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A VIAGEM DA PALAVRA DESIGN

No documento Criação livre e criação dedicada (páginas 62-70)

Como vimos, a expressão Design de Comunicação está envolta numa neblina de significação produzida pela erosão que resulta do uso excessivo no espaço público. A sobrevalorização do design levou a que em Inglaterra, França, Espanha, França e os Estados Unidos se criasse uma espécie de star system para os designers, num processo muito próximo ao de alguns círculos artísticos contemporâneos (e não só). A palavra design é nova no vocabulário português. Os consulentes do Grande Vocabulário da Língua Portuguesa, editado em 1999, não a encontrarão. Mesmo havendo cursos de design em Portugal desde 1976, com a palavra a aparecer recorrentemente na comu- nicação social, ficou fora da colheita lexical de José Pedro Machado, como já tinha sido excluída, embora compreensivelmente, na edição de 1977. A omissão é inexplicável na revisão mais recente do seu dicionário etimológico (Machado, 2003b); e não é por ser um estran-

geirismo, porque o autor adverte no prefácio que “não podemos nem devemos evitar a presença de estrangeirismos que, apesar de como tal reconhecidos, não deixam de andar integrados na lingua- gem portuguesa de todos os dias”(Machado 1999, p XI).

No mesmo ano foi lançada uma revisão da Enciclopédia Verbo

Luso-Brasileira de Cultura (edição do Século). Incompreensivel-

mente, também não aparece na primeira edição da Grande Enci-

clopédia Portuguesa e Brasileira que acabou de ser publicada em

1960 (1936 — 1960); mas no quarto volume de atualização de 1983 esclarece as palavras design e designer referenciadas como

Vocábulos anglo-saxónicos, progressivamente divulgados nos países industrializados para designar atividades principalmente relacionadas com a produção de artefactos com recursos industriais, quer no âmbito do equipamento (móveis, ferramentas, utensílios...) quer no âmbito da comunicação (livros e jornais, cartazes e tabule- tas, cinema e televisão. (Correia et al. 1983, p. 132)

refere ainda que

um conceito amplo de design abrange, no entanto, todos os processos de desenvolvimento de uma resposta (concretizada em termos de um artefacto ou de um enunciado de um sistema) a partir do reconhecimento de uma situação de carência ou insatisfação. (Correia et al. 1983, p. 132)

O texto, provavelmente escrito pelo arquiteto Sena da Silva, reco- nhece que é uma prática antiga (aliás uma das ilustrações escolhidas para acompanhar a entrada é da pirâmide de Keops) e que, para re- mendar o desgaste de algumas palavras pelo uso e pelas práticas, foi necessário renovar a palavra como resposta a uma renovação prática e de conceitos. A entrada de Ana Filipa Candeias para a Enciclopédia

Verbo Luso-Brasileira de Cultura, edição século xxi, é mais pobre,

fazendo uso de uma visão mais estreita de história e conceitos:

Nome de origem anglo-saxónica que descreve uma modalidade par- ticular do desenho, cujo emprego se generaliza na cultura europeia, a partir do final da II Guerra Mundial. Com efeito, esta disciplina que ao longo do séc. XX ganhou uma autonomia decisiva em relação ao desenho propriamente dito, distingue-se da raiz da primeira – ‘desenho’, ‘projecto’, ‘plano’ – de acordo com a especificidade da sua aplicação a determinados bens de uso corrente, produzidos em série, tendo em conta certos paradigmas de racionalidade, funcio- nalidade e finalidade. Neste sentido, o Design recobre também a tradução do seu sentido segundo, enquanto ‘desígnio’ ou ‘intenção’ (Candeias, 1999, p. 1393).

A entrada continua a desenvolver-se segundo uma perspectiva racionalista, não admitindo outra visão que não seja a do modernismo: “O design não pode, assim, ser entendido fora do quadro de refe- rência do modo de produção capitalista e industrial modern.”

