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CAPÍTULO 2 – EDUCAÇÃO EM MARKETING: UMA HISTÓRIA A PARTIR DAS

2.1. TRAJETÓRIA DO PESQUISADOR

Tomamos como ponto de partida o entendimento de que o contexto da revolução industrial e a estruturação da sociedade britânica nos séculos XVIII e XIX foram eventos potencializadores das práticas de mercado. A partir dessas práticas, entre o final do século XIX e início do século XX, as universidades europeias e americanas estruturaram as suas disciplinas relacionadas às demandas de mercado que vieram a ser base do ensino de marketing gerencial na sequência (LAYTON, 2011).

Feito este recorte temporal e geográfico procuramos viabilizar um doutorado sanduíche na Inglaterra e pesquisar, in loco, as raízes do nosso estudo. Enviamos um e-mail, no dia dezenove de junho de 2014, para o nosso ex-professor de graduação em administração de empresas da Universidade Federal da Paraíba, Luciano Campos Batista. O professor Luciano havia se tornado docente na Inglaterra, na década de 2000, e estava de mudança para a University of Northampton, onde assumiria a função de Senior Lecture in Operation Management. Prontamente ele se voluntariou em nos supervisionar nesta universidade e a nos dar todo o suporte necessário para a conduzirmos a pesquisa.

A partir daí estruturamos, no segundo semestre de 2014, um projeto de pesquisa e o submetemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) para a captação de uma bolsa de estudo por seis meses. Com o aceite do professor Luciano Batista e a concessão da bolsa para o doutorado sanduíche da CAPES, planejamos nossa estadia na Inglaterra entre os meses de fevereiro e julho de 2015. A figura 6 ilustra o nosso percurso acadêmico nesse período.

Figura 6 - Trajetória do pesquisador na construção do capítulo.

Fonte: Elaboração própria (2016).

Chegamos a University of Northampton e iniciamos as atividades em fevereiro de 2015. Por demanda do supervisor foi escrita uma síntese (com cinco páginas) da nossa proposta de pesquisa (Doctorate Project) que foi encaminhada para o professor Jon Stobart, especialista na história do varejo inglês, e para outros docentes de marketing da Business School, a exemplo da professora Kathleen Mortimer.

A proposta de trabalho, intitulada Education in marketing in Brazil: An analysis of the historical construction, foi disponibilizada no dia 24 de março e descrevia a metodologia e a contextualização da pesquisa, assim como os objetivos propostos do resgate histórico das práticas de mercado e do ensino de marketing na Inglaterra, na Alemanha e nos EUA a partir da Revolução Industrial. No dia 15 de abril, durante cerca de uma hora, apresentamos o Doctorate Project para a professora Kathleen Mortimer e para o professor Luciano Batista. Na oportunidade, ambos nos forneceram importantes insights para a sequência das nossas pesquisas na Inglaterra.

A vivência acadêmica na University of Northampton foi importante para a construção da tese, pela oportunidade de leitura dos livros do professor Jon Stobart e dos livros sobre as universidades inglesas, a exemplo do The History of British universities, 1800-1969, excluding Oxford and Cambridge: a bibliography (SILVER; TEAGUE, 1971). Outro ponto considerável foi a integração e o acesso aos bancos de dados de outras universidades inglesas.

Além disso, participamos, na condição de ouvintes, a convite do professor Luciano e da professora Sandy MacDonald, de três Research Seminars na universidade (a finalidade destes eventos é fazer com que os professores e os estudantes contribuíssem com os seminários de pesquisas apresentados, e assim, potencializassem o networking entre os presentes, melhorassem a qualidade das teses através dos feedbacks e desenvolvessem o pensamento acadêmico. Nosso projeto foi apresentado em um desses encontros).

