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IMPACTOS DO USO DAS TIC POR CRIANÇAS: O NOVO PAPEL DA ESCOLA

No documento KIDS ONLINE BRASIL - (www.pgcl.uenf.br). (páginas 85-89)

O uso cada vez maior das TIC, principalmente de telefones celulares, na sociedade e, con- sequentemente, nas escolas, tem provocado problemas para professores e gestores, pois as crianças estão levando esses equipamentos para a sala de aula. Levando-se em conta que, nas escolas públicas, os professores têm sido desafiados a usar computadores e, ultimamente, os computadores portáteis, para inserir as tecnologias em suas práticas pedagógicas, esse novo fenômeno da invasão dos celulares provoca mais um desafio à dinâmica da sala de aula. Como devem os professores se comportar diante dessa questão? Devem tolerar o uso desses equipa- mentos, mesmo sendo proibidos por força de lei? Devem proibir terminantemente o seu uso e lidar com a frustração dos alunos? Devem negociar, permitindo que os alunos usem para fins que lhes interessam?

A princípio um problema, esse fenômeno poderá se transformar em potencial para a introdu- ção de inovações educativas, trazendo mais motivação para a aprendizagem na sala de aula e além dela. Neste texto, proponho algumas formas de atuação, uma nova pedagogia para o uso da tecnologia na sala de aula e em outros espaços da escola, que se expande para o uso em casa e com a família e também para outros ambientes. O princípio básico que norteia esta pro- posta é uma abertura do professor para conviver com o fato de que os alunos podem saber lidar melhor com as tecnologias, estando abertos também a novas formas de ensinar, além daque- las que preveem que os alunos estejam dentro da sala de aula, com cada aluno sentado em sua carteira, ouvindo o que o professor fala e prestando atenção ao que está escrito no quadro negro. Essa proposta contém linhas básicas, que podem ser adequadas a cada contexto esco- lar, necessitando-se apenas de uma disposição para a experimentação de novas maneiras de se relacionar com a tecnologia buscando integrá-la ao currículo escolar.

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Em primeiro lugar, quanto ao uso das TIC dentro da sala de aula: em nossa experiência na for- mação de docentes no âmbito do projeto UCA, os professores têm à disposição computado- res portáteis para os alunos. Com frequência, eles se queixam de que propõem atividades para os alunos e, por certas dificuldades, acabam desistindo de retomar o uso dos equipamentos.

Dentre essas dificuldades, há uma bastante recorrente, que é aquele tipo de trabalho em que o professor propõe aos alunos uma “pesquisa” na Internet para buscarem imagens para ilustrar um texto sobre um determinado tema. Com frequência há problemas de baixa conexão, o que causa frustração e dificuldades para a concretização da tarefa.

O que poderia ser feito em situações semelhantes? Dependendo do tema a ser tratado, de maneira mais criativa, poderá o professor repensar ou mudar radicalmente a forma de pro- por a atividade e, em vez de escreverem textos ilustrados por imagens, os alunos podem suge- rir outras formas de falar sobre o tema. O professor poderá propor aos alunos que explorem o computador e descubram por si próprios outras maneiras de criar formas e imagens que pos- sam ser articulados com textos, usando aplicativos disponíveis no próprio laptop ou até mes- mo nos telefones celulares.

As atividades também podem extrapolar a sala de aula, e a aprendizagem pode se dar pela coleta de informações nos corredores da escola, no pátio e em outras dependências, até mes- mo em seus arredores. Os alunos planejam as técnicas e recursos que usarão, podendo ser a criação de arquivos em áudio, vídeos, com a realização de entrevistas, reportagens em locais de interesse da matéria que está sendo estudada, dentre outras possibilidades. Dessa maneira, os alunos podem fazer trabalhos em grupos, cada um fazendo o que sabe melhor e ensinando ou ajudando os outros na composição do trabalho. Certamente esse tipo de procedimento tem chance de dar certo, pois as crianças já estão habituadas a esse tipo de troca quando se trata de aprender coisas de seu próprio interesse. Provavelmente os alunos ficarão mais motivados para a tarefa, e isso, por consequência, pode contribuir para uma melhor aprendizagem. Além dos conhecimentos previstos no currículo, as crianças têm a chance de desenvolver habilida- des tecnológicas e de relacionamento, pela exploração de novas possibilidades de aprender o novo, aprendendo também a trabalhar de maneira colaborativa.

Duas outras formas interessantes de motivar os alunos a participarem das atividades escola- res com o uso das TIC são os projetos de alunos monitores de tecnologia e a organização de eventos nos quais os alunos têm oportunidade de mostrar suas habilidades. Em projetos de alunos monitores, esses são formados para atuarem como apoio para os professores nas aulas em que usarão computadores e outros equipamentos, ou ainda para ajudar e ensinar os cole- gas no manejo das tecnologias. Em nossa pesquisa temos relatos de trabalhos realizados com alunos monitores que obtiveram sucesso, promovendo também a motivação dos participantes.

Sobre a organização de eventos: eles podem ser realizados para as famílias e a comunida- de, com as crianças apresentando trabalhos que realizaram durante um período escolar – por exemplo, um semestre letivo –, usando as TIC. Temos exemplos de projetos interdisciplinares em que, ao final do ano letivo, a escola chama as famílias e a comunidade para participarem de uma mostra dos trabalhos realizados, incluindo músicas e vídeos que os próprios alunos produziram. Além desses exemplos, podemos citar também a criação de jornais on-line, blogs e livrinhos de receitas, entre outros.

