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UMA NOITE NA TAVERNA COM ÁLVARES DE AZEVEDO

No documento ANAIS – Mostra Científica 2016 (páginas 99-104)

geração”. Por seu turno, Candido (1999, p. 43) considera Azevedo “o poeta mais interessante do Romantismo brasileiro”.

Manuel Antônio Álvares de Azevedo é filho de Inácio Manuel Álvares de Azevedo e Maria Luísa Mota Azevedo, nasceu na cidade de São Paulo, Império do Brasil, em 12 de setembro de 1831. Mudou-se logo cedo para cidade do Rio de Janeiro onde iniciou seus estudos e perdeu seu irmão mais novo Inácio Manuel logo após a mudança.

Alguns anos depois ingressa na Faculdade de Direito de São Paulo onde conhece José de Alencar, outro importante nome da literatura brasileira. Em 1852, enquanto cursava o quarto ano da faculdade, Alvares sofre complicações devido a uma queda de cavalo e descobre um tumor na fossa ilíaca que logo é retirado, porém o romântico teve uma infecção de 40 dias que o levou a morte. Bueno (2000), Bosi (2004).

Bueno (2000, p.82) faz uma comparação sobre o paradoxo da personalidade do poeta e diz que a "característica quase esquizoide da alma de Álvares de Azevedo", dissocia de sua obra "onde não faltam bebedeiras e orgias altamente byronianas" e de sua vida de "excelente e responsabilíssimo aluno, de enorme afeição familiar e provavelmente bastante casto". Segundo Iannone (2004), o byronismo era um tipo de modismo entre os poetas e acadêmicos brasileiros de modo extremamente acentuado.

Que justifica mostrar que os poetas estavam inseridos num contexto onde as tendência sociais era extremamente acentuadas como diz Candido (2006, p. 163) que ao concorda com Bueno ao dizer que “É a típica tonalidade paulistana, difundida por todo o país, contribuição original desta cidade ao Romantismo brasileiro, ligada à pessoa e à obra de Álvares de Azevedo” Em Noite na Taverna (1855), por exemplo, ele diz que, “A melancolia, o humor negro, o sarcasmo, o gosto da morte traçam à roda do grupo estudantil um círculo de isolamento que acentua, para o observador, o seu caráter de exceção na sociedade ambiente. [...] (CANDIDO, 2006, p. 163)”. Por exemplo, pode ser visto como um dos mais típicos produtos da influência byroniana no Brasil. Pode-se perceber que a relação do poeta social do século XIX e sua obra estão paralelamente ligadas. Candido (2000, p.24) nos faz refletir sobre a sistematização literária quando ele diz:

Quando a atividade dos escritores de um dado período se integra ( ... ) ocorre outro elemento decisivo: a formação da continuidade literária ( ... ). É uma tradição, no sentido completo do termo, isto é, transmissão de algo entre os homens, e o conjunto de elementos transmitidos, formando padrões que se impõem ao pensamento ou ao comportamento, e aos quais somos obrigados a

nos referir, para aceitar ou rejeitar. Sem esta tradição não há literatura, como fenômeno de civilização.

Dito isso, passamos para o segundo passo desta pesquisa que é cotejar os contos do livro A Noite na Taverna e verificar as suas influencias e apontar assim, por conseguinte os traços que faz do texto convergente com a hipótese desse estudo. Reuter (2007, p. 54-55) destaca que. “descrever o personagem por metonímia (o lugar onde ele vive e a maneira como ele mora indicam, em consequência, o que ele é); Descrever a pessoa por metáfora (o lugar que ele contempla remete, por analogia, ao que ele sente).

Seguindo esse pensamento do teórico Reuter, podemos determinar que o meio acaba por influenciar as personagens e determinar assim suas ações.

Brito (1979, p. 320), fala sobre a sociedade e a juventude refletida no livro A Noite na Taverna, cujo terrorismo factício ingênuo mereceu de Afânio Peixoto a classificação de genial. Em concordância, Candido (2002) também considera o poeta genial. Em outro momento o critico literário cita que, “apresenta, no entanto, interesse documentário: reflete ode uma época e vale ouro como contribuição para penetrarmos nos recalques do jovem estudante.” (BRITO 1979, p. 320). Em concordância a esse pensamento o teórico Magalhães diz:

Depois de tantos sistemas exclusivos, o espírito eclético anima o nosso século, ele se levanta como um imenso colosso vivo, tendo diante dos olhos os anais de todas as gerações, n’uma mão o archote da Filosofia aceso pelo gênio da investigação, com a outra aponta a esteira luminosa, onde se convergem todos os raios de luz, escapados do brandão que sustenta. Luz e progresso; eis sua divisa. (MAGALHÃES, 1978, p. 145).

Noite na taverna foi então publicada no segundo volume, em 1855, sem nenhuma alusão ao seu gênero. Segundo o autor “seguirá outro contendo uma coleção de escritos em prosa; no fim do qual daremos vários discursos e poesias que aparece rão por ocasião da sua morte”(AZEVEDO, 1853, p. 14). O poeta fez relatos e contos fantásticos como veremos a seguir trazendo átona o tom macabro e as peripécias de seus personagens quando a morte os cerca, como podemos ver no seguinte trecho do conto:

O que é a existência? Na mocidade é o caleidoscópio das ilusões: vive-se então da seiva do futuro. Depois envelhecemos: quando chegamos aos trinta anos, e o suor das agonias nos grisalhou os cabelos antes de tempo, e murcharam como nossas faces e as nossas ilusões esperanças, oscilamos entre o passado visionário, e este amanhã do velho, gelado e ermo – despido como um cadáver se banha antes de dar à sepultura! (AZEVEDO, 1942g, p. 112).

