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TEMA: LEGITIMIDADE (LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO NATURAL)

No documento Processo Civil - Casos Práticos (páginas 35-39)

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TEMA: LEGITIMIDADE (LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO NATURAL)

No presente caso existem dois pedidos formulados pela Sociedade MMM: o pedido de execução específica do contrato promessa e o pedido de declaração de nulidade do contrato promessa celebrado com Nuno.

Pedido de Declaração de Nulidade do Contrato Promessa celebrado com Nuno

Neste caso, o pedido é formulado pela Sociedade MMM e é contra Nuno e contra Luís, não sendo João parte. Na al. b) contatou-se que é possível este pedido ser proposto em simultâneo contra Nuno e Luís pelo que se remete para lá neste caso. Pedido de Execução Específica do Contrato Promessa

Neste caso, o pedido é formulado pela Sociedade MMM contra Luís, não sendo João parte. É necessário analisar se estamos face a uma situação de litisconsórcio ou de coligação.

A regra no processo é a da dualidade das partes (autor e réu), embora no mesmo processo o autor possa cumular dois ou mais pedidos contra o réu. Contudo, muitas vezes, em lugar de um só autor ou um só réu, a acção tem vários autores ou é proposta contra dois ou mais réus.

Nestes casos, à dualidade das partes substitui-se a pluralidade das partes, podendo esta ser:

 Pluralidade activa, se a acção é proposta por dois ou mais autores contra o mesmo réu

 Pluralidade passiva, se o autor demanda simultaneamente vários réus

 Pluralidade mista, quando a acção é instaurada por dois ou mais autores contra vários réus.

Nos termos do art. 27º e ss CPC distingue-se entre litisconsórcio, que pode ser necessário ou voluntário, e coligação:

 Litisconsórcio: há pluralidade de partes, mas unicidade da relação material controvertida, existindo como tal um único pedido formulado contra ou por vários réus; a esta unicidade da relação controvertida corresponde uma pluralidade de pessoas (e, logo, de partes).

 Voluntário (regra): a cumulação depende exclusivamente da vontade das partes. Se os interessados não forem demandados daí não resulta qualquer ilegitimidade pois o litisconsórcio verifica-se por iniciativa das partes ou de uma delas.

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 Necessário: a cumulação resulta de determinação da lei (litisconsórcio necessário legal), de prévia estipulação dos interessados (litisconsórcio necessário convencional) ou da natureza da relação jurídica (litisconsórcio necessário natural).

É necessário que todos os sujeitos da relação material controvertida se encontrem em juízo para que o juiz conheça do mérito da causa, sob pena de, nos termos do art. 493º, 494º al. e) e 288º/1 al. d) absolver da instância (a ilegitimidade processual consubstancia uma excepção dilatória)

 Coligação: à pluralidade das partes corresponde a pluralidade das relações matérias litigadas, exigindo-se uma pluralidade de pedidos, sendo a cumulação pedida em virtude da unicidade da fonte dessas relações, da dependência entre os pedidos ou da conexão substancial entre os fundamentos destes.

No presente caso estamos face a uma acção de execução específica proposta pela Sociedade MMM contra Luís, colocando-se a questão de saber se aquela também deveria ser proposta contra João, uma vez que o contrato promessa (que não foi cumprido) foi celebrado entre a Sociedade MMM com Luís e João. Ou seja, existe apenas uma relação material controvertida e um único pedido (pedido de execução específica) pelo que se exclui a possibilidade de se estar face a uma situação de coligação.

Excluída a possibilidade de se estar face a uma situação de coligação, coloca-se a questão de saber se se está face a um litisconsórcio voluntário ou necessário.

Para responder a esta questão é necessário formular uma outra questão: o efeito útil normal da sentença produz-se se a acção for proposta apenas contra um dos promitentes, neste caso Luís?

O Litisconsórcio necessário natural encontra-se consagrado no art. 28º/2 CPC e é aquele em que é imposta a presença de todos os interessados na acção (maxime de todos os titulares da relação material controvertida), pois, doutro modo, a decisão judicial a obter não produz o seu efeito útil normal, atenta a natureza da relaçao jurídica em discussão.

