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NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

No documento DIREITOS HUMANOS E DEMOCRACIA (páginas 52-60)

Matheus Antes Schwede17 Mateus de Oliveira Fornasier18

RESUMO: Com a chegada da Web 2.0, a internet possibilitou uma forma de fácil comunicação através das redes sociais. Nestas mídias, os usuários não só puderam compartilhar, como também criar conteúdo com proporções gigantescas de alcance. Tendo em vista o potencial da facilidade de disseminação de informações, as Fake News, por exemplo, começaram a ser utilizadas para moldar a opinião pública, trazendo enormes riscos ao Estado democrático de direito diante o fenômeno da pós- verdade. Diante disso, o presente estudo procura estudar a pós-verdade nos meios digitais e quais sãos os seus efeitos e os riscos à democracia. Para realização da presente pesquisa, foi utilizado o método hipotético-dedutivo através da técnica de pesquisa bibliográfica.

Palavras-chave: Mídias Sociais. Pós-verdade. Democracia.

INTRODUÇÃO

É possível perceber que dado ao grande avanço tecnológico e com a chegada da Web 2.0, também conhecido como a internet das redes sociais, as relações humanas foram se tornando cada vez mais intensas. Pois, de fato, com a possibilidade de compartilhar e produzir conteúdo em plataformas de mídias com grande quantidade de usuários, ficou muito mais fácil a interação do que qualquer período já existente. De fato, as redes sociais tem grande possibilidade de democratização do debate, podendo dar voz a todos os seus usuários. Porém, ao mesmo tempo, há a possibilidade de discursos excludentes que visam minar as democracias e as suas instituições, fazendo com que o espaço se torne extremamente inóspitos à opiniões diversas.

Isso se dá devido a grande quantidade de notícias fraudulentas que visam lidar com as emoções daqueles que estão consumindo esse tipo de informação. Líderes populistas, robôs – bots –, ou qualquer outro que tenha o interesse de utilizar as Fake News com finalidade de promover determinado partido, difamar outro, ou promover a imagem de alguém, utilizam os medos e os anseios das pessoas, bem como os seus preconceitos para criar a ideia de uma falsa realidade, trazendo a tona a era da pós- verdade, onde nada é facilmente distinguível, ainda mais com a evolução tecnológica que oferece uma ampla de quantidade de ferramentas para criar conteúdos pelas mais diversas formas de mídias, como por exemplo, vídeos, imagens e textos.

Aliás, é verdade que as mídias sociais potencializaram o fenômeno da pós-verdade, pois, conforme os seus usuários vão consumindo conteúdos, os algoritmos presentes nessas plataformas aprendem com os dados gerados através de likes e retweets de cada usuário que traçam o seu comportamento, suas preferências e quais o tipo de informação que tende a consumir. Dessa forma, esse determinado tipo de conteúdo aparecerá com cada vez mais frequência no feed de alguém e consequentemente poderá criar uma bolha de informação, onde o mesmo só terá acesso a conteúdos relacionados à sua personalidade, suas crenças e emoções, apenas uma forma de pensamento, uma única visão política e social, bem como pode potencializar comportamentos preconceituosos.

17 Bacharel em Direito pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ; Mestrando e Bolsista UNIJUÍ do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito - Curso de Mestrado em Direitos Humanos da UNIJUÍ. E-mail:

matheusschwede@gmail.com.

18 Pós-doutor em Direito e Teoria pela Universidade de Westminster, Inglaterra. Doutor em Direito pela UNISINOS e Mestre em Desenvolvimento pela UNIJUÍ. Professor dos Programas do Mestrado em Direitos Humanos e de Graduação da UNIJUÍ.

E-mail: mateus.fornasier@gmail.com.

Diante disso, a presente pesquisa procura estudar a pós-verdade perante o avanço tecnológico proporcionado no século XXI, como é o caso da sua potencialização pelas redes sociais, bem como todos os seus efeitos. Em um primeiro momento, será estudado como se propaga a pós-verdade nas redes sociais. Já na segunda parte, serão analisados os possíveis riscos que o mesmo fenômeno pode proporcionar nas democracias e na sociedade. Para a realização do presente estudo foi utilizado o método hipotético-dedutivo e a técnica de pesquisa foi a bibliográfica. Os procedimentos específicos seguidos foram: a) separação de artigos internacionais e nacionais recentes e pertinentes ao estudo; b) leitura, reflexão e fichamento dos estudos selecionados e, por fim; c) a elaboração da presente pesquisa.

