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Responsabilidade por infecção hospitalar

4.7 Responsabilidade pelo fornecimento de hospedagem

4.7.2 Responsabilidade por infecção hospitalar

Situação que tem sido bastante vivenciada pela jurisprudência brasileira e vem assombrando os hospitais diz respeito à infecção hospitalar.

343 Proc. n. 01103006844-5.

344 “Ação de indenização. Dano moral. Troca de bebês no hospital em seguida ao nascimento. Negligência da

instituição. Dano moral caracterizado. Indenização devida. Restando comprovada a troca dos bebês e o nexo de causalidade entre o ato e o sofrimento suportado pelas vítimas, devida a indenização.” (TJMG − Apelação Cível n. 2.0000.00.489705-8/000, Proc. n. 2.0000.00.489705-8/000, rel. José Flávio de Almeida, rel. do acordão José Flávio de Almeida, j. 17.01.2007, publ. 27.01.2007). “Responsabilidade civil. Indenização por dano moral. Troca de recém-nascidos em berçário. Responsabilidade do hospital. Dano moral. Reconhecido o ilícito perpetrado pela casa de saúde demandada, consistente na troca dos recém- nascidos no berçário, impossível alicerçar o juízo de improcedência com fundamento na culpa das vítimas, já que esta não foi exclusiva, quiçá concorrente. Apelação provida.” (TJRS − Apelação Cível n. 70015619620, 5ª Câmara Cível, rel. Pedro Luiz Rodrigues Bossle, j. 23.08.2006).

Para se ter uma idéia da imensidão do problema, em 1990, mais de 1 milhão de brasileiros contraíram infecção hospitalar e 53 mil acabaram morrendo, conforme anuncia Kfouri Neto, que traz outro dado desanimador: “O problema existe em todos os hospitais, em qualquer país, incluindo-se os do primeiro mundo. O risco de infecção é inerente ao ato cirúrgico. Não existe índice zero de infecção. Por melhor que seja a desinfecção, alguns germes persistem – e quanto mais longa for a duração da cirurgia, maior o risco.”345

O Tribunal de Justiça de São Paulo explica que “infecção pós-operatória não significa erro médico, imperícia, imprudência ou negligência, revelando, como é sabido até por leigos, risco decorrente da própria cirurgia, quer como decorrência das condições do próprio cirurgiado, quer por fatores externos. Ademais, a infecção pode advir apesar das providências possíveis que possam ser tomadas”.346

A Portaria n. 930347 do Ministério da Saúde, de 27.08.1992, determina que todos os hospitais do país desenvolvam, individualmente ou por meio de consórcio, um conjunto de ações, com vistas à redução máxima possível da incidência e da gravidade das infecções hospitalares. Dentre essas ações, deverá ser criada Comissão de Controle de Infecções Hospitalares.

Segundo Irany Novah, “é de significativa importância para a segurança do hospital, em face da possibilidade de ações judiciais visando vultosas indenizações, a efetiva existência e funcionamento adequado dos organismos criados pela Portaria n. 930/92, pois é o mesmo artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor que, nos itens do seu parágrafo 1º, dá-nos a medida de defesa quando estabelece como condição excludente da caracterização de serviço defeituoso, condições relevantes a respeito do resultado e dos riscos que razoavelmente dele se esperam”.

E conclui o autor afirmando que “a CCIH e o SCIH, através de dados confiáveis, demonstrariam que o risco de se adquirir infecção hospitalar é um risco razoavelmente esperado em quaisquer procedimentos que envolvam cirurgias, sondas, vesicais, cateteres

345 KFOURI NETO, Miguel, Responsabilidade civil do médico, 4. ed., cit., p. 135 e 139.

346 TJSP − Apelação Cível n. 77.492.4/7/SP, 5ª Câmara de Direito Privado, rel. Silveira Neto, j. 07.10.1999. 347 A Portaria n. 930 revogou a Portaria n. 196, de 24.06.1983.

venosos e cânulas, além de outros enumerados pelos tratados a respeito do assunto e que, tendo o hospital tomado as providências exigidas por lei, para o controle da infecção hospitalar (já que não existe a possibilidade de eliminá-la), não haverá dano indenizável”.348

Nessa mesma linha temos Jurandir Sebastião que, após longa exposição sobre o tema, registra que a “infecção hospitalar”, quando ausente a culpa do estabelecimento hospitalar (o que equivale à inexistência de defeito do serviço), não gera o dever de indenizar.349

Na realidade, para nós pouco importa a análise referida pelos precitados autores, pois o hospital tem o dever de resguardar o paciente incólume e, assim não procedendo, responde objetivamente pela infecção hospitalar, pois ela decorre do fato da internação e não da atividade médica em si350. O hospital somente não é responsável se ficar provado que a infecção foi decorrente da culpa do próprio paciente, como, por exemplo, quando o paciente já portava a infecção antes da internação.

