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RESUMO DA INFORMAÇÃO RECOLHIDA

No documento Criação livre e criação dedicada (páginas 178-185)

As perguntas do inquérito tratam os temas deste capítulo que se re- sumem em três temas: a relação entre o designer e o cliente, a im- portância do cliente na obra final e a importância da encomenda nos projectos de comunicação.

Importante é ressalvar que este método assente nas atitudes dos designers inquiridos enferma de limitações de entre as quais se des- taca o facto de se recolherem informações dadas pelos sujeitos sobre o modo como eles percepcionam/avaliam o seu comportamento, não havendo lugar a uma aferição do comportamento propriamente dito; As perguntas 4, 5, 6, 14, 20 e 21 construíam o corpo central deste inquérito e visavam perceber se há ou não um reconhecimento do papel estruturante dos clientes na construção das soluções de co- municação. Através das três primeiras perguntas é possível fazer um retrato sobre a percepção dos designers sobre o papel do cliente na obra final, confirmando ou desmentindo a ideia de uma relação de trabalho dinâmica, participada e construída por ambos. A maior parte dos inquiridos considera que a presença das ideias e vontade do cliente (ou de diferentes parceiros) no corpo do trabalho produzido é elevada, fruto de um diálogo e encarando o pedido como um pro- blema de comunicação, que é aberto pelo diálogo desde o primeiro momento num espírito de diagnóstico e de construção de soluções. Os designers trabalham fundamentalmente com clientes (públicos e privados) e são eles a sua fonte de rendimentos principal, com- plementada por vezes com outras actividades (lectiva por exemplo). Confrontando os resultados obtidos no início do inquérito com si- tuações em que o trabalho é proposto e não pedido, os designers reconhecem que a participação do cliente na autoria da obra é im- portante. O peso das respostas não permite argumentar claramente a favor do reconhecimento da co-autoria do cliente nos trabalhos que ele não começou por pedir, havendo uma distribuição relativa- mente homogénea das respostas pela gradação da escala proposta (entre irrelevante e determinante).

As perguntas 7, 8, 9 e 10 têm como objectivo averiguar o posicio- namento ético dos designers dado que, na ausência de um instru- mento regulador, o designer poderia perfeitamente actuar visando exclusivamente os seus interesses. Mas, de facto, percebemos que mesmo sem essa tutela há uma consciência de missão e valores e o foco principal é a assumção das preocupações do cliente. As altera-

ções económicas recentes não alteraram esta postura, mantendo-se a preocupação na resposta ao problema de comunicação do cliente. As alterações que responderam às mudanças sociais foram no sen- tido de fazer um esforço para uma maior rentabilização do desem- penho profissional, sacrificando a inovação.

As questões 11, 12 e 13 avaliam a criação de um retrato social do encomendador e, de certo modo, aferiam a sua importância. São perguntas que visam a criação de uma imagem sobre a relação que se estabelece entre as duas partes, dado que para a criação de um trabalho participado e feito em equipa é necessário criar pontes de diálogo, entendimento e empatia. Conclui-se que para um diagnós- tico produtivo que venha a gerar soluções positivas para o cliente, a relação entre ambos é fundamental. Para isso muito contribui o es- tabelecimento de laços que passam para além do vínculo contratual. Os designers tendem a ter uma enorme abertura na avaliação social e psicológica dos clientes. Os clientes são muito mais do que parcelas contabilísticas e tendem a ter uma representação pessoal e/ou física e/ou psicológica nas empresas fruto do envolvimento que com eles é criado.

Conhecendo o actual contexto de trabalho, em que o designer deixou de poder ter um papel passivo e expectante para assumir papel activo na angarição de trabalhos e na montagem de propostas e projectos para clientes, as perguntas 15 a 19 têm como objectivo enquadrar essa realidade no processo da encomenda e clarificar o que é uma encomenda (quando não há um encomendador). Confirma-se que o paradigma mudou e que grande parte do tra- balho feito profissionalmente é auto-proposto, ou seja, parte da identificação por parte do designer de uma oportunidade/ problema. O peso percentual do trabalho pro-activo, situa-se na ordem dos 30%. Esta pro-actividade está relacionada com a ideia de diagnóstico, ou seja, preparação do projecto. Sabemos todos que, em todas as profissões, o valor da execução/ resolução é menor do que o do diagnóstico. Quando temos um pro- blema de saúde, aquilo que valorizamos é a capacidade de um pro- fissional ser certeiro no diagnóstico e na profilaxia. O melhor trata- mento é uma consequência natural – quase técnica – do diagnóstico. O inquérito revelou a importância deste processo também no design, pois a identificação de uma oportunidade tem um peso estrutural no trabalho do designer, sendo que hoje em dia este processo já não é desenvolvido apenas a pedido. Neste sentido, é curioso verificar que os concursos representam uma percentagem muito baixa do trabalho

dos designers. Sendo uma prática corrente nas grandes empresas (quando estão em jogo valores elevados) revelam-se pouco produ- tivos a uma escala média e pequena. Pode-se admitir com facilidade que o distanciamento que os concursos impõem entre o encomen- dador e o trabalho e a impossibilidade de construir soluções con- juntas (somados à pouca confiança e magros retornos) afastam as empresas de design e os designers individuais destes contextos que têm, genericamente, um peso baixo na facturação das empresas.

SUMÁRIO

Este capítulo procurou rever as relações entre designers e enco- mendadores, unidos pela encomenda, a partir da prática profis- sional recente.

Recorreu-se primeiramente a um estudo sobre a identidade profis- sional dos designers de forma a construir um quadro de referências sobre este grupo sócio-profissional, sem regulação por uma orga- nização que estabeleça o âmbito da actividade, código deontológico, legislação aplicável ao enquadramento da actividade, tabela de cálculo de honorários, responsabilidade civil, direitos de autor, etc. Reflectiu-se sobre o conhecimento em design, criticando a percepção (dominante) de que a profissão nasce da separação entre quem projecta e de quem executa.

Analisam-se as referências que levaram à escolha dos métodos mais apropriados para a recolha de informação. Realizaram-se duas en- trevistas não estruturadas a dois encomendadores, um de uma en- tidade pública e outro de uma empresa privada, com vista a poder perceber a visão destes dois profissionais sobre a relação que foram tendo com os designers, ajudaram a esclarecer um olhar de fora para dentro e foi possível concluir sobre a noção de projecto participado dos dois entrevistados.

Elaborou-se um questionário para fazer recolher informação sobre a profissão, de dentro para fora, para caracterizar olhares que são convergentes sobre a encomenda e a relação entre encomendador e designer. A opção metodológica recaiu sobre um formato de amos- tragem não probabilística, intencional, por julgamento. Os resultados que se apresentaram são esclarecedores, permitindo concluir o seguinte: 1. A maior parte dos inquiridos considera que a presença das ideias e vontade do cliente (ou de diferentes parceiros) no corpo do trabalho produzido é elevada;

2. Os designers trabalham fundamentalmente com clientes (públicos e privados) e são eles a sua fonte de rendimentos principal.

3. Os designers têm forte consciência social e sentido de missão. O seu foco principal é integrar as preocupações dos clientes e cumprir os seus objectivos.

4. Os laços de partilha de informação e envolvimento entre designers e clientes ultrapassam a vinculação contratual.

5. parte do trabalho feito profissionalmente é propositiva: parte da identificação por parte do designer de uma oportunidade/problema entre designers e clientes ultrapassam a vinculação contratual.

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REPENSAR A TEORIA DISCIPLINAR À LUZ DE

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