1 A PÓS-VERDADE NAS MÍDIAS SOCIAIS

Esse novo momento conhecido como a era da pós-verdade, acaba se confundindo e se entrelaçando com o surgimento das plataformas das mídias sociais, as quais acabam desempenhando um papel de fonte de notícias recebendo uma quantidade de informações cada vez maior. As crenças dos usuários das redes sociais demonstram alta sensibilidade aos conteúdos que são expostos e, combinado com as tentativas de que essas plataformas têm de maximizar o aumento do seu uso pelos usuários, isso pode ocasionar no surgimento de pensamentos conspiratórios nas redes sociais (DAVE; CHREMOS; MALIKOPOULOS, 2020). Ainda, a ótica nacional da pós-verdade, dissemina-se, principalmente, através dos meios eletrônicos, com uma ideologia que nega qualquer princípio de verdade dissidente, discordando de qualquer visão distinta sobre determinado tema, e na grande maioria das vezes sem qualquer fundamentação crítica. Dessa forma, determinado ponto de vista de um indivíduo ou um grupo, passa a ser como uma verdade absoluta (QUADROS, p. 203, 2018). Neste ambiente oferecidos pelas plataformas, as pessoas já não conseguem mais distinguir o que é verdade ou não, o que tem credibilidade ou não, o fato é que muitas acabam acreditando na maioria das coisas que consome nas redes sociais.

Paulo Quadros (p. 211, 2018) ainda vem a versar sobre a grande preocupação acerca da proliferação dos conteúdos nas redes sociais, as quais não possuem qualquer apuramento crítico, sobre a legitimidade e a veracidade de determinado conteúdo. Pois, mesmo que a internet propôs a democratização do acesso à informação e à liberdade de veiculação de informações, muitas vezes se percebe a falta de discernimento e reflexão acerca das informações que se consome nas redes sociais. Aditya Dave, Ioannis Chremos e Andreas Malikopoulos (2020), também demonstram que, devido a essa abertura proporcionada pelas mídias sociais que vem a permitir o surgimento de ideias conspiratórias, percebe-se que o ambiente dessas redes se torna um terreno extremamente propício para a criação campanhas de desinformação política. Além disso, as instituições democráticas podem se tornar mais vulneráveis e de fácil dissolução diante a manipulação de opinião geradas por essas campanhas de desinformação. Uma democracia caracterizada forte depende muito do conhecimento da população acerca dos atores políticos e seus meios para obterem o apoio público, por isso, esse recente fenômeno de criação e introdução de fatos alternativos à realidade podem reduzir o conhecimento popular democrático, tanto quantitativamente, quanto qualitativamente.

Manuel Arias-Maldonado (p. 71, 2020) discorre acerca de que a expressão que melhor explica a facilitação tecnológica de propagação da pós-verdade, é a conhecida Fake News, as notícias falsas, as quais são criadas e distribuídas em larga escala para minar o debate público. Aliás, essas notícias muitas vezes parecem certas, pois apelam às crenças e as emoções daqueles que as consomem.

Arias-Maldonado (p. 65, 2020) ainda confirma que a pós-verdade, na sua essencialidade, significa uma rejeição daquelas notícias que não fazem parte daquilo que alguém acredita.

Ainda sobre o consumo de informações emotivas, essas ressaltam determinada visão subjetiva, enquanto ignora qualquer outro ponto de vista contrário, em um espaço midiático onde isso se realiza, fazendo com que surjam as câmaras de eco e, em decorrência disso, percebe-se que os espaços cibernéticos alteram o alcance e a quantidade de notícias falsas e informações tendenciosas.

Pelo fato de que as Fake News, por exemplo, atualmente elas podem viajar mais longe do que jamais se viajou anteriormente (ARIAS-MALDONADO, p. 71, 2020). Isso se realiza com a chegada da Web 2.0, a qual fez com que as informações não surgissem apenas de determinados sites, mas as próprias

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pessoas pudessem produzir e compartilhar informações. A comunicação na internet deixou de ser

“de um para muitos”, mas agora, com as redes sociais, elas se tornaram “de muitos para muitos”, possibilitando a capacidade viral de qualquer assunto entre os cidadãos. Valéria Cristina Lopes Wilke (p. 15, 2020), confirma que a comunicação de todos para todos, possibilitada pela Web 2.0, de maneira revolucionária, ampliou a possibilidade e o alcance de disseminar informações, de modo que cada um que tenha o devido acesso às redes pode disseminar a sua opinião sobre qualquer assunto. Aliás, percebe-se que a internet acabou por proporcionar certa forma de controle dos sujeitos individuais e coletivos por grandes empresas possuidoras de plataformas sociais como Facebook, Twitter, Instagram e Whatsapp. Essas empresas não são Estados, não podem estabelecer leis, porém, cada dia mais as mesas interferem na liberdade de expressão e na opinião pública, muito mais que os próprios Estados, o que acaba sendo extremamente perigoso.

