• Nenhum resultado encontrado

O capítulo introdutório foca três questões prévias que serão retomadas nos seguintes, nomeadamente sobre a importância e significado das imagens nas sociedades ocidentais enquanto processos de comuni- cação e, finalmente, os especialistas que actualmente desenvolvem programas de comunicação através de imagens, os designers. Neste capítulo procurámos reconhecer e clarificar fronteiras do território disciplinar, embora as complexas dinâmicas sociais, por um lado, e o exercício da actividade, também em permanente trans- formação, por outro, sugiram a necessidade de actualizar tais limites. Focámo-nos na figura do encomendador para acentuar a sua importância na encomenda do que, para simplificar, podemos designar de artística, dado que nem tudo aquilo a que hoje chamamos de arte corresponde aos modos como as sociedades percepcionaram e receberam essas obras.

A observação de exemplos de produção de comunicação visual, a partir do Renascimento, através da mediação de historiadores de referência, permitiu rever diversas alterações contextuais que favoreceram a profissionalização de criadores de comunicação visual. Chamando os nomes às coisas, com a época moderna, surgiu a profissão a que hoje chamamos design – embora não fosse essa a designação em uso, como vimos – e, simultaneamente, o modo como ela opera nas sociedades, confirmando, transformando, persua- dindo, propagandeando, celebrando... acções que persistem no nosso tempo como parte essencial dos processos de comunicação visual. Não encontrámos nenhuma ruptura que justifique considerar uma mudança de paradigma na profissão de fazedor de imagens com pro- pósitos comunicacionais, apesar de todas as transformações ocorridas no lapso temporal entre o início do século xV e o nosso tempo. Observámos a importância do encomendador na conformação da obra, prescutando perfis de encomendadores, revendo encomendas e sondando relações de trabalho que as tomam como pretexto e razão de ser, encapsulando as obras no seu tempo histórico: o modo como o encomendador se quer ver a si próprio, como lê a sociedade na qual pretende intervir, a natureza das relações que estabelece com os seus criadores de modo a garantir o cumprimento dos seus propósitos, o modo como os criadores lêem e interpretam esses programas e negoceiam com o encomendador, a forma o fixam

nas obras, a recepção pelos potenciais destinatários, são aspectos que ainda hoje fazem sentido. Esta confirmação confirmou a nossa suspeita de continuidade, embora o significado de algumas palavras se tenha alterado com o tempo. No entanto, reconhecemos momentos em que houve mais abertura para negociar o resultado do que outros e que tal se deve não só à natureza das encomendas como aos perfis dos criadores de imagens (em especial a partir do movimento romântico). Como seria de esperar, não foram esses casos (especiais) que nos interessaram, mas os outros, onde se encontram personalidades artísticas de nomeada a responder a situações do quotidiano (i.e. banais, pelo menos do ponto de vista da historiografia romântica).

Através desta análise foi possível deduzir a peso dos processos e da im- portância de os reconstituir para interpretar as obras. Serviu, também, para questionar, criticamente, alguns pressupostos que são usados para definir design nos nossos dias, nomeadamente a produção seriada. Para além dos processos, confirmou-se a relevância de todos os intervenientes – encomendador, especialistas, públicos – e os mais diversos aspectos que envolvem cada encomenda de trabalho e que sumariamos sob a designação de contexto(s).

REFERÊNCIAS

Academia das Ciências de Lisboa. (2001). Design (dic Academia). Dicionário da língua

portuguesa contemporânea (1a ed., Vols. 1–2). Lisboa: Verbo.

Almeida, V. (2009). O Design em Portugal, um Tempo e um Modo (tese de doutoramento).

Faculdade de Belas-Artes, Lisboa.

Anderson, B. (1991). Imagined Communities: Reflections on the Origin and Spread of

Nationalism. London: Verso.

Antal, F. (1948). Florentine painting and its social background: The bourgeois republic before

Cosimo de’ Medici’s advent to power, XIV and early XV centuries. Cambridge, MA: Harvard University Press.

Appadurai, A. (2001). Introduction: commodities and the politics of value. In A. Appadurai (Ed.), The social life of things (9th ed., pp. 3–63). Cambridge: Cambridge University Press.