Um tema recorrente na formação de professores e na pesquisa acadêmica é o fato de que crianças têm mais facilidade do que os adultos na apropriação das novas tecnologias. Essa

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constatação revela um problema que pode ser o uso inadequado das TIC por crianças em casa, devido ao descompasso entre as competências das crianças e dos adultos responsáveis no uso da Internet. A facilidade que as crianças têm para acessar a Internet e, por consequência, as redes sociais, sites impróprios e ainda sites de compras, pode acarretar sérios problemas, como relacionamentos com pessoas de má índole, compras on-line e bullying, colocando em risco a integridade e segurança das crianças. Por essas razões, seria bom que os pais e adultos res- ponsáveis pelas crianças pudessem supervisionar o uso da Internet e orientá-las sobre as for- mas mais seguras e saudáveis de usar a Internet.

Mas, o que fazer em relação à pouca fluência dos adultos com as tecnologias e ainda com o possível desconhecimento das questões de insegurança trazidas pela Internet? A escola pode- rá promover projetos de integração dos pais a projetos pedagógicos, nos quais a família par- ticiparia de programas sobre uso apropriado das novas tecnologias e da Internet, incluindo-se orientações sobre como participar das tarefas escolares dos filhos. Dessa forma, pais ou adul- tos responsáveis aprenderiam junto com as crianças, dentro da escola e também em casa.

Uma parceria entre escola e família, incluindo a criança, e dando ênfase à sua motivação para a aprendizagem a partir de coisas do interesse da própria criança, sendo ela o centro da ação educativa.

Uma terceira forma de abordar o uso das TIC pelas crianças está no âmbito de seus relaciona- mentos com outras crianças, em ambientes que não a escola ou a residência, e isso inclui o uso para o entretenimento, em momentos que ela pode estar com colegas e amigos, nas casas destes ou em lanhouses, por exemplo. Esses podem ser momentos potencias de aprendizagem de novas habilidades com as tecnologias, mas também de formas como evitar situações de ris- co, em que a criança poderá transmitir bons valores para seus colegas e amigos. Isso depen- derá, certamente, dos valores aprendidos na escola e em casa. Daí a importância do papel da família na orientação e supervisão desses momentos em que a criança poderá estar desacom- panhada de um adulto. Mais importante ainda é o papel do professor, dada a sua responsabi- lidade na orientação dos pais e da família.

IMPLICAÇÕES PEDAGóGICAS DA PROPOSTA

Abordando as questões do uso das TIC pelas crianças no ambiente escolar, em casa e em outros ambientes, proponho aqui uma abordagem pedagógica das TIC pelos professores que extrapola o uso dessas tecnologias apenas como recurso para estratégias didáticas convencio- nais. As TIC devem ser integradas ao currículo por meio de uma pedagogia voltada para o alu- no, tendo as motivações para a aprendizagem como centro da atenção do professor. Dessa for- ma, a proposta tem o sentido de uma nova relação do professor no que se refere aos desafios do uso das TIC: suas dificuldades na apropriação das novas tecnologias deixam de ser um pro- blema se ele compartilha com os alunos a decisão sobre uso das tecnologias nas tarefas esco- lares, atuando como mediador e orientador. Assim, o professor fica mais atento aos objetivos de aprendizagem, à provisão de informações e orientações quando necessário, ao acompa- nhamento dos resultados, à avaliação, à observação de comportamentos e atitudes dos alunos que necessitam de intervenção, tendo um papel mais de mediador da aprendizagem do que de transmissor de conhecimentos.

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Nessa proposta, as tarefas de casa são planejadas para terem a participação dos pais ou adul- tos responsáveis, podendo eles aprender sobre tecnologia com os filhos, ao mesmo tempo em que os ajudam nas tarefas. As crianças, por terem facilidade para o desenvolvimento de com- petências para uso das novas tecnologias, devem ser ensinadas sobre cuidados a serem toma- dos no manejo destas, principalmente no acesso à Internet. Para tal, os professores e a família têm cada um suas responsabilidades no ensino de normas e valores, orientando sobre possí- veis riscos do uso inadequado da Internet. O uso das TIC, o manejo de equipamentos, softwa- res, redes sociais etc. para a realização das atividades escolares, sob a perspectiva aqui apre- sentada, provoca mudanças nas práticas pedagógicas, devendo integrar outras áreas da vida da criança, contribuindo para sua formação como pessoa e cidadão.

Este artigo abordou uma visão sobre maneiras de usar as TIC na educação, focando no âmbito da escola pública, enfatizando o papel do professor e uma parceria da escola com as famílias no que se refere a responsabilidades pelo uso das novas tecnologias. Propõe uma pedagogia para o uso das TIC centrada no aluno, tendo o professor um papel de mediador da aprendiza- gem, organizando as estratégias didáticas junto com os alunos, delegando a eles a exploração e escolha de recursos tecnológicos à disposição. Dessa maneira, é necessária uma revisão do papel do professor como transmissor de conhecimentos, relativizando as suas dificuldades no uso das TIC para propósitos pedagógicos. As TIC devem ser integradas ao currículo, envolven- do a participação da família, dentro de uma nova abordagem em que a criança, a família e a escola aprendem e ensinam mutuamente.

REFERÊNCIAS

COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. Pesquisa Sobre o Uso das tecnologias de Informação e comunicação no Brasil: tIc educação 2011. São Paulo: CGI.br, 2012. Coord. Alexandre F. Barbosa.

Trad. Karen Brito. Disponível em: <http://op.ceptro.br/cgi-bin/cetic/tic-educacao-2011.pdf>.Acesso em:

20 fev. 2013.

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