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EDUCOMUNICAÇÃO, PARA ALÉM DO 2.0

No documento KIDS ONLINE BRASIL - (www.pgcl.uenf.br). (páginas 52-57)

Na perspectiva da educomunicação – definida como área da prática social preocupada com a natureza dos ecossistemas comunicativos em que os sujeitos sociais estão inseridos, obje- tivando não apenas garantir o acesso aos recursos da informação, mas essencialmente faci- litar que o domínio dos novos instrumentos esteja sintonizado com um projeto político que garanta o exercício universal do direito à expressão, no contexto de uma sociedade solidá- ria que faça a cidadania prevalecer sobre o mercado (SOARES, 2011) –, o que importa iden- tificar é o potencial transformador que se estabelece nas relações entre as novas gerações as novas tecnologias.

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A educomunicação não se preocupa, pois, com as TIC, em si mesmas, e suas ferramentas de interatividade, como é o caso da Web 2.0, trabalhadas por outras áreas das ciências sociais aplicadas. Volta-se precipuamente à natureza das relações dos sujeitos sociais que delas se apropriam coletivamente, sejam eles adultos, sejam crianças e jovens, ou mesmo todos eles juntos, trabalhando colaborativamente com o mesmo propósito. No caso – para a educomuni- cação –, o valor de pesquisas como a TIC Kids Online Brasil 2012 está, por exemplo, em sina- lizar o impacto das avaliações que filhos e pais fazem a respeito do poder de cada grupo fren- te às decisões que as famílias, as escolas e as políticas públicas necessitam tomar em relação ao uso da Internet, seja do ponto de vista das oportunidades, seja do ponto de vista dos riscos.

No caso, a própria pesquisa passa a ser matéria para um diálogo entre o poder público, o sis- tema educacional, os pais e os jovens estudantes. O conhecimento sobre a realidade focada permitirá que se avance sobre o cenário que se queira modificar ou criar. Em outras palavras, a educomunicação não pergunta sobre a atualidade dos equipamentos instalados numa escola ou mesmo sobre o tipo de treinamento que se deve oferecer a professores e alunos – isso já faz parte do ideário que preside a modernização do ensino –, mas, essencialmente, sobre como pais, professores e alunos devem transformar os recursos da rede em instrumentos de estreita- mento de suas relações em benefício do potencial solidário que esse consórcio pode gerar em benefício do conjunto da comunidade educativa e da sociedade em geral.

Definitivamente, deve ser questionado como se forma a tranquilidade dos pais e educadores em relação ao envolvimento dos filhos e/ou discípulos com as novas tecnologias, colocan- do em debate o princípio alimentado pelo marketing educativo – e adotado como argumento pedagógico por muitos adeptos acríticos das tecnologias –, segundo o qual os conhecimentos práticos sobre o manuseio de ferramentas midiáticas já carregam embutida a maturidade cul- tural indispensável para que o manuseio dos instrumentos digitais se converta em instrumento de crescimento pessoal e coletivo.

Nessa linha de pensamento, e na busca de outras contribuições, é interessante considerar o que segue:

1) Ninguém duvida que as tecnologias, com seus artefatos e seus conteúdos, vêm trazen- do para a educação do século 21 um formidável desafio: formar sujeitos sociais que tenham como parte de sua identidade a capacidade de conviver com o mundo digital e o universo simbólico nele construído e, sobretudo, que sejam aptos a atuar, individual ou coletivamente, nas redes sociais, para além das expectativas que as regras pré-esta- belecidas pelo sistema de governança do ciberespaço já definiram como as mais ade- quadas. Em decorrência, o que se espera é uma redobrada atenção tanto dos pesquisa- dores como dos pedagogos e educadores com o fenômeno social das tecnologias a fim de conhecê-lo melhor e, assim, poder agir de maneira positiva e, até mesmo, inovado- ra. No caso da educomunicação, a inovação significa exatamente isso: alfabetização midiática, seguida de apropriação coletiva das modalidades de produção e do sentido de se produzir. Tal atenção redobrada exige um olhar apurado para as múltiplas media- ções que se fazem presentes na constituição dos tipos de interações possíveis entre o público infanto-juvenil e as novas mídias;

2) Uma dessas mediações pode ser canalizada pela educação formal, por meio da esco- la – espaço público por excelência. Nesse cenário particular, espera-se que possamos ter crianças e jovens cada vez mais conectados, explorando os inúmeros aplicativos e