Appleby, D. (2002). Instruction and inspiration through images in the Carolingian period.

n J. J. Contreni & S. Casciani (Eds.), Word, Image, Number, Communication in the Middle Ages

(pp. 85–111). Turnhout: Brepols.

Arnheim, R. (1969). Visual Thinking. Berkeley: University of California Press.

Baines, P., & Haslam, A. (2002). Type & typography. London: Laurence King.

Baltazar, M. J. (2015). Design Português 3. Vila do Conde: Verso da História.

Barbosa, H. (2011). Uma história do design do cartaz português do século XVII ao século XX

(Phd Thesis). Universidade de Aveiro, Aveiro.

Batteux, C. (2009). As belas-artes reduzidas a um mesmo princípio. (N. Maruyama & A. Ribeiro, Trad.). São Paulo: Humanitas & Imprensa Oficial.

Baxandall, M. (1991). Painting and experience in the fifteenth-century Italy. New Edition (2nd

ed.). Oxford: Oxford University Press.

Bell, J. (2007). Espelho do Mundo. Lisboa: Orfeu Negro.

Benjamim, W. (2006). A obra de arte na época da sua possibilidade de reprodução técnica. In J. Barrento (Ed. & Trans.), A modernidade: Walter Benjamim (pp. 207 - 241). Lisboa: Assírio & Alvim.

Braudel, F. (1983). O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na Época de Filipe II. Lisboa: Diglivro.

Braudel, F. (1989). Gramática das Civilizações. Lisboa: Editorial Teorema.

Brint, S. (1993). Eliot Freidson’s Contribution to the Sociology of Professions.Work and

Occupations, 20(3), 259–278. http://doi.org/10.1177/0730888493020003001

Bryson, N. (1991). Semiology and visual interpretation. In Visual Theory (1st ed., pp. 61–73). Cambridge: Polity Press.

Burckhardt, J. (1973). O Renascimento Italiano. (A. B. Coelho, Trans.). Lisboa: Editorial Presença.

Burke, J. (2004). Changing Patrons: social identity and the visual arts in Renaissance

Florence. Pennsylvania, USA: The Pennsylvania State University Press.

Busine, L., Caufriez, A., Boesmans, P., Bosseur, J.-Y., Dumortier, G., Ferrand, J., … Wangermee, R. (1985). L’Oeil Musicien. Bruxelles: Editions Lebeer-Hossmann.

Caetano, J. (2006). O Melhor Oficial de Pintura que Naquele Tempo Havia. Retrieved 28

September 2013, from http://joaquimcaetano.wordpress.com/amor-fama-e-virtude/o-melhor- oficial-de-pintura-que-naquele-tempo-havia/

Candeias, A. F. (1999). design. In Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura, edição século

XXI (1a ed., Vol. 8). Lisboa: Verbo.

Coelho, A. B. (2013). Na Esfera do Mundo (1a ed., Vol. IV). Lisboa: Editorial Caminho.

Correia, A., Sérgio, A., Pereira, G., Godinho, A., Zúquete, A., Ferreira, M., & Cardoso Júnior, F. J. (Eds.). (1983).Design e designer. In Grande enciclopedia portuguesa e brasileira (p. 592). Lisboa - Rio de Janeiro: editorial enciclopédica.

Côrte-Real, E. (2010). Disegno, Desegno, Desenho, Diseño, Design. In The Triumph of Design / O Triunfo do Desenho (Eduardo Côrte-Real, pp. 27 - 39). Lisboa: Livros Horizonte.

Delumeau, J. (1967). A Civilização do Renascimento. (Pedro Elói Duarte, Trans.) (2a Reimpressão

do lugar da história 63). Lisboa: Edições 70.

Despois, P. (1985). A vida de um artista em Florença, na época do Renascimento. Lisboa: Verbo.

Dias, P. (1979). Notas para o estudo da condição social dos artistas medievais de Coimbra. Coimbra: Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Evetts, J. (2011). Sociological Analysis Of the New Professionalism: Knowledge And Expertise

In Organizations. In Grupos Profissionais, Profissionalismo e Sociedade Do Conhecimento (pp. 13–27). Lisboa: Edições Afrontamento.

