RevBrasAnestesiol.2014;64(3):215---220
REVISTA
BRASILEIRA
DE
ANESTESIOLOGIA
PublicaçãoOficialdaSociedadeBrasileiradeAnestesiologiawww.sba.com.br
CARTAS
AO
EDITOR
Anestesia
peridural
torácica
em
paciente
geriátrico
com
risco
cardíaco:
relato
de
caso
CaroEditor,
Com a melhora da qualidade de vida, a populac¸ão idosa
aumentarapidamente.Distúrbioscardíacoserespiratóriose
disfunc¸ãoautonômicaparecemocorrercommaisfrequência
empessoasidosas.1Infelizmente,essacircunstâncialimita
aescolha demétodos anestésicos paraessespacientes. A anestesiaouanalgesiaperiduralpodediminuiras potenci-aiscomplicac¸õesdevidoàanestesiageral,comoventilac¸ão prolongada,depressãomiocárdicaeíleoprolongado.2
Tora-cotomianoquintoespac¸ointercostalfoiplanejadaparaum homemde83anosdeidade,168cmdealtura,68kg,devido àhidatidosetorácica.Suahistóriamédicareveloualtograu deinsuficiênciacardíaca,epilepsia,dispneiaemarca-passo implantadohácincoanos.Relatoutersidosubmetidoà cole-cistectomiaecirurgiasreparadorasdehérniainguinalhá20 anose10anos,respectivamente.Opacienteestava orien-tado,cooperativoehemodinamicamenteestável.Oexame físicorevelouestertoreseroncosbasais.Afrac¸ãodeejec¸ão foiavaliadacomo33%porecocardiograma.Seuestadofísico foiavaliadacomoASAIII.
No período pré-operatório, o paciente recebeu tra-tamento para sua condic¸ão cardíaca, de acordo com a sugestãodocardiologista,eanestesiaepiduralfoiplanejada paraa cirurgia. Nenhumapré-medicac¸ão foiadministrada antesda entrada dopaciente na salade cirurgia. Após a monitorizac¸ãoderotina,oacessointravenosoperiféricofoi obtidoepré-cargadesoluc¸ãoisotônicaadministrada. Cate-terperiduralfoiinseridoentreosespac¸osintervertebraisT4 eT5usandoométododaperdaderesistênciaem posic¸ão sentada.Apontadocateterfoiavanc¸ada3cmemdirec¸ão cefálicaeadosetestede3mLdelidocaínaa2%aplicada. Em seguida, 7mL de levobupivacaína a 5% e 50 mcg de fentanil foramadicionados.Dez minutosapós a aplicac¸ão daanestesiaepidural,oníveladequadodebloqueio senso-rial foi obtidoentreos espac¸osT3 e T8.O procedimento cirúrgicofoi realizadocom a técnica padrãoem decúbito lateral. Oxigênio (4 L/min) foi administrado via máscara facial. Durante a cirurgia, a variac¸ão da pressão arterial foide154/94-97/54mmHg,frequênciacardíacade65-108
min−1esaturac¸ãode89-96%.Aproximadamente15minapós a anestesia epidural,a pressão arterial foi registrada em 76/45mmHg;portanto,efedrina(5mg)foiaplicadaporvia intravenosa.
Oníveldebloqueiosensorialavaliadosimultaneamente atingiu T4. O patient não precisoude sedation e analge-siaadicionais durantea cirurgiaque durou45 minutos.O paciente apresentou dificuldade respiratória nos períodos intrae pós-operatório. Para analgesia epidural,uma mis-turade3mLdebupivacaínaa 5%+50mcgdefentanil foi aplicadavia cateter epiduraltrês horas após a cirurgia e o cateter peridural retirado após 24h. O paciente rece-beualta, comossinais vitaisestáveis, quatrodiasapós a cirurgia.Aanestesiatorácica alta(T1-T5)diminuiotônus simpático;contudo,oriscodedisritmiaéreduzidopelo blo-queiodosnervosaceleradorescardíacosduranteacirurgia cardíaca.3 Niimietal.relataramqueaanestesiaperidural
torácica alta diminuiu o débito cardíaco, mas não afe-touafrac¸ãode ejec¸ãodoventrículoesquerdo ea func¸ão de enchimento diastólico.4 Rodgers et al. relataram que
houve menos complicac¸ões cardíacas perioperatórias em pacientessubmetidosaintervenc¸õescirúrgicassob aneste-siaregional.5
A anestesia peridural torácica alta foi realizada com sucesso em nosso paciente de alto risco, com arritmia e baixafrac¸ãodeejec¸ãosubmetidoàtoracotomianoquinto espac¸ointercostal.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
1.MarikPE.Managementofthecriticallyillgeriatricpatient.Crit CareMed.2006;34:176---82.
2.Arık H, Erhan OL, Bes¸tas¸A, et al. The effect of a single or fractionaldoseoflocalanestheticonhemodynamicsin epidu-ralanesthesiaevaluatedaccordingtoejection fraction.TurkJ Geriatr.2012;15:439---44.
3.Clemente A, Carli F. The physiological effects of thoracic epiduralanesthesiaandanalgesiaonthecardiovascular, respira-toryandgastrointestinalsystems.MinervaAnestesiol.2008;74: 549---63.
