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Cabe salientar, a título de ilustração, que este mesmo padrão de disputa entre os pequenos grupos, a dominação de uns em detrimento de outros e a rotatividade dos grupos em destaque no SIM/Partenon é também

CAPÍTULO II DO CURSO DE PLPs À FORMAÇÃO DO SIM

45 Cabe salientar, a título de ilustração, que este mesmo padrão de disputa entre os pequenos grupos, a dominação de uns em detrimento de outros e a rotatividade dos grupos em destaque no SIM/Partenon é também

encontrado tanto no SIM/Restinga quanto no SIM/Leste, aqueles que estavam em funcionamento na época do curso de PLPs/Partenon. Este dado foi-me relatado por uma técnica da ONG Themis, que emprestava ao relato um tom pejorativo frente a este modo de relacionamento entre as PLPs formadas, identificando aí um problema que deveria ser resolvido.

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Itinerante eram próximos da comunidade onde moravam Anete, Alice e Elvira. Estas informações relativas ao modo de relacionamento entre o grupo de PLPs marcam a especificidade do momento em que se situa minha pesquisa, que para fins analíticos caracterizei como a quinta fase do SIM/Partenon. Antes de me deter nesta quinta fase, a qual denomino de Itinerante, vejamos o que caracteriza as fases anteriores, resumidas no quadro abaixo:

FASES SIM/Partenon PRIMEIRA

FASE

abril - julho de 1997 Inicial

SEGUNDA julho - dezembro de Vila Conceição entra

FASE 1997 em cena

TERCEIRA março - dezembro de A intervenção da

FASE 1998 Themis QUARTA FASE Dezembro, 1998 - abril, 1999 A mudança de sede QUINTA FASE Abril de 1999 Itinerante

Identifico a primeira fase, que denomino de Inicial, no período de abril a junho de 1997. O primeiro registro da ata refere-se a uma reunião em casa da PLP Elvira sobre o projeto "Prazer de Ler e Escrever de Verdade"46. Nesta reunião estavam presentes, além de Elvira, as PLPs Anete (São Miguel), Nair e Cibele (Morro da Cruz). Ao longo destes meses, estas são as PLPs que figuram nos registros da ata, sendo que a sua atuação gira em tomo do tal projeto. Neste período, o SIM/Partenon funcionou provisoriamente na sede da Associação Comunitária da Vila São Miguel (ACOVTSMI), da qual Anete e Elvira fazem parte. Esta sede situa-se geograficamente próxima ao local de moradia destas PLPs, além de ficar ao pé do Morro da Cruz e, portanto, próximo das casas de Nair e Cibele. Alice não estava em Porto Alegre durante este período, somente figurando nas atas meses depois. As outras PLPs atuantes - as quatro mulheres da vila Maria Conceição - não aparecem na atuação nesta

46 O projeto "Prazer de Ler e Escrever de Verdade" foi resultado de uma parceria entre o Ministério da Educação e Cultura (MEC), a ONG Themis e o Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e

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primeira fase. E é exatamente com as tensões geradas pela chegada destas PLPs no SIM que se inicia outra fase, como se pode notar no relato de Olívia sobre a história do SIM, uma das quatro PLPs desta vila:

Bem no início era lá em cima, na São José. A coordenação era a Anete, a Nair e parece que a Cibele também.

Alinne: Tá, mas como elas foram escolhidas?

Olívia: Elas tomaram conta por elas. Até então a gente não sabia que elas tavam atendendo lá em cima. Só na época do “Prazer de Ler e Escrever de Verdade... o projeto de alfabetização para mulheres, sabe? Só aí é que a gente começou (refere-se às PLPs da Vila Maria Conceição) a ir pra lá fazer plantão. Só que no primeiro dia já deu desentendimento. É que a Mirtes e a Linda (PLPs da Vila Conceição) ficaram responsáveis pelo plantão e dai foram e tava fechado, daí elas pegaram a chave e abriram. Daí a Nair veio e meteu a boca em todo mundo, dizendo: “Quem mandou abrir... ” daí a gente já ficou meio arredia de ir trabalhar fazer plantão, logo de início já dá esse tipo de confusão, daí fica br abo... Mas depois disso a gente fez uma eleição. Foi até a Coordenadora da Themis que nos ajudou. Daí, por sugestão dela, é bom que na coordenação ficasse uma de cada zona. Isso, no início durava 6 meses, depois passava a fazer eleição de 3 em 3 meses. Daí na coordenação ficou a Elvira, eu e a