O Efeito útil Normal de uma decisão judicial consiste na composição definitiva do litígio entre as partes relativamente ao pedido formulado, de modo que o caso julgado material possa abranger todos os interessados, evitando tornar-se incompatível (por que contraditória, total ou parcialmente) com a decisão eventualmente obtida numa outra acção. O essencial é que o resultado da composição do tribunal vincule as partes que estão no processo compondo definitivamente a situação jurídica entre elas, não podendo esta composição ser afectada por uma outra que, eventualmente, venha a ser obtida em ulterior acção entre as mesmas partes.

Imagine-se a seguinte situação: no pedido de execução específica proposto contra Luís este é declarado procedente, mas se o mesmo pedido for proposto contra João e declarado improcedente esta improcedência coloca em causa a procedência do primeiro pedido. A não oponibilidade conduz a que a sentença não produza o seu efeito útil normal.

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Deste modo, e em suma, para impedir que a sentença não produza ao seu efeito útil normal e que consequentemente o juiz não possa conhecer do mérito da causa nos termos do art. 493º e 494º al. e) o autor deverá provocar a intervenção de João quer de forma espontânea quer de forma provocada, nos termos do art. 320º al. a) e ss. CPC.

IV - Competência CASO XI

Fernando, furioso por ter sido despedido pela empresa Transportes Velocidade, S.A., no âmbito de uma alegada reestruturação motivada pela crise financeira, instaura acção de condenação no Juízo de Grande Instância Cível contra esta última, pedindo o pagamento dos salários e das férias em atraso, bem como uma indemnização por danos morais que alega ter sofrido com um despedimento tão abrupto. Quid iuris? TEMA: COMPETÊNCIA ABSOLUTA (INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA EM RAZÃO DA MATÉRIA)

No presente caso, Fernando instaura uma acção de condenação contra a empresa Transportes Velocidade, no Juízo de Grande Instância Cível. É necessário analisar se o Juízo de Grande Instância Cível teria competência para conhecer do mérito da causa.

Deste modo, é necessário analisar os critérios de competência absoluta nesta fase, uma vez que quanto à competência relativa está só será analisada depois a primeira se encontrar verificada:

Competência Internacional

O presente litigio encontra-se centrado na ordem jurídica portuguesa, não existindo nenhum facto de conexão com outra ordem jurídica (poderia existir se o contrato prevê-se uma cláusula de foro, mesmo que não fosse válida). Deste modo, não é necessário sujeitar a resolução do processo ao Regulamento de Bruxelas, ao artigo 65º e ss CPC ou a Pactos de Jurisdição. Conclui-se que os tribunais portugueses têm competência em razão do território.

Competência em Razão da Matéria (art. 66º e ss CPC)

De acordo com a natureza das matérias que são objecto dos conflitos de interesses, assim o poder jurisdicional é atribuído a distintos tribunais. Nos termos do art. 66º CPC consagra-se que a competência dos tribunais judiciais é residual no confronto com as restantes ordens jurídicas de jurisdição permanente (art. 209º e ss. CRP – Tribunal Constitucional, Tribunal de Contas, Tribunais Administrativos, Tribunais Fiscais e Tribunais Militares).

Deste modo, a competência em razão da matéria distingue os tribunais judiciais relativamente aos tribunais de outras ordens de jurisdição em função da especialização das matérias em causa. Nos termos do art. 26º/1 da LOFTJ 2008 as causas que não sejam da competência de outra ordem de jurisdição são da competência dos tribunais judiciários.

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No presente caso, considerando o art. 209º da CRP, as inerentes leis de organização das diferentes ordens dos tribunais, o art. 66º do CPC e o art. 26º da LOFTJ 2008 estamos face a uma acção de condenação proposta por Fernando contra a empresa Transportes Velocidade pelo que a competência pertence aos Tribunais Judiciais.

Dentro da ordem de jurisdição dos tribunais judiciais, a lei distingue diferentes tribunais, no tocante à competência em razão da matéria. Deste modo, e de acordo com o art. 73º/2 da LOFTJ, os tribunais judiciais podem ser de:

 Competência Genérica (art. 110º LOFTJ 2008): se o autor invoca factos que permitem várias qualificações jurídicas, o tribunal que tenha sido provocado é materialmente competente se no seu âmbito de competência couber, pelo menos, uma das qualificações jurídicas. O tribunal embora competente, somente pode analisar o caso à luz da qualificação para que seja materialmente competente.

 Competência Especializada (art. 111º e ss LOFTJ 2008): quando os factos alegados pelo autor apenas autorizam uma determinada qualificação jurídica, com exclusão de outras qualificações, o tribunal em que ele deduziu a acção é competente, se e quando essa qualificação for subsumida no âmbito de competência material desse tribunal.

