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MAIORES OPORTUNIDADES DE APRENDIZAGEM, MAIORES RISCOS

No documento KIDS ONLINE BRASIL - (www.pgcl.uenf.br). (páginas 45-49)

Mas, existiria uma forma “correta” para o jovem usufruir apenas as oportunidades da Internet?

Há uma questão muito importante a ser pensada aqui: o tipo de acesso determina o uso. Uma coisa é acessar meia hora a cada duas semanas, outra é ter acesso à banda larga de fato, cin- co dias por semana. Os esforços para aumentar as oportunidades podem também aumentar os riscos. Por outro lado, os esforços para minimizar os riscos podem restringir as oportunidades para a criança ou para o adolescente.

O jovem de hoje que já mantém um contato estreito com as inovações tecnológicas quer usu- fruir de seus benefícios, sociabilizar-se, conversar com pessoas de origens diferentes, e isso é fundamental para o processo de desenvolvimento de sua subjetividade, da consciência de si, da descoberta de seus interesses e vocações. Para isso, tem que conhecer, experimentar, inves- tigar, testar, posicionar-se, ter feedbacks principalmente de seus pares – e infelizmente a esco- la nos moldes tradicionais de ensino não é mais o espaço fundamental para isso.

Em geral, o ensino ministrado nas escolas é pouco atrativo para uma juventude ansiosa por aprender coisas novas e desenvolver habilidades e conhecimentos, e a escola está ocupando muito pouco esse lugar do interesse, da motivação para aprender.

Os estudantes estão aprendendo a viver, a pensar junto, a ter uma opinião, e há um grande incentivo fora da sala de aula para descobrir coisas novas. Cabe também aos pais incentivar e acompanhar o processo de aprendizagem dos filhos, convivendo mais de perto com essa rea- lidade que não fazia parte de seu tempo de criança e adolescente.

O acesso aos celulares, por exemplo, não diz respeito apenas ao acesso à tecnologia e comu- nicação recreacional. A explosão de aplicativos atrelados à geolocalização, por exemplo, começa a interferir na maneira como as pessoas (jovens principalmente) veem e habitam o espaço em que vivem. A inteligência coletiva começa a ser entendida não só como ações e criação de sites, redes sociais e aplicativos colaborativos, mas também como ação coletiva e coordenada no espaço físico das cidades.

Por sua vez, a escola é um lugar especial e que dispõe de certa proteção para as conexões na rede, o que é positivo. Entretanto, faz sentido, nos dias atuais, o jovem viver descolado dos processos da vida em geral, absorvendo informações, conceitos gramaticais, ciências e artes selecionados e ordenados linearmente, obedecendo a hierarquias reproduzidas por um longo período de suas vidas?

Português

Professores e alunos devem conversar não sobre notas, mas sobre quem eles são. E como eles fazem as coisas que fazem. São pessoas que estão trabalhando juntas, buscando resolver pro- blemas comuns. Ambos, estudante e professor, precisam interessar-se mais um pelo outro, e desenvolver, mais do que habilidades tecnológicas, capacidades analíticas, pensamento, dis- cussão, sociabilidade e relacionamento humano. Para isso, é fundamental que exista um con- texto de observação. design de escuta e observação, de si e do outro.

O papel dos pais é essencial para a canalização e potencialização dos interesses individuais dos seus filhos que buscam uma reinvenção da aprendizagem por meio de processos de pes- quisa e busca de um conhecimento específico que possam desenvolver suas habilidades e ampliar também a capacidade de discernimento, não restringindo o certo e o errado apenas pelas versões oficiais do currículo escolar.

Nesse contexto, a presença massiva de crianças e adolescentes na Internet pode ser interpre- tada como um espaço a ser pensado para o exercício de uma política pública na área da edu- cação destinada ao desenvolvimento de toda a sociedade. Em vez de tratar a questão de forma isolada ou como um fardo, a escola pode ser pensada como uma estratégia de responsabili- dade social e mediadora de uma rede de pessoas e instituições mais distribuídas. Como impli- car os estudantes em processos de cidadania e intervenção na vida de fato? Qual é a socieda- de que se deseja construir?

Por fim, cabe mencionar a análise comparativa feita por Cristina Ponte entre as pesquisas Kids Online de Portugal e do Brasil (PONTE, 2012). Segundo a pesquisadora, na sociedade brasi- leira, apesar do veloz crescimento da rede e da posição de liderança de crianças e adolescen- tes, registram-se acentuadas diferenças em relação à sociedade portuguesa que merecem ser observadas: o fato de que um elevado número de pessoas continua ainda digitalmente exclu- ído e a acentuada diferença social nas condições de acesso, nos recursos e na intensidade de frequência entre os que acessam a Internet. A partir desses dados, ela pergunta: como é que essas diferenças influenciam os usos, as atividades, as habilidades, as práticas de consumo?

Que estratégias de inclusão digital promover?

Esses são, ainda, desafios que nós – pesquisadores, ativistas da inclusão digital, atores em rede – estamos dispostos a superar.

REFERÊNCIAS

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Português

PAIS, FILhOS E INTERNET:

A PESQUISA TIC KIDS ONLINE BRASIL 2012,

No documento KIDS ONLINE BRASIL - (www.pgcl.uenf.br). (páginas 45-49)