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objeto ↔ atividade ↔ sujeito,

REGRAS COMUNIDADE DIVISÃO DE TRABALHO Figura 3 – Modelo do segundo momento da teoria da atividade

1.1.5. Sentido e significado

O significado da palavra é um fenômeno do pensamento para Vygotsky (1934/1999), já que o pensamento se concretiza pela fala. Em sua opinião, os significados das palavras não se referem apenas a associações do som a determinados objetos, mas são formações dinâmicas, um processo que passa por transformações e variações. No seu livro “Pensamento e linguagem”, ele diz que o significado da palavra é sempre uma generalização ou um conceito. Além disto, o significado da palavra evolui em função da mudança da consciência.

“O significado de uma palavra representa um amálgama tão estreito do pensamento e da linguagem, que fica difícil dizer se se trata de um fenômeno da fala ou de um fenômeno do pensamento. Uma palavra sem significado é um som vazio; o significado, portanto, é um critério da palavra, seu componente indispensável” (Vygotsky, 1934/1999:150)

O sentido, por sua vez, é a soma de todos os eventos psicológicos que a palavra desperta na consciência dos agentes. É todo complexo, fluido e dinâmico. O significado é uma das zonas do sentido, mais estável e precisa. Uma palavra, segundo Vygotsky, adquire o seu sentido no contexto em que surge, e contextos diferentes podem alterar o sentido. Ele discute o papel do contexto para a construção do sentido, explicando que uma palavra inserida em um contexto pode ter um sentido diferente, sendo este mutável e complexo. A palavra está inserida em uma sentença que, por conseguinte, se insere em um parágrafo, este no livro e o livro na série de obras do autor.

Nesse quadro, a unidade lingüística de análise é a palavra, considerada como a unidade do pensamento, a qual não se refere a algo concreto, mas a uma generalização. Dessa forma o significado de uma palavra une tanto o pensamento, como a linguagem. Uma palavra sem pensamento é, então, algo morto e um pensamento que não é verbalizado em palavras permanece como uma sombra. As palavras têm, assim, uma importância fundamental tanto para o desenvolvimento do pensamento como para o desenvolvimento histórico da consciência.

Segundo Smolka (2004), as crianças nascem e vivem em um mundo cheio de significados e, logo, começam a fazer sentido das práticas, vivendo, sentindo e sofrendo as relações com os outros e com o mundo. Os significados e a construção dos sentidos fazem parte da vida humana, segundo a autora, e são diversas as áreas do conhecimento, da Filosofia e Antropologia à Lingüística Aplicada, que problematizam essa questão. Para iniciar essa discussão, faz-se necessário, ainda segundo Smolka (2004), definir signo, de onde vem a palavra significar, “chamamos de signos a tudo o que significa algo, e entre estes, encontramos também as palavras...Toda palavra é signo, mas nem todo signo é palavra...” Para Vygotsky, o signo é um instrumento psicológico que tem a função de auxiliar o indivíduo nas suas atividades psíquicas, fazendo com que ele amplie sua capacidade de atenção, memória e acúmulo de informações, por exemplo, destacando sua característica mediadora.

A construção do sentido se faz na relação com o outro em um contexto particular e é com o outro que nos apropriamos do mundo. A realidade será percebida, diferentemente, por cada sujeito, principalmente, devido aos sentidos que este sujeito atribui à realidade. Segundo González Rey (2004), o sentido é sempre o resultado de um processo de subjetivação associado a um contexto concreto e imerso no sistema de sentidos subjetivos que caracterizam a vida do sujeito. O sentido é, então, uma síntese subjetiva de dimensões culturais, sociais e históricas, que estão implicadas nas ações do sujeito. Para esse autor, o sentido mescla-se, também, com as emoções e outros elementos da vida psíquica, o que contribui para a configuração de novos sistemas de sentidos, os quais vão além dos significados já construídos.

Com base no monismo de Spinosa, Vygotsky já abordava em sua obra a preocupação com a integração dos aspectos cognitivos e afetivos do funcionamento psicológico humano, demonstrando ser o homem um ser que pensa, raciocina, deduz e abstrai, mas também um ser que sente, se emociona, deseja, imagina e se sensibiliza. Biologia, intelecto e afeto se unem e formam um sistema dinâmico de significados. Os sujeitos têm, então, uma possibilidade diferenciada de produção de sentido, devido aos diferentes fatores históricos, culturais, sociais e emocionais. Assim, a produção de sentido de uma família, por exemplo, está associada, segundo González Rey (2004), aos processos simbólicos e emocionais produzidos nas histórias vivas e diferenciadas entre os membros da família. O sentido é, portanto, inseparável do sujeito e dos fatores históricos, culturais e sociais que o acompanham.

Neste trabalho, essa discussão é relevante por possibilitar-me tecer ligações entre os sentidos que as participantes atribuem à concepção de ensino-aprendizagem, visão de professor e de aluno e os fatores históricos, como a escolha do ofício de ser professor por cada uma das participantes. Em função disto, a posição dos sujeitos se altera nos sistemas de atividade.

No sistema de atividade, os sujeitos assumem papéis e posicionamentos, atribuem novos sentidos às suas práticas e ações nas interações, provocando um movimento de transformação pessoal e coletivo. Sofrem essas contínuas transformações discursivas e ideológicas, experiências passadas, percepções presentes e expectativas futuras, e pelo uso que fazem dos instrumentos. De fato, um dos desafios dos teóricos neo-vygotskianos é tentar entender esse movimento constante nos sistemas, provocado pela relação sujeito e contexto, na qual estão presentes possibilidades e limitações, que fazem parte do processo de desenvolvimento.