Nossa apresentação no Research Seminar foi marcada para o dia oito de julho. Estiveram presentes, além do professor Luciano Batista, a Mrs Emma Obatole (PhD student), a Miss Wang Yin (Lecturer in International Business), o Mr Roger Willets (Lecturer in Marketing), a Miss Anna Kopec (PhD student). Após os 50 minutos da nossa exposição, houve a arguição e a colaboração à nossa pesquisa pelos presentes. Sugestões foram dadas ao trabalho, o que nos ajudou nas pesquisas e nas leituras posteriores que fizemos, in loco, em Manchester, em Liverpool e em Berlim.

Depois de Northampton, a segunda cidade inglesa que deu suporte à nossa pesquisa, cronologicamente, foi Londres, com seus museus, suas ruas e praças e suas bibliotecas, em especial a British Library. Nossa primeira ida à British Library foi em março de 2015, quando fomos instruídos sobre os procedimentos de cadastro pela internet e fomos registrados para a condição de reader, modalidade de usuário que tem acesso aos documentos históricos necessários à pesquisa.

Iniciamos em abril a pesquisa na British Library (Figura 7) em livros e artigos referentes aos séculos XVIII e XIX na Inglaterra, no tocante à Revolução industrial, à sociedade, ao comportamento do consumidor, ao varejo e à educação em marketing e em economia. Leituras sobre estas temáticas foram acrescidas durante as cinco visitas que realizamos na livraria mais antiga da Inglaterra, a Waterstones (antiga Hatchards, fundada em 1797 por John Hatchard) localizada na Avenida Piccadily em Londres (Figura 8).

Figura 7 - Fachada da British Library, Londres. Figura 8 - Fachada da Waterstones (Antiga

Hatchards), Londres.

Fonte: O autor (mar. 2015). Fonte: O autor (mar. 2015).

Ainda na capital britânica visitamos, no final do mês de julho, o London Transport Museum (Figura 9) que nos permitiu um conhecimento adicional acerca do contexto de industrialização de Londres e das práticas de mercado dele decorrente. As fotografias e os textos disponibilizados pelo museu contemplavam informações sobre o desenvolvimento de Londres ao longo do século XIX, realçando as transformações no espaço urbano e nas ruas da cidade, destacando o início das propagandas no comércio, e descrevendo a estruturação dos transportes. As informações contidas no London Transport Museum foram observadas, in loco, ao longo dos seis meses vivenciados na Inglaterra. Tivemos a oportunidade de conhecer espaços de consumo e estações de trem (Figuras 10a e 10b), por exemplo, que datavam dos séculos XVIII e XIX, respectivamente.

Figura 9 - London Transport Museum, em

Londres. Figura 10 - (a) Covent Garden (séc. XVIII); (b) Upton Park Station (séc. XIX), em Londres.

Fonte: O autor (mar. 2015). Fonte: O autor (mar. 2015).

Em consonância aos estudos que estávamos realizando em Londres e em Northampton, percebemos a necessidade de aprofundarmos a fundamentação teórica da tese. Neste ponto, a University of Oxford foi essencial. Em maio de 2015 entramos em contato, por e-mail, com funcionários da Bodleian Library da University of Oxford. Pesquisamos, entre 26 de maio e 01 de junho, cerca de 42 obras, entre livros e artigos, os quais versaram sobre a Historical schools of economics, sobre os primeiros cursos de marketing, sobre o ensino e a história de marketing, sobre os primeiros professores da disciplina, além da biografia de acadêmicos importantes na área (e.g. Bartels, George M. Fisk, Simon Litman, Richard Ely, Edwin Gay, Edward Jones, Wroe Alderson etc.)

O embasamento teórico adquirido nos locais pesquisados em Northampton, em Londres e em Oxford, juntamente com os feedbacks que recebemos dos docentes e dos estudantes de pós-graduação que participaram do nosso Research Seminar na University of Northampton, ratificaram a nossa necessidade de visitarmos as cidades de Manchester (pela segunda vez), Liverpool e Berlim. Objetivando sedimentar ainda mais o escopo teórico da tese, estruturamos para o mês de julho de 2015 um roteiro de visitas aos museus dessas três cidades e à biblioteca da Humboldt-Universität na capital alemã.

