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Responsabilidade pela troca de bebês

4.7 Responsabilidade pelo fornecimento de hospedagem

4.7.1 Responsabilidade pela troca de bebês

É fato notório que a criança, logo após o nascimento, é submetida a limpeza e vestida, em seguida recebe uma pulseira com o nome da mãe, sendo esse o meio mais comum de identificação. Não mantém contato direto com a mãe, pois todos os cuidados,

337 “Ação de indenização. Casa de saúde. Prestação de serviços médicos. Hospedagem do paciente. Relação

de consumo. Responsabilidade objetiva. Morte do paciente. Nexo causal. Não-comprovação. Inexistência do dever de indenizar. Afastada a discussão sobre a conduta culposa do nosocômio, persiste para o requerente da ação indenizatória a obrigação de comprovar a existência dos danos, assim como o nexo causal entre estes e o serviço prestado, porquanto tais fatos caracterizam-se constitutivos do seu direito − Demonstrado que a morte do paciente se deu em decorrência de sua debilidade física, impõe-se a improcedência do pleito indenizatório, porque inexistente o nexo causal entre a conduta omissiva da casa de saúde e o evento danoso.” (TAMG − Apelação Cível n. 413.769-7, Proc. n. 2.0000.00.413769-7/000, 8ª Câmara Cível, rel. Mauro Soares de Freitas, j. 02.04.2004, publ. 21.04.2004).

338 “Direito civil. Suicídio cometido por paciente internado em hospital, para tratamento de câncer. Hipótese

em que a vítima havia manifestado a intenção de se suicidar para seus parentes, que avisaram o médico responsável dessa circunstância. Omissão do hospital configurada, à medida que nenhuma providência terapêutica, como a sedação do paciente ou administração de antidepressivos, foi tomada para impedir o desastre que se havia anunciado. O hospital é responsável pela incolumidade do paciente internado em suas dependências. Isso implica a obrigação de tratamento de qualquer patologia relevante apresentada por esse paciente, ainda que não relacionada especificamente à doença que motivou a internação. Se o paciente, durante o tratamento de câncer, apresenta quadro depressivo acentuado, com tendência suicida, é obrigação do hospital promover tratamento adequado dessa patologia, ministrando antidepressivos ou tomando qualquer outra medida que, do ponto de vista médico, seja cabível. Na hipótese de ausência de qualquer providência por parte do hospital, é possível responsabilizá-lo pelo suicídio cometido pela vítima dentro de suas dependências. Recurso especial não conhecido.” (STJ − RESP n. 494206/MG, 3ª Turma, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, rel. p/ acórdão Min. Nancy Andrighi, j. 16.11.2006, DJU, de 18.12.2006).

339 “Civil. Reparação de danos. Serviços médico-hospitalares inadequados. Erro médico. Indenização devida.

Valor. Redução. 1.Comprovada a negligência no atendimento prestado à paciente pelo profissional médico, bem como a deficiência nos serviços prestados pelo hospital, dando causa à morte e o desaparecimento do feto, tem-se como procedente o pedido de reparação dos danos. 2. Sendo excessivo o valor fixado na sentença, dá-se parcialmente provimento ao recurso da ré para reduzi-lo a patamar razoável a proporcional à gravidade e extensão da lesão. 3. Recursos dos autores e da ré parcialmente providos.” (TJDF − Apelação Cível n. 20010110794452APC, 5ª Turma Cível, rel. César Loyola, j. 29.11.2006, DJU, de 15.03.2007 p. 472).

como banho, troca de roupas, medicação e outros são realizados pelos funcionários do hospital, que devem zelar para que o recém-nascido permaneça incólume.

Jurandir Sebastião340 ensina que a responsabilidade pela guarda e identidade dos bebês é do hospital, podendo ser elidida mediante a prova de que todos os cuidados foram cumpridos e que o fato aconteceu por culpa da própria família, ou por motivo de força maior ou decorrente de caso fortuito.

No caso, a norma a ser observada é o artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, que estabelece que “o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos”.

Para tanto, basta a demonstração do dano e do nexo de causalidade para que a indenização seja devida, não se indagando acerca da culpa do agente.

Antonio Chaves341 relata troca de bebês noticiada pelo jornal O Estado de S.

Paulo de 05.11.1985, descoberta após sete anos de nascimento de duas gêmeas univitelinas, no Hospital Central, em São José dos Campos, possivelmente por erro de bercário. As gêmeas nasceram de 7 meses, mas não eram nada parecidas, uma loira e outra morena, fato que causou estranheza entre os familiares. Sete anos depois, o tio das meninas encontrou uma menina idêntica à sua sobrinha e, ao aproximar-se, viu tratar-se de outra menina. Investigando o caso, o tio descobriu que a menina havia nascido no mesmo dia, também de 7 meses e no mesmo hospital. A mãe das gêmeas propôs ação para reaver a menina.

“Troca de bebês ocorrida há 21 anos resulta em condenação do hospital”, foi manchete do site Espaço Vital, em 1º de julho de 2005342. Segundo relata, o Hospital

Arquidiocesano Cônsul Carlos Renaux, da cidade de Brusque (SC), foi condenado a pagar

340 SEBASTIÃO, Jurandir, Responsabilidade médica: civil, criminal e ética, cit., p. 189. 341 CHAVES, Antonio, Responsabilidade civil, cit., p. 145.

uma indenização de R$ 60 mil a um casal cujo filho foi trocado na maternidade logo após o nascimento, em episódio ocorrido há vinte e um anos, mas só descoberto recentemente através da realização de exame de DNA. O juiz Cláudio Valdyr Helfenstein registrou em sua sentença: “Todas as provas produzidas nos autos convergem em um único sentido: de que a troca das crianças ocorreu logo após o nascimento, antes mesmo da identificação, de sorte que o nome da mãe de cada uma foi erroneamente inscrita na pulseira colocada no braço dos bebês”.343

Situação semelhante foi enfrentada pela 12ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Passados quatro anos, os autores vieram saber que seu filho havia sido trocado na maternidade, causando dor e sofrimento a todos, razão porque buscaram ser indenizados. A troca foi expressamente reconhecida pelo hospital, que afirmou que provavelmente o erro aconteceu no berçário, num momento de banho ou outros cuidados. O Tribunal condenou o hospital no pagamento de 100 salários mínimo a titulo de danos morais aos três envolvidos (pai, mãe e criança), além de manter a obrigação de o hospital prestar atendimento psicológico aos autores, quando solicitado, dentro do prazo de cinco anos.344

Os fatos são tristes, lamentáveis para todos os envolvidos, além de causar perplexidade a qualquer leitor.