Nair. ” (Olívia, 15/01/98)

No relato de Olívia se pode notar um certo ressentimento pela exclusão de seu grupo da organização do serviço. Um primeiro indício está na ênfase da localização do SIM. Ela aponta como um lugar distante, longe de seus domínios, quase como um território estrangeiro. Neste ponto pode-se notar também a disputa pelo serviço, que se encontra tanto na sua ênfase dada ao desconhecimento de seu grupo do funcionamento e à idéia de que a coordenação foi "tomada" pelas outras colegas, das outras "zonas".

Parece estar implícito no relato de Olívia uma acusação, tomando-se o grupo em destaque no SIM como um bloco opositor que se articulou às escondidas. Parece-me significativo que o desentendimento entre as colegas de regiões diferentes não tenha sido resolvido entre elas; fez-se necessário um árbitro com uma autoridade reconhecidamente legítima para sua solução: a Themis. Com a eleição de uma nova coordenação, que garantiu uma parcela de poder para cada sub-grupo, inicia-se a segunda fase do serviço, denominada aqui de A Vila Conceição entra em cena, que vai de julho a dezembro de 1997.

No início de julho, é eleita a nova coordenação: Olívia (Vila Maria Conceição), Elvira (Vila São Miguel) e Nair (Vila Morro da Cruz). Neste momento Cibele já se encontrava afastada do serviço. As PLPs da Vila Maria Conceição fazem-se agora presentes no SIM:

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Olívia, Anelise, Mirtes, Linda e, eventualmente, Odete e Valdeci. No final de julho, o serviço tem de mudar de sede. Passa, assim, a funcionar no prédio de uma creche pública, de fácil acesso para todas as PLPs, embora se situe geograficamente mais próximo da Vila Maria Conceição. Durante este período, são registrados inúmeros conflitos entre as PLPs das diferentes regiões. Há várias queixas contra uma das coordenadoras - a representante do Morro da Cruz - que invariavelmente tematizavam um certo "abuso de poder": brigas pela chave da sala, pelo dinheiro do caixa do serviço, pela divisão de plantões, de tarefas referentes a limpeza e organização do SIM e dos vales-transporte fornecidos pela Themis47. É interessante notar que os registros queixosos eram feitos sobretudo pelas PLPs da Vila Maria Conceição. Em todas estas tensões, a equipe da Themis sempre era procurada para arbitrar os conflitos. Em outubro, entra em cena Alice, agora passando a atuar sistematicamente no SIM/Partenon. Os registros na ata vão até fins de dezembro, sendo retomados somente em março de 1998. Há, durante dois meses, um período de férias em que o SIM/Partenon não está em funcionamento.

Quando se retoma o funcionamento, em março de 1998, inicia-se a terceira fase do serviço, que dura até dezembro deste mesmo ano, e que denomino de A Intervenção da

Themis . As tensões dentro do grupo em relação à coordenação do SIM se acirram. Entram

em questão problemas relativos à ajuda de custo da Themis: reclamações sobre a falta de vales-transporte e sobre o dinheiro dos plantões. As PLPs passam a pressionar a ONG.

Assim, o marco fundamental desta fase se dá pela intervenção direta da ONG Themis, reformulando os moldes do serviço. A advogada é retirada, há um maior incentivo à autonomia das PLPs relativamente à ONG - na tentativa de que os problemas internos sejam resolvidos entre elas e há uma maior rotatividade nas coordenações, que passam a ser renovadas de três em três meses. Durante este período, verifica-se uma maior presença das PLPs da Vila Maria Conceição. As PLPs das outras vilas continuam a fazer os seus plantões, muito embora a sua participação tome-se menos sistemática.

estiveram envolvidas no projeto, sendo encarregadas da divulgação e inscrição das alunas.

47 A divisão de escalas dos plantões aparece recorrentemente como um dos grandes estopins de conflitos entre

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