Começamos o nosso roteiro no norte da Inglaterra pelo Museum of Science Industry, na cidade de Manchester, em meados do mês de julho, e direcionamos a nossa pesquisa para a

compreensão da revolução industrial inglesa, como ponto de partida das práticas de mercado que se sucederam nos séculos XVIII e XIX. As exposições de imagens e de textos presentes no Museum of Science Industry (Figura 11) retratavam a revolução dos transportes e das máquinas, a atividade dos mercadores, os locais de negociações e a influência de Manchester através das propagandas. Além disso, destacavam a importância econômica de alguns produtos como o algodão e a concepção de moda e a estruturação do processo de distribuição decorrentes dele. Somando-se as estas informações presentes no museu, visualizamos nas ruas de Manchester obras de infraestrutura (e.g. Manchester Ship Canal) e diversos prédios industriais e comerciais (Figura 12a) que foram protagonistas da história da cidade durante a revolução industrial e dos séculos seguintes. Um exemplo é o Midland Hotel (Figura 12b) onde empresários do ramo de algodão se hospedavam para tratarem de negócios. Neste hotel, Charles Rolls encontrou Frederick Royce para fundar a Rolls-Royce Motor Company (SCHOFIELD, 2009, p. 86).

Figura 11 - Museum of Science Industry, em

Manchester. Figura 12 - (a) os Prédios de Manchester - séc. XVIII; (b) o Midland Hotel - séc. XIX.

Fonte: O autor (jul. 2015). Fonte: O autor (jul. 2015)

Depois de Manchester fomos até Liverpool, onde realizamos estudos sobre as práticas de mercado na Inglaterra com o advento da Revolução Industrial. Visitamos o Museum of Liverpool (Figura 13) analisando imagens e textos sobre a região portuária da cidade, sobre o sistema de transporte composto por navios e trens, e sobre o crescimento do setor de importação e de exportação alavancados pelo comércio do açúcar e do algodão. Assim como

em Londres e em Manchester, a cidade de Liverpool preservou as construções (Figuras 14a e 14b) que contribuíram para o seu desenvolvimento ao longo dos anos.

Figura 13 - Museum of Liverpool, em Liverpool. Figura 14 - (a) Região Portuária (séc. XVIII); (b)

Estação de Trem em Liverpool (séc. XIX).

Fonte: O autor (jul. 2015). Fonte: O autor (jul. 2015).

Finalizadas as pesquisas nas cidades inglesas nos dirigimos a Berlim, entre os dias 17 e 23 de julho de 2015. Um pouco antes, no mês de maio, nos comunicamos com a biblioteca da Humboldt-Universität (Figura 15) na capital alemã. Adotamos praticamente a mesma abordagem utilizada no contato inicial com a Bodleian Social Science Libraty, em Oxford. Ao longo desse período na Alemanha, focamos nossos estudos na German Historical School of Economics e sobre os trabalhos do professor Gustav Von Schomller. No total, cerca de 28 artigos, alguns do século XIX, foram baixados e lidos posteriormente. Em acréscimo, visitamos o Deutsches Historisches Museum de Berlim (Figura 16) onde adquirimos informações teóricas acerca da industrialização e o do ensino na Alemanha no século XIX.

Figura 15 - Biblioteca da Humboldt-Universität, em

Berlim. Figura 16 - Deutsches Historisches Museum, em Berlim.

Fonte: O autor (jul. 2015). Fonte: O autor (jul. 2015).

Esta foi a nossa trajetória acadêmica vivenciada no primeiro semestre de 2015 na Europa. As visitas aos museus, aos espaços urbanos, às bibliotecas e às universidades, assim como a interação com outros professores e outros alunos nos auxiliaram na fundamentação bibliográfica deste capítulo de tese. Procuramos através das leituras de livros e de artigos embasar teoricamente o contexto histórico das práticas de mercado e de ensino na Inglaterra e na Alemanha no século XIX e a sua relação com o surgimento da disciplina de marketing nos EUA no início do século XX. Na sequência, detalhamos os resultados.