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Rev. bras. ortop. vol.52 número5

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SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA

w w w . r b o . o r g . b r

Artigo

de

Atualizac¸ão

Instabilidade

anterior

traumática

do

ombro

João

Roberto

Polydoro

Rosa

,

Caio

Santos

Checchia

e

Alberto

Naoki

Miyazaki

FaculdadedeCiênciasMédicasdaSantaCasadeSãoPaulo(FCM-SCSP),DepartamentodeOrtopediaeTraumatologia,SãoPaulo,SP,

Brasil

informações

sobre

o

artigo

Históricodoartigo:

Recebidoem27deagostode2016 Aceitoem1desetembrode2016

On-lineem24deagostode2017

Palavras-chave:

Instabilidadearticular Procedimentosortopédicos Recidiva

Luxac¸ãodoombro Articulac¸ãodoombro

r

e

s

u

m

o

Aarticulac¸ãodoombroéamaisinstáveldocorpohumano.Suainstabilidadeanteriorde causatraumáticaéumacondic¸ãocomumecomaltataxaderecidivaempacientesjovens.A eficáciadotratamentoconservadorcomparadocomotratamentocirúrgico,emsuas diver-sasabordagens,aindaédebatida.Opropósitodesteestudofoirevisaraliteratura,rever conceitoseúltimasatualizac¸õessobreotratamentodessaafecc¸ão.

©2017PublicadoporElsevierEditoraLtda.emnomedeSociedadeBrasileirade OrtopediaeTraumatologia.Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

Traumatic

anterior

instability

of

the

shoulder

Keywords:

Jointinstability Orthopedicprocedures Recurrence

Shoulderdislocation Shoulderjoint

a

b

s

t

r

a

c

t

Theshoulderisthemostunstablejointinthehumanbody.Traumaticanteriorinstability oftheshoulderisacommoncondition,which,especiallyinyoungpatients,isassociated withhighrecurrencerates.Theeffectivenessofnon-surgicaltreatmentswhencompared tosurgicalonesisstillcontroversial.Thepurposeofthisstudywastoreviewtheliterature forcurrentconceptsandupdatesregardingthetreatmentofthiscondition.

©2017PublishedbyElsevierEditoraLtda.onbehalfofSociedadeBrasileiradeOrtopedia eTraumatologia.ThisisanopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http:// creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

TrabalhodesenvolvidonaFaculdadedeCiênciasMédicasdaSantaCasadeSãoPaulo(FCM-SCSP),DepartamentodeOrtopediae Traumatologia,SãoPaulo,SP,Brasil.

Autorparacorrespondência.

E-mail:jopoly01@yahoo.com.br(J.R.Rosa).

http://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2017.06.013

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Oprimeiroepisódiodeluxac¸ãodoombro(primoluxac¸ão)tem incidênciade1,7%napopulac¸ãogeral.Dentreosdiferentes tiposdeinstabilidadedessaarticulac¸ão,aanteriordecausa traumáticaéotipomaiscomum,correspondeamaisde90% doscasos.1–3

Sobreessetema,Hoveliusetal.desenvolveramtrês estu-dos de grande relevância. No primeiro, seguiram por dez anos prospectivos 257 pacientes após a primoluxac¸ão do ombro e encontraram 49% de recidiva. O segundo estudo, que deu continuidade ao primeiro (só que dessa vez com 25 anos de seguimento), teve dois resultados importantes: (1)72% dospacientes com menosde 22anos naépoca da primoluxac¸ãoevoluíramcomrecidiva,enquantoqueessataxa foidesomente27%naquelescommaisde30anos;(2)quase metadedoscasosdeprimoluxac¸ãoocorreuentre15e29anos. Noterceiroestudo,de2008,Hoveliusetal.ganharam prê-miocom a investigac¸ãododesenvolvimento de artrose na mesmapopulac¸ãodosegundoestudo.Dogrupoqueevoluiu cominstabilidade,29%desenvolveramartroseleve,9%com artrose moderada e 17% com artrose grave.Em contrapar-tida18%dospacientes,quetiveramapenasumepisódiode luxac¸ão,evoluíramcomartrosemoderadaagrave.Aavaliac¸ão detalhadadossubgrupospermitiuaidentificac¸ãodetrês fato-resderiscoparaodesenvolvimentodaartrose:idademenor doque25anosnaépocadaprimoluxac¸ão,alcoolismoeprática deesportesdealtaenergia.Éimportanteressaltarquemesmo ospacientes que sofreramapenasumepisódio de luxac¸ão tambémapresentamriscosparadesenvolverartrose.4–6

