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4 OFICINÃO FINOS TRAPOS: A CRIAÇÃO COLABORATIVA EM PERCURSOS

4.2 PERSPECTIVA ARTÍSTICA – O INCENTIVO A POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS

4.2.6 Resultados alcançados e perspectivas futuras para Oficinão

Ainda que com alguns complicadores, como os índices de evasão verificados em algumas cidades, a realização do Oficinão Finos Trapos como projeto independente em 2013 reafirmou os benefícios proporcionados por essa ação de formação, o que fortaleceu no grupo a vontade de dar continuidade ao projeto. Nesse sentido, estamos reunindo esforços com vistas a que a ação se torne um projeto calendarizado, inclusive, com perspectivas de ampliação de sua abrangência para outros estados da região nordeste.

Em todas as edições já realizadas o formato dessa ação proporcionou benefícios aos participantes na esfera individual, como o aprendizado de procedimentos criativos, o fomento da sua autonomia enquanto artistas e a experimentação de um modelo de criação compartilhada. Durante o percurso, os exercícios realizados também exibiram as fragilidades e potencialidades individuais dos participantes, algo que inclusive era discutido durante as rodas de avaliação e reflexão. Assim, ao lidar com os desafios propostos, com um modelo de criação que se revela durante o percurso e que assume o ato criativo como uma experiência coletiva, diversas apetências e competências foram suscitadas.

No que diz respeito aos benefícios coletivos, percebemos o fortalecimento dos grupos das cidades visitadas através da participação de seus membros no Oficinão. O primeiro deles foi o incentivo à sistematização de suas práticas, a partir da análise das estratégias de registro e reflexão sobre a prática adotados dentro do Finos Trapos. A instrumentalização dos membros com conhecimentos sobre gestão e administração teatral também foi algo de grande contribuição verificado durante o curso. Alia-se a isso o fomento ao surgimento de novos grupos e a agregação de novos componentes aos coletivos já existentes a partir do encontro proporcionado pelo Oficinão.

A experiência também gerou uma aproximação entre os artistas das cidades circunvizinhas, característica peculiar ao Oficinão 2013. Em Juazeiro, Jequié e Ilhéus, ao

contemplar participantes de outras cidades, o Oficinão possibilitou a ampliação da rede de contatos entre artistas de um mesmo Território de Identidade, o que poderá acarretar futuramente na realização de ações conjuntas como, por exemplo, o intercâmbio entre os grupos e artistas da região, a organização de festivais e mostras regionais, a circulação dos espetáculos produzidos nas cidades, a troca de saberes entre os membros daqueles coletivos, dentre outras.

O Oficinão tornou possível então a formação de uma rede de articulação entre esses artistas que poderão suscitar projetos ou intervenções politico-culturais nas cidades, o que contribui para o desenvolvimento da cena local.

O fortalecimento e aprimoramento desse espaço de intercâmbio dentro da oficina é outra perspectiva a ser explorada e aprofundada nas próximas edições. Na avaliação das experiências foi consenso tanto entre os participantes quanto entre os monitores que a troca de experiência e a criação de um espaço de diálogo entre os artistas locais foram um dos mais importantes benefícios proporcionados pelo curso. Como isso não estava em primeiro plano dentro da proposta pedagógica, procuraremos nas próximas edições elaborar estratégias para potencializar ainda mais essa qualidade verificada.

Ainda em relação à metodologia adotada no curso, um dado a ser debatido e aprimorado é a ênfase/ampliação do processo colaborativo para as outras funções da engenharia teatral (cenografia, indumentária, trilha sonora, iluminação, etc.). Como já dito, focávamos a colaboração principalmente no tripé dramaturgia, encenação e interpretação, sendo as demais funções discutidas sem maiores aprofundamentos. Isso condicionava, inclusive, o perfil dos participantes que selecionávamos.

É importante destacar que essa abordagem não advinha de uma limitação do grupo no que diz respeito à apropriação dos princípios e conteúdos que marcam o estudo das demais funções. Como já posto, dentro do grupo cada membro se especializa em uma área específica a partir de sua zona de interesse10 e da sua formação acadêmica. Essa postura foi muito mais uma forma encontrada para aperfeiçoarmos o tempo de criação, uma vez que dentro do Oficinão este se constitui nosso principal desafiante.

Essa reflexão sobre a colaboração em outras funções surge a partir dos apontamentos dos alunos na edição de 2013, que nos processos avaliativos indicaram como

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Eu, na dramaturgia e pedagogia; Frank Magalhães, na encenação, preparação do ator e iluminação; Polis Nunes, na assessoria de comunicação, indumentária e produção; Thiago Carvalho, na produção executiva; Tomaz Mota, na trilha sonora e preparação vocal; e Yoshi Aguiar, na cenografia, adereços e programação visual. Para outras funções, a exemplo da coreografia, figurino, fotografia etc., sempre tivemos o aporte de finos colaboradores especialistas que trabalham em parceria com os membros do grupo.

sugestão incorporarmos um módulo direcionado às áreas técnicas. Ainda que essa iniciativa advenha de uma observação pragmática – a falta de cursos de formação e capacitação focalizados nesses conteúdos –, suas reinvindicações lançam luz novamente ao debate dentro do Finos Trapos sobre a metodologia adotada: Nos equivocamos ao substituir o Módulo sobre “Elementos do Teatro” da primeira edição? Realizar um processo tão complexo num curso de 40 horas, ainda que sejam oito monitores em sala, é realmente suficiente? Como administrar a questão do tempo no contexto do Oficinão? Como ampliar o debate e o compartilhamento de ideias para as demais funções e sanar as limitações de ordem de produção dentro do projeto?