Ferreira, A. (1598). Poemas lusitanos do doutor Antonio Ferreira dedicado por seu filho

Miguel Leite Ferreira ao Principe D.Phillippe, nosso senhor. Lisboa: Pedro Crasbeeck a custa de Esteuão Lopez.

Flor, P. (2006). A Arte do Retrato Em Portugal. Universidade Aberta, Lisboa.

Foucault, M. (2002). O que é um autor? (A. F. Cascais, Trans.) (4a ed.). Lisboa: Vega.

França, J.-A. (1981). O Retrato na Arte Portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte.

Freire, J. (2009). Trabalho, emprego, cidadania.Sociologia: Revista Da Faculdade de Letras Da

Universidade Do Porto, 19, 213–225.

Giedion, S. (1956). Arquitectura e Comunidade. Lisboa: Livros do Brasil.

Gilbert, C. (1998). What Did the Renaissance Patron Buy.Renaissance Quarterly, 51(2), 392–450.

Gil, F. (1992). Projecto. In Enciclopedia Einaudi (Vol. 25 - criatividade, pp. 58–100). Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda.

Godfrey, E. (1999). Souvenirs. Edinburg: NMS Publishing.

Gombrich, E. H. (1966). Norm and form: studies in the art of the renaissance. London: Phaidon Press.

Gomes, F. (2014, June 17). Jornal das Caldas - Academia Profissional de Cake Design anuncia

recolha de assinaturas para regulamentação da atividade. Retrieved 6 January 2015, from http://jornaldascaldas.com/Academia_Profissional_de_Cake_Design_anuncia_recolha_de_ assinaturas_para_regulamentacao_da_atividade

Gonçalves, M., Cardoso, C., & Badke-Schaub, P. (2013). What Inspires Designers? Preferences

on Inspirational Approuches During Idea Generation.Design Studies, 35(1), 29–53.

Heller, S. (1996, winter). The man who invented graphic design.Eye magazine, 6(23), 26–35.

Hollanda, F. de. (1930). Da Pintura Antiga. Porto: Renascença Portuguesa.

Hope, C. (1990). Altarpieces and the Requirements of Patrons. In T. Verdon & J. Henderson

(Eds.), Christianity and the Renaissance: image and religious imagination in the Quattrocento

(pp. 546–47). Syracuse, N.Y.: Syracuse University Press.

Ingersoll, R., & Tafuri, M. (1995). There is no criticism, only history; Richard Ingersoll

interviews Manfredo Tafuri.Casabella, Anno LIX(619-620), 97–101.

J. Almeida Costa, & A. Sampaio e Melo. (1999). Design (dic Porto editora). Dicionário da Lingua Portuguesa (8a ed., Vols. 1–1, p. 520). Porto: Porto editora.

Jenks, C. (1995). The Centrality Of The Eye In western Culture: An Introduction. In Visual

Culture (1a ed., pp. 1–25). London: Routledge.

Kirkham, P., & Weber, S. (Eds.). (2013).History Of Design, Decorative Arts and Material Culture, 1400-2000. New Haven: Yale University Press.

Larson, M. (1988). À Propos des Professionels et des Experts ou Comme il est Peu Utile

D'Essayer de Tout Dire.Sociologie Et Sociétés, XX(2), 23–40.

Lees-Maffei, G. (2003). Studying Advice: Historiography, Methodology, Commentary,

Bibliography.Journal Of Design History, 16(1), 1–14.

Machado, J. P. (1977). Desenho (dic etimológico). Dicionário Etimológico da Lingua Portuguesa

(3a ed., Vol. 2o, p. 317). Lisboa: Livros Horizonte.

Machado, J. P. (1999). Grande vocabulário da língua portuguesa (Vol. 1). Lisboa: Âncora

editora.

Machado, J. P. (2003a). Arte (dic etimológico). Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (8a

ed., Vol. 1, p. 323). Lisboa: Livros Horizonte.

Machado, J. P. (2003b). Designar (dic etimológico). Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa

(8a ed., Vol. 2, p. 319). Lisboa: Livros Horizonte.

Malkiel-Jirmounsky, M. (1957). Pintura à sombra dos mosteiros. Lisboa: Edições Ática.

Meuleau, M., & Pietri, L. (1971). Le monde et son histoire. Bordas et Robert Laffont.

Miller, D. (2009). The Artefact as Manufactured Object. In Design studies: a reader. Oxford: Berg Publishers.