Devidoàsparticularidadesanatômicaseàscontrovérsias sobre o tratamento da primoluxac¸ão, além do alto índice derecidivasempacientesjovens, abordaremososaspectos maisimportantesquenosauxiliarãonoentendimentoe tra-tamentodessaafecc¸ão.

Tratamentoconservadordaprimoluxac¸ão

Nocasodaprimoluxac¸ãoanterioraguda,otratamento pre-ferencialmente usado é a reduc¸ão da articulac¸ão e sua imobilizac¸ão,seguidaporumperíodovariáveldereabilitac¸ão para arestauraro arcode movimentoe fortalecimentoda musculaturaaoredordoombro.7

A complicac¸ãomais frequente, razão para subsequente instabilidade,éaavulsãoda porc¸ãoanteroinferiordolábio glenoidaledamargeminferiordafossaglenoidal,conhecida comolesãodeBankart.8,9Seelacicatrizar,oquepodeocorrer

ematé50a80%dasvezes,arecidivatorna-se,emtese,menos frequente.10Muitosediscute,portanto,seotempoeaposic¸ão

deimobilizac¸ãodoombrosãofatorescapazesdeinfluenciar acicatrizac¸ãolabial.

UmametanálisedePatersonetal.,queincluiunoveestudos comníveisdeevidênciaIeII,mostrounãohaverbenefíciosna imobilizac¸ãopormaisdeumasemana.Porém,mostrouuma tendênciamenorderecidivacomaimobilizac¸ãoemrotac¸ão lateralemaior,seaidadedopacienteforsuperiora30anos.11

Em 1999, Itoi et al. propuseram que essa imobilizac¸ão ini-cialemrotac¸ãolateralpromoveria,porligamentotaxia,uma

rativoentredoisgruposde20pacientescada.Osresultados mostraram uma reduc¸ão significativa na taxa de recidiva naquelesimobilizadosemrotac¸ãolateralportrêssemanas, quandocomparadoscom aquelesemrotac¸ãomedial, prin-cipalmentenospacientescommenosde30anos.Em2007, osmesmosautoresfizeraminvestigac¸ãosemelhante,sóque dessaveznumapopulac¸ãomaior(159pacientes)eos resul-tadoscorroboraramosachadosdaprimeirapesquisa.14Mais

recentemente, em 2010, Taskoparan et al. também encon-traram resultados favoráveis à imobilizac¸ão lateral (nesse trabalho,elafoidedezgraus,portrêssemanas,foiretirada somenteparaahigientepessoal).15

Emcontrapartida,em2009Finestoneetal.não encontra-ramdiferenc¸asnastaxasderecidivaaoimobilizar51pacientes durantequatrosemanas(27delesemrotac¸ãolateralde15a 20grause24emrotac¸ãomedial).Liavaagetal.,publicaram umestudocom188pacientesem2011–95pacientes imobili-zadosemrotac¸ãomediale93emrotac¸ãolateralde15graus portrêssemanas–enãoencontraramdiferenc¸asentreosdois grupos.16–18

Arevisãosistemática(queincluiutambémessesdois últi-mosestudos)desenvolvidaporPatricketal.10nãoevidenciou

diminuic¸ãodarecidivacomaimobilizac¸ãoemrotac¸ão late-ral.Porém,emumnovoestudode2015,Itoietal.19mostram

queomelhorposicionamentoparareduc¸ãodalesãoseriaem abduc¸ão de30grauscom rotac¸ãolateral de60grauseque acimade30grausderotac¸ãolateraljáencontramosareduc¸ão da lesãoanterior,porémnãoda inferior.Pode-se argumen-tar,enfim,queos10a20grausderotac¸ãousadosnosoutros estudosforam insuficientesparaareduc¸ão dalesão. Outra hipóteselevantadaéqueohematomaarticularimpediriaa coaptac¸ãodalesãolabialaoseuleitoequeadrenagem arti-cularpoderiafacilitarsuacoaptac¸ão.10,19,20