Arias-Maldonado (p. 76, 2020) explica que a pós-verdade, como uma fenômeno recente, demonstra uma alteração na estrutura da comunicação social, e não necessariamente benéfica, mas sim de modo que piore a descoberta e a transmissão da verdade. E isso, consequentemente, pode afetar profundamente a democracia em um todos, bem como as instituições democráticas, havendo a necessidade de que nossos esforços sejam concentrados para a restauração dos fatos que foram alterados como fundamento da liberdade da expressão, para trocas de opiniões com veracidade, bem como devemos redobrar a atenção às mentiras disseminadas quando formos capazes de identificar.

As Fake News que mexem com as emoções, podem ser facilmente criadas nos dias de hoje, qualquer um que tenha acesso aos softwares de criação, bem como acesso à internet, poderá publicar suas notícias forjadas com o interesse de moldar a opinião política, por exemplo, e nisso se vê outro aspecto da pós- verdade que deve ser identificado e combatido. Valéria Cristina Lopes Wilke (p. 13, 2020) acredita que as fake news, termo em inglês, que se traduzido para o português, seria melhor utilizar notícias fraudulentas, pois aqui ela não é simplesmente falsa, ela tem dolo, ou seja, uma intenção em disseminar a desinformação. tem o único objetivo de enganar os seus consumidores, com o intuito de prejudicar indivíduos, coletivos e organizações com a finalidade de se obter certa vantagem política. No seu âmbito geral, as notícias que são fraudadas para moldar a opinião pública utilizam manchetes sensacionalistas para aumentar o seu próprio engajamento através da internet.

No entendimento de Valéria Cristina Lopes Wilke (p. 14, 2020) as fake news representam o rompimento da verdade de fato, mantendo ligação direta com a pós-verdade. Essa última, está relacionada ao saber de que os fatos em si causariam menos efeitos subjetivos do que os apelos emocionais ou as crenças pessoais, quando para moldar a opinião pública, sendo muito mais fácil utilizar os dados de acordo com a vontade de alguém para criar notícias sem credibilidade. As fake news acabam por minar as discussões e debates, as confianças nas fontes, tanto científicas quanto jornalísticas.

Aliás, de acordo com entendimento de Maria João Silverinha (p. 40-41, 2018), quando falamos em pós-verdade é alinhado o pensamento que questiona como as TIC’s, tecnologias da informação e comunicação alteram todo o conhecimento construído, bem como a forma em que nos conectamos entre si e a relação do cidadão com as estruturas sociais. Pois, recentemente, como se percebe, muitas pessoas têm vivido apenas em sua própria bolha de conteúdo que é personalizada a partir do uso de algoritmos das mídias sociais, nos colocando de frente apenas com aqueles conteúdos que os usuários tendem a concordar.

Complementando isso, de fato, as grandes empresas por trás das plataformas de redes sociais não se preocupam muito com o que é postado nos seus espaços, haja vista que seu lucro se dá pelo engajamento. As mídias sociais são projetadas para manter o usuário ativo, com o uso de algoritmos que aprenderão, conforme os usuários utilizem a plataforma, o que determinada pessoa costuma a gostar, compartilhar, isso é, consumir. Através dessa captação de dados, entende-se que o foco das redes sociais, é o engajamento. Porém, isso demonstra extremo risco para a sociedade, pois ao momento que alguém passa cada vez mais conectado sendo exposto a só um tipo e visão política, apenas confirmando suas crenças, fora de um espaço democrático de debate, esse cidadão começa a fazer parte de uma bolha social promovida pela tecnologia.

Valéria Cristina Lopes Wilke (p. 17, 2020) ressalta que essas bolhas sociais compartilham apenas as mesmas informações para indivíduos que concordam com determinada ideia. Participar dessas bolhas, faz com que não se tenha acesso à outras visões de mundo, política ou qualquer outra senão

aquela. O facebook, por exemplo, organiza uma série de notícias para determinados usuários a partir da coleta de dados por algoritmos os quais analisam os conteúdos que o seu usuário tende a concordar, e essas bolhas não somente se tratam de determinada visão de algum tema, elas também podem ser geradas com conteúdos tóxicos, como preconceitos ideológicos, sociais e dos mais variados tipos.

