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Superação de incompatibilidade entre lei complementar e le

5.1. Lei Complementar

5.1.2. Superação de incompatibilidade entre lei complementar e le

Quando estamos a falar de possíveis relações de hierárquica entre veículos introdutores de normas, a rigor, tratamos é da hierarquia entre normas construídas a partir de enunciados prescritivos veiculados por instrumentos introdutores de superioridade hierárquica e normas construídas tendo por suporte enunciados prescritivos veiculados por instrumentos inferiores hierarquicamente.

No exercício da produção normativa, pensamos que a relação entre leis complementares e leis ordinárias pode se manifestar de cinco modos: (1) a matéria é de regulação privativa de lei complementar da União, sem subordinação hierárquica da lei ordinária; (2) a matéria de regulação de lei complementar da União, com subordinação hierárquica da lei ordinária; (3) a matéria é de regulação por lei ordinária da União, cuja produção normativa está subordinada hierarquicamente à lei complementar da União; (4) a matéria é própria de regulação por lei ordinária da União, em campo material de atuação distinto de qualquer lei complementar; e (5) a matéria é própria de regulação por lei ordinária dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, em campo material de atuação distinto de qualquer lei complementar.

431 Cf., sobre o tema, MARIA DO ROSÁRIO ESTEVES, Normas gerais de direito tributário, 1997, p. 85-86. 432 A expressão é empregada por CELSO BASTOS, embora este entendesse não ser possível a subordinação de leis ordinárias às leis complementares (A inexistência de hierarquia entre a lei complementar e as leis ordinárias. Revista dos Tribunais: Cadernos de Direito Tributário e Finanças Públicas, n. 26, p. 16).

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Pois bem, a incompatibilidade entre as normas produzidas mediante utilização dos veículos introdutores lei complementar e lei ordinária surge em decorrência de um instrumento introdutor adentrar na seara de regulação do outro, sendo, portanto, também cinco as possibilidades, com diferentes soluções, a saber:

(1) Matéria privativa de lei complementar da União sem subordinação hierárquica da lei ordinária: se lei ordinária for editada para regular a matéria, invadirá campo reservado à lei complementar, incorrendo em vício de inconstitucionalidade, por infração à norma que delimita a matéria. Caso todas as normas jurídicas construídas a partir de todos os enunciados prescritivos da lei ordinária sejam afetadas, o vício atingirá o documento normativo em sua totalidade. Por outro lado, se apenas algum ou alguns dos enunciados prescritivos forem afetados, a inconstitucionalidade será parcial, alcançando específicos enunciados prescritivos. Se, todavia, o vício atingir apenas parte das significações construídas, havendo outras válidas, o texto não será afetado.

(2) Matéria de lei complementar da União com subordinação hierárquica da lei ordinária: se lei ordinária for editada com o objetivo de regular a matéria própria do legislador complementar, invadirá também o campo reservado à lei complementar, incorrendo na mesma infração à norma que delimita matéria e, pois, no vício de inconstitucionalidade. Da mesma forma, sendo a inconstitucionalidade integral ou parcial, serão afetados, respectivamente, todo o documento normativo ou somente algum ou alguns enunciados prescritivos, ou, ainda, apenas normas jurídicas construídas, caso outras construídas sejam válidas.

(3) Matéria de lei ordinária da União com subordinação hierárquica à lei complementar da União: se a União editar lei complementar para dispor sobre tema de alçada da lei ordinária também da União, muito embora ingressando em seara que não lhe é própria, não incorrerá em infração à norma que delimita a matéria. Não haverá vício de inconstitucionalidade. Nessa hipótese, entretanto, duas situações podem ser verificadas: (3.1) caso essa lei complementar não desborde daqueles limites de atuação da lei ordinária (subordinada), conforme traçados pela legislação complementar (subordinante), a lei complementar cumprirá o papel de lei ordinária. A lei complementar, portanto, o será como tal apenas formalmente, e as normas construídas a partir dos enunciados prescritivos que veicule estarão, substancialmente, no mesmo patamar daquelas construídas com

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base em suporte veiculado em lei ordinária. Ocorrerá, portanto, a chamada queda de status, e essas normas poderão ser revogadas ou alteradas por normas veiculadas pelo instrumento introdutor do tipo lei ordinária; (3.2) caso a lei complementar, mesmo que produzida com finalidade de cumprir o papel destinado à lei ordinária (subordinada), desbordar dos limites estabelecidos pela lei complementar (subordinante), então haverá incompatibilidade entre normas de mesmo patamar hierárquico (leis complementares), a ser superada mediante aplicação dos critérios próprios para tanto (especialidade e temporal). Em prevalecendo norma jurídica veiculada pela lei complementar mais recente, as normas anteriormente veiculadas por lei ordinária (então compatíveis com a lei complementar revogada) poderão também serão revogadas, agora pela aplicação do critério hierárquico, pois incompatíveis com nova lei complementar.

(4) Matéria própria de lei ordinária da União, em campo distinto da atuação de lei complementar: se lei complementar versar tema próprio de lei ordinária (sem subordinação hierárquica à lei complementar), aqui também não ocorrerá infração à norma que delimita a matéria. Não haverá vício de inconstitucionalidade. E da mesma forma que verificado em (3.1) acima, estar-se-á diante de caso de queda de status da lei complementar, que assim se manterá formalmente, todavia as normas a partir de seus enunciados construídas serão materialmente ordinárias, passíveis de revogação e alteração, portanto, por normas veiculadas por leis ordinárias.

(5) Matéria própria de lei ordinária dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, em campo distinto da atuação da lei complementar da União: se lei complementar da União for editada versando tema próprio de lei ordinária estadual, distrital ou municipal, acabará por invadir campo reservado ao exercício de competência legislativa de outro ente político, incorrendo em vício de inconstitucionalidade. Caso todas as normas jurídicas construídas a partir de todos os enunciados prescritivos veiculados pela lei complementar sejam afetadas, o vício atingirá todo o documento normativo. Por outro lado, se apenas algum ou alguns dos enunciados prescritivos forem afetados, então a inconstitucionalidade será parcial e a respectiva pronúncia alcançará específicos enunciados prescritivos, ou, ainda, apenas normas jurídicas construídas, se outras forem válidas.

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Considerados os limites deste trabalho, encerramos nossas considerações em torno do instrumento introdutor de normas do tipo lei complementar, passando-se agora a tratar da utilização deste veículo introdutor com relação à matéria tributária.