Porfim,podemosconstatarqueaspublicac¸õesexistentes até o momento não apoiam, com evidência científica sufi-ciente, qualseria o melhorperíodo eamelhorposic¸ão da imobilizac¸ão,sãonecessáriosnovosestudosparadeterminar amelhorformadomanejoconservadordessaafecc¸ão.

Tratamentocirúrgicodaprimoluxac¸ão

Aindicac¸ãodotratamentocirúrgiconaprimoluxac¸ãoanterior traumáticaécontroversa.

Vários autores demonstraram resultados favoráveis à estabilizac¸ãocirúrgicaapósapimoluxac¸ãotraumática ante-rior empacientesjovenseativos, comintuitodeevitarou diminuir as taxas de recidivas.21–27 Entreagosto de 2000e

outubro de 2008 foram tratados 14 ombros, de 14 pacien-tes,peloGrupodeOmbroeCotoveloda SantaCasadeSão Paulo. Foramobtidos resultadossatisfatórios(com 100%de resultadosexcelentes)emtodososcasos,conformeo crité-riodeavaliac¸ãodeRowe.28Entretanto,essaestratégiaexpõe

(3)

Figura1–Ombroesquerdo,visãoarticularpeloportalposterior.A,lesãodeBankart;B,C,preparoparaoreparodalesão;D, reparoartroscópicodalesãodeBankart.

Tabela1–RevisõessistemáticasquecomparamreparoabertoaoreparoartroscópicodaslesõesdeBankartquantoao

númeroderecidivas

Autores Datapublicac¸ão Quorom Menornúmeroderecidivas

Freedmanetal.44 Julhode2004 15 Reparoaberto

Mohtadietal.40 Junhode2005 13 Reparoaberto Hobbyetal.34 Setembrode2007 14 Discordantes Lentersetal.45 Fevereirode2007 16 Discordantes

Ngetal.41 Junhode2007 16 Discordantes

Pulavartietal.46 Outubrode2009 16 Nãohouvediferenc¸as Petreraetal.42 Marcode2010 17 Nãohouvediferenc¸as

Com issoemvista, torna-se difícil adecisão da melhor indicac¸ãoterapêutica.Eladeve,portanto,serindividualizada, combaseemdiversas característicasindividuais,pormeio dediscussãoderesultadoscomseupaciente.Hojeemdiaos pacientesestãocada vezmaisinformadosequerembasear suasdecisõesemevidênciassólidas.Devemossempre con-siderar a idade do paciente, a dominância, a modalidade esportivaeotipodeatividadelaboral.Escaladoresesurfistas, porexemplo, correm risco de morte (por queda ou afoga-mento)casoluxemoombrodurantesuasatividades.Atletas profissionaistambémpodemterseuprocedimentocirúrgico adiantadooupostergardocombaseemseuscalendáriosde competic¸ões.29,30

Habermeyer31introduziuoSeverityShoulderInstabilityScore

(SSIS).Usacomocritérios algunsfatoresde riscopara reci-diva. Seu objetivoé facilitar a decisão entre o tratamento conservadoreocirúrgico. Entreos critériostemos:aidade dopaciente,amodalidadeesportivapraticada,otipodelesão encontradanacavidadeglenoidal(lesãodeBankartassociada ounãoàfraturadaglenoidee/oulesãoSLAP),omecanismo detrauma,apresenc¸adeoutraslesõesassociadas(lesõesdo manguitorotadoredeHillSachs),apresenc¸ade hiperfrouxi-dãoligamentargeneralizada,aformadereduc¸ãodaluxac¸ão (se espontâneaou auxiliada)e ograu de confiabilidade do pacienteparacumprirumprotocolodereabilitac¸ão.Ao apli-caresseescoreemumgrupode80pacientes,Habermeyer31

obteve2,9%derecidivanospacientestratadoscirurgicamente e10,9%naquelestratadosconservadoramente.31