(Candeias, 1999, p. 1393)

Eduardo Côrte Real em Disegno, Desegno, Desenho, Diseño, Design

(2010, p. 27 — 39) revê a viagem das palavras na origem do termo de-

sign. Em seguida, percorre-se o essencial dessa revisão. A palavra desenho, como hoje é entendida, tem pontos em comum com a

circonscrizione de Alberti (De Pictura, 1435, escrito em Latim, e

em Toscano em 1436), ou seja “o desenho dos limites”. Côrte-Real nota que a expressão latina do original de Alberti

“(...e)os que contra vituperabo quibus nhil artis nisi fortassis in lineamentis eluceat” (itálico nosso) é convertida para publicação em italiano como “(...e) biasimero quelli visi in quail vega arte niuna altra che sole o forse nel disegno” (itálico nosso)

(Alberti apud Côrte-Real 2010, p. 28)

passando assim lineamento a disegno. Côrte-Real situa o apa- recimento da palavra (escrita) desenho em 1548, com Francisco de Hollanda, por ter sido um dos primeiros a teorizar sobre o desenho (Disegno) na sua acepção atual e, principalmente, um

dos primeiros a publicar a sua teorização. O livro de Cenni- no Cennini Il Libro del’ Arte terá sido escrito entre o final do século xiV e o início do século xV usando a palavra Disegno para significar desenho mas também imagens mentais. O texto original terá sido editado pelo menos quatro vezes (1821, 1859, 1913 e 1932) e entre a sua produção e edição datam quase quatro séculos, pelo que é difícil ter uma ideia precisa sobre a significação preten- dida por Cennini para o termo. Como nota Côrte-Real, Disegno era também o centro do discurso em Due Lezione (1550) de Benedetto Varchi e no tratado de Antonio Francesco Doni, de 1549. Nas Vite de Vasari, um dos livros mais influentes no seu tempo, inicialmen- te publicado em 1550, introduz-se o esboço — schizzi — sob a alçada do desenho. Ao percebermos esta flexibilidade do uso da palavra nos textos clássicos podemos concluir que a palavra disegno durante o Renascimento pode significar design, trabalho criativo ou simplesmente desenho, de acordo com o contexto. Para Vasari, o design — entendido aqui como a forma como a comunicação é feita, o planeamento da imagem – é a estrutura da criação artística no sentido filosófico, o processo através do qual artista vê mentalmente (actuando como veículo divino) a ideia que irá representar. “A figura que desenha ou esculpe deverá reflectir tanto aquilo que vê como a forma perfeita que existe na sua cabeça” 17(Radice, 1983, p.19).

Para Hollanda ([1548] 1930) o esboço designa a primeira série de dese-

nhos feitos com a intenção de captar a essência do desenho final. Como Côrte-Real (2010) demonstra através desta investigação, o

disegno sai do rigor geométrico de Alberti (o livro explica o uso da

perspectiva Euclideana) para passar a ser uma primeira expressão de ideias. Depois de explicar que a

Ideia é a mais altíssima cousa na pintura que se pode imaginar dos entendimentos, porque como é obra do entendimento e do spirito convem-lhe que seja muito conforme a si mesma, & como isto tever, ir-se ha alevantando cada vez mais e fazendo-se sprito e ir-se-ha mizclar com a fonte e exemplar das primeiras ideas, que he Deos. (Hollanda [1548] 1930, p. 100).

Ao iniciar a transposição da ideia para a obra encontramos o uso do desenho — debuxo — com diversas acepções: projecto para e desenho:

Mas quem quizer saber em que consiste toda a sciencia e força d’esta arte que celebro, saiba que ella consiste toda no desenho, ou debuxo. (…) E digamos assi: logo como a idea está determinada e escolhida, como se quer pôr em obra, far-se-ha e pôr-se-ha logo em Desenho,

17

The figure he draws or carves must reflect both what he sees and the perfect form or design existing on his mind.

e primeiro que se este faça inda em sua perfeição, se faz o esquizo, ou modello d’elle. (…) isquizo são as primeiras linhas ou traços que se fazem com a pena, ou com o carvão, dados com grande mestria e depressa, os quaes traços comprendem a idea e invenção do que queremos fazer, e ordenão o desenho, mas são linhas imperfeitas e endeterminadas, nas quaes se busca e acha o desenho e aquillo que é nossa tenção fazer. (Hollanda [1548] 1930, p. 101).