Considero que a revisão sobre a viabilidade de um módulo que englobe outras funções da engenharia teatral prescinde ainda de uma reflexão dentro do grupo sobre os princípios da dramaturgia da sala de ensaio, pois esta, como sistematizada por Roberto de Abreu, em sua essência também prioriza a colaboração no tripé ator, dramaturgo e encenador. Voltando aos benefícios pedagógicos, os resultados da experiência indicam que o Oficinão Finos Trapos realmente se firma como uma ação de teatro vocacional, uma vez que proporciona troca de saberes entre todos agentes envolvidos.

Para os participantes, cada edição do Oficinão resultou em reciclagem e o contato com ferramentas metodológicas vanguardistas. Para o grupo, além da troca de conhecimento entre instrutores e participantes, a realização da ação proporcionou o seu fortalecimento enquanto coletivo.

Após a aventura de criação de “Berlindo”, que se demonstrou um produto cênico frágil – reflexo do período de transição pelo qual o grupo passava – o arsenal de provocações poéticas vivenciados com os participantes do Oficinão contribuiu para elevar a autoestima do Finos Trapos, levando-o a resgatar o seu potencial criativo e de produção. Em Salvador e nas cidades do interior, regressávamos da finalização de cada edição com inúmeras inquietações poéticas e com a sede de mergulharmos em mais um processo criativo, algo que havia se perdido após a aventura de “Berlindo”. Isso indica que ao vivenciar o processo colaborativo de criação com os participantes, o grupo também partia rumo à aventura de redescoberta de si mesmo.

O curso também solidificou no grupo a elaboração de ferramentas metodológicas que poderão ser utilizados não somente no Oficinão como também em qualquer outra ação pedagógica. Instrumentos como, por exemplo, a sondagem de conhecimentos prévios sobre o tema da oficina – através de formulários que auxiliam na análise curricular, exercícios de integração a serem realizados nos primeiros encontros ou comentários em roda de avaliação – auxiliavam os instrutores a escolherem a abordagem mais adequada para compreensão dos

princípios estruturantes da proposta, o que contribui para o bom andamento da ação pedagógica independentemente do conteúdo a ser desenvolvido.

Ademais, cada experiência desvelou para o Finos Trapos o potencial criativo dos artistas de regiões que ainda não tinham sido visitadas pelo grupo. Os encontros resultavam em troca de saberes, poéticas, e, principalmente, na ampliação do imaginário cultural sobre o teatro baiano.

Uma vez que as edições do Oficinão Finos Trapos foram predominantemente executadas no interior do Estado da Bahia, sendo somente a edição de 2012 em Salvador, acreditamos no seu caráter multiplicador, o que era verificável tanto na filosofia que nós idealizadores visávamos difundir quanto na forma em que a metodologia era conduzida. Ações dessa envergadura geram impactos significativos na cultura dos contextos culturais regionais, na medida em que os artistas – tanto os iniciantes quanto os mais experientes – que participam desses projetos são antes de tudo agentes culturais.

Uma marca recorrente das edições do Oficinão no interior foi que a maioria dos artistas vocacionados selecionados deram os primeiros passos na arte de representar no seio de um grupo local ou da região, ainda que boa parte não integrasse mais esse ou outro coletivo naquele momento. Nesse sentido, houve também muitos reencontros durante o curso, inclusive de artistas da cidade que realizavam seus trabalhos isoladamente sem pouco ou nenhum contato com outros grupos.

Finalmente, como se trata de uma ação de formação, os resultados não podem ser calculados apenas em curto prazo. Como no já delineado quadro animador de 2008, hoje já mensurável depois de cinco anos de sua realização, esperamos que em médio prazo o estado possa colher os frutos das sementes plantadas com os Oficinão realizados em 2012 e 2013.

Depois dessas cinco experiências, primeiras de muitas que virão mais adiante, nós do grupo de teatro Finos Trapos seguimos acreditando no teatro de grupo e na produção colaborativa como uma metodologia instigante e corporativista de se fazer teatro. E que incentivar e multiplicar a prática do teatro de grupo é mais do que uma forma de exercer um ofício, é compartilhar do que há de mais essencial na arte teatral: o estar com o outro, a necessidade do outro.

Contudo, será que as experiências aqui descritas se configuram como um caso pontual e particular de um grupo idealista baiano? Como a experiência do Oficinão Finos Trapos dialoga com o contexto da Pedagogia do Teatro de Grupo?