Reparoabertoversusartroscópicodalesãolabial

Luxac¸ões recidivantesocorrem entre 25% e100% de todos oscasos submetidosao tratamentoconservador.5,9,21,22,32,33

Entretantoo tratamentocirúrgico reduz orisco derecidiva para6%a22%.21,22,33–35

Emboraoobjetivodotratamentocirúrgicosejaoreparodas estruturaslesionadaspararestauraraestabilidadefisiológica daarticulac¸ãoglenumeral,aindaexisteadúvidaquantoao melhormétododereparo.36

Muitosediscutesobreosmétodosdeabordagem(aberto ouartroscópico)paraafixac¸ãodalesãodeBankart.37–43 Os

argumentos a favor do reparo aberto são de que ele per-miteaocirurgiãoumreparolabialmaisanatômicoecomo posicionamentodas âncorasemdirec¸ãomaissegura.Jáos defensoresdaartroscopia(fig.1)argumentamadiminuic¸ão dascomplicac¸õesdacirurgiaaberta,taiscomoamaiortaxa deinfecc¸ão,sangramentomaior,deiscênciadosubescapular eartrofibrose,comreparoequivalenteemaisrápido.38,40–42

Chalmersetal.,36em2015,publicaramumarevisão

siste-máticadeoitometanálisesquecomparouosresultadosdesses doismétodosterapêuticos.Nela,asmetanálisesforam pon-tuadas(de0a18pontos)conformeumaferramentachamada Quorom(QualityofReportingofMeta-Analyses)(quantomaior apontuac¸ão,melhoroníveldeevidência).Duasmetanálises publicadasantesde2007,compontuac¸ãoQuoromde15e13, mostrarammenosrecidivasapósoreparo.Astrêsmetanálises feitasem2007,compontuac¸õesde14,16e16,foram discor-dantes.Jáasúltimastrês,publicadasapós2008(pontuac¸ões 12,16e17),nãoencontraramdiferenc¸asnastaxasderecidivas nacomparac¸ãodosdoismétodos.Noteque,entreessas,está ametanálisecomomelhorníveldeevidência(17pontos)36

(tabela1).34,40–46

Mohtadietal.40 fizeramumensaio clínico,prospectivoe

(4)

tonietal.37nãoencontraramdiferenc¸asnastaxasderecidiva

entreasduastécnicas,masobtiverammenortempocirúrgico emelhorarcodemovimentocomaabordagemartroscópica. Nogruposubmetidoaoreparoaberto,doisdos29pacientes sofreramrecidivas.Nooutrogrupo(32artroscopias),houve somenteumarecidiva.37

ReparoabertodalesãodeBankartversusbloqueioósseo aberto

Helfet47foiquemdescreveuoprocedimentopopularizadopor

Bristow,queconsistedatransferênciadapontadoprocesso coracoideparaabordaanteriordaglenoideatravésdasfibras do músculo subescapular. Nele, a transferência é fixada à cápsulaarticularsemousodeparafusos.Latarjet48ePatte

etal.49 modificaramatécnicadeduasformas:(1)o

posicio-namentodoenxertodocoracoide,quepassouaser“deitado” (comseumaioreixonavertical;paraleloàsuperfície articu-lardagelnoide)e(2)suafixac¸ãoatravésdedoisparafusosde compressão.48–50Essaéatécnicamaisusadaatualmente.49

Emboraesseprocedimentotenhasidocriticado,51,52bons

resultadosforamencontradosemváriostrabalhos. Acredita--sequeaestabilidadesejaalcanc¸adaporummecanismotriplo decontenc¸ãodacabec¸aumeral:oda“cinta”,emqueo ten-dãoconjuntoeaporc¸ãoinferiordosubescapularfazemuma contenc¸ãodacápsulaarticularanteroinferior;odobloqueio ósseo,noqualoprocessocoroidetransferidofuncionacomo umprolongamentodacavidadeglenoidal;eodoreforc¸o liga-mentar,jáqueocotodoligamentocoracoacromialésuturado àcápsulaarticular.49

