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TEMA: PROVA (EM GERAL) E ÓNUS DA PROVA

No documento Processo Civil - Casos Práticos (páginas 103-106)

c Celebrado o contrato definitivo, IP não paga o remanescente do preço, obrigando XC a instaurar a respectiva acção de condenação?

TEMA: PROVA (EM GERAL) E ÓNUS DA PROVA

ÓNUS DA PROVA SUBJECTIVO: a demonstração da realidade dos factos controvertidos cabe às partes.

Cada uma das partes deverá tentar demonstrar um acervo de afirmações de factos constantes dos articulados que juntaram aos autos. Se uma delas (ou ambas) não cumprir essa demonstração (ou ónus) o tribunal está impedido de se abster de julgar, mesmo que esteja com dúvidas insanáveis – art. 8º/1 CC.

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FDUCP

Maria Luísa Lobo – 2012/2013

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Este sistema subectivo da prova das afirmações dos factos implica a distribuição pelas partes do encargo de demonstração de um certo conjunto de afirmações. Todavia tal sistema é temperado por um sistema objectivo: a consequência da falta de demonstração da realidade desses factos ou a dúvida insanável que sobre essas afirmações de factos se abate na convicção do julgador importa a demonstração do facto contrário.

Nos termos do art. 516º CPC, perante a falta de prova das afirmações de facto aduzidas pelo autor, o tribunal ficciona como provadas as afirmações de facto aduzidas pelo réu e emite uma decisão desfavorável á parte a quem compre, nos termos da lei, demonstrar a realidade das afirmações de facto.

O ónus da prova implica a questão de saber a quem compete a prova dos factos controvertidos. Nos termos do art. 342º/1 CC ‘’Àquele que invocar um direito cabe a

prova dos factos constitutivos do direito alegado’’. À contraparte cabe a prova dos

factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito invocado nos termos do nº2 da norma em análise. Por exemplo, os factos modificativos favoráveis ao autor devem por este ser provados. Ao réu cabe demonstrar e convencer o tribunal acerca da verificação dos factos modificativos que lhe são favoráveis. Ou seja, uma vez que a identificação dos factos não é sempre a mesma (existem factos de maior facilidade de identificação do que outros) existe a norma constante do nº2 do artigo em análise, consagrando-se deste modo a Teoria da Norma. Note-se que em caso de dúvida, nos termos do nº3 consagra-se que, os factos devem ser considerados como factos constitutivos do direito.

Conjugando as regras constantes no Código Civil (art. 342º) e a Teoria da Norma resulta que é necessário identificar a norma que consagra o direito que se pretende fazer valer na acção, cabendo ao autor fazer a prova que integram a sua provisão; o réu terá de provar a excepção e a sua previsão para aproveitar da estatuição desta mesma excepção.

Ou seja, cada parte deverá alegar e provar os factos correspondentes à previsão da norma que aproveita à sua pretensão ou à sua excepção, ou seja, cada parte tem ónus de demonstrar a existência de todos os pressupostos das normas que favorecem e legitimam legalmente a sua pretensão, sem prejuízo de o julgador poder usar alguma flexibilidade, atendendo à maior u menos verosimilhança dos factos alegados. Note-se que o art. 342º do CC consagra a regra geral do ónus da prova, mas existem regras excepcionais que o legislador previu e que fogem aos critérios gerais da norma que foi analisada. Tais regras excepcionais encontram-se consagradas no art. 343º e 344º CC. Nestes casos o ónus da prova deixa de pender sobre uma das partes e passa a pender sobre as outras, ou seja, ocorre a inversão do ónus da prova. Nos termos do art. 345º rege-se ainda o caso das convenções sobre as provas.

No presente caso estamos face a uma acção de condenação em responsabilidade civil contratual (art. 1129º - contrato de comodato), pelo que o autor (André) que pretende ser indemnizado uma vez que fora incumprido o contrato terá de provar os factos constitutivos do seu direito (art. 342º do CC e Teoria da Norma).

No presente caso, André (autor) quando reclama a indemnização está a responsabilizar Bernardo (devedor) com base no art. 798º do CC, pelo o autor terá de provar os factos. Ou seja, os factos integradores da responsabilidade civil contratual, em principio, teriam de provados pelo autor. Contudo, o art. 799º CC consagra uma situação de inversão do ónus da prova, derivando tal do regime do comodato mais concretamente do art. 1135º al. a) e d) CC.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013

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Mesmo tendo em consideração o art. 798º do CC aplica-se o regime geral do ónus de prova constante do art. 342º CC, cabendo ao autor provar os factos que alega. Contudo quando se trata de apurar a culpa do devedor aplica-se o art. 799º CC cabendo ao devedor provar que a situação (a inundação no caso) não se deveu a culpa sua. Note-se que o regime geral da responsabilidade civil contratual pressupõe a culpa.