Wilke (p. 24-25, 2020) explica que essas informações tóxicas se referem aos conteúdos de violência e de ódio, sendo passados por notícias fraudulentas movidas pelos medos, preconceitos, crenças e intolerâncias, as quais vão se disseminando pelas plataformas digitais, intoxicando e criando um campo de guerra nas redes sociais.

Vittorio Bufacchi (p. 10-11 , 2020) acredita que a pós-verdade nunca mais desaparecerá, pensar o contrário pode ser uma ilusão. Por isso, é preciso que a sociedade esteja pronta para combatê-la, através de alguns mecanismos eficazes. Para esse combate, existem três formas distintas, sendo elas: a) institucional; b) moral e; c) filosófica. Primeiramente, o que tange ao nível institucional, a pós- verdade pode ser avaliada em duas maneiras distintas, as quais são: I - através de uma constituição mista entre o executivo, legislativo e judiciário que consolide um sistema de freios e contrapesos, para que maiores ataques não venham a separar os diferentes ramos do governo; II - Independência da mídia, pois é indispensável que os veículos de mídias sejam independentes do poder executiva, tendo sua imparcialidade protegida. Por segundo, no nível moral, é necessário que cada um aceite e entenda a própria responsabilidade acerca da proliferação da pós-verdade. Pois, de fato, as redes sociais não são as únicas culpadas na grande explosão da pós-verdade, mas os consumidores das informações também tem certa responsabilidade moral quando for absorver, analisar e repassar.

E, por fim, mas não menos importante, a filosofia, onde acredita-se que a pós-verdade pode ser contestada em bases filosóficas, ou seja, refletindo sobre o que se acredita acerca da verdade.

2 OS IMPACTOS DA PÓS-VERDADE NA DEMOCRACIA

Principalmente após o ano de 2016, o fenômeno das chamadas Fake News, faz parte de um gigantesco problema, de um complexo de desinformação e radicalização da política, onde as ameaças ao sistema democrático se dão através dos novos mecanismos proporcionados pelos sistemas tecnológicos. De fato, atualmente é de grande valia pensar nos desafios que as democracias podem enfrentar, considerando o avanço tecnológico das sociedades, que hoje estão hiperconectadas, de modo que as interações sociais e a construção de debates políticos sofreram profundas alterações (OLIVEIRA; GOMES, p. 94, 2020). A pós- verdade adquiriu uma maior visibilidade a partir do ano de 2016, sendo comentada em vários espaços políticos e jornalísticos internacionais. Aliás, a pós-verdade se esconde em um sistema de delírio, cujo único objetivo tem sido criar bolhas de ódio, distribuídas por espaços virtuais de convívio social, como é o caso das redes sociais (QUADROS, p. 204, 2018). De fato, os questionamentos sobre a post truth age, ou era da pós-verdade, vem, consequentemente, se alinhando ao pensamento que questiona como as TIC’s alteraram todo o conhecimento construído, bem como a forma em que nos conectamos entre si e a relação do cidadão com as estruturas sociais. Pois, recentemente, como se percebe, muitas pessoas tem vivido apenas em sua própria bolha de informação ou conteúdo, a qual é personalizada a partir do uso de algoritmos das mídias sociais, nos colocando de frente apenas com aqueles conteúdos que os usuários tendem a concordar (SILVEIRINHA, p. 40-41, 2018).

Robert Piciotto (p. 89, 2019) esclarece que através da percepção seletiva, o ser humano dá prioridade às informações cujas solidificam as próprias crenças existentes do indivíduo, enquanto induz a ignorar todos os dados que demonstram um ponto de vista contrário. De fato, a tolerância de algumas inverdades e também as suas respectivas fabricações levam para o caminho de um raciocínio motivado em apoio aos preconceitos. Acredita-se que o indivíduo tende a acreditar que uma afirmação seja verdade se for fácil de processar, até por estar de acordo com a crença própria. Significa que as pessoas se apegam fielmente às crenças pré-existentes, o chamado viés de confirmação, vindo a rejeitar tudo aquilo, até mesmo evidências que contradizem determinada visão já estabelecida.

Tendo essas questões pautadas, André Soares Oliveira e Patrícia Oliveira Gomes (p. 110, 2020) relatam que a desinformação da sociedade envolve riscos concretos à democracia. Pois, de fato, essa quantidade de informação fraudulenta também viola os pressupostos da noção de liberdade

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de expressão e comunicação, bem como ao direito à informação, tanto em proporções a nível internacional, como nacional. Paulo Quadros (p. 203, 2018), destaca que a pós-verdade até pode parecer estar longe de um poder controlador, como também está muito distante de se evitar as consequências com efeitos negativos em relação às decisões que afetam os interesses públicos dos cidadãos. Na verdade, ela tem sido aplicada de forma extremamente nefasta, visando desmoralizar os atores sociais que desenvolvem ou já desenvolveram papéis na história da sociedade humana.