Hoveliusetal.,53 em2012,descreveramosresultadosde

97casosconsecutivosdepacientessubmetidosàcirurgiade Latarjetemcomparac¸ãocom 88 casosde reparoaberto da lesão deBankart, esse feitoou com âncorasouatravés de orifíciostransglenoidais.Comseguimentopós-operatóriode 17anos,arecidivaocorreuem14%dospacientes(13de97 casos)submetidosaoLatarjet,comíndicedesatisfac¸ão supe-rior a 95%.Em contrapartida, dos 88 casos submetidos ao reparodalesãodeBankart,25evoluíramcomrecidiva(28%), com80%desatisfac¸ão.Entreosachadosdessetrabalho, esta-vammelhorescoresDash(Disabilitiesofthearm,shoulderand

hand),Wosi (Western OntarioShoulderInstability Index) eSSV

(subjectiveShoulderValue). Porfim,chegaramaduas

conclu-sões:(1)oprocedimentodeLatarjetlevaamelhoresresultados subjetivaseproporcionamaiorestabilidadeaoombro;(2)o reparolabialatravésdeorifíciostransglenoidaisfoisuperior aofeitocomâncoras.53

ReparoartroscópicodalesãodeBankartversusbloqueio ósseoaberto

Apesardeataxaderecidivadoreparoartroscópicodalesão deBankartserbemvariáveleleé,mesmoassim,considerado umprocedimentoefetivoedeboareprodutibilidade, princi-palmentequandoopacienteébemselecionado.

Emvista disso, Balge Boileau54 desenvolveram o

Insta-bility Severity Index Score(ISIS) em2006, como ummeio de

identificaramseisfatoresderisco,quequandocombinados emumsistemadepontuac¸ãoresultameminaceitáveisaltas taxasdefalênciadoreparoartroscópicodeBankart. Pacien-tes com maisdeseis pontos tinhamumarecidiva de70%, enquantoempacientescomseispontosoumenosoriscocaía para10%.54SegundooISIS,pacientescommaisdeseispontos

deveriamsersubmetidosaoprocedimentodeLatarjetecom seisoumenosaoreparoartroscópicodeBankart.

Em2013Rouleauetal.,55emumestudomulticêntricocom

114 casos consecutivos,colocaram emvalidac¸ãoo ISIS. Os resultadosdemonstraramqueoISISédealta reprodutibili-dade,ouseja,defácilaplicac¸ão,osquestionáriosreferentes à qualidade de vida não apresentaram correlac¸ão com o ISIS, também demonstraram quepacientes com ISIS supe-rior a seis apresentavam maiornúmero de recidivas antes da cirurgia eque noscentros aplicadosera umpredito de quaispacientes necessitariam decirurgiasmaiscomplexas comoopreenchimentodalesãodeHill-Sachs(remplissage)ou Latarjet.55

Notou-se que o ISIS era usado por autores, porém ele tem sido adaptado. Alguns autores, como próprio Boileau, descreveramquealgunspacientes comISIS superioratrês e defeitosósseosda cavidade glenoidaleram candidatos à cirurgia artroscópica de Bankart-Britow-Latarjet.56

Thoma-zeauetal.usaramapontuac¸ãoinferiorouigualaquatropara indicaracirurgiaartroscópica.57

Assim como Boileau et al.,56 observa-se uma tendência

atualàindicac¸ãodosbloqueiosósseos(cirurgiasdeLatarjet, Eden-HybinetteouBristow)quandoháerosãodaglenoide.58,59

Defeitos superiores a20%dodiâmetro articular anteropos-terior são consideradoso limitepara diversos autores.58–60

Entretanto,tantoessevalorquantoaformademedic¸ãoda ero-sãoaindasãotópicosdedebate.61Paraalguns,58–60aprática

deesportescompetitivoséfatorderiscoindependentepara arecidivae,portanto,tambéméumindicadorindependente dosbloqueiosósseos.

