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A teoria fisio-psicológica de Alfredo Angiolini158, também estudioso da escola

positiva159, procurou estabelecer a distinção entre ato consciente e inconsciente, ato

156 ALIMENA, Bernardino.

Causalitá, mezzo antigiuridico, etc., p. 9, apud Raul Machado, A culpa no Direito Penal. p. 92.

157 MANZINI, Vincenzo.

Tratado de Derecho Penal. p. 208, tradução nossa.

158 ANGIOLINI, Alfredo.

Dei delitti colposi, p. 49 a 67, apud Galdino Siqueira, Tratado de Direito

querido e involuntário, conforme explicação dos conceitos relativos aos mecanismos de processos fisiológicos:

A excitação periférica por meio dos nervos sensitivos que da periferia conduzem ao centro as excitações e chega a esse centro, constituído pelo cérebro e a medula espinhal, algumas vezes vem diretamente transmitida aos nervos motores que a reenviam à periferia, ocorrendo, então, o ato inconciente; outras vezes, é apreendida, retida, pelos centros inibitórios e se torna, deste modo, voluntária, porque é manifestamente sentida pelo organismo. Temos, então o ato conciente.160

Apesar da crítica de Manzini161, pois muitos dos exemplos na classificação a seguir possuem na atualidade tipificação própria, inclusive na modalidade dolosa, foi relevante o estudo de Angiolini, pois, para a sua época, se preocupou muito com o tema, demonstrado pelas classificações das quatro categorias de delinqüentes culposos, com seus respectivos meios de punição, conforme as seguintes observações de Ferri162 e de Raul Machado163:

a) Delinqüentes por defeito de senso moral e de altruísmo, considerada a mais perigosa, pois atuam em desrespeito às condições de existência das outras pessoas. Abrange os sujeitos que agem por egoísmo ou avareza, tais como: industriais que exploram atividade de trabalho infantil prejudicando o desenvolvimento físico, comerciantes que vendem produtos deteriorados. Ferri citava o exemplo dos condutores de automóveis que os conduzem em velocidade inapropriada em ruas movimentadas satisfazendo seu capricho ou gosto pela velocidade.164 Como sugestão de penalidade: as multas (que seriam revertidas aos prejudicados pela atuação do responsável), interdição de atividade, indenização civil e penas corporais;

159 FERRI, Enrico.

Principios de Derecho Criminal. p. 262.

160 MACHADO, Raul.

A culpa no Direito Penal. p. 71 e 72.

161 “Em substância, é a antiga teoria da previsibilidade que fundamenta essas distinções. Resulta claramente que esta classificação não tem nenhum valor perante o direito positivo que se inspira em outro critério bem diferente. Parece, não obstante, que pouco possa ter em face da psicologia e da sociologia, desde o momento em que na mesma estão compreendidos tanto casos de dolo, como de culpa, como também de força maior.” MANZINI, Tratado de D. Penal, p. 208, tradução nossa.

162 Ferri observou que o delinqüente culposo mereceria um exame mais profundo, haja vista o aumento do número de homicídios involuntários em comparação à diminuição dos voluntários, tendo em conta “as complicações e intensificações da vida moderna”. Cita, por exemplo, que na Inglaterra havia dois mil casos de acidentes automobilísticos contra cento cinqüenta homicídios voluntários e, portanto, no estudo do tema, menciona que Angiolini “foi quem realizou a contribuição mais original sobre este problema, apresentando uma classificação antropológica dos deliquentes culposos que segundo minha experiência profissional é substancialmente exata e completa”. FERRI, Enrico.

Princípios de Derecho Criminal. p. 262, tradução nossa.

163

A culpa no Direito Penal, p. 73 a 75.

164 FERRI, Enrico.

b) Delinqüentes por imperícia ou inaptidão: a atuação é querida mas inconsciente com relação ao efeito imprevisto. Destacam-se nessa categoria os médicos, cirurgiões, engenheiros, ministros de estado, entre outros, que, desconhecendo ou ignorando princípios básicos atinentes ao exercício da função, profissão ou cargo, causam prejuízos a terceiros em razão da atuação errônea. A penalidade envolveria multa, suspensão e até cassação do exercício profissional;

c) Delinqüentes por defeito da associação de idéias e do mecanismo da atenção: os agentes possuem sensibilidade moral e perícia técnica suficiente, atuando com consciência na causa imediata, porém, não fazem previsão dos efeitos causados. Esta categoria abrange a maioria dos responsáveis por delitos culposos e, conforme as palavras de Raul Machado,

Vão desde o incauto que deixa um menino aproximar-se de uma máquina em movimento e segurar numa roldana, que lhe quebra o braço, até o homem distraído que, olhando os astros, cai num fosso, ou o sábio que, caminhando, abstrato, entregue à sua ciência, atropela uma criança, causando-lhe graves lesões. Nela se enquadram, portanto, o caçador, o cocheiro, o ciclista, o condutor de automóvel, imprudentes, e, de um modo geral, todos os indivíduos negligentes e desatentos.165

As punições para essa categoria seriam: a reparação civil e a pena de multa aliada a condições rigorosas para a concessão da licença para o exercício das atividades que exigissem a administração do Poder Público, por exemplo, habilitação para dirigir veículos automotores;

d) Delinqüentes que atuam de forma errônea por causa de condições especiais, subjetivas ou objetivas, mas momentâneas, seja pela influência do meio (emoção pública, confusão ou tumulto), seja em virtude do esgotamento físico ou intelectual, cuja causa imediata é inconsciente, mas o efeito não é previsto. Nesta classificação, Angiolini defende que os operários, os empregados de estrada de ferro, ou quaisquer outros trabalhadores que, em virtude da fadiga ocasionada pelo trabalho extenuante, não seriam responsáveis, e sim, os seus empregadores, pois aqueles não puderam cumprir a segurança do desempenho profissional em razão excesso de carga horária. Portanto: “a temibilidade desaparece e a culpa cabe ao empresário que deve ser declarado civil, e mesmo, penalmente, o único responsável.”166

165 MACHADO, Raul.

A culpa no Direito Penal. p. 73 a 75.

166 MACHADO, Raul.