemente para excluir as vozes dos que não têm poder económico nem recursos… a lógica subjacente dos custos opera sistematicamente, consolidando a posição de grupos já estabelecidos nos principais mercados dos media de massas e excluindo os grupos que não têm o capital de base necessário para uma entrada bem sucedida. As vozes que sobrevivem pertencerão portanto em grande medida aos que menos provavelmente criticarão

a distribuição prevalecente de riqueza e poder. De forma inversa, os que mais desafiarem estes arranjos serão incapazes de publicitar o seu desacordo ou oposição, por não poderem usar as reservas necessárias para a comunicação efectiva com uma audiência mais larga» (Murdock e Golding, 1977: 37, citados por McQuail, 2000:85).

Referindo-se à preferência dos jornalistas por certas fontes de informação em detrimento de outras, Pires Leonardo (2004) estabelece uma dicotomia entre os discursos das fontes oficiais e de controlo social – entidades governamentais, tribunais, polícias – por um lado, e as «outras fontes» que abarcam os alunos, pais, docentes e seus representantes sindicais ou responsáveis escolares, por outro lado. Lembra que os media portugueses têm vindo a revelar «à opinião pública a existência de um mundo [escolar] totalmente diferente dos discursos oficiais» que procuram assegurar uma imagem oficial da violência escolar, com suporte nas estatísticas policiais, organizadas a partir das acções dos sujeitos, autores dos actos de violência, locais onde decorrem e respectivas sanções (Leonardo, 2004:3). Acredita que a representação oficial dessas acções é desconstruída, supõe-se que questionada pelo público, ao conhecerem-se outras imagens mais singulares de actores sociais que têm voz nos media, entre os quais se contam nomeadamente as vítimas de agressão no contexto escolar.

Recordemos João Correia (2000) que confirma a emergência de novas identidades sociais e culturais que podem tomar a palavra nos media para impor visões mais recentes do mundo e dar a conhecer os problemas da vida e defesa do reconhecimento de identidades excluídas. A formulação da agenda mediática, num pluralismo de relações sociais, favorece, do seu ponto de vista, uma «construção social da realidade com uma vocação ordenadora», dependente da aceitação da realidade por «públicos conflituais», construindo-se uma opinião pública através dos temas em agenda e das confrontações de interpretações entre os vários públicos – as audiências – que operam as suas escolhas programáticas (Correia, 2000:207-208).

Por fonte de informação, Nelson Traquina (2001:104-105) entende qualquer pessoa que o jornalista observa ou entrevista e que lhe fornece informações, podendo essa pessoa estar potencialmente envolvida nos eventos, ser conhecedora ou testemunha de determinado acontecimento ou assunto do quotidiano. Desse conjunto de fontes participantes na produção de notícias, Ericson (1991) distingue as três seguintes categorias:

As fontes oficiais produzem informação de acordo com o seu estatuto de autoridade e grau de envolvimento num acontecimento;

Os jornalistas produzem informação em função do seu vínculo a empresas jornalísticas com o recurso a fontes autorizadas;

Os consumidores produzem informação através do que leram, ouviram ou do que viveram na sua experiência diária.

Por sua vez, Nuno Crato (1992) propõe uma tipologia assente na distinção entre fontes

internas e fontes externas à publicação, considerando-as essenciais para a produção de

trabalhos de qualidade e jornalisticamente relevantes. Por fontes internas entende, em primeiro lugar, os jornalistas que, através da investigação e da observação directa, se transformam eles próprios em fontes, quando escrevem ou relatam os acontecimentos. O

arquivo ou centro de documentação do jornal constitui igualmente uma fonte de informação

interna de grande importância, na medida em que permite contextualizar acontecimentos e mesmo impregnar alguns deles de maior sentido de que, isoladamente, não gozariam. São também fontes internas as delegações e os correspondentes situados em cidades importantes afastadas da sede, ou mesmo no estrangeiro, dependendo da dimensão do órgão de informação.

As fontes externas ao jornal são as empresas noticiosas, como agências e outros media. As agências são empresas especializadas na produção de notícias e imagens destinadas a serem comercializadas por mais meios de informação, designadamente as televisões, jornais e rádios, que depois podem editá-las ou publicá-las tout court, ou então proceder à sua reformulação para a confecção e alinhamento de uma agenda rica e equilibrada, explica aquele autor.

As entidades oficiais – Assembleia da República, ministérios, juntas de freguesia, câmaras municipais, forças policiais – também se constituem como fontes, quer na produção de informação, sob a forma de press releases ou outro formato que enviam às redacções, quer pelos acontecimentos potencialmente noticiáveis – semana presidencial, sessões de Câmara, debates no Parlamento. Os jornalistas costumam acompanhar de perto eventos desta natureza, ora deslocando-se aos referidos locais, ora usando informação documentada em suporte digital. As fontes oficiais e grupos de pressão concorrem para um mercado de

consumidores cada vez maior e mais eclético, permitindo captar audiências heterogéneas do público em geral.

As fontes não oficiais são todas as instituições não estatais que produzem um número apreciável de acontecimentos ou notícias que desejam ver divulgados pelos media; os

contactos pessoais do jornalista, cuja confiança é conquistada ao longo do tempo; e o público em geral que obtém expressividade regular através de cartas, alertas, telefonemas

anónimos. É também importante para um jornalista uma lista de números de telefone – a

volta – com os contactos de hospitais, corporações de bombeiros, aeroportos e forças

policiais – PSP, GNR, Brigada de Trânsito, Guarda-fiscal, Polícia Judiciária, Polícia Municipal, etc., para averiguar as novidades em termos de apreensões, incêndios, acidentes, rixas, violência ou outros incidentes.

Nelson Traquina (2001) considera que a paciência, compreensão e capacidade de conversação sobre interesses comuns são alguns aspectos que o jornalista terá de desenvolver habilmente junto das fontes para criar um clima de confiança, regendo-se pelos seguintes critérios, com o intuito de avaliar a fiabilidade da informação obtida: