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TEMA: CONFISSÃO E SUA INADMISSIBILIDADE

No documento Processo Civil - Casos Práticos (páginas 112-114)

c Celebrado o contrato definitivo, IP não paga o remanescente do preço, obrigando XC a instaurar a respectiva acção de condenação?

TEMA: CONFISSÃO E SUA INADMISSIBILIDADE

No presente caso estamos no âmbito de uma acção de divórcio em que a esposa alega que o marido lhe terá faltado ao respeito. Na contestação o marido admite a veracidade dos factos alegados. Numa situação comum o juiz levar-lhos-ia à factualidade assente uma vez que os factos encontram-se assentes não existindo nenhuma questão controvertida. A solução deste caso seria no seu todo diferente caso estivéssemos face a uma situação em que se intentasse uma acção de condenação ao pagamento do preço de um determinado bem e o réu na contestação confessasse os factos dizendo, por exemplo, que não pagou o preço porque não dispunha de meios económico financeiros para tal. Neste caso, o juiz não levaria á base instrutória o pagamento.

A hipótese do caso e a hipótese que entretanto se formulou divergem na seguinte medida: nas acções relativas ao estado das pessoas encontram-se sempre em causa direitos indisponíveis, sendo nestas matérias o legislador extremamente cauteloso vedando nos termos do art. 354º al. b) a possibilidade de confissão.

PROCESSO CIVIL

FDUCP

Maria Luísa Lobo – 2012/2013

Página 113

Note-se que se o réu nada tivesse dito quanto a estes factos, em princípio, nos termos do art. 490º/2 CPC, consideravam-se admitidos por acordo. Contudo, uma vez que estamos no âmbito de direitos indisponíveis não existe tal ónus resultando tal da conjugação do art. 490º/2 do CPC com o art. 354º al. b) do CC. Se o réu não contestasse não se aplicavam os efeitos da revelia constantes do art. 483º e art. 484º CPC uma vez que estando no âmbito de direitos indisponíveis aplicar-se-ia a excepção à produção dos efeitos jurídicos da revelia constante do art. 485º al. c) CPC.

Deste modo, conclui-se que uma vez que estamos no âmbito de direitos indisponíveis, sendo factos controvertidos e tendo em consideração as normas referidas, o juiz procedeu bem em levá-los à base instrutória.

No caso é nos dito que o juiz no final deu tais factos como provados tendo em consideração o depoimento da parte prestado na audiência. Ora o depoimento da parte encontra-se consagrado no art. 552º e ss. CPC. O Juiz pode notificar a parte para esta ir prestar esclarecimentos sobre os factos que estão em discussão nos termos do art. 553º/3 CPC. Note-se que não se pode requerer o próprio depoimento de parte mas pode-se requerer o depoimento da parte contrária. Contudo, pode-se tentar que o seu próprio depoimento ocorra provocando o juiz a fazê-lo. Ou seja, chama-se a atenção do tribunal para certos factos constantes da base instrutória que só são do seu conhecimento, requerendo-se ao juiz que este admita o depoimento de parte. Contudo, tal mecanismo fica sempre à disposição do juiz. Quando ao depoimento de partes importa ainda salientar que é possível o depoimento da comparte.

A prova do depoimento de parte visa a confissão, uma vez que que ao requerer que a outra parte deponha pretende-se que esta confesse factos que lhe são desfavoráveis (razão de só se permitir que se requeira o depoimento da outra parte e não o seu próprio depoimento (em princípio a parte que pede para depor não visa confessar factos que lhe são desfavoráveis, pretendendo justamente o efeito oposto)).

JURISPRUDÊNCIA: só é possível requerer o depoimento da comparte quando esta seja titular de uma posição distinta e conflituante com aquela que requer o seu depoimento de parte.

Deste modo, e por aplicação do art. 553º/3 à partida poder-se-ia pensar que é sempre possível requerer o depoimento da comparte, mas atendendo à posição jurisprudencial tal não é verdade.

No presente caso o cônjuge (marido) reiterou na audiência aquilo que já havia dito na contestação, dando o juiz por provados tais factos.

Nos termos do art. 354º al. b) do CC em princípio a prova testemunhal não é admissível uma vez que estamos no âmbito de direitos indisponíveis. Contudo, coloca-se a questão de saber se mesmo nos casos em que não é admissível se tal possui algum valor jurídico. Nos termos do art. 361º do CC tal não consubstancia uma confissão judicial, mas o juiz poderá valorar livremente os factos ‘’confessados’’, sendo que aquele depoimento de parte terá valor probatório bastante. Ou seja, o juiz poderá dar tais factos como provados (ou não).

DOUTRINA: Há quem entenda que no âmbito do depoimento de parte, quando a parte se encontra a depor sobre os factos desfavoráveis e emitir outras declarações (favoráveis ou desfavoráveis) o juiz, embora não possa verter em acta tais factos, terá o direito de livremente apreciá-los tendo deste modo, tais declarações, força probatória bastante. Note-se que quem está do lado contrário tentada, sempre, invocar que tais declarações não podem ser apreciadas em tribunal.

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FDUCP

Maria Luísa Lobo – 2012/2013

Página 114

NOTA1: Nos termos do art. 558º do CPC consagra-se a ordem dos depoimentos,

existindo uma limitação quanto aos factos.

Réu vs Autor: começa pelo réu, uma vez que começando o depoimento de parte pelo réu pode tal conduzir de imediato a uma confissão sem ser necessária a produção de outros meios de prova.

Testemunhas do Réu vs Testemunhas do Autor: começa-se pelas testemunhas do autor.

NOTA2: No processo ordinário o rol máximo de testemunhas que podem ser

apresentadas é de 20, sendo que existe o limite máximo de 5 testemunhas por cada facto.

NOTA3: Nos termos do art. 559º consagra-se a matéria da prestação do juramento. NOTA4: Entende-se por acareação colocar em confronto o depoimento de certas

testemunhas (quando contraditórios sobre os mesmos factos). Pode-se acarear uma testemunha com uma parte? A solução consta do regime do art. 642º e 643º do CPC.

VIII – Caso Julgado CASO XXI

António comprou a Bento um quadro que julgava ser antigo, pelo preço de 35 mil euros. Todavia, quando o mandou restaurar, descobriu que tinha sido pintado recentemente. António instaurou contra Bento uma acção na qual pediu a anulação do contrato de compra e venda e a condenação de Bento na restituição da parte do preço já paga (metade).

No documento Processo Civil - Casos Práticos (páginas 112-114)