216 CARTASAOEDITOR
4.NiimiY,IchinoseF,SaegusaH,etal.Echocardiographicevaluation ofgloballeftventricularfunctionduringhighthoracicepidural anesthesia.JClinAnesth.1997;9:118---24.
5.RodgersA,WalkerN,SchugS,etal.Reductionofpostoperative mortality and morbidity with epidural or spinal anaesthe-sia: results from overview of randomised trials. BMJ. 2000; 16:321.
SerdarKokulua,∗,RemziyeGülSivacia,GürhanÖzb,Elif
Do˘ganBakia,HasanS¸enayae YükselElaa
aDepartamentodeAnestesiologia,AfyonKocatepe
UniversitySchoolofMedicine,Afyonkarahisar,Turquia
bDepartamentodeCirurgiaTorácica,AfyonKocatepe
UniversitySchoolofMedicine,Afyonkarahisar,Turquia
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:serdarkokulu@yahoo.com(S.Kokulu).
DisponívelnaInternetem17defevereirode2014
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2013.06.011
O
posicionamento
pode
interferir
no
sucesso
da
intubac
¸ão
endotraqueal
em
obesos?
CaroEditor,
Lemoscommuitointeresseoartigo‘‘Usodepreditivos clí-nicossimplesem diagnósticopré-operatório de intubac¸ão endotraquealdifícilempacientesobesos’’,noqualse rela-touumacorrelac¸ãosignificanteentreapneiaobstrutivado sono(AOS)eintubac¸ãodifícil(ID)empacientesobesos.1
1. A posic¸ão do paciente durante a laringoscopia é um fatorimportanteparadeterminarosucessodaintubac¸ão traqueal.Noestudoemquestão,osautoresnão especifi-caramaposic¸ãodospacientesobesosduranteatentativa de laringoscopia e intubac¸ão endotraqueal. O uso da posic¸ão de rampa mostrou melhorar a visão durante a laringoscopia e a taxa de sucesso da intubac¸ão em comparac¸ão com a posic¸ão olfativa (sniffing) padrão em pacientesobesos.2Neliganetal.relataram emseu
estudoqueAOSnãoéumpreditivoderiscoparaIDem pacientesobesosmórbidosemposic¸ãoderampa.3
2. Ao contrário do que foi relatado pelos autores, senti-mosqueosfatoresderiscoparaventilac¸ãocommáscara e intubac¸ão difíceis são bem diferentes. Mallampatti modificado, circunferência do pescoc¸o, distância tire-omentoniana erestric¸ão damobilidademandibular são fatores de risco para intubac¸ão difícil em pacientes obesos. 4 Enquanto o índice de massa corporal (IMC)
aumentado ehistóriadeAOSmostraramtercorrelac¸ão comventilac¸ãodifícilviamáscara.5
Portanto,consideramosquemencionaroposicionamento paraintubac¸ão endotraqueal éumaspectoimportante do estudoemquestãoquepodeafetarosresultados.
Conflitos
de
interesse
Oautordeclaranãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
1.MagalhãesE,MarquesFO,GovêiaCS,etal.Useofsimple clini-calpredictorsonpreoperativediagnosisofdifficultendotracheal intubationinobesepatients.RevBrasAnestesiol.2013;63:262---6.
2.Collins JS,Lemmens HJ,Brodsky JB, etal. Laryngoscopyand morbidobesity: a comparison of the ‘‘sniff’’ and ‘‘ramped’’ positions.ObesSurg.2004;14:1171---5.
3.NeliganPJ,PorterS,MaxB,etal.Obstructivesleepapneaisnot ariskfactorfordifficultintubationinmorbidlyobesepatients. AnesthAnalg.2009;109:1182---6.
4.SheffSR, MayMC, Carlisle SE,et al. Predictors of a difficult intubationinthebariatricpatient:doespreoperativebodymass indexmatter?SurgObesRelatDis.2013;9:344---9.
5.LangeronO,MassoE,HurauxC,etal.Predictionofdifficultmask ventilation.Anesthesiology.2000;92:1229---36.
DivyaJain
DepartamentodeAnestesiologiaeTratamentoIntensivo, PostgraduateInstituteofMedicalEducation&Research, Chandigarh,Índia
E-mail:jaindivya77@rediffmail.com
DisponívelnaInternetem16demaiode2014
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2013.07.010
Palatoplastia
em
paciente
com
síndrome
de
Seckel:
um
desafio
anestésico
CaroEditor,
AsíndromedeSeckel,descritapelaprimeiravezem1960,1é
umadoenc¸aautossômicarecessivadescobertaem casamen-tosconsanguíneos,2caracterizadaporcrescimento
intraute-rinorestrito(CIUR)grave,retardodocrescimentopós-natal, retardomental, rostosalienteemformadebicoe retrog-natismo.Suaincidênciaéinferiora1:10.000nascidosvivos,
com25% dechance derecidivaem irmãossubsequentes.3
Cerca de 60 casos foram relatados até o momento, com muitopoucoscasossubmetidosàanestesiageral(AG). Rela-tamosocasodaprimeirapalatoplastiabem-sucedidafeita sobAGemumacrianc¸acomsíndromedeSeckel.
Pacientedo sexomasculino, 8 anos, com ampla fenda palatina, apresentou-se com queixas de má alimentac¸ão, infecc¸ões respiratórias recorrentes e incapacidade de se comunicarclaramentedeformaverbal.