Ocorre que o significado de pós-verdade, enquanto adjetivo, tem sido de forma muito frequente associado à palavra política, pelo fato da percepção de que para muitos formuladores de políticas, a verdade não é mais relevante. A popularidade do termo se dá pelas ruins implicações de políticas para o bem-estar público (PICCIOTTO, p. 88, 2019). E, consequentemente, quando versamos no que se refere ao bem-estar público, a pós-verdade deve ser analisada em todos os seus efeitos de forma criteriosa, dado ao grande alcance que essa pode obter no século XXI, através das plataformas de todos para todos, podendo alterar a opinião das massas em um curto espaço de tempo, como é o caso das notícias tendenciosas acerca do campo político público.

A pós-verdade oferece alguns riscos que estão relacionados, principalmente, ao início ou a perpetuação de políticas maléficas para a sociedade. Pois, de fato, o objetivo dos praticantes da pós-verdade é exercer o poder arbitrário enquanto fingem mudar as coisas para melhor buscando a desvalorização da imprensa e rejeitando os conselhos de especialistas. Assim, utilizam de uma série de artifícios, como notícias falsas para mexer com os anseios dos cidadãos, atendendo seus preconceitos e validando a identidade de seu grupo específico (PICCIOTTO, p. 92, 2019).

Há políticos que podem ler o seu possível público de eleitores, pois conseguem explorar vieses que foram já explorados por psicólogos comportamentais. Estudos já demonstram pessoas se apegam às inverdades em face de evidências que não são as que querem acreditar, pois os mesmos buscam opiniões e informações que concordem com sua visão (PICCIOTTO, p. 89, 2019). Realmente, lidar com o fenômeno da pós-verdade na política não é novo, mas a potencialização e as gigantescas proporções que essas tomaram nos últimos anos devido à possibilidade do gigantesco alcance global que a internet e as redes sociais propiciaram é algo extremamente diferente do que já se foi visto antes.

Ainda é possível afirmar que as manifestações da pós-verdade são extremamente tóxicas, os sintomas que surgem no corpo político possui uma enorme gravidade e demonstra uma grande abertura aos discursos populistas com o estado de como as coisas se encontram. Os efeitos resultantes da pós-verdade minam a democracia liberal, de modo que os discursos e os apelos de líderes autoritários vem aumentando cada vez mais. Ao espalhar a desconfiança generalizada, eles distorcem todas as tomadas de decisões na esfera pública do Estado, bem como aumentando os conflitos sociais por desconexão do poder da realidade, agravando os problemas que originaram a era da pós-verdade (PICCIOTTO, p. 94-95, 2020).

Desta forma, percebemos que as notícias fraudulentas, forjadas com a intenção de mexer com as emoções dos cidadãos, aproveitando de seus anseios, potencializadas pelos algoritmos de redes sociais que são utilizados para oferecer mais do mesmo conteúdo já consumido anteriormente por determinado usuário e o expondo cada vez mais à mesma visão política e aos discursos tóxicos, faz com que os cidadãos fiquem presos nas suas próprias bolhas de informação, acreditando que sua única visão é a correta e consequentemente criando efeito na hora dos votos, quando líderes populistas que muito usam dessas artimanhas para se eleger, fica demonstrado o enorme risco que a era da pós-verdade oferece ao Estado democrático de direito. Piccioto (p. 89, 2019) confirma isso, quando expõe que os eleitores tendem a recorrer aos líderes populistas, pelo motivo de que esses fazem e promovem suas campanhas através do despertar dos medos, das ansiedades, explorando profundamente os preconceitos dos cidadãos, juntamente com a promessa de uma grande mudança revolucionária no cenário político.

De fato, tem-se a ilusão de que redes sociais, como por exemplo o twitter, podem proporcionar um melhor alcance na comunicação entre os cidadãos e os políticos, pela facilidade de utilização da rede e fácil comunicação entre ambos. Porém, não é isso o que acontece, líderes populistas acabam usando essas redes para disseminar seus discursos em larga escala, podendo fazer seus comentários com poucos caracteres alcançarem todas as partes do mundo em questão de minutos, ou talvez até segundos.

É verdade que os líderes populistas utilizam de comícios em massa, com discursos espalhafatosos e cheios de declarações bombásticas, e essa onda de populismo que vem ascendendo nos últimos anos

No documento DIREITOS HUMANOS E DEMOCRACIA (páginas 52-60)