No presente caso, estamos no âmbito de uma relação de trabalho em que Fernando tinha sido despedido pela empresa Transportes Velocidades, pelo que nos termos do art. 74º/2 al. c) LOFTJ, existindo um tribunal de competência especializada na região (que no caso nenhum elemento nos é dado quanto a este facto), seria da competência especializada do Tribunal do Trabalho, não podendo a acção ser intentada na Instância Cível (competência residual). Ou seja, por força do art. 73º/2, in fine e do art. 74º/2 al. c) LOFTJ competentes são os Tribunais do Trabalho.

Deste modo, sendo a acção proposta no Juízo de Grande Instância Cível tal foi proposta num tribunal que é materialmente incompetente (quem seria competente seria o Tribunal do Trabalho, estando portanto face a um caso de incompetência absoluta nos termos do art. 101º CPC (‘’A infracção das regras de competência em

razão da matéria (…) determina a incompetência absoluta do tribunal’’)

Nos termos do art. 102º CPC, a incompetência absoluta pode ser arguida pelas partes.

Nos termos do art. 105º CPC a incompetência absoluta pode conduzir a uma das seguintes consequências: ou ocorre a absolvição do réu da instância, ou ocorre o indeferimento em despacho liminar, quando o processo o comportar. A segunda possível consequência constitui uma excepção pelo que esta norma necessita de ser conjugada com o art. 234º-A.

NOTA1: Nos termos do art. 102º/1 a incompetência absoluta deverá ser suscitada

oficiosamente pelo tribunal em qualquer estado do processo, enquanto não houver sentença com transito em julgado sobre o fundo da causa. Ou seja, se a acção tivesse sido proposta num tribunal administrativo aplicar-se-ia o art. 102º/1 CPC uma vez que é uma incompetência absoluta mais gravosa.

NOTA2: Nos termos do art. 102º/2 conjugado com o art. 495º, mesmo que não tenha

sido arguida pelas partes, a incompetência em razão da matéria é de conhecimento oficioso, desde que o seja até ser proferido o despacho saneador, ou, não havendo lugar a este, até ao início da audiência de discussão e julgamento. Quando se está

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face a uma incompetência absoluta que se situa no seio da jurisdição judicial aplica- se o art. 102º/2 uma vez que o tribunal judicial poderá conhecer de questões de Direito do Trabalho (o Contrato de Trabalho encontra-se previsto no Código Civil), uma vez que embora tenha ocorrido a autonomização do Direito do Trabalho, este continua a ser um ramo de Direito Civil.

Deste modo, a especialização dos juízes nestas matérias não impõe, do ponto de vista em sede de recurso, que a acção possa voltar para trás. A incompetência continua a existir, a ser de conhecimento oficioso, mas tem um prazo mais curto (‘’até ser

proferido despacho saneador (…)até ao início da audiência de discussão e julgamento’’) – mesmo que aquele tribunal fosse incompetente torna-se competente

(sanação do vício)

NOTA3: Nos termos do art. 103º CPC, sendo a incompetência arguida antes do

despacho saneador o juiz poderá conhecer dela imediatamente ou reservar a sua apreciação para esse despacho; se a incompetência for arguida após proferido o despacho saneador ela deverá ser conhecida de imediato.

NOTA4: Quanto às consequências da incompetência absoluta, consagradas no art.

105º, esta constitui uma excepção dilatória nos termos do art. 493º/2 e 494º al. a), obstando deste motivo ao conhecimento do mérito da causa e gerando a absolvição da instância nos termos do art. 288º/1 al. a), sendo nos termos do art. 495º é de conhecimento oficioso.

NOTA5: Nos termos do art. 106º, a decisão sobre a incompetência absoluta possui

força de caso julgado formal, ou seja é uma decisão que será sempre passível de recurso, pelo que se deve conjugar a referida norma com o art. 678º/2 al. a) CPC.

CASO XII

Ana, francesa, residente em Paris, pretende instaurar uma acção contra a sociedade Belavista, S.A., com sede em Braga, e que explora um jornal com o mesmo nome, pedindo a sua condenação no pagamento de uma indemnização no valor de €100.000,00 por danos morais causados por notícia que, no seu entender, viola a sua honra e o seu bom nome.

a. Qual o Tribunal competente?

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