Note-se que no art. 799º do CC encontra-se consagrado um meio de prova: a Prova Presunção. Deste modo é necessário provar o facto base por outro meio de prova, por exemplo o incumprimento. Provando-se tal, dai retira-se o facto presuntivo, ou seja a culpa. Poderá ocorrer a inversão do ónus da prova quando exista uma presunção legal nos termos do art. 344º/1 primeira parte (no art. 799º consagra-se uma presunção legal).

Deste modo, constatando o juiz que exista uma dúvida insanável no tocante à origem da ‘’abertura’’ da torneira (‘’não ficou provado se a mesma ficara aberta ou se

vedava mal’’) irá decidir contra Bernardo se tal não tiver afastado a presunção de

culpa que sobre ele recai nos termos do art. 799º CC.

NOTA1: O Direito Probatório Material (art. 348º e ss do Código Civil) é constituído pelo

ónus da prova, a admissibilidade dos meios de prova e o valor dos mesmos. Por sua vez o Direito Probatório Formal (CPC) traduz o procedimento pelo qual a prova é realizada.

NOTA2: Nos art. 346º e 347º do CC faz-se menção ao valor dos meios probatórios,

podendo tal ser de dois tipos (1) prova com valor probatório bastante; (2) prova com força probatória plena.

NOTA3: O art. 341º do CC constitui a regra, ou seja as provas têm a função de

demonstração dos factos e não do direito. O art. 348º do CC respeita à invocação do direito consuetudinário, local ou estrangeiro e constitui uma excepção à norma referida uma vez que se refere à prova do direito (exemplo: alega-se que existe um costume com conteúdo tal em local X).

NOTA4: Um facto por vezes pode-se provar sem se ter afastado a presunção de culpa

uma vez que visa-se a descoberta da verdade material e não apenas a formal. Tal resulta do art. 515º CPC que consagra o Princípio da Aquisição Processual.

NOTA5: A resolução do caso foi realizada com base numa situação de

responsabilidade contratual. Se se tratasse de uma questão de responsabilidade extracontratual a solução seria difícil uma vez que não existe nesta inversão do ónus da prova, pelo que nos termos do art. 487º/1 CC caberia ao autor provar os factos que alega.

NOTA6: Imaginemos uma situação de responsabilidade contratual em que o credor,

face ao incumprimento por parte do devedor, não requer a condenação numa indemnização mas sim a condenação no cumprimento do contrato. Não ficando provado o incumprimento do contrato coloca-se a questão de saber a quem cabia o ónus da prova de tal. O cumprimento é um facto extintivo da obrigação pelo que, nos termos do art. 342º/2 CC, cabe ao réu provar tal. Contudo, a questão do incumprimento seria um facto constitutivo do direito do autor pelo que a sua prova cabia a este. Quando se fala em cumprimento ou incumprimento está se a qualificar um facto que é o mesmo, sendo que o ónus de prova do mesmo é que varia. Ou seja:

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013

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 Quando se pretende provar o cumprimento, tal é um facto extintivo da obrigação, pelo que cabe ao réu provar – art. 342º/2 do CC

 Quando se pretende provar o incumprimento, tal é um facto constitutivo do direito do autor pelo que cabe a este prova-lo – art. 342º/1 do CC.

NOTA7: Estudar a matéria do ónus da prova pelo PROF. ANTUNES VARELA CASO XVII

Carlota propôs uma acção contra Diogo pela qual pediu ao Tribunal que declarasse que nada devia a Diogo ao abrigo do contrato de mútuo celebrado com este dois anos antes. Alegou para tanto que a obrigação de reembolso da última tranche ficara sujeita à condição de os juros pagos até determinada data não excederem a quantia de € 15.000, tendo os mesmos excedido, na verdade, tal valor em € 5.000. Na contestação, Diogo alegou existir a dívida e impugnou que o reembolso da última tranche tivesse ficado sujeito a qualquer condição. Considerando que o juiz não considerou provada a dívida e o acordo sobre a condição, como deverá ele decidir a causa?

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