Concordamos com a evidência aduzida por Côrte-Real (2010) que na

mente de Hollanda há uma acepção moderna da palavra que oscila entre o projecto e o desenhar desse projecto: o sentido do design. Assim, a palavra desenho instala-se na língua portuguesa indi- cando este sentido do desenhar o plano para: para a estrada, para o edifício, para o quadro. O livro usa ainda a palavra Desegnate, no original, posta na boca de Donatello como conselho a quem o procurava para melhorar as suas capacidades como pintor ou es- cultor. (Hollanda [1548] 1930, p. 102). É possível perceber que o sentido

maior atribuído à palavra pela referência a linhas e liniamentos referindo-se ao “perfil que rodeia a figura e a superficial da obra”

(Hollanda [1548] 1930, p. 103).

A entrada da palavra design no vocabulário português foi lenta, assim como também aconteceu noutros países industrializados. Os profissionais orientados para dar resposta às necessidades de produção de mensagens visuais desempenham, como adiante veremos, uma atividade antiga mas a construção da sua identidade e a generalização da profissionalização dos praticantes é recente. Em Inglaterra foram os commercial artists mas em francês falou-se de graphistes e de uma esthetique industrielle; os italianos alternam entre a palavra disegno industriale e design e em português também usámos o desenho industrial (nome do primeiro mestrado nesta área lançado pela Faculdade de Arquitectura do Porto em 1999) e artista

gráfico, mais tarde apenas gráfico, como refere Thomaz de Mello:

Julgo que o que vão ouvir se poderá chamar apontamento biográfico. Biográfico, por ser quase uma biografia, e biográfico por se tratar da vida de um gráfico, visto que a palavra “bio” serve para exprimir o sentimento de Vida.” (Thomaz de Mello 1989, p.27)

para designar os profissionais que emprestavam os seus talentos “artísticos” à criação de peças para comunicação comercial ou indus- trial. O desenho industrial era visto como um código partilhado por um grupo para produzir equipamentos e soluções para a indústria.

No mesmo artigo refere-se:

Procurando manter uma perspectiva histórica, devemos considerar como designers de comunicação os autores da pedra de Roseta e da Coluna de Trajano, e ainda os artistas que produzem os cartazes da Coca-Cola e os grafites de propaganda política. (Anon 1983, p. 136).

Mesmo olhando para a palavra que viríamos a importar, percebemos que nem sempre o significado actual está agarrado ao significante. A palavra design em inglês tem um campo de significação amplo, que abarca o projecto em conjunto com plano, motivo, enredo, intenção,

assinar, designar; só em 1922, segundo uma investigação de Steven

Heller (1996), William Addison Dwiggins introduziu uma expressão

para designar aquilo que ele próprio fazia. A palavra de Dwiggins servirá para designar o território onde muitos profissionais também operavam e ao qual faltava uma designação âncora: graphic design. Num artigo publicado a 29 de Agosto de 1922 no Boston Evening

Transcript, Dwiggins escreveu: “a publicidade é a única forma de

design gráfico que chega a casa de todos”. 18 Dwiggins (um dos mais

prolíficos teóricos da sua era) acabou por, no decorrer do artigo, usar o termo para se descrever a ele próprio: um graphic designer

(Heller, 1996). Antes de serem designers, os profissionais como

Dwiggins eram commercial artists, advertising artists e o design era uma applied art (para horror de alguns teóricos de referência, como Tomás Maldonado).

A ligação da palavra Desenho no contexto das artes surge em Portugal, pela primeira vez, no final do século xVii, ligada à ideia de projecto, no título da obra de Luís Serrão Pimentel, Methodo

Lvsitanico de desenhar as fortificaçoens das praças regulares, & irregulares, fortes de Campanha e outras obras pertencentes a architectura militar (1680), no sentido de executar o desenho, i.e., o

projecto. A partir do século xVi encontramos a mesma palavra com um destino curiosamente igual ao sentido actual de design:

"deixar uma marca distintiva, representar, designar; marcar (de ma- neira distintiva), representar, designar, indicar, designar; designar (para um cargo, para uma magistratura); ordenar, arranjar, dispor; marcar com sinal distintivo” (Machado 1977, p. 317, ).

