• Nenhum resultado encontrado

DESAFIOS NA INTEGRAÇÃO DOS DIREITOS

No documento KIDS ONLINE BRASIL - (www.pgcl.uenf.br). (páginas 95-98)

Português

Português

navegação de crianças e adolescentes brasileiros, permitindo que possamos refletir simulta- neamente sobre riscos e oportunidades e fundamentando as análises dos fenômenos de forma mais cautelosa e científica.

Neste artigo, propomos uma breve reflexão sobre os resultados da TIC Kids Online Brasil 2012, enfatizando os desafios que provocam na elaboração, implementação e monitoramento das políticas públicas de promoção e proteção de direitos das crianças e dos adolescentes no Brasil. Essa relação parece adequada, já que uma das propostas da pesquisa é compreender as relações entre riscos, danos e oportunidades não como situações excludentes, mas como par- tes integrantes das experiências on-line. Esse conjunto de dados produzidos com o alto rigor do Cetic.br nos oferece uma oportunidade ímpar para desmistificar parte do “pânico moral”, sem deixar de destacar as situações de vulnerabilidade que exigem atenção de todos os seto- res da sociedade. Assim, podemos estruturar melhor as ações que visam maximizar as oportu- nidades que a Internet pode trazer ao desenvolvimento saudável, livre e seguro da infância e da adolescência das chamadas gerações digitais no Brasil.

MúLTIPLAS CONEXÕES, MúLTIPLAS MUDANÇAS E MúLTIPLAS INFÂNCIAS

Presenciamos profundas mudanças psicossociais na infância, na adolescência e na juventu- de contemporâneas, produzidas por muitos fatores, dentre eles (mas não apenas) pelo uso intenso das TIC. A mudança na configuração dos espaços urbanos, por exemplo, com desta- que para a violência, provoca alterações significativas nos hábitos de vida das crianças e dos adolescentes, que ficam cada vez mais confinados no espaço doméstico ou expostos direta- mente à violência cotidiana.

Considerando que os domicílios possuem cada vez um número maior de TIC e que cada vez mais equipamentos permitem acesso à Internet, a tendência da massificação continua tra- zendo novos usuários de Internet e celular nas mais diferentes classes sociais e faixas etárias.

Certamente a Internet representa uma tecnologia de destaque na transformação do lazer, do estudo, do comunicar e do brincar das novas gerações, mas as mudanças também são radicais no âmbito do universo de consumo, no conflito entre gerações, na configuração das famílias e na concepção de crianças e adolescentes como sujeitos de direitos.

O debate sobre a promoção e a defesa dos direitos humanos das crianças e dos adolescentes brasileiros precisa urgentemente de novo fôlego para aproveitar o momento singular de disse- minação das TIC. Mais do que focar nos perigos e violações, ainda em destaque na impren- sa massiva, pretendemos aqui destacar os potenciais da Internet como ambiente fértil para ampliar a consolidação de direitos e o monitoramento de políticas públicas, com direta parti- cipação das crianças e dos adolescentes. Os trechos citados no início deste texto podem nos ajudar a nortear a discussão, sem nos limitarmos ao debate jurídico. Parece-nos que um dos maiores desafios é conciliar as estratégias de proteção/prevenção de direitos com a promoção de direitos como liberdade, privacidade e participação, analisando os fenômenos com cautela para equilibrar as forças e perspectivas. Mais explicitamente, não acreditamos que sejam tão produtivos os discursos radicais que atribuem à Internet apenas violências, riscos e ameaças ao desenvolvimento saudável das crianças e dos adolescentes, seja como paraíso de crimino- sos sexuais ou como território de uma cultura supostamente inferior.

Português

Reconhecendo que temos um marco legal que atribui à família, ao Estado e toda a sociedade o dever, com prioridade absoluta, de zelar pela garantia da segurança das crianças e dos ado- lescentes, não podemos desconsiderar que esse zelo exige a manutenção de direitos como o de liberdade de expressão, respeito à intimidade e participação nas decisões comunitárias e políticas, o que inclui participar do controle social das políticas públicas relacionadas às tec- nologias e aos meios de comunicação, novos ou velhos.

Aprender a usar um site de rede social, criar um blog, fazer vídeos e manipular imagens são tarefas que as crianças conseguem aprender relativamente rápido e até sozinhas. No entan- to, acreditamos que a percepção de que a Internet configura-se como um ambiente digital no qual devem valer também os direitos humanos fundamentais, como os acima destacados, ain- da não é clara nem para os pequenos internautas (e seus pais) e nem mesmo para muitos gesto- res públicos. Compreender a dimensão pública dos ambientes digitais parece um passo funda- mental na busca de um equilíbrio entre oportunidades e riscos na Internet. Na própria pesquisa TIC Kids Online Brasil 2012 percebemos sinais claros da diluição das fronteiras entre o mun- do on e off-line, antes considerados paralelos e independentes. Cada vez mais os ambientes digitais se tornam extensões das relações sociais cotidianas, potencializadas, sim, pelos ele- mentos técnicos, mas evidenciando dinâmicas de socialização e interação do mesmo mundo em que temos leis, regras de convivência, regulamentações e o compromisso com o exercí- cio da cidadania. Não podemos desprezar as inúmeras inovações tanto técnicas como sociais que as TIC potencializam, a exemplo das reconfigurações da noção de privacidade e de laços de amizade, mas os marcos legais de direitos humanos continuam sendo poderosos dispositi- vos para mediar a elaboração, implementação e monitoramento de políticas públicas também relacionadas ao uso da Internet por crianças e adolescentes.Sem poder aprofundar essa ques- tão crucial da configuração da esfera pública no ciberespaço (BLOTTA, 2008) e a força das novas discursividades que nela circulam, podemos reconhecer que a Internet precisa ser reco- nhecida pelos internautas, famílias e pelo Estado em sua dimensão pública, como espaço legí- timo de participação com respeito aos deveres e direitos implícitos nas sociedades democrá- ticas. Em seu estudo sobre a participação de adolescentes norte-americanos em sites de redes sociais (SRS), Danh Boyd (2008) aponta que eles se movimentam, sem problemas, entre dife- rentes espaços – mediados e não mediados –, e sua participação mais efetiva está intrinseca- mente ligada aos encontros não mediados. Muitos dos amigos/pares conectados nos SRS são os mesmos que participam das demais interações em diferentes contextos:

“As performances que acontecem on-line não são atos isolados, desconectados dos cenários físicos, mas sim, atos conscientes, pautados em contextos que se estendem pelos ambientes mediados e não mediados e que envolvem pessoas que se conhecem em ambos os cenários”

(BOYD, 2008, p. 128).

O mesmo tipo de compreensão sobre a continuidade entre os ambientes digitais e os demais contextos de interação de crianças e adolescentes é apontado pela coordenadora da EU Kids Online, Sonia Livingstone (2009). Acreditamos que seja coerente ter essa compreensão níti- da para poder pensar, de forma integrada, as políticas públicas de massificação do acesso à Internet, as ações de letramento digital, as tecnologias educacionais, bem como as ações de defesa e promoção de direitos humanos das crianças e dos adolescentes, reconhecendo as sin- gularidades dos ambientes digitais, mas em sintonia direta com os demais ambientes.

Português

No documento KIDS ONLINE BRASIL - (www.pgcl.uenf.br). (páginas 95-98)