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3.2 A ORGANIZAÇÃO BUROCRÁTICA COMO RACIONALIDADE

3.3.2 A ABORDAGEM COMPORTAMENTALISTA

A abordagem inicialmente ingênua da Escola de Relações Humanas, de que a eficiência produtiva seria gerada apenas pela satisfação das necessidades do trabalhador, evolui para um segundo estágio com a incorporação das ideias behavioristas (MOTTA, 1970).

O behaviorismo teve suas raízes históricas ligadas ao movimento filosófico que ficou conhecido como positivismo lógico. O positivismo lógico propõe que, o significado dos enunciados utilizados, deve ser entendido em termos de condições experimentais ou observações para verificar sua verdade. Um dos objetivos do positivismo era unificar a psicologia com a ciência natural (ABBAGNANO, 2007; GRAHAM, 2010).

As principais premissas do behaviorismo são: a psicologia é a ciência do comportamento; psicologia não é a ciência da mente; o comportamento pode ser descrito e explicado sem fazer referência aos eventos mentais ou aos processos psicológicos internos; as fontes do comportamento são externas (no ambiente) não internas (na mente, na cabeça); no curso do desenvolvimento de uma teoria em psicologia se, de alguma forma, termos ou conceitos mentais são utilizados para descrever ou explicar o comportamento, então os termos e conceitos devem ser eliminados e substituídos por termos comportamentais (GRAHAM, 2010).

Foi o psicólogo norte-americano John B. Watson (1878-1958) o primeiro a enunciar claramente o programa comportamentalista. Foi Watson quem deu o nome

de behaviorismo a essa escola e sua pretensão era limitar as pesquisas psicológicas às reações objetivamente observáveis. As primeiras manifestações do behaviorismo estavam ligadas à corrente mecanicista para a qual o estímulo externo é a causa do comportamento (ABBAGNANO, 2007).

De certa forma, o behaviorismo norte-americano sempre esteve ligado à solução dos problemas de integração e aculturação tanto das populações negras libertas da escravatura, tanto quanto das questões relativas aos imigrantes asiáticos e europeus. Sendo que “as ciências sociais americanas se inclinaram muito cedo para os problemas relativos à adaptação de indivíduos aculturados” (LAFONTAINE, 2004, p.28).

A psicologia de Watson propõe “elaborar um método de análise dos comportamentos baseados no esquema de estímulo-resposta” (LAFONTAINE, 2004, p.29), no qual o behaviorismo define a cultura em termos de comportamentos adaptativos e de reflexos condicionados. Como uma psicologia da caixa preta, o behaviorismo considera unicamente o processo de “entrada” e de “saída”. “Fortemente determinado, o indivíduo é um ser vazio cuja única consistência reside na sua relação constitutiva com o ambiente exterior” (Ibidem).

O psicólogo social Floyd Henry Allport (1890-1978) foi um dos pioneiros da aplicação do behaviorismo de Watson no estudo das questões de organização. O comportamento social, para Allport (1924), é simplesmente aquele que ocorre como resposta a uma reação do organismo ou como resposta ao estímulo de outro comportamento. Fundamentalmente, a natureza do comportamento social é a sua qualidade como um estímulo social e seu potencial para controlar o comportamento dos outros, culminando na capacidade humana de exercer influência social por meio de formas diretas de expressão (gesto, linguagem, o movimento facial), tradição, costumes e instituições sociais.

Para Allport, a vida em sociedade exige a subordinação dos indivíduos entre si e com as instituições reguladoras da sociedade. Sem unidade de controle e coordenação, a vida em sociedade seria impossível. O controle social é considerado muitas vezes um fenômeno externo, como se fosse uma pressão aplicada diretamente aos indivíduos. No entanto, o controle social pode ser assimilado pelos indivíduos por meio das instituições (ALLPORT, 1924, p. 402).

Uma dessas instituições é a escola. A escola é, por excelência, a principal instituição para a socialização do indivíduo. A escola moderna procura a partir dos interesses do indivíduo construir uma superestrutura de conhecimentos e habilidades. Simultaneamente a isso, a escola condiciona o indivíduo para viver em sociedade. A sala de aula proporciona um ambiente valioso para inculcação das atitudes morais. A apresentação e a avaliação da conformidade do indivíduo pelo grupo são postas em jogo pelo processo de coação (ALLPORT, 1924).

No entendimento de Allport, outra instituição importante para a socialização é a indústria. O trabalho industrial é realizado em grupo. Um grupo de industriários seja da fábrica ou do escritório são limitados pela coação, ou seja, o comportamento individual é limitado pelos estímulos de coação vindos do grupo. Efeitos na quantidade e qualidade da produção são produzidos pelo tamanho do grupo, proximidade com as chefias, diferenças de temperamento e capacidade dos trabalhadores. Um aumento de produção pode ser conseguido incentivando-se a rivalidade entre os grupos, no entanto a qualidade pode cair. A rivalidade pode ser combinada com incentivos econômicos e bônus sobre a produção (ALLPORT, 1924).

Entretanto, o behaviorismo de Watson e Allport, baseado nas premissas mecanicistas, mostrou-se inadequado para o tratamento dos problemas organizacionais. A fórmula estímulo-resposta mostrou-se demasiadamente estática e atomista para tratar as questões sociais. O estímulo como energia física, que pode ser manipulada e controlada em laboratório, se mostrou na realidade social impossível de ser especificado ou comparado (MOTTA, 1970).

Posteriormente, autores behavioristas como Simon e March (1981), Barnard (1971), Argyris (1969), Likert (1975,1979) e MacGregor (1999), embora preocupados com o aspecto racional do comportamento humano, rejeitam a teoria do homo

economicus da Escola Clássica e a posição limitada da Escola de Relações

Humanas que introduz o elemento humano dotado apenas de sentimentos e motivos e passa a se preocupar com o aspecto da adaptabilidade dos indivíduos às organizações (MOTTA, 1970).

Os behavioristas entendem a organização como um sistema cooperativo racional, no qual cada integrante tem um papel definido e deveres a cumprir no

grupo cooperativo. Nesse sentido, todos os behavioristas dão grande importância à dinâmica dos grupos informais nas organizações, pois a própria organização formal é constituída por grupos informais. A organização formal e a organização informal são mutuamente reativas e dependentes da cooperação. Neste caso, é importante para os behavioristas entenderem as razões que levam os indivíduos a cooperar (MOTTA, 1970).

Os indivíduos estão dispostos a cooperar quando, as atividades na organização direta ou indiretamente, contribuem para que os indivíduos alcancem seus objetivos pessoais. Tal contribuição pode ocorrer por meio de recompensas, ligadas diretamente à realização do objetivo da organização ou, então, por meio de recompensas pessoais que não apresentam ligações diretas, como o desenvolvimento da instituição, salários adicionais e incentivos psicossociais. (MOTTA, 1970).