Apesar de proporcionar menos recidivas, os “bloqueios ósseos”não são isentos de complicac¸ões. Paladini et al.62

evidenciaram perda da forc¸a de contrac¸ão isométrica do subescapularapóssuatenotomiaemLe,portanto, recomen-dam queaabordagem daglenoide(quenecessariamenteé feita através dosubescapular) seja feita longitudinalmente (com divulsão de suas fibras). A deficiência do músculo subescapularexplicaaperdaderotac¸ãomedialativaapósa cirurgia.

Outrascomplicac¸õespossíveissãoaperdaderotac¸ão late-ralquelevaàartroseglenumeraleasqueestãorelacionadas comoposicionamentodoenxerto,quedeveserfeitoomais próximo possível da superfície articular da glenoide (com menosde10mmdemedializac¸ãoeabaixoda“linhado equa-dor”). Se sua fixac¸ão for muito medial ou muito superior, porexemplo,podehaverfalhaterapêutica(commanutenc¸ão dainstabilidade).UmacasuísticadeHoveliusetal. mostrou mauposicionamentoem42%vezes(32%dasvezesacimada “linhadoequador”e6%muitomediais).53osenxertos

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Defeitos

bipolares

Éaceitoqueemdefeitosquecomprometemacavidade gle-noidalem25%oumaisdodiâmetroinferiordeveserfeitoo tratamentocirúrgicoparainstabilidadecomousodeenxerto ósseo,coracoide, ilíaco oualográfico.64 Entretanto nãoestá

clarocomoabordar defeitosbipolares,noqualo defeitose encontranacavidadeglenoidalenacabec¸aumeral simulta-neamente(lesãodeHill-Sachs).65

Greisetal.65demonstraramquequantomaioraperdaóssea

dacavidadeglenoidal,maiorapressãodecontatodacabec¸a umeralcontraacavidadeglenoidal.Porexemplo,alesãolabial diminuiaáreadecontatoentre7%e15%eaumentaapressão decontatoentre8%e20%.Jáumaperdade30%dacavidade glenoidalaumentaapressãonaregiãoanteroinferior entre 300%e400%eaumentademaneiraconsideráveloriscode recidiva.

BurkharteDeBeer66 identificaramoriscodefalência da

artroscopiaquandoduranteoprocedimentonota-seoaspecto dacavidadeglenoidalemformatode“perainvertida”.Dolado umeralaslesõesdeHill-Sachs,nasquaisocorreo“noivado”

(engaging)em90grausdeabduc¸ãoerotac¸ãolateral,sãotidas

comolesõesderiscoparafeitura,apenas,dereparodelesão deBankart.

Yamamotoetal.,67em2007demonstraramaáreade

con-tato da cabec¸a umeral e a cavidade glenoidal a partir do pontodaluxac¸ãoglenoumeraledefiniramessazonade

con-tato glenoide track. Essa região intacta garanteestabilidade

óssea.

Otesteintraoperatórioparaoengagingfeitoantesdoreparo artroscópico da lesão de Bankart é superestimado, pois a insuficiêncialigamentarpermitemaiortranslac¸ãodacabec¸a umeral.68otesteapósoreparodalesãodeBankart,

defi-nidoporKurokawacomoverdadeiro“noivado”,levaaoriscode danosaoreparofeito.Kurokawaetal.69avaliaram100ombros,

em94casoshaviamlesõesdeHill-Sachs,apenassetecasos (7,4%)foramdefinidoscomoverdadeiroengaging.Parkeetal.70

avaliaram983ombros,encontraram70 casosdeverdadeiro “noivado”(7,1%)doscasos.Antesdoreparodalesãode Ban-kartédescritaaincidênciadeengagingentre34%e46%dos casos.