Registra-se, a título de informação, que o que mais causa infecção é a falta de adequada assepsia, que consiste no conjunto das medidas adotadas para evitar a chegada de germes a local que não os contenha. Aqui diversas medidas de higiene devem ser rigorosamente tomadas, porém, por mais eficazes que sejam, não têm o condão de eliminar a hipótese de infecção, mas podem reduzi-la sobremaneira. Devemos nos reportar ao primeiro capítulo, quando tratamos das barreiras defensivas.

348 MORAES, Irany Novah, Erro médico e a justiça, cit., p. 324. Quanto às siglas CCIH e SCIH, explica o

autor que “para o planejamento e definição das diretrizes de ação, no controle das infecções hospitalares, deverá ser criada a CCIH – Comissão de Controle de Infecções Hospitalares −, à qual compete:definir diretrizes para a ação de controle; ratificar o programa anual de trabalho; avaliar o programa, para eventuais correções; ser o órgão de integração com as chefias e direção do hospital; promover o debate, na comunidade hospitalar, sobre a execução do programa e sobre a situação do controle das infecções hospitalares” (Ibidem, p. 323-324, grifamos).

349 SEBASTIÃO, Jurandir, Responsabilidade médica: civil, criminal e ética, cit., p. 177.

350 “Responsabilidade civil. Consumidor. Infecção hospitalar. Responsabilidade objetiva do hospital. Artigo

14 do Código de Defesa do Consumidor. Dano moral. Quantum indenizatório. O hospital responde objetivamente pela infecção hospitalar, pois esta decorre do fato da internação e não da atividade médica em si. O valor arbitrado a título de danos morais pelo Tribunal a quo não se revela exagerado ou desproporcional às peculiaridades da espécie, não justificando a excepcional intervenção desta Corte para revê-lo. Recurso especial não conhecido.” (STJ − RESP n. 629212/RJ, 4ª Turma, rel. Min. Cesar Asfor Rocha, j. 15.05.2007, DJU, de 17.09.2007).

Sálvio de Figueiredo Teixeira, analisando o assunto, informa que “tratando-se da denominada infecção hospitalar, há responsabilidade contratual do hospital relativamente à incolumidade do paciente, no que respeita aos meios para seu adequado tratamento e recuperação, não havendo lugar para alegação da ocorrência de ‘caso fortuito’ uma vez ser de curial conhecimento que tais moléstias se acham estreitamente ligadas à atividade da instituição, residindo somente no emprego de recursos ou rotinas próprias dessa atividade a possibilidade de prevenção. Essa responsabilidade somente pode ser excluída quando a causa da moléstia possa ser atribuída a evento específico e determinado”.351

Mesmo que o hospital esteja em dia com todas as normas exigidas pelo Ministério da Saúde, elas têm efeito meramente preventivo, mas não eliminatório. O risco então é do hospital, que desde a sua criação sabia de tais possibilidades e assim mesmo prosseguiu no seu intento. Aliás, existe o risco do negócio em quase todas as áreas, e com o hospital não é diferente. O que não pode ocorrer é se transferir tal risco ao paciente, que em nada contribui para a sua ocorrência.

Apenas como de prevenção, cita-se medida tomada em alguns hospitais da Alemanha, que são relatas por Irany Novah352. Os hospitais alemães criaram um pavilhão reservado aos doentes infectados, onde eles ficam isolados e somente nele há prescrição de antibióticos. No outro, todos que trabalham no hospital passam por rigorosos exames para saber se possuem algum foco infeccioso e não há prescrição de antibióticos. Segundo informa, com esse procedimento foi possível baratear o tratamento, pela diminuição do uso de antibióticos e, principalmente, houve redução da infecção hospitalar.

4.7.3 Responsabilidade pelo material utilizado na prestação de