Assim, o significado da palavra em 1500 e 1600 era próximo ao da interpretação dominante no Inglês moderno que adoptámos: deixar

uma marca distintiva, designar. Em Inglaterra, a palavra desenho

foi recebida através do francês no século xVii. Côrte-Real refere o di-

18

Advertising design is the only form of graphic design that gets home to everybody.

cionário de Robert Cawdrey de 1604 (o primeiro dicionário de língua inglesa conhecido) onde figuram as palavras “deseigne, deseignment e designe. [fr] deseigne, (*synonyms*) an appoynting how any; [fr] deseignment, thing shall be done. (*synonyms end*) [fr] designe, to marke out, or appoint for any purpose.” (Cawdrey apud Côrte-Real 2010)

O inglesamento de palavras francesas (provindas do italiano/latim) no campo das artes, não é um fenómeno raro. Na música, por exemplo, é comum a adopção de expressões italianas (presto, allegro, andante,

pesante, da capo) e por isso não é de estranhar que os ingleses qui-

sessem adicionar ao drawing as especificidades que estas palavras continham no meio artístico. O mesmo artigo nota que em Inglaterra anglicizou-se desegno com o sentido de planos para, projecto para. Este processo é claro na consulta ao dicionário etimológico de 1721 de Nathan Bailey (Universal Etymological English Dictionary), feita por Côrte-Real: as palavras Designe, Deseignment e Deseign desapareceram da língua inglesa e reuniram-se na palavra Design. Simultaneamente, a pouco e pouco, a palavra desegno transfor- mou-se em desenho em Portugal, significando o mesmo que em latim. No dicionário etimológico de José Pedro Machado (1977) o desenho

é um substantivo regressivo da palavra desenhar. Os espanhóis preferiram adjudicar diseño a design e dibujo (o noso debuxo que caiu em desuso) para desenho; durante algum tempo, o debuxo (em português) significava o desenho de projecto: foi usado em 1541 (Descripçam e debuxo do Moesteyro de Sancta Cruz de Coimbra) e é particularmente presente nos Diálogos em Roma de Francisco de Hollanda, com um sentido menos técnico ou descritivo, usando-o para se referir ao desenho e ao projecto nos diálogos com Miguel Ângelo (apesar de, como Côrte-Real faz notar, este provavelmente nunca ter usado esta expressão porque não a conheceria, sendo clara- mente um esforço de Hollanda para a estabelecer um vocabulário para designar a actividade projectual); em português e italiano o desenho ficou como uma ferramenta gráfica, antecipatória, usando-se design para um significado projectual, que faz uso do desenho para comunicar. “No seu sentido mais amplo e compreensivo, ‘projecto’ significa antecipação” (Gil 1992, p.58). Bosquejo ficou como

outra das designações para rascunho.

Na segunda metade do século xx, uma palavra nova anglo-saxónica chegou a Portugal: Design (nesta fase sempre grafada em itálico ou entre aspas). É o regresso da palavra desenho, viajada e regressada, agora aplicada a um saber fazer específico: o desenho como ferra-

design não ter direito a verbete no Dicionário etimológico (na edição de 1977 mas também na de 2003), começa a aparecer nos di- cionários de língua portuguesa da Porto Editora (1999), ainda com

uma carga renascentista (“que significa desenho; esboço; plano”) e ligada à produção industrial (“estética industrial; estilo industrial; desenho destinado à arte industrial”) com uma visão popular (“que serve de base à produção em série de objetos de uso comum, a cuja utilidade prática se deverá juntar beleza e elegância”) e finalmente (“concepção gráfica de um produto”) (J. Almeida Costa & A. Sampaio e Melo 1999, p 520). Em 2001, o Dicionário da Academia usou uma abor-

dagem funcionalista “estética da concepção dos objectos utilitários, em que se procuram novas formas adaptadas às funções; criação estética de objectos, produtos industriais e comerciais”; esta visão ultrapassada é gerada pela definição encontrada no jornal Expresso de 1992 (com design ainda entre aspas, o que na altura ainda se aceitava) e onde se referia que Arte e Design

Nascido nos anos 20 com a influência do movimento alemão do ‘Bauhaus’ (sic), o ‘design’ tentou inicialmente combinar a funciona- lidade com a estética na arquitetura, mobiliário e produtos manu- facturados (Expresso, 11.1.1992).

