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Segundo conta, ela foi uma das primeiras conselheiras, e que na época dela trouxeram o NASF para o Partenon O Núcleo de Apoio Sócio-Familiar, é um programa ligado à FESC e que tem um projeto ligado à

CAPÍTULO IV FEMINISTAS OU FEMININAS? O TRIO DE PLPs ATUANTES DO PARTENON

62 Segundo conta, ela foi uma das primeiras conselheiras, e que na época dela trouxeram o NASF para o Partenon O Núcleo de Apoio Sócio-Familiar, é um programa ligado à FESC e que tem um projeto ligado à

UNICEF para retirar adolescentes e crianças das camadas urbanas de baixa renda das ruas, afastá-las das drogas e impedir a evasão escolar. Anete conta que no NASF dão uma bolsa de 150 reais para as famílias carentes, que essas famílias têm um acompanhamento de assistentes sociais pra ver onde está sendo aplicado o dinheiro, se

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militante do PSB, ocupando o cargo de secretária geral da Secretaria da Mulher do partido, de que foi a idealizadora.

1.2. Elvira

Elvira é uma mulher mulata, de baixa estatura, de olhos claros amendoados. Costumava usar batom vermelho nos lábios grossos e manter as sobrancelhas sempre bem aparadas. Gostava de andar bem arrumada, sempre combinando as peças de roupas que vestia. É a irmã mais velha de Alice, nascida na cidade de Rio Grande, em 1954. Segundo contou, sua mãe era solteira quando a concebeu, casando-se mais tarde com o pai de Alice, que a registrou como filha. Gostava de falar de sua "cultura" familiar, enfatizando como ela lutou para mudar: eu fu i criada no interior, meu pai era ferroviário e eu fu i criada assim, o pai trabalha fora e mulher e filha de ferroviário não pode sair de casa. Tem que ser dona de casa. A gente fo i criada pra isso, mas comigo não. Eu não aceitei isso e com o meu marido é diferente...

Elvira tinha um temperamento dócil, sempre muito carinhosa no trato com as pessoas, mas advertia: não mexe comigo que eu viro bicho! Era extremamente calma e paciente, parecendo estar sempre meio aérea, com o pensamento distante. Tinha uma postura extremamente "política": era agradável com todos, distribuindo elogios, homenagens e afeto. Contudo, tinha posições marcadas e opiniões fortes, que não pareciam ser muito ostensivas quando as colocava, devido ao seu estilo ameno. Gostava muito de conversar, sempre contando muitas histórias sobre os seus filhos, marido e o seu trabalho comunitário. Tinha a fala mansa, acompanhada por gestos suaves e lentos. Nunca chegava no horário marcado; os seus atrasos já eram a sua marca registrada, e geravam indisposições com Alice e Anete, cujos ritmos eram absolutamente opostos.

Elvira está casada há mais de 23 anos, com um homem de idade aproximada à sua. Ele é praça da Brigada Militar, ocupando o cargo de músico da banda da BM. Além disto, ele faz parte de uma banda musical que se apresenta em clubes, festas e casas de shows pela cidade. Tem dois filhos homens, um de 9 e outro de 22 anos de idade. Tinha uma filha, que morreu em um atropelamento quando tinha 7 anos de idade. Fala muito em sua família, sempre em associação com assuntos referentes à sua militância. Conta que é muito cobrada por seus

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filhos e marido com relação ao trabalho que faz, mas lembra que nunca deixei de fazer meu trabalho na comunidade por causa dos filhos. Era só o que faltava! Para tanto, sempre conta com a rede de parentesco por afinidade: a irmã e as sobrinhas de seu marido. Ela não completou o ensino fundamental e trabalhou por muito tempo como auxiliar de enfermagem num grande hospital de Porto Alegre. Parou de trabalhar há 11 anos, e a partir daí passou a dedicar-se exclusivamente ao seu trabalho na comunidade. Este marco na vida de Elvira não parece ser muito casual. Coincide diretamente com uma importante passagem em sua vida que conjuga problemas de saúde, uma gravidez de risco, problemas conjugais e o falecimento de seu pai.

Como gosta de contar histórias, Elvira falou-me longamente sobre esta passagem que marca sua vida, com uma impressionante riqueza de detalhes. Procuro recontá-la aqui, de maneira sintética, de modo a tomar a leitura mais ágil, o que acarreta uma perda da riqueza do fluxo da narrativa. Ela introduz a história dizendo-me que em uma época o ME?3 andou aprontando. Por essa altura, ela estranhou o fato de ele chegar muito tarde em casa. Mas de início não deu muito importância ao caso: Daí, eu tava assim, eu tava num momento assim... muito meu, sabe Alinne. Eu tava muito fragilizada. Meu pai doente em Pelotas, eu tava fazendo tratamento com radiação pra minha hérnia - que eu tenho um problema na coluna, da 6a até a 10a vértebra -, os médico me atucanando por causa que eu tava desconfiada da gravidez e se tivesse eles queriam que eu tirasse por causa da radiação e se eu tivesse eu ia querer ficar. Meu pai doente, só chamando por mim. Foi assim, barra. Eu tava muito sensível. Daí eu recebi um chamado urgente de Pelotas, que meu pai tava muito mal.

Segue contando que teve de viajar inesperadamente, passando uma semana com seu pai doente. Naquela época, ela e a sua família nuclear moravam no mesmo pátioM da parentela de seu marido. Ao retomar a Porto Alegre, sua cunhada (irmã de seu marido) com quem tinha deixado seu filho, contou-lhe que ME não aparecia em casa havia dias. A partir daí, ela passou a se incomodar com o comportamento dele: Ah, Alinne, aí eu fiquei por conta. O filho ali, uma semana sozinho e ele nem fo i capaz de ir lá ver ele? Por mim não, mas o próprio filho! Vê se tem cabimento? Daí eu disse, pode esperar que eu vou ver o que tá

acontecendo.

63 Utilizo esta sigla para me referir ao Marido de Elvira (ME), resguardando seu verdadeiro nome.

64 Pátio é uma expressão êmica para designar o terreno onde vivem várias unidades familiares de uma mesma

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