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produtos da cultura digital, atuando como produtores, autores e coautores do processo cibercultural. E mais: fazendo isso com habilidades técnicas avançadas, aprendidas no processo de incorporação dos instrumentos tecnológicos, no ato mesmo de viver e pro- duzir em comunidade, com a necessária assistência de seus mestres e a indispensável solidariedade de seus colegas;

3) A partir dessa perspectiva educomunicativa, o relacionar-se, o brincar, o estudar, o pesquisar, o ouvir músicas, enfim, a imersão tecnológica empreendida pelo públi- co infanto-juvenil – na escola e fora dela, em suas casas, nas casas de amigos ou nas lanhouses – farão os pais ou responsáveis descobrirem o que, efetivamente, os seus filhos estão fazendo e com que intenções. Passarão eles a ter condições de identificar que uma nova geração pode estar reconstruindo a ordem comunicativa rigidamente estruturada pelo sistema mercadológico, naturalizada com herança pretensamente imu- tável. Isso será visível quando, juntamente ao afã dos jovens em acessar e em meter-se em rede – o que é próprio da sociabilidade infanto-juvenil –, forem desenvolvidos por eles mesmos valores que permitam agregar ao empoderamento digital a disposição para o serviço a causas coletivas e maiores;

4) O que é preciso ocorrer para que essa utopia faça a diferença entre o modo tradicional de acessar o ciberespaço e o modo educomunicativo de apoderamento das tecnologias digitais? O exercício de superar o cenário dicotômico por meio do qual crianças e jovens são introduzidos ao mundo da Internet na velocidade oposta à da adesão de seus pais ou responsáveis à nova lógica comunicacional, o que os impede de saber exatamente o que esperar de seus filhos em relação ao mundo da cibercultura. No caso, uma alfabetização digital dos adultos, nessa mesma linha educomunicativa, se faz absolutamente necessária;

5) O problema é vigente também na relação entre professores e alunos. Trata-se, na ver- dade, de uma dicotomia que se evidencia toda vez que observamos a realidade da maioria das escolas brasileiras no que diz respeito à presença e aos usos pedagógicos da Internet nos processos de ensino formal, como mostram os resultados da pesquisa TIC Educação, também liderada pelo Cetic.br (CGI.br, 2012). Para superá-la, é preci- so ir além da introdução das ferramentas digitais no ambiente escolar e do treinamen- to de professores e de alunos para o uso prático das novas linguagens. A forma de pro- mover a gestão dos equipamentos prevê pensar, antes de tudo, nas razões de uso. No caso, basicamente e em primeiro lugar, coloca-se o problema da “razão de ser” e do

“para que fazer”. Para que tais transformações ocorram, são absolutamente necessá- rias políticas públicas no campo da educação, da comunicação e da cultura que favo- reçam a inserção crítica e educativa dos recursos tecnológicos digitais, de seus produ- tos culturais e da Internet, como parte dos processos educativos a cargo especialmente das escolas do Ensino Básico;

6) E o maior desafio será desenhar um modelo social, democrático, participativo e dialó- gico de trabalhar os conteúdos na Internet como atividades educativas voltadas para a compreensão e a construção do mundo, a partir do núcleo escolar. Não se trata, assim, só de inserção das TIC na educação a partir de uma abordagem instrumental, sombre- ada pela representação moral atribuída às situações de uso desses recursos tecnológi- cos, mas fundamentalmente de ampliar o coeficiente comunicativo das ações educati- vas, protagonizadas por uma ação solidária entre os mestres e seus discípulos.

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REFERÊNCIAS

COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. Pesquisa Sobre o Uso das tecnologias de Informação e comunicação no Brasil: tIc domicílios e empresas 2011. São Paulo: CGI.br, 2012. Coord. Alexandre F. Barbosa. Trad. Karen Brito. Disponível em: <http://op.ceptro.br/cgi-bin/cetic/tic-domicilios-e- empresas-2011.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2013.

. Pesquisa Sobre o Uso das tecnologias de Informação e comunicação no Brasil: tIc educação 2011. São Paulo: 2012, CGI.br. Disponível em: <http://op.ceptro.br/cgi-bin/cetic/tic-educacao-2011.pdf>

Acesso em: 20 fev. 2013.

SOARES, Ismar de Oliveira. educomunicação: o conceito, o profissional, a aplicação. São Paulo: Paulinas, 2011.

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No documento KIDS ONLINE BRASIL - (www.pgcl.uenf.br). (páginas 52-57)