E o Dicionário da Academia continua: “aspecto do objecto assim concebido” ou seja, a palavra design é tanto a atividade como a coisa gerada pela atividade. Esta visão do uso popular da palavra é também exemplificada num texto jornalístico do Público (18.5.1997) na sec- ção automóvel: “no caso da carrinha, o ‘design’ traseiro manteve-se mesmo inalterado aproveitando a boa imagem consolidada junto dos consumidores”. Sendo um Dicionário de 2001 estranha-se não só não se ter procurado uma definição mais recente (a do Expresso, bizarra, remonta a 1992) como o facto de exemplificar o uso da palavra apenas com discurso jornalístico (1987, 1991 e 1997 num anúncio para um telefone, num texto sobre um carro e numa página de moda) (Academia das Ciências de Lisboa 2001, p. 1190). Seria quase como

exemplificar o uso da palavra “filosofia” com textos saídos em jornais desportivos. Uma nota apenas para referir que o designer, segundo o mesmo dicionário, é “o artista que concebe objetos cuja funcionalidade e a estética se combinam”. Em 2001, a palavra (em itálico por ser um estrangeirismo) no Dicionário Houaiss é “concepção de um produto (máquina, utensílio, mobiliário, embalagem, publicação, vestuário, etc) no que se refere à sua forma física e funcionalidade” bem como “o produto desta concepção”. Ainda nesta entrada encontramos uma equivalência entre design e desenho (6. p.ext. m.q. desenho (‘forma do ponto de vista estético e utilitário’ e ‘representação de objetos

executada para fins científicos, técnicos, industriais e ornamentais’). Como vemos, ainda em 2001 persistia a incapacidade de encontrar um significado para a palavra, pois “concepção de um produto no que se refere à sua forma física e funcionalidade” também se aplica a todos os objetos produzidos pelo homem. O Dicionário Houaiss define Design Gráfico na mesma entrada, como um

conjunto de técnicas e de concepções estéticas aplicadas à represen- tação visual de uma ideia ou mensagem, criação de logótipos, ícones, sistemas de identidade visual, vinhetas para televisão, projecto grá- fico para publicações impressas, etc. (Dicionário Houaiss, 2001)

e faz ainda remontar a 1588 o étimo da palavra design como “inten- ção, propósito, arranjo de elementos ou detalhes de um dado padrão artístico”. Para se perceber quão recente é o uso desta palavra como parte do vocabulário comum da língua portuguesa veja-se que, para além das entradas referidas nos três dicionários que consultámos, encontramos em 1998 uma brevíssima no Dicionário Michaelis “1. Concepção de um projecto ou modelo; planejamento 2. O produto desse planejamento” (Walter Weiszflog, 2002 p. 690) mas não há entra-

das nos dicionários de Antenor Nascentes (Academia Brasileira de Letras 1961), Cândido de Figueiredo (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, 25ª ed., 1996), Artur Bívar (Dicionário Geral e Ana- lógico da Língua Portuguesa, 1948), José Pedro Machado (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, 2ª ed., 1981; em 2001 no livro Grande vocabulário da língua portuguesa o autor inclui a palavra em itálico, precedida de “ing” o que quer dizer que admite que a palavra é usada em Portugal mas que é inglesa .

Começámos por dizer que design de comunicação era uma definição difícil de precisar, difusa. Mas não será este um problema comum a todas as áreas do saber? Entre engenharia agrónoma e engenharia aerospacial o que há em comum? Diremos que talvez apenas um modo de pensar e de tratar a informação, a construção matemática e sequencial, da qual decorre o apego ao rigor e à quantificação. De facto, não vemos os engenheiros muito preocupados em definir o que é a engenharia. E entre a oftalmologia e a saúde pública? Certamente que lidam ambas com o homem e com a tentativa de minorar o seu sofrimento, mas não os ouvimos discutir se é ou não medicina. Das duas uma, ou discutem, e nós, designers, não sabe- mos, ou então é só um problema de identidade dos designers, i.e., de saúde, pelo que deveria ser tratado nos locais próprios. Mesmo assim, não quisémos deixar de alimentar a crise, na expectativa de produzir mais desgaste num assunto que urge deixar de o ser.

No documento Criação livre e criação dedicada (páginas 62-70)