Parafazeressaavaliac¸ão,semoriscodeprovocar sobre-cargaaoreparodalesãodeBankart,équeusamosoglenoide

track.Pormeiodoestudotomográficoavaliamosseamargem

medialdalesãodeHill-Sachsencontra-seemcontatocomo

glenoidetrack,alesão,então,édenominadaontrack,todaviase

alesãodeHill-Sachsencontra-semaismedialdoqueoglenoide

trackelaédenominadaofftrack,naqualoriscodoengagingé

maior.68

Essaavaliac¸ãolevaaquatrocategorias:aprimeirainclui pacientescom defeitosda cavidadeglenoidal< 25%ecom lesãodeHill-Sachsontrack,asegundapacientescom defei-tosdacavidadeglenoidal<25%ecomlesãodeHill-Sachsoff

track,aterceirapacientescomdefeitos≥25%ecomlesãode

Hill-Sachsontrackeaquartapacientescomdefeitos≥25%e

comlesãodeHill-Sachsofftrack.68

Diantedoexposto,asugestãoéparaquesetratemos paci-entesdaprimeiracategoriacomreparoartroscópicodalesão deBankart, da segundaquesecomplemente otratamento

Tabela2–Categoriasdainstabilidadeanterior

etratamentorecomendado

Grupos Defeitodafossa glenoidal

Lesãode Hill-Sachs

Tratamento recomendado

1 <25% Ontrack Reparoartroscópico

dalesãodeBankart

2 <25% Offtrack Reparoartroscópico

dalesãode Bankart+remplissage

3 ≥25% Ontrack CirurgiadeLatarjet

4 ≥25% Offtrack CirurgiadeLatarjet

comousem procedimentona cabec¸aumeral (remplissageou enxerto)

comatécnicaderemplissage,daterceiracomcirurgiade Latar-jetedaquartacomcirurgiadeLatarjetassociadaounãoao preenchimentodalesãodeHill-Sachs(remplissage)ouenxerto ósseonacabec¸aumeral68(tabela2).

TratamentodalesãodeHill-Sachs

Em1940,HilleSachsforamosprimeirosadescrevera fra-turaposterolateraldacabec¸aumeralporimpacc¸ãocontraa glenoide,queocorresecundariamenteàluxac¸ãoanteriordo ombro.71 Sua incidência na primoluxac¸ão éde 47% a 80%

e, na recidivante, de até 93%. Diversos tratamentos foram usados;72atualmente,atécnicadepreenchimentoda lesão

comotendãodomúsculoinfraespinal(remplissage)setornou otratamentomaispopular.73Em2014,Buzaetal.74

descreve-ramumarevisãosistemáticacomainclusãode167pacientes submetidosatécnicadoremplissage,comseguimentomédio de26,8meses,noqualhouvepequenodéficitderotac¸ãolateral (de57,2opara54,6o)e5,4%derecidivas.

Umaavaliac¸ãoretrospectivafeitaporBoileauetal.

mos-trouqueeleusouoremplissageem47de459pacientes(10,2%)

emsuacasuística.Amédiadedéficitderotac¸ãolateralfoide 8graus.Dos41 pacientesquepraticavamesporte,37 retor-naramàspráticas(90%),com 28ao mesmonívelesportivo (inclusiveatletasarremessadores).Oíndicederecidivafoide somente2%.75

Gracitelli etal. publicaram umaanálise retrospectivade dez ombros submetidos simultantemente ao remplissage e ao reparo da lesão de Bankart (ambos por artroscopia). A indicac¸ãofoiparaaslesõescommenosde25%deimpactac¸ão dacabec¸adoúmeroecomengagingduranteaavaliac¸ão artros-cópica.Comoresultados,apresentarammelhoriadosescores deRowede22,5para80,5eUCLAde18,0para31,1comdois casosderecidiva,umaluxac¸ãoeumasubluxac¸ão.76

Conflitos

de

interesse

(6)

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Imagem

Figura 1 – Ombro esquerdo, visão articular pelo portal posterior. A, lesão de Bankart; B,C, preparo para o reparo da lesão; D, reparo artroscópico da lesão de Bankart.
Tabela 2 – Categorias da instabilidade anterior e tratamento recomendado

Referências

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