Monteiro, P. (2014). A questão do Design; (in)definições e equívocos entre forma, fama e função

(Phd Thesis). Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, Lisboa.

Montero, J. (2010). El difícil arte de pintar en Galicia. Artistas, artesanos, mecenas y clientes.

In A Encomenda. O Artista. A Obra. (pp. 249 - 272). Porto: CEPESE - Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade.

Moura, M. (2011). O Big Book, Uma Arqueologia do Autor no Design Gráfico (Phd Thesis).

Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Porto.

Papanek, V. (1972). Design for the real world: Human Ecology and social change. London: Thames & Hudson.

Rickards, M. (2000). The Encyclopedia of Ephemera. London: The British Library.

Ridolfi, C. (1642). Vita di Giacopo Robusti detto il Tintoretto, celebre pittore, cittadino

venetiano. Retrieved 5 September 2015, from https://archive.org/stream/ vitadigiacoporob00rido#page/n9/mode/2up

Roche, D. (2000). A History Of Everyday Things, The Birth Of Consumption In france, 1600-

1800. (B. Pearce, Trans.). Cambridge: Cambridge University Press.

Rodrigues, M. de L. (2012). Profissões, Licões e Ensaios. Coimbra: Almedina.

Rosenberg, H. (1952). American Action Painters.Art News, 51(8), 22.

Rubery, E. (2012). Acts of the seventh ecumenical church council of 787 CE and the iconoclast

council of 815 CE. In D. Newall & G. Pooke (Eds.), Fifty Key Texts in Art History (pp. 16–21). London; New York: Routledge.

Sebastián, S. (1989). Contrareforma y barroco. Madrid: Alizanza editorial.

Spivey, N. (2005). How Art Made The World. London: BBC Books.

Tatarkiewicz, W. (2001). Historia de seis ideias: Arte, belleza, forma, creatividad, mimesis,

experiencia estetica (6a ed.). Madrid: Tecnos.

Terragni, E., Fitzpatrick, A., Roff, A., & Thackara, D. (Eds.). (2012). The Phaidon Archive of

Graphic Design. London: Phaidon Press.

Tesouros: Periódicos: Gazeta de Lisboa. (n.d.). Retrieved 9 July 2015, from http://purl. pt/369/1/ficha-obra-gazeta_de_lisboa.html

Thomaz de Mello. (1989). Falam do Ofício: Thomaz de Mello. In Falando do Ofício (pp. 27–31). Lisboa: Soc Tip Editora.

Tufte, E. (2006). Beautiful Evidence (2a ed.). Cheshire: Graphics Press.

Vasari, G. ([1568]1983). Lives of the artists. (B. Radice, Ed., G. Bull, Trans.) (2a ed.; 1a ed. 1965). Middlesex: Penguin Books.

Viterbo, S. (1903). Notícia de alguns pintores portugueses e de outros que, sendo

estrangeiros, exerceram a sua arte em Portugal. Lisboa: Typographia da Academia Real das Sciencias de Lisboa.

Wackernagel, M. (1938). The World of the Florentine Renaissance Artist: projects and patrons,

Walker, J. (1989). Defining the object of study. In J. Walker (Ed.), Design history or the history of

design (pp. 22–36). London: Pluto Press.

Walker, J. (1990). Design History And The History Of Design (2a ed.). London: Pluto Press.

Walter Weiszflog (Ed.). (2002). Design (dic Michaelis). Moderno Dicionário da Lingua Portuguesa

(5a ed.). São Paulo: Melhoramentos.

Warburg, A. (1999). The Art of Portraiture and the Florentine Bourgeoisie: Domenico

Ghirlandaio in Santa Trinita; The Portraits of Lorenzo de’ Medici and His Household. In D. Britt (Trans.), The renewal of Pagan Antiquity: Contributions to the Cultural History of European Renaissance (pp. 185–221). Los Angeles: Getty Research Institute.

Wittgenstein, L. (1921). Tratado Lógico-Filosófico / Investigações Filosóficas. (M.S. Lourenço,

Trans.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Woods, K. W. (2012). Gregory the Great’s letters to serenus (599 CE) and Secundinus (769 CE).

2

No documento Criação livre e criação dedicada (páginas 135-143)