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Vitrúvio: a grande influência artística de Palladio

2.3 ESBOÇOS E PROJETOS DE PALLADIO: DA EXPERIÊNCIA PRÁTICA A

2.3.1 Vitrúvio: a grande influência artística de Palladio

Ao se discutir sobre a influência artística de Palladio, é preciso compreender o que seja Renascimento. De acordo com Dubois (1995, p. 10), trata-se dos “movimentos que se propagam na Europa por ondas concêntricas, a partir da Itália e em função das infraestruturas econômicas, que colocam esta região em privilégio”. O Renascimento é um movimento dinâmico que se deu, de forma muito expressiva no século em que viveu Palladio, nas ciências, na religião e nas artes, dentre elas a arquitetura.

Por seu dinamismo e sua criatividade, Palladio foi um dos tantos artistas do período renascentista que se contagiou com a leveza, a sutileza e as quebras de paradigmas do Renascimento.

Dubois (1995) diz que a Renascença, suas manifestações culturais, não se separa do terreno concreto e limitado sobre o qual se afirma:

O progresso da tecnologia, transformações econômicas, mudanças sociais e políticas que se encadeiam sejam por casualidade, seja por ressonância. O esforço no sentido

aceitando a pluralidade, a relatividade e certas tentativas sincréticas que nos parece bastante temerárias – constitui a dimensão intelectual de uma evolução que se exprime economicamente pela expansão, a conquista de novas riquezas e uma aceleração dos mecanismos de troca fundamentada na operação do capital em função do lucro (DUBOIS, 1995, p. 10).

O autor acrescenta que o imaginário renascentista manifesta-se tanto na criatividade extrapolada como nas tentativas realistas para apreender um objeto impossível.

Uma influência de suma importância para a vida profissional de Palladio foi a de Vitrúvio (Figura 3). Em seu tratado, editado em 1570, Os Quatro Livros de Arquitetura, Palladio constantemente o evoca, tomando seus conselhos.

Figura 3 – Vitrúvio (à direita) mostrando o "De Architectura" a Augusto.

Fonte: Imagem coletada no provedor google

Entre os anos 35 a.C e 20 a. C., Vitrúvio escreveu De Architecture, obra que reúne todos os seus ensinamentos para arquitetos e interessados. Nessa obra, há reflexões sobre a arquitetura dos gregos e dos romanos. O livro trata também das ideias de matemáticos e filósofos gregos sobre a ligação da proporcionalidade com o corpo humano, as quais ele incorpora nos templos greco-romanos. Na introdução do tratado de Palladio (1997), observa-

se um detalhe importante ligado ao corpo humano: “Vitruvius admired, in particular, the

design of Hellenistic temples, which represented for him the union of geometric, measure, and proportion-qualities and characteristics which mirrored, or so he reasoned, the beauty found in

nature and in the human body” (TAVERNOR, vii, 1997).

O tratado de Vitrúvio, que teve sua primeira publicação em 1486 por Daniele Barbaro, mentor de Palladio, posto assumido após a morte de Trissino, foi dedicado ao

coisas para ti [...]” (VITRÚVIO, 2007, p. 60). Essa obra foi uma entre muitas publicações que

se dariam nos séculos posteriores.

De Architecture é uma composição de dez livros, em cada um dos quais Vitrúvio trata de assuntos e temas de suma importância para a arquitetura. Há teorias, definições, práticas e aconselhamentos. São vários os temas de interesse da arquitetura no tratado de Vitrúvio: origem da arquitetura; materiais de construção; ordens arquitetônicas; construções públicas; edificações privadas; acabamentos de pintura e decoração; hidráulica; máquinas de guerra; e até estudo do zodíaco, para a construção de mediadores de tempo, fundamentado na astronomia.

Ao tratar, em seu primeiro livro, de aconselhamentos para o arquiteto, Vitrúvio (2002, p. 49) frisa que a “[...] ciência do arquiteto é ornada por muitos conhecimentos e

saberes variados, pelos critérios da qual são julgadas todas as obras das demais artes”. Sugere

que o arquiteto saiba ler e escrever, com o objetivo de tornar mais eficiente sua memória e ter a ciência do desenho, o que ajudará nos esboços das obras. Em resumo, Vitrúvio quer afirmar que o mais importante de tudo é o arquiteto saber geometria.

Vitrúvio (2002) chama a atenção em relação à importância do conhecimento filosófico para o arquiteto. Comprova-se isso quando ele afirma que a filosofia forma o arquiteto na grandeza de caráter, para que não se torne presunçoso, mas sociável, imparcial, sem avareza e sincero. Para o autor, isso acontece porque nenhuma obra pode ser executada sem boa-fé e honradez.

Ainda com respeito aos saberes do arquiteto, revela Vitrúvio (2002, p. 51): “é

igualmente necessário que saiba música para que tenha ciência dos sons musicais e suas relações matemáticas, e possa combinar corretamente a tensão nos cabos das balistas,

catapultas e escorpiões”.

Um dado ainda a ser considerado na formação arquitetônica de Palladio, relacionado à academia de Trissino, em Cricoli, é que, no século XVI, na Itália, a virtude era considerada um grau particular para a aspiração dos arquitetos. Tavernor (TAVERNOR, 1997, ix) esclarece que é Palladio o último a assumir fortemente isso como frontispício em cada um de seus quatro livros, ao retratar a regina virtus (Figura 4), – a rainha das virtudes – a mãe das artes, sentada ao alto.

É válido salientar que desde a primeira versão dos quatro livros, a deusa das artes aparece, tendo na mão direita um compasso e, na esquerda, um rolo de papel contendo plantas

livro.

Figura 4 – Regina Virtus: rainha das artes

Fonte: Palladio, 1997

Virtude, segundo Tavernor (TAVERNOR, 1997) significa excelência e boas ações, que deveriam estar presentes no aprimoramento da vida cívica individual do pretendente a arquiteto. Essa qualidade seria imprescindível ao estudo e ao conhecimento das artes. Presumivelmente, Andrea foi renomeado de Palladio por Trissino, por ter absorvido as lições postas na academia deste e ser considerado um homem de virtude, desse modo pronto para servir à sociedade.

Ao longo das explicações apresentadas por vias teóricas e práticas, foi essa a fundamentação herdada de Vitrúvio por Palladio. Isso fica claro em seu tratado. No primeiro livro, ele diz que dedicou seus primeiros anos ao estudo da arquitetura e que os antigos romanos, no construir, superam a todos os outros povos que ele conheceu, assumindo que tem Vitrúvio como seu mestre e guia (PALLADIO, 1997).

Estudos apontam ser a Antiguidade a ocupação permanente do pensamento arquitetônico de Palladio. Desse modo, Svensson (2001) ressalta que a obra de Marcus Vitrúvio Pollio, arquiteto e engenheiro romano do século I a.C, no século XVI, mereceu 26 edições e, no século XVII, outras 10, além de, no seguinte, a quantidade novamente aumentar.

do arquiteto para que possamos entender como se constitui o legado de Palladio.