Para o pai da psicanálise Freud o pensamento cativo nas questões voltadas para a morte não é prazerosa trecho em reflexo ao pensamente macabro do escritor elegido para o estudo, onde vemos que em sua escrita o poeta em todo livro traz a tona o fascínio pela morte, Freud diz que:

A tendência dominante da vida mental, e talvez da vida nervosa em geral, é o esforço para reduzir, para manter constante ou para remover a tensão interna aos estímulos, tendência que encontra expressão no princípio de prazer, e o reconhecimento deste fato constitui uma de nossas mais fortes razões para acreditar na existência dos instintos de morte. (Freud, 1920, p.76)

Essa idealização e desejo macabro pela morte pode sim ser algo inconsciente trazido a tona através da literatura como o poeta aqui estudado diz “não era de espanto que a poesia viesse entoar o cântico dos funerais da crença no cadáver da religião (AZEVEDO, 1942a, p. 315).”

Já o teórico Roas fala sobre o leitor e a aproximação que o mesmo tem com as personagens “O leitor, como os personagens do romance, se depara com um fenômeno cuja presença excede todo o poder de compreensão, e que não cabe outra reação que não a dúvida, a surpresa e o medo” (ROAS, 2006, p. 62). Dando assim significado aos sentimentos do leitor em detrito a leitura. Sendo assim esse desejo apontado por Freud pode ter ou não influencia da vida e cotidiano do leitor e ao se deparar com a leitura há uma aproximação eminente. Outro exemplo é a idealização amorosa que é claramente apontada em um dos trechos do livro o poeta quando descreve:

Preguei-lhe mil beijos nos lábios. Ela era bela assim: rasguei-lhe o sudário, despilhe o véu e a capela como o noivo os despe a noiva. Era uma forma puríssima; meus sonhos nunca tinham evocado uma estátua tão perfeita. Era mesmo uma estátua: tão branca ela era. A luz dos tocheiros dava-lhe aquela palidez de âmbar que lustra os mármores antigos. (AZEVEDO, 2000, p. 569)

O autor descreve com perfeição dando assim aproximação do leitor com as personagens, o foco narrativo como apontado anteriormente da expressão ao conto.

Mostrando nesse episódio que cortejar as moças no século XIX era algo comum e como o livro é produto altamente romântico a idealização está presente quando ele diz: “Era mesmo uma estátua: tão branca ela era” (AZEVEDO, 2000, p. 569). A ideal de perfeição encontrado na mulher vemos logo em seguida quando ele diz: “dava-lhe aquela palidez de âmbar que lustra os mármores antigos.” Ainda na mesma pagina. Candido (1987, p. 16)

também diz que: “Aqui, não se trata mais de análise (como em Macário), mas de fatos, acontecimentos e sentimentos levados ao máximo de tensão moral.”

Ao falarmos do espaço onde ocorre os contos é de grande importância salientar que os personagens sofrem influencia como já foi apontado a cima em concordância com esse pensamento o teórico Dimas (1987, p. 20) fala que:

Por ambientação, entenderíamos o conjunto de processos conhecidos ou possíveis, destinados a provocar, na narrativa, a noção de um determinado ambiente. Para a aferição do espaço levamos a nossa experiência do mundo, onde transparecem os recursos expressivos do autor, impõe-se um certo conhecimento da arte narrativa.

Sendo assim o livro aqui estudado ao trazer o tom macabro que é a noite mostra o lado escuro da vida da sociedade do século XIX em qual a bebedeira e as orgias não lhes faltavam paradoxalmente a vida diurna como diz o critico Bosi (1994). “Aristóteles aponta, entre outras coisas, para dois aspectos essenciais: a personagem como reflexo da pessoa humana, [e] a personagem como construção, cuja existência obedece às leis particulares que regem o texto.” (BRAIT, 2000, p. 29), no conto analisado, as personagens possuem reflexo das pessoas humanas. Das suas vivencias e suas ações dando expressão real ao texto.

O enredo é algo de grande importância para o conto como cita Mesquita (1994, p. 12) ao falar “O enredo é estruturado pelo princípio lógico da casualidade e pela lógica temporal.”. Também segundo Mesquita (1994, p. 7), o enrredo pode serdefinido como “a apresentação/representação de situações, de personagens nelas envolvidos e as sucessivas transformações que vão ocorrendo entre elas, criando-se novas situações, até se chegar à final – o desfecho do enredo.”. Que no livro aqui estudado tem suma importância pois cada conto tem seu enredo amarrado por temas macabros e saturnos dando assim energia ao texto. Conforme Mesquita (1994, p. 13), o enredo “pode apresentar o seu significado mais ou menos transparente, assim como um leitor pode

‘ler’, com maior ou menor acuidade, o sentido de um texto.”.

Por ultimo e não menos importante temos foco narrativo que para Leite (2001)

“que canais de comunicação o narrador utiliza para comunicar a história?”, e a “que distância há entre o leitor e a história?”. Em A noite na Taverna o narrador é classificado como autor onisciente intruso, devido a sua liberdade de narrar quase em que todos os contos.

No documento ANAIS – Mostra Científica 2016 (páginas 99-104)